segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

OS ROLERZINHOS DOS SHOPPINGS CENTERS VISTO POR UMA SOCIÓLOGA PAULISTA

Entrevista à socióloga Valquíria Padilha ao site Carta Maior

O que são os shoppings? – são espaços privados travestidos de públicos. Eles segregam, impedindo a entrada de quem não tem poder aquisitivo ou quem não se adequa ao ambiente do shopping, seja pelo modo de se vestir ou de se comportar. Eles funcionam como clubes privados, escolas privadas, hospitais privados: são bunkers onde as classes mais altas se possam sentir protegidas do mundo lá fora. São templos do consumo para poucos.

E os rolerzinhos? – Os shoppings são os símbolos do consumo: “compro, logo existo.”. Os jovens que sabem que eles não lhes pertencem, estão forçando acesso a esse espaço como a dizer: “quando a vem aqui a gente incomoda os burguesinhos que historicamente nos desprezam”. Uma longa história de invisibilidade vivida pelos pobres no Brasil está vindo à tona com essas “invasões” dos shoppings centers.

Esta é a luta de shopping “um direito de todos? – a crença generalizara de que pertencer ao shopping é alcançar a boa vida é a vitória da sociedade de consumo e um fracasso da humanidade. Todos foram cooptados pela crença alienada de que só é possível ser feliz assim. A ideologia consumista virou uma verdade absoluta. Consumir roupas de marca e equipamentos eletrônicos não vão conquistar liberdade ou emancipação. O desejo e a posse de mercadorias nos alienam a todos. Quando critico a segregação social dos shopping centers não desejo como solução que esses espaços sejam democratizados. Desejo que esses espaços sejam eliminados.

E o que a sociedade terá em troca? – que sejam substituídos por parques, espaços de cultura, bibliotecas, cinemas, teatros, circos, escolas, tudo aberto a todos igualmente. Uma sociedade emancipada e verdadeiramente rica precisa disso, e não de shopping centers. Qualquer solução na contramão da ordem vigente tem status de utopia, tamanha é a complexidade social. A publicidade é a espinha dorsal desse sistema. Ela é a maior descoberta e o maior trunfo da sociedade de consumo capitalista, manipulando desejos, criando necessidade, reduzindo sentimentos. E atinge a todos da mesma forma: ricos e pobres, quem vive na cidade e quem vive no campo. Na ordem do capital, não acredito em nenhuma resposta definitiva. Humanizar o capitalismo, ao menos seria possível, mas não concordo que apenas oferecer mais políticas públicas de lazer e cultura nas periferias seja a solução, pois continua aí a segregação dos espaços urbanos, a cidade continua dividida entre espaços para pobre e espaços para ricos. Isso não é solução, é paliativo.
 
E os juízes que concederam aos shoppings o direito de selecionar o acesso? – Os juízes que deram essas sentenças deveriam perder o direito de julgar se nosso país fosse sério e cumprisse a Constituição. É um absurdo autorizar o inautorizável. Um juiz não poderia permitir que um espaço aberto ao público pudesse segregar. Discriminação é ilegal. Racismo é crime inafiançável no Brasil. Esses juízes deveriam ser presos. Os donos desses shoppings também.





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