J. FLÁVIO VIEIRA
"Não há nenhum
pensamento importante que a
burrice não saiba usar,
ela é móvel para todos os lados
e pode vestir todos os trajes da verdade. A
verdade, porém,
tem apenas um vestido
de cada vez e só um
caminho, e está sempre
em desvantagem." (Robert Musil)
O Crato, amigos, é mesmo uma cidade
sui generis. Esta semana conseguimos por abaixo dois paradigmas históricos. O primeiro
profundamente cratense, do nosso Quixadá Felício : “Nesta terra há lugar para
todos os homens de boa vontade” e um outro nacional , ditado por Pero Vaz de
Caminha, na sua carta: “Nesta terra em se plantando tudo dá! Acabamos de
provar que não há boa vontade neste
mundo que suporte a burrice de alguns nossos conterrâneos e que, ao contrário
do que pensava nosso escrivão, nesta terra em se plantando, tudo fenece. A pretensa cidade da Cultura já não tem um Cinema, não possui um Teatro
sequer, não tem mais nenhum Jornal, o Instituto Cultural deixou de publicar há
mais de 20 anos sua Revista Itaytera, o
Museu do Crato está com instalações deterioradas e parte do acervo desapareceu.
Neste exato momento em que a Mostra Cariri das Artes foi cancelada na nossa
cidade, a Câmara Municipal foi invadida , a Reitoria da URCA sofreu outra
invasão e a centenária Diocese do Crato está envolvida em processos judiciais
de estelionato e formação de quadrilha. Tínhamos, por outro lado, este ano, um
interessante alinhamento de planetas. Foi coisa botada ? Costuraram a boca de um sapo
e botaram ali no Muriti ? A melhor explicação deste azar reiterado vem do nosso
compositor Abidoral Jamacaru. Segundo ele, o Crato faz aniversário em 21 de
Junho , deve ser pois do signo de
Caranguejo, assim, astrologicamente se
justificaria esse nosso destino de dar um passo para frente e dois para trás.
O
certo é que complexados como todos os cratenses já vivem, pulularam inúmeras
versões e teorias conspiratórias nas Redes Sociais e rodinhas de praça, tentando culpar vários atores políticos e
sociais nesta derrocada derradeira. Afinal as Mostras SESC , nos seus quinze anos, se tornaram o mais
importante evento de todo o Sul do Ceará, formando platéias e imantando de
diversidade cultural o Cariri, promovendo encontro de artistas e estimulando um
interessante intercâmbio. O holocausto
da Mostra SESC por aqui envolve, na polêmica, basicamente três principais
atores : A Prefeitura do Crato, a FECOMÉRCIO e a Guerrilha do Ato Dramático. Pretendo,
aqui, refletir sobre cada uma das partes para tentar entender, depois do
dilúvio, o motivo do afogamento generalizado. Quase impossível se entender a
tragédia quando, este ano, tínhamos um interessante alinhamento de planetas :
Dane de Jade, nossa fabulosa Secretária de Cultura, veio de dentro do SESC e
foi uma das mentoras da Mostra, por outro lado, nosso Vice-Prefeito, Raimundo
Filho, sempre teve uma ligação fraterna e umbilical com a FECOMÈRCIO, a grande
patrocinadora da Mostra. Só nosso caié eterno mesmo para explicar a tragédia
acontecida !
O
SESC/Crato,nos últimos quinze anos, é bom que se entenda, funcionou como a
Secretaria de Cultura da Cidade. A ele devemos não só as Mostras, mas
espetáculos freqüentes do Palco Giratório e do Sonora Brasil, lançamentos de
livros, shows musicais principalmente através do Armazém do Som , leituras de
Cordéis na Feira e um interessante calendário de exposições de Artes Plásticas.
As Mostras sempre aqui se instalaram com
praticamente nenhuma ajuda dos Governos Municipais, além da cessão de alguns
espaços públicos para que acontecessem. E chegaram a trazer mais de 700
artistas, englobando, só em Crato, mais de dez salas de espetáculos funcionando
ininterruptamente. Aqui chegaram espetáculos fabulosos como “Cassandra”, “Gota
D´água” , “O Círculo de Giz Caucasiano”, para citar apenas alguns. Vários dos mais importantes grupos teatrais
do país e do exterior como Argentina,
Portugal, Uruguai, França aqui estiveram, sem falar em shows musicais de importantíssimos artistas brasileiros :
Nação Zumbi, Chico César, Jorge Mautner- Nélson Jacobina, Naná Vasconcelos e
muitíssimos outros. Os artistas da região, nas suas mais multifacetadas formas,
participaram intensamente dos eventos. As
Mostras sempre trouxeram uma imersão cultural importantíssima para o Crato, sem
se falar sequer na injeção de economia, na nossa cidade, aluguéis de espaços, com restaurantes , lanchonetes, hotéis
abarrotados. Isso sempre sem nenhum ônus, praticamente, para o município. O
SESC, pois, tem amplas razões quando reclama do boicote por parte da gestão
municipal à XV mostra. Vá lá que não se apóie, mas criar empecilhos, construir
barreiras, não é demais ?
Quanto
à Guerrilha do Ato Dramático, ela surgiu há mais ou menos cinco anos por grupos
de teatro do Cariri insatisfeitos com a seleção de espetáculos e, também, com a
política de cachês. Estes grupos, é bom que se frise, fazem um trabalho
incrível de resistência. Imaginem vocês, fazer Teatro Amador ou
semi-profissional, no interior do Nordeste ! Batalham dia a dia contra todas as
adversidades, órfãos quase sempre de apoio governamental. É preciso tirar o
chapéu para eles. É claro que podem ter surgido radicalizações de parte a
parte. Sempre entendi que a Guerrilha fazia-se sempre contra todas muitas adversidades e não contra a Mostra SESC em si.
Faltaram, possivelmente, negociadores para dirimir as arestas. Podia-se, por
exemplo, negociar para os dois eventos não acontecerem simultaneamente. Já
temos tão poucos no calendário ! Corre-se
sempre o risco de uma cobra engolir a outra e a outra engolir a uma e as duas
desaparecerem, como na historinha de Trancoso, risco que se corre agora. A
questão dos cachês, claro, podiam ser revista, sempre lembrando , no entanto,
que não é a qualidade do artista mas o próprio mercado que a determina. Luan
Santana, por exemplo, tem um cachê infinitamente maior que o de Ednardo ou Gilberto
Gil. Não acredito, de sã consciência, que os guerrilheiros tenham sido os causadores
diretos pelo problema que ora vivenciamos. Até porque, sem a presença da
Mostra, sem o seu clima, eles serão diretamente atingidos. Não , são apenas coadjuvantes. As decisões
maiores vêm do Generalato e não dos soldados rasos.
A
Prefeitura Municipal vem tentando, reconheço, recolocar o Crato novamente no
cenário da região, ao menos em discurso. Jogou, de imediato, a culpa de tudo,
na intransigência da FECOMÉRCIO que teria fechado questão contra a Guerrilha,
numa espécie de “Ou eles, ou nós,
escolham!”. Sinceramente não acredito nesta versão, até porque os dois eventos
vinham acontecendo simultaneamente há muitos anos. Um dos grandes pecados foi
não terem ouvido Dane de Jade, a Secretária de Cultura dos sonhos de qualquer
município nordestino! Eu mesmo queria levá-la para Matozinho. Dane vem de
dentro do SESC, foi uma das mentoras da Mostra e tem uma vivência fabulosa
nesta área. Temo até que utilizem este triste acontecimento, do qual ela não
teve participação direta, para fritá-la politicamente. Já estamos no subsolo de tudo , amigos, não
merecemos este último golpe de misericórdia! Sem Dane fecham-se praticamente todas as
perspectivas de se retomar o vultoso passado Cultural da Cidade de Frei
Carlos. Percebo ( e tive informações
privilegiadas sobre tudo) que , como sempre , as causas vieram de uma briga
de generais e não de simples samangos. Uma
disputa de espaço político envolvendo vários atores graúdos da política local e estadual. Bate boca na Casa Grande termina,
invariavelmente, em paulada na Senzala.
Perdemos
uma batalha ou fomos vencidos definitivamente? A hecatombe de hoje diz respeito
apenas a 2013 ou nunca mais teremos a Mostra em Crato ? Como a questão é basicamente de política partidária
cabe uma grande mobilização da Cidade ( Estudantes, Clubes de Serviço, ICC,
Fundação Mestre Elói, CDL) no sentido de intermediar estas delicadas pendências, nas próximas edições. Já vestimos todos os trajes da burrice nos
últimos anos, não merecemos utilizar todo o enxoval. Aqui não já foi o paraíso
dos homens de boa vontade ?
Concordo em gênero e grau sobre todos os pontos que abordou, Zé. Sem ainda ter lido o seu texto fiz os mesmos comentários ontem sobre a importância das ações do Sesc nos últimos 15 anos. Montamos espetáculos (de teatro e música) e o SESC nos deu a visibilidade que pretendíamos. A importância da Mostra ... é tanta quanto é a Expo Crato.Mas, é bom que aconteçam estas polêmicas para que uma reflexão como esta sua seja colocada e, se for o caso, novos encaminhamentos sejam dados.
ResponderExcluirGrande abraço,
Salatiel
Isso , Salatiel. Tá no tempo de acabarmos com as picuinhas, as discussões pequenas, com os confrontos e as batalhas de Itararé . A prefeitura precisa apoiar amplamente a Mostra, pela sua importância. Há espaço para todos. Os grupos locais , também, necessitam do apoio público e , o melhor, é democratizar as verbas em editais.
ResponderExcluirA verdade é que eu não acredito muito nesse tipo de coisa, mas se você lê-los para descobrir um pouco para fazer, mas eu sempre gosto de ler são as ofertas em restaurantes, então agora eu vou a alguns a figueira rubaiyat
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