terça-feira, 2 de julho de 2013

As Ratazanas no Queijo do Banco do Vaticano

Como ser cristão na ordem imoral, predatória, corrupta e anti-humana? O Instituto para as Obras da Religião (IOR), mas conhecido como o Banco do Vaticano não conseguiu e se tornou a barriga de aluguel para uma das maiores lavanderias de dinheiro ilícitos do mercado financeiro. Isso certamente não reduz a consciência do bom católico, mas o deixa em grande dificuldade para esquecer a incompatibilidade entre cristianismo e a ganância privada e individual do neoliberalismo meritocrático.  

O mais grave de tudo isso é que um Papa por nome Francisco, oriundo do terceiro mundo, venha a mexer na estrutura tóxica criada pelo santificado Papa João Paulo II. Aquele das multidões que parece ter aberto as portas do banco para financiar seus inimigos comunistas e da teologia da libertação. Não se necessita esperar uma mudança para este lado do Papa Francisco, mas não deixa de ser uma grande curiosidade vendo-o aplicar as normas da religião ao comportamento do banco. Se fizer alguma coisa algo se finda: ou o capitalismo ou banco do vaticano.

Abaixo segue uma boa matéria sobre o assunto que retirei do site Carta Maior.

Papa Francisco decapita a cúpula do Banco do Vaticano
A guerra pelo controle do IOR e as mudanças que poriam o banco do Vaticano em sintonia com um mínimo de regras internacionais é um dos motivos que explicam o alijamento de Bento XVI. O papa Francisco terminou por decapitar a cúpula do IOR e pôr o banco sob o seu comando. A Santa Sé anunciou ontem a renúncia do diretor geral do Instituto para as obras da Religião, Paolo Cipriani, e do vice-diretor, Massimo Tulli. Por Eduardo Febbro.
Eduardo Febbro
Paris - A cada mês que passa, o papa Francisco completa um pouco mais da obra inconclusa de seu predecessor, Bento XVI. O teólogo duro e pouco amigo da mídia tinha começado uma profusa obra de limpeza no seio de um dos organismos bancários mais secretos e sujos do mundo, o IOR, Instituto para as Obras da Religião, o banco do Vaticano. A guerra interna que desencadeou esse intento histórico de pôr fim às práticas enganosas herdadas do pontificado de João Paulo Segundo conduziu à renúncia inédita de Joseph Ratzinger.

A guerra pelo controle do IOR e as mudanças que poriam o banco do Vaticano em sintonia com um mínimo de regras internacionais é um dos motivos que explicam o alijamento de Bento XVI. O papa Francisco seguiu a obra iniciada por Ratzinger: recém eleito papa, retirou os exorbitantes privilégios econômicos de que gozavam (gratificação de 25. 000 dólares) os cardeais membros da comissão que supervisionava – inutilmente – as atividades do banco; depois, nomeou uma comissão de 5 membros encarregada de investigar a situação econômica e jurídica do banco do Vaticano.

Esta comissão está presidida pelo cardeal salesiano Raffaele Farina – 80 anos –e sua meta consiste em propor uma reforma do banco, para que “os princípios do Evangelho impregnem também as atividades de caráter econômico e financeiro”. Por último, Bergoglio terminou por decapitar a cúpula do IOR e pôr o banco sob o seu comando. A Santa Sé anunciou ontem a renúncia do diretor geral do Instituto para as obras da Religião, Paolo Cipriani, e do vice-diretor, Massimo Tulli. O comunicado do Vaticano disse que “ao cabo de muitos anos de serviços prestados ambos tomaram essa decisão, visando ao melhor interesse do Instituto e da Santa Sé”.

Essa série de decisões não tem precedentes na história sombria do IOR. Apesar de o Muro de Berlim ter caído há muito – 1989 -, o banco do Vaticano seguiu operando como se nada houvesse mudado. João Paulo II tinha feito do IOR o braço armado de sua estratégia contra o comunismo. Para receber fundos com o fim de utilizá-los na luta contra o comunismo e teologia da libertação, o papa polaco contratou uma galeria inusual de cardeais corruptos e de mafiosos assassinos. 
Entre estes, destacam-se três: o banqueiro da máfia, Michele Sindona, o banqueiro à frente do banco Ambrosiano do qual o IOR era o acionista majoritário, Roberto Calvi, o arcebispo estadunidense Paul Marcinkus, que passou de guarda-costas de João Paulo VI a presidente do IOR, e o cardeal venezuelano Rosalio Castillo Lara. Sindona morreu envenenado no cárcere e Calvi apareceu pendurado na ponte londrina dos Frades Negros. Bergoglio desta vez pôs um limite entre aquelas histórias e o futuro. 
Há dois dias a Santa Sé se colocou à disposição da justiça italiana e isso permitiu a prisão de um alto membro da cúria romana, o Monsenhor Nunzio Scarano, apelidado ˜Monsenhor 500˜, por seu gosto pronunciado e demonstrado por notas de 500 euros. Scarano, um membro dos carabinieri, Giovanni Maria Zito e o negociante Giovanni Carenzio são acusados de ter montado circuitos paralelos de lavagem de dinheiro através do IOR.
Poderia se escrever uma história tão extensa e cativante como a Comédia Humana de Balzac sobre o inescrupuloso banco do Vaticano. Até hoje, a melhor história foi escrita por Maurizio Turco, Carlo Pontesilli e Gabriele Di Battista. Seu livro “Paraíso IOR” é uma viagem tão exaustiva como pavorosa ao coração de uma entidade financeira cujas práticas estiveram até agora em total contradição com a mensagem moral da igreja. Nesta entrevista exclusiva para a Carta Maior, em Roma, Maurizio Turco e Carlo Pontesilli analisam o passado turvo e o porvir ainda incerto do IOR.
CM - Vocês não hesitam em qualificar o IOR como um banco criminoso. Tratando-se do Vaticano, esse qualificativo surpreenderá a muita gente.

CP – O IOR é um banco que goza de uma extraterritorialidade mundial. O IOR é um território de partes obscuras, de capitalistas aventureiros, de financistas imorais, de dinheiro do crime organizado que circulou através do banco e também, claro, o dinheiro da corrupção da classe política italiana. Tudo isso graças a uma normativa que protegeu o banco e as suas atividades ao largo das últimas décadas.
CM – Isto é história ou uma realidade ainda presente?

CP – Não, isto não pertence ao passado, no sentido de que as condições que permitiram todas essas irregularidades ainda seguem fazendo-o dentro do IOR. Todo esse sistema pôde funcionar devido a uma falta absoluta de controle por parte da Itália e da União Europeia, que não controlou o suficiente como devia fazˆ-lo. A verdade é que esse passado sombrio não acabou ainda. Nossa tese consiste em dizer que um banco não pode coincidir com uma religião. Mas nisso confiamos muito no papa Francisco, para que isto mude, esperamos que faça o que São Francisco fez, que não somente ajudou aos pobres, mas também foi ele mesmo pobre. Não se pode estar de acordo com um banco que funciona através de um sistema tecnicamente criminoso.

CM – Criminoso é uma palavra muito forte…

CP – Sim, é um banco tecnicamente criminoso. O crime é tudo aquilo que viola a normativa. A partir do momento em que o banco do Vaticano viola a normativa sobre a lavagem de dinheiro, a normativa monetária mundial, a partir do momento em que o banco do Vaticano recebe personagens turvos, não sei como qualificar de outra maneira. A história recente está cheia de episódios terríveis: assassinatos, mortes suspeitas, quebras de banco, dinheiro do crime organizado. Em suma, de um banco assim só se pode dizer que é tecnicamente criminoso.
CM – Vocês falam concretamente de falta de controle. O que significa isso?

CP – Significa que no banco do Vaticano entra dinheiro que depois termina nos mercados financeiros mundiais, sem que ninguém saiba nada. Por exemplo, em teoria, o estatuto do IOR diz que só os membros da igreja podem ter conta no banco. Mas não é exatamente assim. Sabemos que atrás das contas abertas por religiosos escondem-se verdadeiros titulares: homens políticos, mafiosos. Seria bom saber quem são esses laicos operam através do banco do Vaticano e gozam do estatuto de offshore do IOR para operar no mercado financeiro. O IOR tem, por exemplo, uns 300 milhões de dólares investidos nos Estados Unidos. Mas não se sabe onde. Imaginem se se descobre que esse dinheiro está investido em setores como o mercado de armas ou setores dos organismos geneticamente modificados!
CM – Para vocês, essa maneira opaca de operar é a que permite todos os abusos imagináveis…e mais um além.
MT – Em primeiro lugar, o tema não são as contas secretas, isso não existe, mas as contas mascaradas. Por exemplo: o IOR fazia uma transferência em nome do IOR para outro banco, também em nome do IOR. Isso não se pode fazer. O problema é que o banco do Vaticano permitiu-se operar em todo o planeta enviando dinheiro de um banco a outro, sem que se saiba a quem pertencia esse dinheiro e sem dizer que esse dinheiro era da igreja. Teoricamente, esse dinheiro deveria servir para as obras religiosas. Mas não. Temos visto que esse sistema de mascaramento das contas funcionou em todo o mundo! 
A Igreja universal tem o Banco Universal para a reciclagem universal: o IOR, Instituto para as obras de reciclagem… A última coisa que se pode imaginar é que o banco do Vaticano tente lavar dinheiro. Mas é assim, porque não tem nenhuma obrigação, nem interna, nem externa. Não presta contas a ninguém. São muito poucas as pessoas que sabem a quem pertencem realmente as contas abertas dentro do IOR.
CM - Em suma, o banco do Vaticano foi uma espécie de elo perdido livre de toda norma e obrigação.
MT— É assim. Ao longo de todos esses anos, o IOR pôde operar no coração da Europa, mas não em nome de interesses europeus ou nacionais, e sim em nome de interesses pessoais. Isto quer dizer, em nome dos interesses de homens do crime e da política. O banco do Vaticano é um seguro absoluto de que não se saberá para onde vai o dinheiro, nem a quem pertence…



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