O negócio agora é baixar a cabeça
e caminhar.
Sem olhar para trás.
Sem olhar para frente.
Chutar pedras
gravetos
tampinhas de refrigerante.
Esquecer teu aparelho dos dentes.
Os teus óculos lilases.
Somente uma vez por mês
o célebre porre homérico.
No teu dia.
Enquanto vertes sangue.
Bebo vinho.
O negócio agora é não se deixar morrer
iludido pelos pensamentos.
Dizem que são apenas névoas.
Mas cegam, meu velho.
Preciso abrir logo o olho.
Meter os pés no tênis sujo.
Nem lavar rosto.
Nem beber cafezinho quente.
Escapar do quarto.
Fugir da masmorra.
Até Voltaire se entristece
com tanto silêncio.
O negócio agora é levantar a cabeça
e bater asas.
Não olhar para o teto.
Não cortejar o passado.
Dizem que é apenas vento.
Mas vem junto o cisco.
A lágrima presa é outra estória.
Noutro dia conto.
Vejo da janela um lindo jardim
com pula-pula e carrossel.
Quem sabe não encontro por lá
uma fada esperta ou uma babá
que me abrace e me console
oxalá queira trocar
minha fralda geriátrica.
As formiguinhas do vaso sanitário
sabem que a minha urina é doce.
Portanto venham, oh, minhas fadas
oh, babás do condomínio
peguem pelo braço este poeta
e lhe deem o que beber.
Bateu sede.
Serve um peitinho.
Sem drama angelical.
Sem neurose puritana.
Ultimamente o poeta sofre
espantalho sob noite fria.
Tremem os ossos.
Acorda o coração moído.
O negócio agora é levantar-se.
Cortar as unhas.
Fazer a barba.
A cafeteira me espera.
Ouço seus espasmos.
Ofegantes sussurros.
Amada cafeteira
nunca deixa
o poeta desvalido.
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