segunda-feira, 1 de julho de 2013

Deus sabe o que faz! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Deus sabe o que faz!

Pronunciado em tom alto, no passo rápido sobre a calçada dos números ímpares da rua Nossa Senhora de Copacabana. Uma senhora de cabelos lisos, curtos e presos e com uma oleosidade de brilhar mesmo no ameno iluminar da manhã nublada por entrada de uma frente fria.

Deus sabe o que faz! Deus sabe o que faz!

Repetiu várias vezes enquanto seguia na direção da rua Barão de Ipanema. Assim mesmo: Deus sabe o que faz!

E foi-se semeando dúvidas sobre a calçada. Talvez Deus lhe dera algum sofrimento e ali mesmo ela reconhecia-lhe a sabedoria apesar de tudo. Mas pelo tom exaltado talvez algum desafeto sofrera algo por suposto merecido e Deus lhe fizera justiça. Quem sabe Deus escrevera algo por linhas tortas.

Dúvidas na calçada. E quem por ela passar é capaz de encontrar muitas mais além das três possibilidades citadas. Deus sabe o que faz!

Numa esquina qualquer mais adiante, no entanto, numa jardineira sobre a calçada da Nossa Senhora de Copacabana cresce a árvore privatista do mais completo conceito de universalidade. O Deus único, indivisível, onipotente, onisciente, onipresente. Mas a criatura deste o toma por seu. O Meu Deus sabe o que faz.

O Meu Deus me protege dos meus inimigos, dos meus desafetos, dos meus concorrentes, dos que me são diferentes. Esta propriedade se estica tanto sobre seus valores que termina por ser escriturada em cartório. No cartório que valida, que reconhece a firma da sabedoria de Deus.

E atesta: Deus sabe o que faz! E o sabe posto que atestado, que é apalavrado por um testemunho essencial de sua sabedoria. Um testemunho que nesta ocasião se encontra na condição de oficializar a Deus este simples demandante de um atestado de sua sabedoria.  


A luta incessante entre o universal e a propriedade privada.

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