quinta-feira, 7 de novembro de 2013

"Catinga insuportável" - José Nilton Mariano Saraiva

Até que enfim o Crato chegou às manchetes, jornalísticas e televisivas. Pena que de uma forma nada positiva, não merecedora de encômios, nem um pouco edificante. É que o ex-prefeito da cidade, sentindo-se traído por um vereador que houvera sido seu aliado durante todo o tempo em que esteve no trono (nos últimos oito anos), resolveu fazer-lhe uma “visita amigável”, em companhia de um outro membro do legislativo cratense. Pois bem, durante o encontro, conversa vai conversa vem, ao tempo em que o incitava a fazer declarações comprometedoras (possível corrupção) contra o atual prefeito da cidade (seu adversário político), o ex-prefeito acionava um gravador a fim que a conversa registrada ficasse para a posteridade.

Nos dias seguintes, devidamente editados e vazados a conta-gotas, trechos da conversa gravada foram liberados para a imprensa, objetivando mostrar um suposto “modus operandi” mafioso do atual mandatário da cidade (compra de votos). Então, a coisa fedeu e uma “catinga insuportável” tomou de conta das ruas, praças, bares, clubes sociais, igrejas, bancos, consultórios, lotéricas e por aí vai, já que ao ouvir a própria voz num programa de alta audiência numa das emissoras da cidade e constatar que houvera sido enganado de forma humilhante pelo ex-amigo, a única e esfarrapada desculpa brandida por Sua Excelência (???) foi a de que naquela oportunidade havia “tomado umas e outras” e estava “fora de si” (sic), daí ter falado o que não devia. Assim, a se confirmar a fala do parlamentar, o ex-prefeito teria se aproveitado de uma pessoa em adiantado estado de embriagues a fim induzi-la a fornecer informações que comprometeriam um adversário político (e isso é bastante grave).

A propósito, é de domínio público que o ex-prefeito do Crato é um dos herdeiros de um dos maiores cartórios de Fortaleza (deixado pelo pai para a família) e, conseqüentemente, até por dever de ofício deve saber que qualquer gravação feita sem a autorização da justiça, além de não ter qualquer valor jurídico constitui-se crime grave, passível de punição. E é difícil acreditar (diríamos até impossível) que a Justiça conceda autorização para que uma pessoa física (ou mesmo qualquer autoridade) bisbilhote a vida de quem quer que seja, sem que haja um motivo relevante e de interesse coletivo (picuinhas, então, visando beneficiar-se pessoalmente, nem pensar). Assim, caso se sinta prejudicada, basta que a parte ofendida procure a Justiça em busca da competente reparação, cabendo até a impetração de processo e a conseqüente indenização por danos morais.

Agora, aqui pra nós, independentemente do desenlace de tão lamentável e vergonhoso imbróglio, que só serviu para manchar ainda mais o nome da cidade em nível nacional, o que se pode concluir é que as partes envolvidas (ex-prefeito e diversos vereadores) demonstraram não ter nenhum apreço pela ética, qualquer consideração para com o cargo para o qual foram guindados, nenhum respeito para com os que os elegeram.


Como estamos às vésperas de mais uma eleição, é bom atentar para isso, porquanto já se comenta que o ex-prefeito pretende se candidatar a Deputado, no próximo ano. 

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