O que se observou, nas recentes manifestações populares, é que por
muito pouco não foi ultrapassada a tênue fronteira entre Democracia X Anarquia.
É que, em nome de um regime que se nos apresenta como “do povo, pelo povo e
para o povo”, alguns dos manifestantes extrapolaram na exteriorização do que
achavam ser de direito, faltando com o respeito ao oponente e quem se lhe
antepusesse à frente. Afinal, provocar e denegrir a tropa que cuida de proteger
as pessoas (polícia) e posteriormente reclamar da reação; atentar contra o
patrimônio público e privado (depredando a torto e a direito); impedir o ir e
vir das pessoas (impossibilitando-as de ir ao trabalho e receber por isso);
bloquear vias importantes por onde escoa a produção nacional, e por aí vai, não
é bem um “ato democrático”. Claro que o trabalhador tem o direito (assegurado
pela própria Constituição Federal) de fazer greve, de manifestar-se livremente,
de exigir um melhor tratamento das autoridades constituídas, mas, tudo isso,
dentro dos limites da racionalidade e da razoabilidade. E, definitivamente, não
foi o que vimos. Estivemos, sim, às portas do regime anárquico, o que não é
recomendável.
A propósito, confira, abaixo, texto do filósofo Platão sobre a
Democracia, pela qual, tudo indica, não tinha muito apreço, embora dentro de
uma argumentação razoavelmente consistente:
“...O pai se acostuma a tratar o filho como igual e a temer as
crianças (...), que não têm mais respeito nem temor pelos pais, por se julgarem
livres (...). O mestre teme e adula seus alunos e estes zombam de seus mestres
e preceptores. (...) os jovens vêem os
velhos como iguais e os agridem, com palavras e atos; os velhos, por seu lado,
para agradar os jovens, fazem-se debochados e ridículos. (...) os animais parecem-se
com seus donos; e, assim, vêem-se cavalos e asnos, acostumados a passear livres
e soberbos, empurrar pelas ruas os transeuntes que não lhes cedam passagem”.
Como se vê, e segundo o autor “...Platão é implacável com a
democracia. Apresenta-a como o regime do abuso, da leviandade, da
permissividade. Ela se acomoda a tudo: ao desinteresse dos cidadãos pelo que é
comum, a instituições de qualquer outro regime, a todos os gêneros de vida.
Mais que um excesso de liberdade, reina nela a licença, em todos os registros.
Ela penetra na vida das famílias e contamina, segundo diz, mesmo os animais”.
E você, aí do outro lado da telinha, o que pensa ???
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