A face perolada das uvas
O orvalho na tez destes pêssegos
A rutilante gordura dos faisões
Tudo serve para celebrar
E denunciar o estágio faminto
Que arqueja nossa moral
Neste teatro de personagens burlescos.
Uma ode aos pântanos
E as câmaras abissais dos espíritos
Que varam os anos atravessando os séculos
Renascendo eternamente
Na sobrevivência moto-contínua
Dos uivos nas madrugadas dos próprios instintos.
As faces paroladas das uvas secam,
E os figos apodrecem na cal dos dias
Só a idéia pura e cristalina,
A bondade, o perdão permanece
Como edifícios imortais e indiferentes
Cegos para as futilidades
Mudos e surdos para o diálogo com os dias.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Livro de Irmã Edeltraut Lerch será lançado no próximo dia 16 de janeiro
Será no próximo dia 16 de janeiro, em Barbalha, o lançamento do livro Um pouco de perfume – Realce Editora e Ind. Gráfica, Fortaleza (CE), 242 páginas – que resgata alguns escritos de Irmã Edeltraut Lerch nas áreas da Administração Hospitalar e Religiosidade. O livro – que teve como editor, coordenador e revisor, o advogado Emerson Monteiro – recebeu apoio cultural dos empresários Raimundo Tadeu e Luiziane Alencar.
A apresentação da obra é de Armando Lopes Rafael. A capa e diagramação são de Cláudio Henrique Peixoto. No final do livro constam ainda iconografia e depoimentos de Napoleão Tavares Neves, Geraldo Menezes Barbosa e Teresinha de Jesus Couto Duarte.
Trechos:
“Um japonês de 18 anos jogou-se de um rochedo, deixando como despedida este bilhete lacônico:
“Suicidei-me por não saber o sentido de minha vida”.
O que é afinal a vida?
A vida é o que dela fazemos. Cada pessoa recebe de Deus uma chance. Livres, podemos valorizar ao máximo, ou jogar fora essa oportunidade que o Criador nos enseja.
Definimos a vida de acordo com a nossa filosofia existencial, segundo nosso lucro de valores. É a nossa mentalidade que empresta as dimensões a tudo. Somos o que pensamos”.
“Torna-se velho quando se deixa de progredir na vida. Cabe a cada um interrogar-se. Não passamos a ser velhos por ter vivido certo número de anos. “Passamos a ser velhos quando abandonamos o nosso ideal de vida” (General MacArthur)
Alguém é velho quando os pesares toma nele o lugar dos sonhos...”
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael
A apresentação da obra é de Armando Lopes Rafael. A capa e diagramação são de Cláudio Henrique Peixoto. No final do livro constam ainda iconografia e depoimentos de Napoleão Tavares Neves, Geraldo Menezes Barbosa e Teresinha de Jesus Couto Duarte.
Trechos:
“Um japonês de 18 anos jogou-se de um rochedo, deixando como despedida este bilhete lacônico:
“Suicidei-me por não saber o sentido de minha vida”.
O que é afinal a vida?
A vida é o que dela fazemos. Cada pessoa recebe de Deus uma chance. Livres, podemos valorizar ao máximo, ou jogar fora essa oportunidade que o Criador nos enseja.
Definimos a vida de acordo com a nossa filosofia existencial, segundo nosso lucro de valores. É a nossa mentalidade que empresta as dimensões a tudo. Somos o que pensamos”.
“Torna-se velho quando se deixa de progredir na vida. Cabe a cada um interrogar-se. Não passamos a ser velhos por ter vivido certo número de anos. “Passamos a ser velhos quando abandonamos o nosso ideal de vida” (General MacArthur)
Alguém é velho quando os pesares toma nele o lugar dos sonhos...”
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael
Tiro ao Álvaro
Todas as mensagens de fim de ano são ridículas. Não seriam mensagens de fim de ano se não fossem ridículas. Também escrevo em meu tempo e nos Campos dos Outros, mensagens de fim de ano ridículas. As previsões, as sugestões, os compromissos, as promessas, os perdões, são mais ridículos ainda pela insistente repetição. Somos mesmos náufragos das repetições. Náufragos empenhados, mas ridículos.
É por isso que escrevo aos ridículos náufragos do Crato, uma ridícula mensagem de fim de ano, dentro de uma frágil garrafa de vidro, que flutua sem nenhuma inocência, por sobre o nosso belo vale de lástimas. Moro na mesma ilha. Sou refém do mesmo coqueiro, e, como todos, mantenho uma relação ambígua com o monstruoso tubarão que rodeia nossa aldeia.
Vou passar o ano novo em um lugar qualquer, pois esse é um dia como outro qualquer. Mesmo sem comungar as mesmas crenças e descrenças que circulam em nossa patética ilha digital, postarei aqui minhas sinceras postulações de fim de ano, tão ridículas e tão canastronas como as de qualquer outro, que acredita pia e mente, que não é ridículo e que é politicamente correto com as postulações e a sinceridade.
Espero, como qualquer mensagem de um náufrago, que o tradicionalismo e a venalidade política tenham menos sucesso em tornar o Crato tão ridículo. E que aqueles que abrem a boca para exigir um amor inconteste à terrinha, percam todos os dentes e fiquem com as palavras frouxas dentro da boca, disputando com a língua trôpega a parcela maior do ridículo, entre o fato e vento.
O tempo passa, a história passa e o Crato fica. De forma solene a nave passa, o ônibus passa, o trem passa, a carruagem passa, e o Crato fica, fincado no tradicionalismo e na venalidade política. Sólido, para quem o ama cegamente. Evaporado, para quem o escuta em palavras soltas ao vento. Que esse próximo ano a realidade derrube a sua porta, com a força de um vendaval. Para que a província seja reconhecida e seja banida do meio da tribo, levando com ela todas as suas chagas tradicionais.
Se um dia o Crato perceber que o dia já vem raiando e a polícia já está de pé, por favor, publiquem nos blogs, mas sem nenhuma burocracia, sem nenhuma postulação científica, sem nenhuma espécie de egocentrismo, que fica na moita à espera de um comentário cretino de grande apreço e pouca durabilidade. Apenas façam uma postagem curta, dinâmica, fácil de ler. Se possível com imagens e áudio, que é para justificar a semiótica virtual.
Mas não esqueçam para ser estrategicamente postada no final do ano. Para que seja documental. Para que seja auspiciosa, sem sarcasmos alternativos. Para que o povo leia a mensagem após um grande ritual. Para que os notáveis sejam realmente dignos de nota. Para que os filhos da puta de plantão possam tomar seus devidos lugares na história recente dessa província. Para que ela, em fim, como uma grande mensagem, não perca a sua índole de ridícula.
Todas as mensagens de fim de ano são ridículas. Não seriam mensagens de fim de ano se não fossem ridículas. Também escrevo em meu tempo e nos Campos dos Outros, mensagens de fim de ano ridículas. As previsões, as sugestões, os compromissos, as promessas, os perdões, são mais ridículos ainda pela insistente repetição. Somos mesmos náufragos das repetições. Náufragos empenhados, mas ridículos.
É por isso que escrevo aos ridículos náufragos do Crato, uma ridícula mensagem de fim de ano, dentro de uma frágil garrafa de vidro, que flutua sem nenhuma inocência, por sobre o nosso belo vale de lástimas. Moro na mesma ilha. Sou refém do mesmo coqueiro, e, como todos, mantenho uma relação ambígua com o monstruoso tubarão que rodeia nossa aldeia.
Vou passar o ano novo em um lugar qualquer, pois esse é um dia como outro qualquer. Mesmo sem comungar as mesmas crenças e descrenças que circulam em nossa patética ilha digital, postarei aqui minhas sinceras postulações de fim de ano, tão ridículas e tão canastronas como as de qualquer outro, que acredita pia e mente, que não é ridículo e que é politicamente correto com as postulações e a sinceridade.
Espero, como qualquer mensagem de um náufrago, que o tradicionalismo e a venalidade política tenham menos sucesso em tornar o Crato tão ridículo. E que aqueles que abrem a boca para exigir um amor inconteste à terrinha, percam todos os dentes e fiquem com as palavras frouxas dentro da boca, disputando com a língua trôpega a parcela maior do ridículo, entre o fato e vento.
O tempo passa, a história passa e o Crato fica. De forma solene a nave passa, o ônibus passa, o trem passa, a carruagem passa, e o Crato fica, fincado no tradicionalismo e na venalidade política. Sólido, para quem o ama cegamente. Evaporado, para quem o escuta em palavras soltas ao vento. Que esse próximo ano a realidade derrube a sua porta, com a força de um vendaval. Para que a província seja reconhecida e seja banida do meio da tribo, levando com ela todas as suas chagas tradicionais.
Se um dia o Crato perceber que o dia já vem raiando e a polícia já está de pé, por favor, publiquem nos blogs, mas sem nenhuma burocracia, sem nenhuma postulação científica, sem nenhuma espécie de egocentrismo, que fica na moita à espera de um comentário cretino de grande apreço e pouca durabilidade. Apenas façam uma postagem curta, dinâmica, fácil de ler. Se possível com imagens e áudio, que é para justificar a semiótica virtual.
Mas não esqueçam para ser estrategicamente postada no final do ano. Para que seja documental. Para que seja auspiciosa, sem sarcasmos alternativos. Para que o povo leia a mensagem após um grande ritual. Para que os notáveis sejam realmente dignos de nota. Para que os filhos da puta de plantão possam tomar seus devidos lugares na história recente dessa província. Para que ela, em fim, como uma grande mensagem, não perca a sua índole de ridícula.
Primeiro Cariri Encantado de 2010
Huberto Cabral, Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael Dias apresentam o Cariri Encantado
O primeiro programa Cariri Encantado de 2010, a ser veiculado neste dia primeiro de janeiro, terá a seguinte programação:
Músicas:
- Canto Cariri, de Lifanco e Kael, com Lifanco e Lívia França;
- Maria e Marquim , de Eugênio Leandro e Patativa do Assaré, com Eugênio Leandro;
- Galope Diferente, de Jonteilor, Cícero Brasil e Edvânio Nobre, com Jonteilor;
- Borboletas Azuis (Asas de Jesus), de Dudé Casado, com Dr. Raiz;
- Lamento de um povo, de Luiz Fidélis, com Luiz Fidélis;
- Num truvejo de vontade, de Geraldo júnior, com Zabumbeiros Cariris;
- Flor do Pequi, de Cícero do Assaré e Jackson Bantim, com Herdeiros do Rei;
- O discurso, de Abidoral Jamacaru, com Dihelson Mendonça e Abidoral Jamacaru;
- Tinhozinho, de Luciano Brayner, com Luciano Brayner.
Textos e poesias de Carlos Rafael Dias, Lupeu Lacerda, Domingos Barroso e Carlos Drummond.
O programa Cariri Encantado é transmitido todas as sextas-feiras, das 14 às 15 horas, pela Rádio Educadora do Cariri AM 1.020 e veiculado na Internet por cratinho.blogspot.com, com apoio do Centro Cultural BNB e apresentação de Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael Dias.
Se ligue!
O primeiro programa Cariri Encantado de 2010, a ser veiculado neste dia primeiro de janeiro, terá a seguinte programação:
Músicas:
- Canto Cariri, de Lifanco e Kael, com Lifanco e Lívia França;
- Maria e Marquim , de Eugênio Leandro e Patativa do Assaré, com Eugênio Leandro;
- Galope Diferente, de Jonteilor, Cícero Brasil e Edvânio Nobre, com Jonteilor;
- Borboletas Azuis (Asas de Jesus), de Dudé Casado, com Dr. Raiz;
- Lamento de um povo, de Luiz Fidélis, com Luiz Fidélis;
- Num truvejo de vontade, de Geraldo júnior, com Zabumbeiros Cariris;
- Flor do Pequi, de Cícero do Assaré e Jackson Bantim, com Herdeiros do Rei;
- O discurso, de Abidoral Jamacaru, com Dihelson Mendonça e Abidoral Jamacaru;
- Tinhozinho, de Luciano Brayner, com Luciano Brayner.
Textos e poesias de Carlos Rafael Dias, Lupeu Lacerda, Domingos Barroso e Carlos Drummond.
O programa Cariri Encantado é transmitido todas as sextas-feiras, das 14 às 15 horas, pela Rádio Educadora do Cariri AM 1.020 e veiculado na Internet por cratinho.blogspot.com, com apoio do Centro Cultural BNB e apresentação de Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael Dias.
Se ligue!
COMPOSITORES DO BRASIL
Luiz Gonzaga
“Gênio é gênio”
Por Zé Nilton
Nunca havia me dado conta do significado de frases tipo - gênio é gênio e outras mais – tantas vezes pronunciadas na linguagem coloquial como forma de afirmar
positivamente o substantivo em foco. Achava mesmo, como nos ensina a gramática, tratar-se de pura redundância e perfeitamente desnecessário o uso dessas expressões, principalmente na linguagem escrita. Dizer-se que “mãe é mãe”, “eu sou eu”, e vai por aí, deixa a gramática de beicinho. O mineiro ainda repete, na sua quietude, um “voltar prá trás”, um “entrar pra dentro”, mas aí é coisa de mineiro...
Há, contudo, um porém. Imagina se aquela empresa de Fortaleza, que há quase 60 anos vem dizendo na praça que lá “um pneu é um pneu” resolvesse, doravante, desobedecer a tal gramática. Quantos clientes não passariam a desconfiar de que alguma coisa anda errada com a mercadoria. Seria uma demonstração de falta de garantia para com o seu produto ? O negócio poderia sofrer perdas porque se estaria dessubstancializando a alma da propaganda? Agora deu: alma tem substância?
Bom, mas por que estou esticando nos prolegômenos ? Porque passei muito tempo querendo negar o artista, o cantor, o compositor, o homem que reinventou estilos musicais bebidos no caldeirão de nossa cultura, e que teriam se perdido não fosse ele - Luiz Gonzaga –, registrar em seus discos, a partir de 1942, junto com Humberto Teixeira.
Foi precisamente numa tardinha de outubro, de 1971. Estava na antiga Teleceará quando um homem forte, de paletó de linho branco um pouco surrado, de chapéu de couro entra repentinamente no recinto, e aos gritos, solta os cachorros, digo, os piores palavrões enquanto batia com força na mesa, fazendo subir todos os papéis, lápis, carimbos e a pressão sanguínea de seu Casimiro, o dedicado gerente (de saudosa memória) e dos que ali se encontravam.
- Estou desde 9 horas esperando a minha ligação para o Rio, e essa porcaria não completa! São todos uns irresponsáveis e incompetentes! Tenho negócios urgentes... E disse, e disse e disse a dos fins, como disse para os amigos quando tentou enfrentar o pai de sua namorada, aos 17 anos, numa feira em Exu.
Este primeiro contato, bem de perto, com o Rei do Baião, selou uma aversão, de minha parte, à sua figura, e sua música tornou-se proscrita aos meus ouvidos.
Depois de cinco anos, deixava o elevador e me encaminhava para a Av. Presidente Vargas, no Rio, quando, à minha frente, caminhava, lentamente, com o braço esquerdo sobre o ombro de um homem alto, magro e de poucos cabelos, o famoso cantador.
Apurei os ouvidos e ouvi bem este diálogo:
- Olha, preciso muito dessa grana; você sabe, nós vivemos disso, não tem outra coisa não, meu irmão. E olha que eu sou o Luiz Gonzaga..
.
Ao que o homem, voltando-se para ele, e postando-se bem à sua frente, disse-lhe:
- Não; você é um gênio da Música Popular Brasileira.
Chegando ao apartamento um dos colegas estava mostrando um LP de Luiz Gonzaga, que acabara de comprar, ao seu irmão. Já no banho, ouvia a música “Facilita” e os rasgados comentários da turma, sentada no chão, em torno do toca-discos, ao filho de Januário.
Outra vez ouvi a palavra gênio atribuída ao velho Lua.
E como gênio é gênio quem seria eu para continuar misturando as coisas. Imediatamente separei o homem, o grosso, o brabo, o Sr. Luiz Gonzaga do Nascimento, homem de negócios, do compositor, do cantor, do reinventor da música nordestina e brasileira – do gênio que fora o nosso “conterrâneo,” o sanfoneiro Luiz Gonzaga.
Tempo perdido aquele em que não compreendia que ao gênio tudo é permitido. Lindo, maravilhoso ler as proezas de Tom Jobim; celebração de respeito à reclusão de João Gilberto, e até o marido comemorou o beijo de Chico Buarque em sua mulher, na Praia de Ipanema.
Gênio é gênio, e com Luí, isto não é redundante.
O programa de hoje, Compositores do Brasil, presta uma justa homenagem ao Rei do Baião deixando ele mesmo falar de si.
Reproduziremos a famosa entrevista que ele concedeu ao jornalista Marcos Macena, gravada no Recife (entrevista intercalada com músicas), em que o Mestre Luiz Gonzaga fala sobre sua vida, filhos e música, quando fazia o caminho de volta para sua terra natal, Exu.
Não poderia findar o ano do programa em melhor estilo, já que dezembro é o mês de seu nascimento.
Quem ouvir, verá!
Programa: Compositores do Brasil
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Todas às quintas-feiras, às 14 h.
Rádio Educadora do Cariri
Apoio: CCBN
2010 é de OGUM e IANSÃ !
O ano vindouro de 2010 será regido por OGUM e IANSÃ.
Para facilitar a vida de todos que acessam o CaririCult, segue a lenda dessas duas divindades do Candomblé. Seja como Ogum, ou nosso São Jorge Guerreiro ou mesmo como Iansã, a nossa Sana Bárbara, que elas nos protejam nos dias que enfrentaremos a partir do dia primeiro de janeiro. Saúde, Paz e Serenidade para todos nós!
Para facilitar a vida de todos que acessam o CaririCult, segue a lenda dessas duas divindades do Candomblé. Seja como Ogum, ou nosso São Jorge Guerreiro ou mesmo como Iansã, a nossa Sana Bárbara, que elas nos protejam nos dias que enfrentaremos a partir do dia primeiro de janeiro. Saúde, Paz e Serenidade para todos nós!
OGUM
DIA: Terça-Feira
CORES: Verde ou Azul-escuro, Vermelho (algumas qualidades)
SÍMBOLOS: Bigorna, Faca, Pá, Enxada e outras ferramentas
ELEMENTOS: Terra (florestas e estradas) e Fogo
DOMÍNIOS: Guerra, Progresso, Conquista e Metalurgia
SAUDAÇÃO: Ògún ieé!!
Ogum (Ògún) é o temível guerreiro, violento e implacável, deus do ferro, da metalurgia e da tecnologia; protector do ferreiros, agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, talhantes, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos, motoristas e de todos os profissionais que de alguma forma lidam com o ferro ou metais afins.DIA: Terça-Feira
CORES: Verde ou Azul-escuro, Vermelho (algumas qualidades)
SÍMBOLOS: Bigorna, Faca, Pá, Enxada e outras ferramentas
ELEMENTOS: Terra (florestas e estradas) e Fogo
DOMÍNIOS: Guerra, Progresso, Conquista e Metalurgia
SAUDAÇÃO: Ògún ieé!!
Orixá conquistador, Ogum fez-se respeitar em toda a África negra pelo seu carácter devastador. Foram muitos os reinos que se curvaram diante do poder militar de Ogum.
Entre os muitos Estados conquistados por Ogum estava a cidade de Iré, da qual se tornou senhor após matar o rei e substituí-lo pelo seu, próprio filho, regressando glorioso com o título de Oníìré, ou seja, Rei de Iré.
Não é por acaso, portanto, que nas orações dedicadas a Ogum o medo fica tão evidente e a piedade é um pedido constante, pois como diz uma das suas cantigas:
Ògún pá lélé pá
Ògún pá ojaré
Ògún pá, ejé pá
Akoró ojaré.
Ogum mata com violência
Ogum mata com razão
Ogum mata e destrói completamente.
Ogum é o filho mais velho de Odudua, o herói civilizador que fundou a cidade de Ifé. Quando Odudua esteve temporariamente cego, Ogum tornou-se seu regente em Ifé.
Ogum é um orixá importantíssimo em África e no Brasil. A sua origem, de acordo com a história, data de eras remotas. Ogum é o último imolé.
Os Igba Imolé eram os duzentos deuses da direita que foram destruídos por Olodumaré após terem agido mal. A Ogum, o único Igba Imolé que restou, coube conduzir os Irun Imole, os outros quatrocentos deuses da esquerda.
Foi Ogum quem ensinou aos homens como forjar o ferro e o aço. Ele tem um molho de sete instrumentos de ferro: alavanca, machado, pá, enxada, picareta, espada e faca, com as quais ajuda o homem a vencer a natureza.
Em todos os cantos da África negra Ogum é conhecido, pois soube conquistar cada espaço daquele continente com a sua bravura. Matou muita gente, mas matou a fome de muita gente, por isso antes de ser temido Ogum é amado.
Espada! Eis o braço de Ogum.
Características dos filhos de Ogum
Fisicamente, os filhos de Ogum são magros, mas com músculos e formas bem definidas. Compartilham com Exu o gosto pelas festas e conversas que não acabam e gostam de brigas. Se não fizerem a sua própria briga, compram a dos seus camaradas.
Sexualmente os filhos de Ogum são muito potentes; trocam constantemente de parceiros, pois possuem dificuldade de se fixar a uma pessoa ou lugar.
São do tipo que dispensa um confortável colchão de molas para dormir no chão; gostam de pisar a terra com os pés descalços. São pessoas batalhadoras, que não medem esforços para atingir os seus objectivos, são pessoas que mesmo contrariando a lógica lutam insistentemente e vencem.
Não se prendem à riqueza, ganham hoje, gastam amanhã. Gostam mesmo é do poder, gostam de comandar, são líderes natos. Essa necessidade de estar sempre à frente pode torná-los pessoas egoístas e desagradáveis, mas nem sempre.
Geralmente, os filhos de Ogum são pessoas alegres, que falam e riem alto para que todos se divirtam com suas histórias e que adoram compartilhar a sua felicidade.
IANSÃ
Dia: Quarta-feira
Cores: Marrom, Vermelho e Rosa
Símbolos: Espada e Eruesin
Elementos: Ar em movimento, Fogo
Domínios: Tempestades, Ventanias, Raios, Morte
Saudação: Epahei!
O maior e mais importante rio da Nigéria chama-se Níger, é imponente e atravessa todo o país. Rasgado, espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes por esse motivo tornou-se conhecido com o nome Odò Oya, já que ya, em iorubá, significa rasgar, espalhar. Esse rio é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove orum, dos nove filhos, do rio de nove braços, a mãe do nove, Ìyá Mésàn, Iansã (Yánsàn).Dia: Quarta-feira
Cores: Marrom, Vermelho e Rosa
Símbolos: Espada e Eruesin
Elementos: Ar em movimento, Fogo
Domínios: Tempestades, Ventanias, Raios, Morte
Saudação: Epahei!
Embora seja saudada como a deusa do rio Níger, está relacionada com o elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio de uma chuva, é a filha do fogo-Omo Iná.
A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que se fecha sem chover.
Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra o seu amor e a sua alegria contagiantes na mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com todas as actividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento.
O facto de estar relacionada com funções tipicamente masculinas não afasta Iansã das características próprias de uma mulher sensual, fogosa, ardente; ela é extremamente feminina e o seu número de paixões mostra a forte atracção que sente pelo sexo oposto. Iansã (Oyá) teve muitos homens e verdadeiramente amou todos. Graças aos seus amores, conquistou grandes poderes e tornou-se orixá.
Assim, Iansã tornou-se mulher de quase todos os orixás. Ela é arrebatadora, sensual e provocante, mas quando ama um homem só se interessa por ele, portanto é extremamente fiel e possessiva. Todavia, a fidelidade de Iansã não está necessariamente relacionada a um homem, mas às suas convicções e aos seus sentimentos.
Algumas passagens da história de Iansã relacionam-na com antigos cultos agrários africanos ligados à fecundidade, e é por isso que a menção aos chifres de novilho ou búfalo, símbolos de virilidade, surgem sempre nas suas histórias. Iansã é a única que pode segurar os chifres de um búfalo, pois essa mulher cheia de encantos foi capaz de transforma-se em búfalo e tornar-se mulher da guerra e da caça.
Oyá é a mulher que sai em busca do sustento; ela quer um homem para amá-la e não para sustentá-la. Desperta pronta para a guerra, para a sua lida do dia-a-dia, não tem medo do batente: luta e vence.
Características dos filhos de Iansã / Oyá
Para os filhos de Oyá, viver é uma grande aventura. Enfrentar os riscos e desafios da vida são os prazeres dessas pessoas, tudo para elas é festa. Escolhem os seus caminhos mais por paixão do que por reflexão. Em vez de ficar em casa, vão à luta e conquistam o que desejam.
São pessoas atiradas, extrovertidas e directas, que jamais escondem os seus sentimentos, seja de felicidade, seja de tristeza. Entregam-se a súbitas paixões e de repente esquecem, partem para outra, e o antigo parceiro é como se nunca tivesse existido. Isso não é prova de promiscuidade, pelo contrário, são extremamente fiéis à pessoa que amam, mas só enquanto amam.
Estas pessoas tendem a ser autoritárias e possessivas; o seu génio muda repentinamente sem que ninguém esteja preparado para essas guinadas. Os relacionamentos longos só acontecem quando controlam os seus impulsos, aí, são capazes de viver para o resto da vida ao lado da mesma pessoa, que deve permitir que se tornem os senhores da situação.
Os filhos de Oyá, na condição de amigos, revelam-se pessoas confiáveis, mas cuidado, os mais prudentes, no entanto, não ousariam confiar-lhe um segredo, pois, se mais tarde acontecer uma desavença, um filho de Oyá não pensará antes de usar tudo que lhe foi contado como arma.
O seu comportamento pode ser explosivo, como uma tempestade, ou calmo, como uma brisa de fim de tarde. Só uma coisa o tira do sério: mexer com um filho seu é o mesmo que comprar uma briga de morte: batem em qualquer um, crescem no corpo e na raiva, matam se for preciso.
FONTE:
http://ocandomble.wordpress.com/os-orixas/ogum/
Feliz 2010!
Estamos entrando em um tempo novo: Ano novo, década nova.
Aparentemente, uma alteração no calendário não significa, a priori, uma mudança de rumo na vida e no mundo. Mas, individualmente, esse marco pode representar uma guinada para melhor na vida de cada um.
Para tanto, é preciso somente a vontade de mudança. Ou ter disposição para enxergar o mundo por uma nova ótica. Ou assumir uma postura diferente de vida.
A mudança pode até ser individual, mas nunca egoísta. Já disse o poeta: é impossível ser feliz sozinho.
Um novo mundo, um novo tempo, é sempre uma construção coletiva. Ninguém acorda só. Ninguém chora ou sorri solitariamente. Ninguém ama somente a si. Ninguém se salva sozinho. Qualquer projeto de ordem pessoal, por mais simples que seja o seu objetivo, sempre beneficiará os mais próximos. Um projeto individual pode ser o início de uma reação em cadeia e de alcance ilimitado.
Portanto, esse desejo de começar um novo tempo, uma nova vida, tão recorrente a cada ano novo, pode ser de fato o início de um novo ano, um novo tempo, uma nova vida, um novo mundo.
É o que desejo de coração para todos os amigos e leitores deste blogue.
Carlos Rafael Dias
Oração de Ano novo
Senhor, ensina-nos a orar sem esquecer o trabalho. A dar sem olhar a quem. A servir sem perguntar até quando. A sofrer sem magoar seja a quem for. A progredir sem perder a simplicidade.
A semear o bem sem pensar nos resultados. A desculpar sem condições. A marchar para a frente sem contar os obstáculos. A ver sem malícia. A escutar sem corromper os assuntos.
A falar sem ferir. A compreender o próximo sem exigir entendimento. A respeitar os semelhantes sem reclamar consideração.
A dar o melhor de nós, além da execução do próprio dever sem cobrar taxas de reconhecimento.
Senhor, fortalece em nós a paciência para com as dificuldadesdos outros, assim como precisamos da paciência dos outros para com as nossas próprias dificuldades. Ajuda-nos para que a ninguém façamos aquilo que não desejamos para nós.
Auxilia-nos sobretudo a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será invariavelmente àquela de cumprir os desígnios, onde ecomo queiras, hoje, agora e sempre.
Chico Xavier
No Cariri: Bolsa Família pagava drogas
Fonte: Diário do Nordeste, 31-12-20-09
Foto: Antonio Vicelmo
A PM apreendeu cerca de R$ 3,5 mil em espécie, 28 papelotes de maconha e quatro cartões do Bolsa Família em poder do acusado. O caso foi transferido para a Polícia Federal
Polícia prendeu, em Barbalha, um homem acusado de vender maconha e receber cartões do programa
Cartões do Bolsa Família, programa criado pelo Governo Federal como uma das formas de erradicar a pobreza no País, estão sendo transformados em "Bolsa Maconha" na Zona Sul do Estado. A Polícia do Município de Barbalha, na Região do Cariri (a 505Km de Fortaleza), prendeu o traficante de drogas Antonio Pereira, conhecido por ´Tonho de Lucas´, na Rua Manoel Peixoto, bairro Prourb.
Em poder do acusado foram apreendidos 28 papelotes de maconha, R$ 3,5 mil em espécie e quatro cartões de benefícios, dois dos quais do programa Bolsa Família, em nome de Luiz Cardoso dos Santos e Acia Samara Praça, que eram utilizados, segundo a Polícia, como moeda de compra de droga.
Federal
O acusado foi levado para a Delegacia da Polícia Federal em Juazeiro do Norte, onde foi ouvido pelo delegado Alan Robson Alexandrino Ramos e, em seguida, transferido para a cadeia pública de Barbalha, onde aguardará julgamento. Ele responderá a inquérito por tráfico de drogas e pode também ser enquadrado por crime federal.
De acordo com a Polícia, o usuário de drogas entregava o cartão, com a senha, para o traficante, que recebia o dinheiro no banco no dia do pagamento. Este desvio de função de recursos federais do programa "Fome Zero", destinado a pessoas carentes, está sendo investigado com profundidade pelo Policia. Além do tráfico de drogas, ele vai responder também pelo desvio de recursos federais. Os titulares dos cartões, de acordo com a Polícia, serão ouvidos no inquérito, correndo risco de também serem indiciados e perderem o benefício.
O objetivo da operação, denominada "Final de Ano Feliz", foi estourar um ponto de venda de drogas que funcionava naquele bairro. De acordo com a Polícia, na residência de Antonio Pereira foi observada uma grande movimentação, principalmente, de adolescentes. Diante da suspeita de que o local era uma ´boca-de-fumo´, o capitão PM Marcus Alencar, comandante do destacamento da PM de Barbalha, solicitou ao juiz de Direito da 2ª Vara da Comarca, Péricles Victor Galvão de Oliveira, um mandado de busca e apreensão com o objetivo de investigar a estranha movimentação. O magistrado deferiu o pedido, expedindo o documento.
De posse do mandado, a Policia entrou na residência onde, além da droga e do dinheiro, encontrou os cartões. "Tonho" negou envolvimento com o tráfico de drogas e com o uso dos cartões. Disse apenas que era viciado. No entanto, o capitão Marcus reafirmou que ele vendia drogas e recebia os cartões como garantia de pagamento.
Pobreza
O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda com a finalidade de beneficiar famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 70,00 a R$ 140,00) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 70). O objetivo é assegurar o direito à alimentação.
ANTÔNIO VICELMO / Repórter
Polícia prendeu, em Barbalha, um homem acusado de vender maconha e receber cartões do programa
Cartões do Bolsa Família, programa criado pelo Governo Federal como uma das formas de erradicar a pobreza no País, estão sendo transformados em "Bolsa Maconha" na Zona Sul do Estado. A Polícia do Município de Barbalha, na Região do Cariri (a 505Km de Fortaleza), prendeu o traficante de drogas Antonio Pereira, conhecido por ´Tonho de Lucas´, na Rua Manoel Peixoto, bairro Prourb.
Em poder do acusado foram apreendidos 28 papelotes de maconha, R$ 3,5 mil em espécie e quatro cartões de benefícios, dois dos quais do programa Bolsa Família, em nome de Luiz Cardoso dos Santos e Acia Samara Praça, que eram utilizados, segundo a Polícia, como moeda de compra de droga.
Federal
O acusado foi levado para a Delegacia da Polícia Federal em Juazeiro do Norte, onde foi ouvido pelo delegado Alan Robson Alexandrino Ramos e, em seguida, transferido para a cadeia pública de Barbalha, onde aguardará julgamento. Ele responderá a inquérito por tráfico de drogas e pode também ser enquadrado por crime federal.
De acordo com a Polícia, o usuário de drogas entregava o cartão, com a senha, para o traficante, que recebia o dinheiro no banco no dia do pagamento. Este desvio de função de recursos federais do programa "Fome Zero", destinado a pessoas carentes, está sendo investigado com profundidade pelo Policia. Além do tráfico de drogas, ele vai responder também pelo desvio de recursos federais. Os titulares dos cartões, de acordo com a Polícia, serão ouvidos no inquérito, correndo risco de também serem indiciados e perderem o benefício.
O objetivo da operação, denominada "Final de Ano Feliz", foi estourar um ponto de venda de drogas que funcionava naquele bairro. De acordo com a Polícia, na residência de Antonio Pereira foi observada uma grande movimentação, principalmente, de adolescentes. Diante da suspeita de que o local era uma ´boca-de-fumo´, o capitão PM Marcus Alencar, comandante do destacamento da PM de Barbalha, solicitou ao juiz de Direito da 2ª Vara da Comarca, Péricles Victor Galvão de Oliveira, um mandado de busca e apreensão com o objetivo de investigar a estranha movimentação. O magistrado deferiu o pedido, expedindo o documento.
De posse do mandado, a Policia entrou na residência onde, além da droga e do dinheiro, encontrou os cartões. "Tonho" negou envolvimento com o tráfico de drogas e com o uso dos cartões. Disse apenas que era viciado. No entanto, o capitão Marcus reafirmou que ele vendia drogas e recebia os cartões como garantia de pagamento.
Pobreza
O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda com a finalidade de beneficiar famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 70,00 a R$ 140,00) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 70). O objetivo é assegurar o direito à alimentação.
ANTÔNIO VICELMO / Repórter
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Errado é quem diz
Que ando errando
Que fiz errado
Que o erro foi estar do lado
Quando o certo sempre foi o outro lado
...
Então é coisa de se dizer
Se é a coisa certa
Olhar o lado que aperta
A mão na mão na hora certa
...
É verdade sim meu bem
O tempo voa
É por isso sim meu bem
Que eu ando atôa
Pra ver se vou, pra ver se voa
Assim, enfim:
Na boa.
A Festa de Olugbejé
Quem são estas figuras esquálidas , transpirando um consolado sofrimento, que se postam pacientemente sentados , em volta do Terreiro, como se esperando a aparição súbita da Virgem? Trazem consigo um ar cansado , como se houvessem sido arrancados, a contra vontade, de uma tela de Portinari. São faces apáticas , tintas de desencanto, onde no entanto, sublevam-se, misteriosamente, raros fios de esperança. À sua volta o Terreiro Axé Ilê Uilá, fazendo um brusco contraponto, explode de alegria. O calor de Agosto parece se amplificar nas cores branca, preta e marrom- rajado, em homenagem a Omulu. É a Festa de Olugbejé que reverencia o Orixá da Saúde e das Pestes. O Runtó , num canto, percutindo o atabaque, imprime um ar de estranho mistério no ambiente. A gugura é dada, fartamente, em oferenda ao Orixá. Quase que matematicamente os circunstantes saúdam Omulu:
---- Atótóo !!!!!
Em suas vestes sacerdotais, Pai Katolé, o Babalaoô do Axé Ilê Uilá, , ajudado pelo Pejigan , manipula calmamente o Rosário . Ao derredor seus filhos aguardam, ansiosos , abertura do Oráculo de Ifá.. Anualmente, já é uma tradição, no Olugbejé, Pai Katolé joga os búzios e ouvindo Orunmirá , faz as previsões para o ano vindouro.Fim de século, término de milênio, a solenidade religiosa tomava características bastante especiais. Esta é a razão maior para tamanha concentração naquela Segunda-Feira, no culto a Omulu.
---- Atótóo !!!!!
Em profundo êxtase, Pai Katolé toma da peneira com os 16 búzios sagrados- o Merindologún. A platéia, num misto de ansiedade e expectativa, aguarda as misteriosas palavras de Oludumaré , na certeza de que terá a antevisão do caos ou da bonança. Um agricultor do Barro Branco, face esculpida pelo barro e pelo Sol, adianta-se na primeira pergunta:
--- Teremos Inverno , nos próximos anos?
O Babalaoô arremesa os búzios sagrados e, enquanto os recolhe , meticulosamente, responde, com voz cavernosa:
--- Chuvas cairão, mais fortes em alguns locais e mais fracas em outros. Onde houver fartura Olurum mandará junto a alegria, onde houver seca dará força e resignação para vencer a sede e a fome.
---- Nosso povo será feliz no próximo milênio , Pai Katolé? Indaga uma mocinha , ainda não contaminada pelo amargor dos anos.
Búzios atirados, atenta leitura feita, o Sacerdote, pausadamente , retruca:
---- Impossível falar-se em felicidade por todo um milênio. A felicidade nutre-se na água da fugacidade. É volátil e transitória por própria essência. Fosse eterna, não teria qualquer significado, talvez se chamasse monotonia. Ela só existe com sua irmã xifópaga: a Tristeza. A felicidade, por outro lado, é um estado de espírito pessoal e intransferível, independe de tudo que está ao seu derredor. Não tem cabimento, pois, falar na felicidade de um povo ou de uma nação.
Os atabaques marcam ritmadamente as palavras do Pai de Santo.Sem piscar os olhos, a platéia bebe sôfrega os ensinamentos do Sacerdote de Ifá.
--- No próximo Século, Pai Katolé, os pobres terão direito ao Reino da Terra ou precisarão esperar pelas benesses do Reino de Olurum, após a morte?
Búzios abertos, búzios fechados... O êxtase... e a resposta:
---- A terra não foi criada para ser o paraíso de poucos, o purgatório de alguns e o inferno de muitos.Este estado de coisas foi criado pelo próprio Homem e pelas forças negativas espirituais.O Homem tornou-se a anti-matéria do próprio Homem.Só teremos dois caminhos a seguir: ou viveremos com alguma equidade social ou nos auto-extinguiremos como espécie, no planeta.
--- O que o futuro, enfim nos proporcionará? O que dizem os búzios?
Olhos fitos na peneira, Pai Katolé em transe, declara:
---- O futuro, amigos, não são as páginas subseqüentes de um livro, previamente escrito e editado. O futuro é uma página em branco e que cabe a nós rascunhá-la , com as multicoloridas tintas da aquarela, com o rubro da violência ou com o preto – e –branco da trivialidade. O futuro é, pois, inescrutável, pois ele existirá como mero reflexo do que formos projetando no presente. Esta pergunta não deve ser feita aos Orixás , mas a nós próprios.
Por fim , um velho de barbas brancas caídas ao peito, interroga:
---- Qual serão os acontecimentos mais importantes do próximo milênio?
Pai Katolé lança os búzios, num movimento nervoso. Os olhos brilhantes fitam-nos dispersos erroneamente na peneira. O Babalaoô, com voz doce, conclui:
---- Muitos acontecimentos pretensamente soberbos acontecerão nos próximos mil anos, mas os mais importantes continuarão sendo: a alternância do sol e da lua, a áurea e púrpura floração do Pau-d’arco nas encostas das serras e o voejar despretensioso das borboletas nos campos de girassóis...
---- Atótóo !!!!!
Em suas vestes sacerdotais, Pai Katolé, o Babalaoô do Axé Ilê Uilá, , ajudado pelo Pejigan , manipula calmamente o Rosário . Ao derredor seus filhos aguardam, ansiosos , abertura do Oráculo de Ifá.. Anualmente, já é uma tradição, no Olugbejé, Pai Katolé joga os búzios e ouvindo Orunmirá , faz as previsões para o ano vindouro.Fim de século, término de milênio, a solenidade religiosa tomava características bastante especiais. Esta é a razão maior para tamanha concentração naquela Segunda-Feira, no culto a Omulu.
---- Atótóo !!!!!
Em profundo êxtase, Pai Katolé toma da peneira com os 16 búzios sagrados- o Merindologún. A platéia, num misto de ansiedade e expectativa, aguarda as misteriosas palavras de Oludumaré , na certeza de que terá a antevisão do caos ou da bonança. Um agricultor do Barro Branco, face esculpida pelo barro e pelo Sol, adianta-se na primeira pergunta:
--- Teremos Inverno , nos próximos anos?
O Babalaoô arremesa os búzios sagrados e, enquanto os recolhe , meticulosamente, responde, com voz cavernosa:
--- Chuvas cairão, mais fortes em alguns locais e mais fracas em outros. Onde houver fartura Olurum mandará junto a alegria, onde houver seca dará força e resignação para vencer a sede e a fome.
---- Nosso povo será feliz no próximo milênio , Pai Katolé? Indaga uma mocinha , ainda não contaminada pelo amargor dos anos.
Búzios atirados, atenta leitura feita, o Sacerdote, pausadamente , retruca:
---- Impossível falar-se em felicidade por todo um milênio. A felicidade nutre-se na água da fugacidade. É volátil e transitória por própria essência. Fosse eterna, não teria qualquer significado, talvez se chamasse monotonia. Ela só existe com sua irmã xifópaga: a Tristeza. A felicidade, por outro lado, é um estado de espírito pessoal e intransferível, independe de tudo que está ao seu derredor. Não tem cabimento, pois, falar na felicidade de um povo ou de uma nação.
Os atabaques marcam ritmadamente as palavras do Pai de Santo.Sem piscar os olhos, a platéia bebe sôfrega os ensinamentos do Sacerdote de Ifá.
--- No próximo Século, Pai Katolé, os pobres terão direito ao Reino da Terra ou precisarão esperar pelas benesses do Reino de Olurum, após a morte?
Búzios abertos, búzios fechados... O êxtase... e a resposta:
---- A terra não foi criada para ser o paraíso de poucos, o purgatório de alguns e o inferno de muitos.Este estado de coisas foi criado pelo próprio Homem e pelas forças negativas espirituais.O Homem tornou-se a anti-matéria do próprio Homem.Só teremos dois caminhos a seguir: ou viveremos com alguma equidade social ou nos auto-extinguiremos como espécie, no planeta.
--- O que o futuro, enfim nos proporcionará? O que dizem os búzios?
Olhos fitos na peneira, Pai Katolé em transe, declara:
---- O futuro, amigos, não são as páginas subseqüentes de um livro, previamente escrito e editado. O futuro é uma página em branco e que cabe a nós rascunhá-la , com as multicoloridas tintas da aquarela, com o rubro da violência ou com o preto – e –branco da trivialidade. O futuro é, pois, inescrutável, pois ele existirá como mero reflexo do que formos projetando no presente. Esta pergunta não deve ser feita aos Orixás , mas a nós próprios.
Por fim , um velho de barbas brancas caídas ao peito, interroga:
---- Qual serão os acontecimentos mais importantes do próximo milênio?
Pai Katolé lança os búzios, num movimento nervoso. Os olhos brilhantes fitam-nos dispersos erroneamente na peneira. O Babalaoô, com voz doce, conclui:
---- Muitos acontecimentos pretensamente soberbos acontecerão nos próximos mil anos, mas os mais importantes continuarão sendo: a alternância do sol e da lua, a áurea e púrpura floração do Pau-d’arco nas encostas das serras e o voejar despretensioso das borboletas nos campos de girassóis...
J. Flávio Vieira
Contracultura, tradição e oralidade: (re)inventando o sertão nordestino na década de 70
Livro do professor Roberto Marques disponível na Internet
O trabalho de Roberto Marques, através da identificação da produção cultural de duas gerações de intelectuais do Crato, a da década de 50 e a de 70, pretende investigar por quais caminhos as idéias aparentemente díspares de modernidade e de tradição se fundem nas manifestações artístico-culturais produzidas na cidade durante as décadas de 70 e 80.
Acesse a obra AQUI.
O trabalho de Roberto Marques, através da identificação da produção cultural de duas gerações de intelectuais do Crato, a da década de 50 e a de 70, pretende investigar por quais caminhos as idéias aparentemente díspares de modernidade e de tradição se fundem nas manifestações artístico-culturais produzidas na cidade durante as décadas de 70 e 80.
Acesse a obra AQUI.
Matéria enviada por Kaika Luís
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
sábado, 26 de dezembro de 2009
Só pensando.
Por Zé Nilton
Uma surpresa daquelas. Até que o dia de hoje poderia ter passado sem nenhuma novidade. Todo dia, andando pelas ruas de nossa cidade, e num demorado percurso cumprimentamos a tantos, paramos, conversamos com tantos, são muitos amigos, amigos dos amigos, pessoas, alunos, ex-alunos, colegas de trabalho, colegas dos colegas - ah, você, te conheci naquele dia... como vai sua esposa ? - Bicho, tu tá magro pra cacete, qual é irmão? - Olha só, toda tardinha, escuto você cantando o hino do Crato na rádio Centro.. - Quando vai gravar outro disco? - Ei, Zé, e a Urca ? - Tem ido pra serra? - Professor, compre um livro que saiu, é do João Pierre. - Olha só, to escrevendo um livro contando o tempo da ditadura no Crato... - Quando tu quer participar da Rapadura Cultural? Neste fim de mês nós vamos homenagear...
Claro, isto acontece com todos os amigos quando se encontram com os amigos na cidade. Muitas conversas, muitas histórias, muitos conchavos, muitos “pé de orelha” (sem politicagem), contando a última daquele ou daquela.. ou daquilo e daquilo outro. Virge, tu sabe da última?
Uma surpresa daquelas hoje me ocorreu. Querem saber?
Encontrei, pela manhã, na loja do Amilton, o meu amigo, José Flávio Vieira – o Zé. Já no interior da loja, foi difícil trazer o homem para as minhas confabulações. As pessoas puxavam o sorridente e afável Zé pra cá, e prá lá, todas queriam a atenção do bicho feio, mas transido de bondade e presteza para com todos.
Pensando em minorar aquele assédio espontâneo das gentes, levei o cara pra fora da loja. Qual o quê! Piorou. Como diria minha avó – foi peor ! Fez-se uma roda em torno do homem, e nós no meio. Fiquei embasbacado com tanta gente querendo falar com o Zé. Teve um que disse: - você me operou e nem doeu... Outro, - quando passo lá pra tu me ver ?
Vou tentar reproduzir um pouco do que pude encacholar das vozes que ouvir no meio daquele furdunço.
- Dr., meu gogó tá flácido ? Mas, tô tomando todos os remédios...
- Fique sempre novo prá cuidar da gente...
- Não, você me fez ficar mais nova... olha só, foram os remédios...
- Que nada, dr, nunca me esqueço de seu pai. Quando na Faculdade, eu lhe pedi para fazer um trabalho sobre português. Aí ele disse: pois faça o meu que é sobre religião. Aí eu fiz, acho que ele nem entregou, era assim o Vieirinha...
- Dr., aquela sua operação, olha, só o mi !...
- Me dê um abraço, esse homem me salvou a vida...
- Bonitão, hem? Tá novim...
- Viva o dr. Zé Flávio ! Tô na sua sombra...
- Rapaz, é mesmo o dr. Zé Flávio, a esta hora por aqui ?...
- Cara, você salvou a minha mãe...
- Olha só o homi, ah se ele tomasse conta do Crato...
E foram longe as mesuras do povo de minha cidade para com o Zé. Confesso que fiquei pasmo com a avalanche de carinho devotado a esta figura de médico, cuidador e amigo das pessoas.
Aí sai dali pensado...
Calma, só pensando!
Zé Nilton
O ovo do sonho
Por um momento ainda tentou acreditar , enquanto cantarolava: "Eu sou o bom, sou o bom, sou o bom....", tentou acreditar que a imagem refletida no espelho do banheiro era a sua . Era sim aquele ali era o "Negro Gato de Arrepiar" , o tremendão espedaçador de corações; não havia nenhuma dúvida. Há pouco recebera o convite de um Cara, convidando-o para uma Tertúlia, uma reunião jamais imaginada: os mais importantes Conjuntos musicais do país: The Fevers, Os Pholhas, Os Golden Boys , ali estariam num encontro inimaginável e histórico. Ensaiando os passos ziguezagueantes do Twist, arrancou do Guarda-roupa a velha Calça Lee , boca de sino; o empoeirado sapato cavalo de aço; a Camisa Volta ao Mundo e o negro blusão de couro. Com habilidade arqueológica, exumou da gaveta o colarzão metálico e o pôs cuidadosamente no pescoço, após vestir toda aquela indumentária em feitio de armadura medieval que, não entendia bem porque, ainda ontem tão perfeita, hoje mal cabia no modelo. Aplacou um pouco o cheiro de mofo das vestes com o inconfundível : "Topaze" da Avon. No momento exato em que banhava a vasta e negra cabeleira com a insuperável Brilhantina Glostora , é que lhe veio o primeiro sobressalto: havia algo de errado com a lâmina do espelho( Ah essa tecnologia moderna!): a juba refletia-se estranhamente rala , teimando em não fazer topete e em não cair nos ombros, e, possivelmente por conta do reflexo da florescente, os cabelos mostravam-se grisalhos, como se alguém (quem sabe, o tempo?), numa daquelas freqüentes gozações, lhe tivesse atirado Maizena. Rapidamente desviou o olhar para as costeletas : duas botinas de cano largo, que ali estavam tal e qual um elmo : de fazer inveja ao próprio Elvis. Solfejando: "Vejam só que Festa de Arromba, noutro Dia eu fui parar"... folheou desordenadamente a velha agenda, até encontrar o telefone da Mariazinha : Será que ela ia para a Tertúlia? Tantas vezes me rejeitou "só porque sou pobre demais", pensou. Quem sabe ,hoje, a lábia tradicional, a cantada tantas vezes insulsa não faria efeito? Tentou discar várias vezes. Não entendia por que , sempre atendia uma voz chata e monocórdica pedindo para verificar novamente o número, que não tinha 07 dígitos, dizendo ser de uma tal de Telemar . Nem sequer falava na SERTESA.
--Encontro com ela, por lá!
Na rua buscou com os olhos o famoso "Mustang Cor de Sangue". Como só avistasse um fusquinha estranhamente familiar, entrou cantando "Meu Calhambeque, bibite..." Ah! Mas o carango não quis pegar na chave, pois aí pegou no tranco mesmo : "With a Little Help From My Friends". Saiu em disparada, como que derrapando nas tortuosas curvas da estrada de Santos e ia matutando com seus colares: "Existem mil garotas atrás de mim .
Entrou no Clube. Aos poucos, na penumbra, foi reunindo a velha patota. Estavam lá , alegres todos , mas um pouco distantes , como se atônitos se mostrassem sobreviventes de alguma catástrofe longínqua e impalpável. O Rum com Cola foi desanuviando os semblantes e , em pouco, estavam todos no ponto, morou? No palco, os Fevers apareceram quentes como nunca. Enquanto os Pholhas tocavam, alguém se lembrou, discretamente, de algum outro tipo de folha bem mais inflamável e que rolou incandescente de mão em mão , levando, magicamente, os jovialíssimos Golden Boys a brilharem em feitio de cometa, como certamente nunca tinham resplandecido até então.
--"Bicho, olha quem tá ali!"
Não soube nunca ao certo quem teve, na rodinha, aquela iniciativa. Olhou do lado e ali estava, a paixão da sua vida; aquele broto a que mais amou . E dela, até aquela data, sequer ao menos tinha ganho um beijo, um toque mínimo que fosse... ou seria por isso mesmo que tanto ainda a amava? Algum louco já dissera ela tinha se casado e separara há pouco tempo, mas agora, não tinha nenhuma sombra de dúvida: tinha sido, ao certo, um simples namoro, uma volátil chuva de verão. Mariazinha era a mesma menina na sua saia plissada, nos seus olhos negros, profundos e expressivos ; no seu sorriso sensual, leve e enigmático. Tentou balbuciar alguma coisa, algo assim como: "Você é o tijolinho que faltava na minha construção"... mas percebeu que todas as palavras pareciam supérfluas e desnecessárias: a orquestra atacava de "And I Love Her ". Simplesmente tomou-a nos braços e começaram a dançar num espaço infinito, etéreo e atemporal, como se passado e presente houvessem se fundido: como se a vida tivesse se iniciado naquele exato momento, rompendo com estardalhaço o ovo do sonho que havia hibernado por tantos e tantos anos...
--Encontro com ela, por lá!
Na rua buscou com os olhos o famoso "Mustang Cor de Sangue". Como só avistasse um fusquinha estranhamente familiar, entrou cantando "Meu Calhambeque, bibite..." Ah! Mas o carango não quis pegar na chave, pois aí pegou no tranco mesmo : "With a Little Help From My Friends". Saiu em disparada, como que derrapando nas tortuosas curvas da estrada de Santos e ia matutando com seus colares: "Existem mil garotas atrás de mim .
Entrou no Clube. Aos poucos, na penumbra, foi reunindo a velha patota. Estavam lá , alegres todos , mas um pouco distantes , como se atônitos se mostrassem sobreviventes de alguma catástrofe longínqua e impalpável. O Rum com Cola foi desanuviando os semblantes e , em pouco, estavam todos no ponto, morou? No palco, os Fevers apareceram quentes como nunca. Enquanto os Pholhas tocavam, alguém se lembrou, discretamente, de algum outro tipo de folha bem mais inflamável e que rolou incandescente de mão em mão , levando, magicamente, os jovialíssimos Golden Boys a brilharem em feitio de cometa, como certamente nunca tinham resplandecido até então.
--"Bicho, olha quem tá ali!"
Não soube nunca ao certo quem teve, na rodinha, aquela iniciativa. Olhou do lado e ali estava, a paixão da sua vida; aquele broto a que mais amou . E dela, até aquela data, sequer ao menos tinha ganho um beijo, um toque mínimo que fosse... ou seria por isso mesmo que tanto ainda a amava? Algum louco já dissera ela tinha se casado e separara há pouco tempo, mas agora, não tinha nenhuma sombra de dúvida: tinha sido, ao certo, um simples namoro, uma volátil chuva de verão. Mariazinha era a mesma menina na sua saia plissada, nos seus olhos negros, profundos e expressivos ; no seu sorriso sensual, leve e enigmático. Tentou balbuciar alguma coisa, algo assim como: "Você é o tijolinho que faltava na minha construção"... mas percebeu que todas as palavras pareciam supérfluas e desnecessárias: a orquestra atacava de "And I Love Her ". Simplesmente tomou-a nos braços e começaram a dançar num espaço infinito, etéreo e atemporal, como se passado e presente houvessem se fundido: como se a vida tivesse se iniciado naquele exato momento, rompendo com estardalhaço o ovo do sonho que havia hibernado por tantos e tantos anos...
J. Flávio Vieira
A filha de Jefté - Por Emerson Monteiro
Primeiro, Jefté fora discriminado pelos herdeiros de seu pai, Galaad, em face de nascer de uma prostituta, ainda que considerado um valente guerreiro. Afastou-se do meio dos irmãos filhos legítimos do mesmo pai e viveu na terra de Tod, quando, então, se viu cercado de pessoas menos consideradas, vindo a formar e capitanear um exército de miseráveis.
Passado algum tempo, os parentes que o abandonaram sofreram ataques de povo vizinho, os amonitas. Diante da constante insegurança que se instalara, acharam por bem recorrer à coragem já reconhecida de Jefté, instando-o a liderar a antiga nação, recebendo proposta dos anciões de chefiar as tropas da família e, em seguida, ocupar o trono da tribo.
Na expectativa do que a oportunidade representava, Jefté indicou para si que aceitaria a missão caso obtivesse o êxito nas armas, concordando, pois, em seguir à frente de batalha. Nessa hora, prometeu ao Senhor que, retornando vitorioso ao lar, sacrificaria em holocausto quem primeiro viesse ao seu encontro.
Transcorridos os feitos da guerra, coberto de todas as glórias contra os filhos de Amon, Jefté se aproximava de sua casa em Masfa, onde vivia com a família, quando a pessoa a quem coube lhe recepcionar, em festa de animação, tamborins e danças, ninguém mais seria senão a filha única e adorada, envolta na mais intensa das alegrias.
Por isso, o pai, numa total prostração, exclamou contrafeito:
- Ah, tu me acabrunhas de dor, e estás no rol daqueles que causam a minha infelicidade! – para em seguida confessar a causa das duras palavras: - Fiz ao Senhor um voto que não posso revogar.
Daí, a filha tomou conhecimento de tudo, e resigna-se ao compromisso paterno para com Deus.
Porquanto até ali permanecesse virgem, o que representava razão de infelicidade a não procriação, a filha apenas solicitou um período ausente durante o qual pudesse cumprir, junto de suas amigas, turno de dois meses nas colinas, para, nesse período, chorar a contrariedade de sua virgindade.
Conta a história que deste modo ocorreu. Vencido o prazo concedido, a filha veio a ser ofertada em holocausto, de acordo com o livro bíblico de Juízes, restando ao povo daquele tempo o costume, a cada ano, de os jovens prantearem por quatro dias seguidos a morte da filha de Jefté, o galaadita, raro exemplo de sacrifício humano registrado entre os judeus.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Silêncio
Tempo breve, matéria escassa, espaço limitado
mesmo assim recolho das sobras que posso
algo mágico:
uma infância tenra com ares enrugados
sob as sombras dos dedos.
Escrever versos
em folha branca
sem pauta
traz-me à tona
meu primeiro chocolate
minha primeira farofa de ovo.
Mesmo que amanhã eu morra
para meu conforto
as estrelas há mais tempo
morreram
e só agora
cegam-me os olhos.
Tempo breve, matéria escassa, espaço limitado
e tu entras dentro da minha mente
açoitas meu coração ingênuo
que te responde todos os dias -
mesmo quando não ouço.
Não hei de morrer
após este último vislumbre
como não foge
da minha alma o gosto
do primeiro chocolate
da primeira farofa de ovo.
As estrelas cadáveres
são fábulas.
As estrelas brilham
porque são cacos de vidro.
Decido então não morrer
após este último soluço.
mesmo assim recolho das sobras que posso
algo mágico:
uma infância tenra com ares enrugados
sob as sombras dos dedos.
Escrever versos
em folha branca
sem pauta
traz-me à tona
meu primeiro chocolate
minha primeira farofa de ovo.
Mesmo que amanhã eu morra
para meu conforto
as estrelas há mais tempo
morreram
e só agora
cegam-me os olhos.
Tempo breve, matéria escassa, espaço limitado
e tu entras dentro da minha mente
açoitas meu coração ingênuo
que te responde todos os dias -
mesmo quando não ouço.
Não hei de morrer
após este último vislumbre
como não foge
da minha alma o gosto
do primeiro chocolate
da primeira farofa de ovo.
As estrelas cadáveres
são fábulas.
As estrelas brilham
porque são cacos de vidro.
Decido então não morrer
após este último soluço.
sete palavras
1.
um conselho, leitor de poesia,
não te fies assim no coração
mas prepara-te os dentes, pois é
tempo de chumbo nas palavras,
cada palavra-pedra que se pode
colher nesta cidade com suas linhas
azuis, tetos de ocre e ventania,
fiascos empalhados em sobrados,
mil dores espalhadas pelas sombras,
dias terrivelmente construídos
com influxos de sonhos e gravuras
maiores que teu peito de lirismos
2.
não estou certo, mas creio que a poesia
surgindo das arestas tem um gosto
típico de laranja podre e cheiro
de esgoto misturado com o suor
de todos esses homens que constroem
o dia odiado por mim, inútil
sonhador de presenças sem ferrugem
3.
quero voltar pra casa em silêncio
cansado dos acordos da política
no fundo dos porões, quero mulher
que me faça esquecer ratos com aspectos
angelicais e línguas de navalha
distribuindo engodos como flâmulas,
influências no centro do poder,
busca do verde vivo no papel,
uma por cima da outra, meu amigo
uma por cima da outra, sem moleza
4.
não confie nunca mais no coração
acostumado a versos sobre a lua
hoje é tempo de chuvas, enxurradas
dessas vozes melífluas e gasosas
cantos da casa escura, o barulho
hum! hum! tanto barulho de motores
rompendo sem milagres cada dobra
da noite com camadas de sentido
se esvaindo, mensagens por decifrar
5.
sombra da noite, fúria de mil pés
mil braços sem batalha aguardada
que o coração é um poço de enganos
e quem nele mergulhe parcialmente
seu rosto há de sair um pouco mais velho
desgastado, com voz rouca de quem
saltou do sono e foge do espelho
6.
poemas-guloseimas se repetem,
sabores que as palavras têm depois
de uma taça de vinho, nostalgia
sopro de lábios lívidos no ouvido
poesia sem ter rumo, vastidão
de ruas ensolaradas, gente estrela
cuspindo seus temores sobre as torres
7.
poesia agora é um pouco mais do que
esse açúcar na mesa eviscerada
também é mijo, pinga, pichação
de vitrines, calçadas com rancores,
a coreografia de homens nulos
um monte de palavras perfurando
os ouvidos, os olhos, o real
um conselho, leitor de poesia,
não te fies assim no coração
mas prepara-te os dentes, pois é
tempo de chumbo nas palavras,
cada palavra-pedra que se pode
colher nesta cidade com suas linhas
azuis, tetos de ocre e ventania,
fiascos empalhados em sobrados,
mil dores espalhadas pelas sombras,
dias terrivelmente construídos
com influxos de sonhos e gravuras
maiores que teu peito de lirismos
2.
não estou certo, mas creio que a poesia
surgindo das arestas tem um gosto
típico de laranja podre e cheiro
de esgoto misturado com o suor
de todos esses homens que constroem
o dia odiado por mim, inútil
sonhador de presenças sem ferrugem
3.
quero voltar pra casa em silêncio
cansado dos acordos da política
no fundo dos porões, quero mulher
que me faça esquecer ratos com aspectos
angelicais e línguas de navalha
distribuindo engodos como flâmulas,
influências no centro do poder,
busca do verde vivo no papel,
uma por cima da outra, meu amigo
uma por cima da outra, sem moleza
4.
não confie nunca mais no coração
acostumado a versos sobre a lua
hoje é tempo de chuvas, enxurradas
dessas vozes melífluas e gasosas
cantos da casa escura, o barulho
hum! hum! tanto barulho de motores
rompendo sem milagres cada dobra
da noite com camadas de sentido
se esvaindo, mensagens por decifrar
5.
sombra da noite, fúria de mil pés
mil braços sem batalha aguardada
que o coração é um poço de enganos
e quem nele mergulhe parcialmente
seu rosto há de sair um pouco mais velho
desgastado, com voz rouca de quem
saltou do sono e foge do espelho
6.
poemas-guloseimas se repetem,
sabores que as palavras têm depois
de uma taça de vinho, nostalgia
sopro de lábios lívidos no ouvido
poesia sem ter rumo, vastidão
de ruas ensolaradas, gente estrela
cuspindo seus temores sobre as torres
7.
poesia agora é um pouco mais do que
esse açúcar na mesa eviscerada
também é mijo, pinga, pichação
de vitrines, calçadas com rancores,
a coreografia de homens nulos
um monte de palavras perfurando
os ouvidos, os olhos, o real
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
LAPINHAS VIVAS
A influência ancestral dos três principais mundos formadores da alma brasileira permanece pulsante na vida do sertanejo simples, cuja religiosidade se manifesta à flor de seus atos e ditos. E é na efervescência dessa estética universal que nascem e se fortalecem as tradições culturais populares; em nosso caso, resultantes do caldeamento cultural havido entre os indígenas donos da terra, os brancos ibéricos invasores e os negros de várias nações para cá trazidos como escravos.
Lapinha Mãe Celina (Crato-CE)
A Lapinha assume, neste contexto, uma espécie de demonstração da prevalência do cristianismo sobre as crenças e religiões dos outros povos. Entretanto não escapa à aculturação decorrente dessa convivência, sabida por nós nada pacífica ou cordial. J. de Figueiredo Filho, em seu O Folclore no Cariri (1960: p. 32) nos afirma que à Lapinha, “de procedência lusitana, foi acrescentada muita cousa de fonte indígena ou africana, como os caboclos, a canção da formosa tapuia, ou temas inteiramente abrasileirados.” Na mesma obra (pp. 33-39), ilustra seu caráter multicultural verificando a presença do anjo, índios, do sol, da lua, baianas, beija-flor, pastores, vaqueiros... além dos três Reis Magos.
É a Lapinha Viva, pois, a reconstituição dramática popular da visita dos três Reis Magos ao recém-nascido Jesus, com o fim de lhe ofertarem presentes. Sua significação transita da representação quase que ainda medieval, com pessoas interpretando santos, bichos e coisas da natureza como simples e profunda louvação ao Deus-Menino, até a complexa peça de antropologia cultural que traz em si grande parte da história da humanidade. Lá estão não somente símbolos de culto cristão, católico, mas fortes traços que nos remetem aos primitivos tempos em que o homem vivia em diálogo e harmonia com a natureza, assim como elementos que podem “contar” os processos de formação cultural e social da nação brasileira, sem descuidar de nos remeter aos povos ancestrais de antes do encontro em nossas terras.
Hoje, no Cariri, as nossas Lapinhas Vivas apresentam praticamente as mesmas características dramáticas de outrora, sendo acrescidas quase sempre da louvação de um grupo de Reisado, que também representa a peregrinação dos Reis Magos a Belém, pertencendo ambos ao ciclo natalino, e, às vezes, de uma Banda Cabaçal. Quando se juntam os três folguedos, multiplicam-se a beleza estética, o brilho dramático, o riso brincante, o alcance histórico.
O fortalecimento e a difusão do folclore e das manifestações tradicionais populares, a exemplo das Lapinhas, devem servir principalmente à causa do (re)descobrimento de nossa identidade cultural, pois que oferecem uma farta leitura do mundo em variadas dimensões e diferentes tempos. É a história se doando generosamente à elaboração de um novo pensamento, que dê vazão a sinceras atitudes libertárias, que restabeleça o espírito e a festa da dignidade humana, da democracia, do respeito à natureza, da felicidade, do amor.
Cacá Araújo
Professor, dramaturgo e folclorista
Diretor da Cia. Cearense de Teatro Brincante
Lapinha Mãe Celina (Crato-CE)
A Lapinha assume, neste contexto, uma espécie de demonstração da prevalência do cristianismo sobre as crenças e religiões dos outros povos. Entretanto não escapa à aculturação decorrente dessa convivência, sabida por nós nada pacífica ou cordial. J. de Figueiredo Filho, em seu O Folclore no Cariri (1960: p. 32) nos afirma que à Lapinha, “de procedência lusitana, foi acrescentada muita cousa de fonte indígena ou africana, como os caboclos, a canção da formosa tapuia, ou temas inteiramente abrasileirados.” Na mesma obra (pp. 33-39), ilustra seu caráter multicultural verificando a presença do anjo, índios, do sol, da lua, baianas, beija-flor, pastores, vaqueiros... além dos três Reis Magos.
É a Lapinha Viva, pois, a reconstituição dramática popular da visita dos três Reis Magos ao recém-nascido Jesus, com o fim de lhe ofertarem presentes. Sua significação transita da representação quase que ainda medieval, com pessoas interpretando santos, bichos e coisas da natureza como simples e profunda louvação ao Deus-Menino, até a complexa peça de antropologia cultural que traz em si grande parte da história da humanidade. Lá estão não somente símbolos de culto cristão, católico, mas fortes traços que nos remetem aos primitivos tempos em que o homem vivia em diálogo e harmonia com a natureza, assim como elementos que podem “contar” os processos de formação cultural e social da nação brasileira, sem descuidar de nos remeter aos povos ancestrais de antes do encontro em nossas terras.
Hoje, no Cariri, as nossas Lapinhas Vivas apresentam praticamente as mesmas características dramáticas de outrora, sendo acrescidas quase sempre da louvação de um grupo de Reisado, que também representa a peregrinação dos Reis Magos a Belém, pertencendo ambos ao ciclo natalino, e, às vezes, de uma Banda Cabaçal. Quando se juntam os três folguedos, multiplicam-se a beleza estética, o brilho dramático, o riso brincante, o alcance histórico.
O fortalecimento e a difusão do folclore e das manifestações tradicionais populares, a exemplo das Lapinhas, devem servir principalmente à causa do (re)descobrimento de nossa identidade cultural, pois que oferecem uma farta leitura do mundo em variadas dimensões e diferentes tempos. É a história se doando generosamente à elaboração de um novo pensamento, que dê vazão a sinceras atitudes libertárias, que restabeleça o espírito e a festa da dignidade humana, da democracia, do respeito à natureza, da felicidade, do amor.
Cacá Araújo
Professor, dramaturgo e folclorista
Diretor da Cia. Cearense de Teatro Brincante
Veja só : Agora é a França e a Inglaterra !
24/12/2009 - 12h14
Lula é o homem do ano para o jornal francês Le Monde
Em Paris
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi escolhido o "homem do ano" pela redação do jornal francês Le Monde porque, segundo a publicação, "aos olhos de todos encarna o renascimento de um gigante"."Embandeirado dos países emergentes, mas também do mundo em desenvolvimento do qual se sente solidário, o presidente brasileiro, de 64 anos, colocou decididamente seu país em uma dinâmica de desenvolvimento", afirma a revista semanal do Le Monde na edição desta quinta-feira."O presidente brasileiro, que no fim de 2010 deixará a presidência sem ter tentado modificar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato, soube continuar sendo um democrata, lutando contra a pobreza sem ignorar os motores de um crescimento mais respeitoso dos equilíbrios naturais", acrescenta.
No ano da França no Brasil, presidente brasileiro é eleito pelo jornal Le Monde o homem do ano
"Presidente do Brasil desde 1º de janeiro de 2003, ao fim de dois mandatos terá dado uma nova imagem a América Latina", afirma a revista ao explicar a escolha de Lula como "personalidade do ano 2009"."A consagração de Lula acompanha a renovação do Brasil", afirma a reportagem assinada por Jean Pierre Langellier, correspondente do jornal no Rio de Janeiro.
Brasil decola
Capa da revista inglesa Economist, publicada em novembro, diz que o Brasil decola"Carismático, de sorriso fácil e jovial, Lula, nascido em 27 de outubro de 1945 no estado de Pernambuco, ex-torneiro mecânico e sindicalista, transformou o Brasil em ator essencial do cenário internacional"."Diplomacia, comércio, energia, clima, imigração, espaço, droga: tudo lhe interessa e diz respeito", afirma o artigo, acompanhado por fotografias de Lula no Brasil e no exterior, incluindo uma ao lado do presidente americano.Lula foi o primeiro presidente da América Latina recebido por Barack Obama na Casa Branca.Líder dentro do G20, aspirante a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e primeiro sócio comercial da China são algumas conquistas na política externa, lembra o jornal francês."Longe ficou a época em que o sindicatista Lula com gorro proletário e microfone na mão gritava: 'Fora FMI'. Hoje não é mais o FMI que ajuda o Brasil, e sim o contrário", acrescenta.Mas o balanço também revela um "lado obscuro".Lula reduziu a pobreza e milhões de brasileiros passaram à classe média, "mas o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo (...) dividido entre um sul rico e dinâmico e um norte arcaico e deserdado".E entre os temas pendentes são citados uma educação primária e secundária "medíocres", um sistema de saúde "deficiente", uma burocracia "pesada", a polícia "ineficaz" e uma justiça "preguiçosa".O jornal espanhol El País declarou há algumas semanas Lula como a "personalidade do ano" e a revista britânica The Economist dedicou um número especial ao Brasil, com uma capa mais que eloquente: o Cristo Redentor, uma das imagens emblemáticas do Rio de Janeiro, decolando como um foguete rumo ao espaço.
Outro Olhar
Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.
Tragédia é depois dos abraços
quanto cinismo despertado
a cada taça de vinho.
O coração aumenta de tamanho
por novas mágoas até ontem esquecidas.
Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.
O desgosto é claro
no bocejo enfadonho
quando a festança acaba.
Dor nas costas,
mil louças na pia
ainda tem o ano novo,
vontade louca enforcar os parentes
também os penetras
e outros tantos vizinhos.
Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.
digam-me o contrário.
Tragédia é depois dos abraços
quanto cinismo despertado
a cada taça de vinho.
O coração aumenta de tamanho
por novas mágoas até ontem esquecidas.
Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.
O desgosto é claro
no bocejo enfadonho
quando a festança acaba.
Dor nas costas,
mil louças na pia
ainda tem o ano novo,
vontade louca enforcar os parentes
também os penetras
e outros tantos vizinhos.
Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.
O Clima
I
Vejo gafanhotos
exibindo belos adornos
nas longas patas
minhocas acordam da terra fofa
com os olhos contentes
quem diria até o diabinho
encosta seu tridente
aceita tomar um cafezinho
em companhia da sua antiga vítima.
Quanta delicadeza entre os vizinhos
nunca se falaram sequer um bom dia
mas reina o clima natalino
abrem a guarda
dão-se trégua
até o anjinho perdoa aquele sujeito
do primeiro andar
místico descarado
um esquisitão confesso.
II
Vejo borboletas em paz
dentro do casulo
não precisam entrar pelas janelas
hoje é o poeta que bate à porta.
Por favor, nada de vinho
tampouco panetone
só quero mesmo
ver como fazem vocês
para pintar essas cores.
Estive tão ocupado
escrevendo versos
nunca lhes toquei as asas
nem o milagre vi de perto.
III
Vejo as bijuterias da minha irmã
balançando com o vento.
Atrás o sol me olha
na fachada do outro prédio.
Vejo gafanhotos
exibindo belos adornos
nas longas patas
minhocas acordam da terra fofa
com os olhos contentes
quem diria até o diabinho
encosta seu tridente
aceita tomar um cafezinho
em companhia da sua antiga vítima.
Quanta delicadeza entre os vizinhos
nunca se falaram sequer um bom dia
mas reina o clima natalino
abrem a guarda
dão-se trégua
até o anjinho perdoa aquele sujeito
do primeiro andar
místico descarado
um esquisitão confesso.
II
Vejo borboletas em paz
dentro do casulo
não precisam entrar pelas janelas
hoje é o poeta que bate à porta.
Por favor, nada de vinho
tampouco panetone
só quero mesmo
ver como fazem vocês
para pintar essas cores.
Estive tão ocupado
escrevendo versos
nunca lhes toquei as asas
nem o milagre vi de perto.
III
Vejo as bijuterias da minha irmã
balançando com o vento.
Atrás o sol me olha
na fachada do outro prédio.
COMPOSITORES DO BRASIL
Por Zé Nilton.
Sobre música,
Sobre Natal brasileiro.
Desde que o homem captou o som ouvindo a natureza, descobriu a estrutura matemática de suas combinações e inventou uma escala tonal com infinitas possibilidades de manifestar uma melodia, a música definitivamente marca os eventos da trajetória humana.
A música, dentre múltiplas serventia, parece despertar certa substância em nosso cérebro, quando nos lembramos de algo em que ela fora testemunha.
Os acontecimentos por que passamos não se repetem, ou melhor, a atmosfera da época e o clima do momento estão ausentes nos ciclos repetitivos de nossas vidas. No entanto, caso esses momentos tenham sido emoldurados pela música – ou por aquela música que embalou e marcou aquele momento, ao ouvi-la e juntá-la ao ocorrido, entramos na aura que decolou daquela ocasião e que agora emerge na nossa lembrança.
Só para entendermos melhor. Ontem à noite, numa entrevista, o músico Tom Zé descreveu, com pureza de detalhes, o momento em que ouviu, pela primeira vez, a voz e o violão de João Gilberto interpretando “Chega de Saudade”. Seu semblante se transfigurava à medida que ia detalhando o local, o clima, as pessoas e tudo o que se encontrava à sua volta, enquanto desfrutava daquela ocasião mágica. Assim também ocorreu com toda uma geração de jovens compositores nos idos de 1959.
Parece que essa “sobredeterminação,” como uma imagem projetada num espelho – quando a música ajuda a tecer a ocasião - aguça o sentimento de (des)prazer quando lembramos.
Caso o leitor não concorde com minhas observações, remeto-o para a leitura de um livrinho (muito substancioso), do cratense Paulo Elpídio de Menezes, - “O Crato de meu tempo”, Fortaleza: edições UFC, 2ª. edição, 1985.
Nele o autor faz uma descrição histórica de nossa cidade nos fins do século XIX, levando em conta não o calendário histórico-linear, aquele em que se vai marcando os acontecimentos numa escala evolutiva. O autor se vale dos ciclos da vida, dos ciclos festivos como forma de construir suas rememorações, que terminam por revelar uma história (social) da cidade e de seu povo. Em todos esses eventos ele cita os folguedos, as músicas, as cantigas, as brincadeiras de rua, as serenatas e descreve as letras. Enfim, fala de sua infância e adolescência revividas em sua memória enriquecida pela trilha sonora que marcaram sua lembrança.
Então, o que seria do ser humano se não houvesse a música?
Acho mesmo que no Natal, assim como em outros ritos de passagem, e todos os ciclos festivos, a música ajuda muito a realçar as simbologias desses eventos.
No Brasil a música natalina é marcada pela diversidade da criação musical brasileira. As cantigas dos autos de natal no Brasil são expressões da cultura local. Acredito ser a música de Natal uma manifestação musical extraordinariamente rica, porquanto ela acompanha sob diversos ritmos e tons, os temas dos ciclos natalinos que se realizam em diferentes subculturas.
Por aqui tudo foi perfeitamente assimilado pelos diversos grupos que ensejaram a (des)ocupação paulatina do nosso território. No plano da música, os instrumentos, as danças, as cantigas, muitos ritmos, os autos, as coreografias etc. transplantadas por populações misturadas de todas as partes do mundo, foram acolhidas e até ressignificadas para permitirem sua continuidade no tempo..
.
Esse será o tema de hoje do Programa COMPOSITORES DO BRASIL.
Vamos falar das músicas do natal brasileiro, de seus compositores e cantores. Vamos enaltecer a figura da compositora Chiquinha Gonzaga, nascida em 1847, e que aos 11 anos de idade, em uma festa de Natal no lar, apresentou, com letra de seu irmão, sua primeira composição, uma música natalina: “Canção dos Pastores”.
Ouviremos e comentaremos:
1.Presente de Natal, de Herivelton Martins e Rogério Nascimento, gravação de Francisco Alves e participação do Trio de Ouro (Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco, e ainda Fon-Fon e sua orquestra, de 1934.
2.Um feliz natal, de Ivan Lins com Ivan Lins
3.Feliz natal, papai noel, de Martinho da Vila com Martinho da Vila
4.Jesus, papai noel, de Benito de Paula, com Benito de Paula
5.Menido Deus, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, com Clara Nunes
6.Natal das crianças, de Blecaute, com Carequinha
7.Balada para qualquer natal, de Evaldo Gouveia Jair Amorim, com Altemar Dutra
8.Noite de Natal, de Felisberto Martins, com Francisco Alves, gravação de 1945.
9.Boas Festas, de Assis Valente, com Ná Ozzeti
10.Cartão de Natal, de Zé Dantas e Luiz Gonzaga, com Luiz Gonzaga
11.Menino Deus, de Caetano Veloso, com Caeteno Veloso
12.Jesus menino, de Geraldo Rocca, com Almir Satter
13.Um novo tempo, de Paulo e Marcos Valle e Nelson Motta, com os conjuntos MPB4 e Quarteto em Cy.
Quem ouvir, verá!
Programa COMPOSITORES DO BRASIL
Pesquisa, produção e apresentação: Zé Nilton
Rádio Educadora do Cariri
Todas às quintas-feiras, às 14 h.
Apoio Cultural: CCBN
COMPOSITORES DO BRASIL
Por Zé Nilton
Sobre música,
Sobre Natal Brasileiro.
Desde que o homem captou o som ouvindo a natureza, descobriu a estrutura matemática de suas combinações e inventou uma escala tonal com infinitas possibilidades de manifestar uma melodia, a música definitivamente passou a marcar os eventos da trajetória humana.
A música, dentre múltiplas serventia, parece despertar certa substância em nosso cérebro, quando nos lembramos de algo em que ela fora testemunha.
Os acontecimentos por que passamos não se repetem, ou melhor, a atmosfera da época e o clima do momento estão ausentes nos ciclos repetitivos de nossas vidas. No entanto, caso esses momentos tenham sido emoldurados pela música – ou por aquela música que embalou e marcou aquele momento, ao ouvi-la e juntá-la ao ocorrido, entramos na aura que decolou daquela ocasião e que agora recai sobre a nossa lembrança.
Só para entendermos melhor. Ontem à noite, numa entrevista, o músico Tom Zé descreveu, com pureza de detalhes, o momento em que ouviu, pela primeira vez, a voz e o violão de João Gilberto interpretando “Chega de Saudade”. Seu semblante se transfigurava à medida que ia detalhando o local, o clima, as pessoas e tudo o que se encontrava à sua volta, enquanto desfrutava daquela ocasião mágica. Assim também ocorreu com toda uma geração de jovens compositores nos idos de 1959.
Parece que essa “sobredeterminação,” como uma imagem projetada num espelho – quando a música ajuda a tecer a ocasião - aguça o sentimento de (des)prazer quando lembramos.
Caso o leitor não concorde com minhas observações, remeto-o para a leitura de um livrinho (muito substancioso), do cratense Paulo Elpídio de Menezes, - “O Crato de meu tempo”, Fortaleza: edições UFC, 2ª. edição, 1985.
Nele o autor faz uma descrição histórica de nossa cidade nos fins do século XIX, levando em conta não o calendário histórico-linear, aquele em que se vai marcando os acontecimentos numa escala evolutiva. O autor se vale dos ciclos da vida, dos ciclos festivos como forma de construir suas rememorações, que terminam por revelar uma história (social) da cidade e de seu povo. Em todos esses eventos ele cita os folguedos, as músicas, as cantigas, as brincadeiras de rua, as serenatas e descreve as letras. Enfim, fala de sua infância e adolescência revividas em sua memória enriquecida pela trilha sonora que marcaram sua lembrança.
Então, o que seria do ser humano se não houvesse a música?
Acho mesmo que no Natal, assim como em outros ritos de passagem, e todos os ciclos festivos, a música ajuda muito a realçar as simbologias desses eventos.
No Brasil a música natalina é marcada pela diversidade da criação musical brasileira. As cantigas dos autos de natal no Brasil são expressões da cultura local. Acredito ser a música de Natal uma manifestação musical extraordinariamente rica, porquanto ela acompanha sob diversos ritmos e tons, os temas dos ciclos natalinos que se realizam em diferentes subculturas.
Por aqui tudo foi perfeitamente assimilado pelos diversos grupos que ensejaram a (des)ocupação paulatina do nosso território. No plano da música, os instrumentos, as danças, as cantigas, muitos ritmos, os autos, as coreografias etc. transplantadas por populações misturadas de todas as partes do mundo, foram acolhidas e até ressignificadas para permitirem sua continuidade no tempo...
Esse será o tema de hoje do Programa COMPOSITORES DO BRASIL.
Vamos falar das músicas do Natal brasileiro, de seus compositores e cantores. Vamos enaltecer a figura da compositora Chiquinha Gonzaga, nascida em 1847, e que aos 11 anos de idade, em uma festa de Natal no lar, apresentou, com letra de seu irmão, sua primeira composição, uma música natalina: “Canção dos Pastores”.
Ouviremos e comentaremos:
1.Presente de Natal, de Herivelton Martins e Rogério Nascimento, gravação de Francisco Alves e participação do Trio de Ouro (Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco, e ainda Fon-Fon e sua orquestra, de 1934.
2.Um feliz natal, de Ivan Lins com Ivan Lins
3.Feliz natal, papai noel, de Martinho da Vila com Martinho da Vila
4.Jesus, papai noel, de Benito de Paula, com Benito de Paula
5.Menido Deus, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, com Clara Nunes
6.Natal das crianças, de Blecaute, com Carequinha
7.Balada para qualquer natal, de Evaldo Gouveia Jair Amorim, com Altemar Dutra
8.Noite de Natal, de Felisberto Martins, com Francisco Alves, gravação de 1945.
9.Boas Festas, de Assis Valente, com Ná Ozzeti
10.Cartão de Natal, de Zé Dantas e Luiz Gonzaga, com Luiz Gonzaga
11.Menino Deus, de Caetano Veloso, com Caeteno Veloso
12.Jesus menino, de Geraldo Rocca, com Almir Satter
13.Um novo tempo, de Paulo e Marcos Valle e Nelson Motta, com os conjuntos MPB4 e Quarteto em Cy.
Quem ouvir, verá!
Programa COMPOSITORES DO BRASIL
Pesquisa, produção e apresentação: Zé Nilton
Rádio Educadora do Cariri
Todas às quintas-feiras, às 14 h.
Apoio Cultural: CCBN
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Tudo bem então:
Eu invento o vento.
Só não me peça pra dizer
que eu gostei do filme.
Só não me peça pra dizer
que entendi a peça.
Só não me peça pra dizer
que existe tempo ainda.
Só não me peça pra
emprestar meu ombro magro
pra esse choro de última hora.
Só não me peça pra dizer
que estava lá na hora.
Só não me peça pra jurar
esse amor, que nem sei se cheira
que nem sei as horas
que não sei o nome.
Tudo bem então:
Desinvente o vento.
A Voz
Há horas
em que os ancestrais
não se contorcem na tumba
ao contrário dançam felizes
quando o eremita
aldeão sem raízes
mendigo iconoclasta
não cai em tentações
feito criança invejosa
por tantas luzes
no jardim vizinho.
Nessas horas
em que o verme vira andorinha
cordeiro sorri com olhos de corvo
os ancestrais entendem
da loucura santa
a fluir no sangue
do soldadinho de chumbo.
em que os ancestrais
não se contorcem na tumba
ao contrário dançam felizes
quando o eremita
aldeão sem raízes
mendigo iconoclasta
não cai em tentações
feito criança invejosa
por tantas luzes
no jardim vizinho.
Nessas horas
em que o verme vira andorinha
cordeiro sorri com olhos de corvo
os ancestrais entendem
da loucura santa
a fluir no sangue
do soldadinho de chumbo.
Lapisiano
A maioria daqueles que conheço prefere usar caneta. Ainda não tenho uma opinião formada a esse respeito, mas já formulei algumas teorias afim de que uma me explique, um dia, essa preferência:
Um. Como o que é feito na vida, aquilo escrito de caneta não tem volta. Por mais que tenham inventado o corretivo, todos sabem que não ficará perfeita aquela trajetória após um erro;
Dois. A tinta da caneta tem várias aparências. Cada faceta poderia caracterizar um estado emocional ou uma fase inerente da idade do portador do objeto que risca. Para ficar mais clara a idéia, alguns exemplos: tinta preta para um texto mais sério ou para um autor mais sombrio; tinta vermelha para fazer correções ou para destacar; tinta rósea para a garota apaixonada escrever uma carta de amor;
Três. A variedade de tons, tamanhos, formatos e materiais que compoem uma caneta é muito maior. Portar uma caneta respeitável faz alguns acharem que ficam com um ar mais poderoso perante os pobres mortais.
Talvez um dia eu entenda porque as canetas são mais queridas. O que sei com certeza é o porquê do meu amor pelo simples lápis e pela irmã mais nova dele, a lapiseira.
Ter a oportunidade de em pelo menos um quesito poder voltar atrás, poder fazer como realmente quis, sem medo de errar, sem receio de estragar tudo, é algo incrível. A simplicidade imposta por um lápis, prático e tradicional e, mesmo falando da lapiseira, dá a ele um espírito mais decidido, de quem não precisa se fantasiar para conquistar alguém.
Por esses e outros motivos sigo com meu lápis, embora não possa negar a modernidade.
Thiago Assis F. Santiago
www.euthiagoassis.blogspot.com
Um. Como o que é feito na vida, aquilo escrito de caneta não tem volta. Por mais que tenham inventado o corretivo, todos sabem que não ficará perfeita aquela trajetória após um erro;
Dois. A tinta da caneta tem várias aparências. Cada faceta poderia caracterizar um estado emocional ou uma fase inerente da idade do portador do objeto que risca. Para ficar mais clara a idéia, alguns exemplos: tinta preta para um texto mais sério ou para um autor mais sombrio; tinta vermelha para fazer correções ou para destacar; tinta rósea para a garota apaixonada escrever uma carta de amor;
Três. A variedade de tons, tamanhos, formatos e materiais que compoem uma caneta é muito maior. Portar uma caneta respeitável faz alguns acharem que ficam com um ar mais poderoso perante os pobres mortais.
Talvez um dia eu entenda porque as canetas são mais queridas. O que sei com certeza é o porquê do meu amor pelo simples lápis e pela irmã mais nova dele, a lapiseira.
Ter a oportunidade de em pelo menos um quesito poder voltar atrás, poder fazer como realmente quis, sem medo de errar, sem receio de estragar tudo, é algo incrível. A simplicidade imposta por um lápis, prático e tradicional e, mesmo falando da lapiseira, dá a ele um espírito mais decidido, de quem não precisa se fantasiar para conquistar alguém.
Por esses e outros motivos sigo com meu lápis, embora não possa negar a modernidade.
Thiago Assis F. Santiago
www.euthiagoassis.blogspot.com
O fracasso de Copenhague (ou: você teria vergonha de trabalhar na Petrobras?)
Do Blog de André Forastieri
Hopenhagen, Hope (esperança) + Copenhague, ilumina a cidade sede da conferência
Uns meses atrás publiquei um texto sobre Apple, a Petrobras, e o capitalismo construtivo defendido por Umair Haque. Com o fiasco da cúpula ambiental de Copenhague, resolvi botar o assunto na roda de novo.
Porque agora todo mundo tem mais razões para se informar. Por exemplo, lendo o blog do Umair Haque.
Porque Lula, superstar do evento, e Dilma, nossa representante oficial por lá, são as duas pessoas que mais mandam na Petrobras. E porque a Petrobras só vai ficar maior na nova década, com pré-sal e tal.
Como empresa de energia, maior empresa do Brasil, e estatal ou quase, tem que dar o exemplo. É a história da mulher de César: não basta ser honesta, tem que estar acima de qualquer acusação de desonestidade.
O post teve uns comentários bem interessantes. Minha turma usa o cérebro (com as devidas exceções de uns convidados bem trapalhões, claro). E não me dá mole. Mais de um me questionou, “e tu, ó virgem vestal, terias vergonha de recusar um emprego bacanudo na Apple ou Petrobras?”
Minha resposta foi: Eu não teria vergonha de trabalhar em lugar nenhum. Quer dizer, talvez como carcereiro, ou como assessor de imprensa do Fernando Collor ou similar.
Já trabalhei na Folha e na Abril, já fiz frila para um monte de empresas diferentes, fiz conteúdo customizado para a HP e revista pôster do Rush etc.
Hoje meu trabalho é na Tambor e no meu blog, que encontrou abrigo no R7. Agora, uma coisa é não ter vergonha de trabalhar num tal lugar, outra é almejar.
E digo mais: continuo usando produtos da Petrobras e da Apple. Incoerência? É, sim, mas parcial. Boto fé zero em iniciativas ligadas ao consumo individual, numa questão deste tamanho. Iniciativas coletivas que façam barulho, encham o saco, contenham alguma inovação ou impactem em leis e em regras, em política e economia, opa, aí sim.
A questão chave, como eu defendia aqui outro dia, é tornar a insustentabilidade insustentável. Se a valorização das ações das empresas estiver organicamente vinculada ao seu desempenho social (o que inclui o seu desempenho ambiental) é que existirá estímulo eficiente para que elas se comportem da melhor maneira.
Ou seja: se poluir te der mais prejuízo que não poluir, você vira verde rapidinho. Vale para governos e para mim também.
Política ambiental global é política econômico-financeira global, e passa (entre outros lugares) pela regulamentação dos mercados internacionais, pelo final dos paraísos fiscais, por uma Organização Mundial do Comércio que possa ser levada a sério, por uma política de renda mínima global, pelo questionamento de leis antiquadas de propriedade intelectual, por um judiciário global que faça frente às transnacionais, por uma ONU fortalecida que represente adequadamente o Século 21… e por aí vamos, pelos caminhos da ficção científica.
Terreno mais que pantanoso, mas não há outra trilha à vista.
Por André Forastieri