Como os homens nascem
livres e teoricamente iguais entre si, provavelmente não existirá castigo maior
que repentinamente se vê privado do seu direito de ir e vir, da sua liberdade.
Principalmente se tal pena advier ou lhe for imposta em razão exatamente da
defesa intransigente de tal princípio: ter direito a ser tratado em igualdade
de condições com o seu semelhante, sem qualquer espécie de distinção.
Pois foi justamente por
sua tenaz luta em acabar com essa excrescência chamada “apartheid” (segregação
das populações negra e branca) que o negro africano Nelson Mandela foi
condenado à prisão perpétua, numa África onde então vigia exatamente o mais tenebroso
dos preconceitos: a distinção de raças (viajar num mesmo ônibus não podiam, freqüentar
os mesmos locais, algo impensável). Chegou, inclusive, a ser rotulado de “terrorista”,
por professar sua crença de que pretos e brancos eram iguais e, pois,
mereceriam o mesmo tratamento das autoridades constituídas.
Pois bem, depois de longos
27 anos atrás das grades (acusado de traição, sabotagem e conspiração contra o
governo), durante os quais, do lado de fora, os ânimos chegaram ao clímax da
insatisfação e da violência generalizada, eis que a pressão internacional sobre
o governo africano redundou na liberação daquele que houvera lutado pelo anseio
de toda uma nação: igualdade.
Em situações análogas,
normalmente os que perderam parte da vida entre quatro paredes (sem nenhuma razão
lógica), voltam dispostos a cobrar com juros e correção pelo injusto castigo
sofrido, via exacerbação da luta contra os responsáveis pelo ato vil. E para
isso, basta valer-se do carisma e da influência para insuflar as massas, pregar
a desforra, exigir retratação, humilhar quem o houvera humilhado e por aí vai.
E foi justamente aí que
Nelson Mandela se afirmou perante todo o mundo, ao mostrar sua face generosa, sua
humildade, seu lado humano, sua porção estadista, ao pregar a conciliação, o
diálogo, à convivência pacífica entre negros e brancos, objetivando uma causa
maior: o bem estar e o progresso da nação.
Assim, liberto, reverenciado
e idolatrado pelos conterrâneos, foi eleito Presidente da República da sua
querida África e, após quatro anos no poder, embora tivesse uma tranqüila reeleição
garantida, recusou-se a permanecer no cargo, numa mostra de que seu “projeto
nação” era superior ao “projeto pessoal”. Sua contribuição houvera sido dada e um
outro tocaria o barco dali pra frente.
Por decisão manifesta
ainda em vida, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz (1993), o advogado e líder
rebelde Nelson Rolihlahla Mandela, por se considerar apenas “mais um” na
população, será sepultado não num panteão de “heróis”, não num cemitério reservado
às “autoridades”, não num recanto paradisíaco qualquer, mas, sim, na humilde aldeia
onde nasceu – vila ascestral de Qunu, em uma propriedade de sua família, no
interior da sua querida África.
Querem exemplo maior de
simplicidade, dignidade, desapego e humildade ???
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