domingo, 23 de novembro de 2014

ANDANDO PELAS RUAS E O NOVO MINISTÉRIO DE DILMA ROUSSEF - José do Vale Pinheiro Feitosa

Andando pelas ruas. Desta imensa teia humana. Idosos cambaleantes pelas irregulares e estreitas calçadas. Crianças sonolentas com a marcada mochila às costas. Uma jovem, de cabelos louríssimos (naturais ou artificiais), masca, nervosamente, a borracha do chiclete, epilepticamente com o dedo indicador sobre a tela touch do palmtop.

O chiclete e a tela somam a alienação do mundo que imediatamente a cerca. À frente um jovem adulto, em roupa social, lentamente vai ao compromisso de trabalho, passos do preguiçoso despertar, cabelos rarefeitos no topo da cabeça, anda com a mão esquerda enfiada no bolso da calça e o outro braço fazendo o movimento auxiliar do caminhar.

A teia humana não é apenas um espaço urbano. É a trama do organizar-se para ser no mundo. É o papel carbono que primeiro gera uma cópia, se multiplica como mimeógrafo, uma gráfica, uma xerox e a viralização das redes sociais. Como outro jovem, de abundante cabeleira, tão plena que a repartição do penteado não fica ao lado, mas bem para o centro da cabeça. Anda acelerado, em roupa social, com a mão esquerda enfiada no bolso da calça e outro braço fazendo o movimento auxiliar do caminhar.   

E pronto! A agricultura nacional foi entregue à Kátia Abreu. Deu um nó no MST, nos eleitores de Aécio e em todos os admiradores ufanistas do nosso agrobusiness. Sonham com a morte cruel da agricultura familiar e com o incêndio de todos os acampamentos do MST. Os fabulosos latifúndios produtores de commodities terão seus interesses garantidos. Não igualmente à era escravagista da cana, tabaco e café, mas algo parecido, muito parecido.

Não agora. Na próxima semana. A equipe econômica anunciada. O capitalismo estará salvo. Personagens comensais da elite do dinheiro estarão sobre o comando da fazenda nacional, do planejamento estratégico e do banco central. Todos os lobbies para fazer “a” ou “b” agora se calam e se sujeitarão às forças “indicadoras” dos seus prepostos. Acrescente-se um Ministério da Saúde que se estreitará ainda mais com o “mercado” do Planos Privados de Saúde, uma educação superior com o PROUNI, saídas para fundir-se na mesma lógica fiscal o público e o privado.

E temos o escândalo da Petrobrás que vai mexer em dóis ícones da sociedade nacional: a mídia e as empreiteiras. A sequência de escândalos é o atendimento de reinvindicações estrangeiras para que o mercado se abra para empresas destes setores. Com todo mundo sendo pego no flagrante da mamata no Tesouro agora é que os “interesses nacionais” receberão de fato a concorrência internacional. Aliás a TV a Cabo já está dando conta do recado. O inglês domina os programas infantis. Até personagens com o nome de ROSE são escandidos num forçado sotaque.

 Assim o PT afinal chega aos termos da modernidade capitalista. Real. Tendo que atender à demanda de uma sociedade cada vez mais sofisticada. Com expectativas mais elevadas. Seguindo o modelo de outras sociedades que já chegaram por lá. E agora vamos gozar as benesses do tempo prometido e jamais cumprido, que é viver plenamente os sabores de um capitalismo avançado.

E avançado de tal maneira que logo mostrará o contraditório de seu espírito animal. Da busca incessante pelo lucro e acumulação. Onde os direitos trabalhistas estarão sob ataque. Pela terra feita de uma realidade afinal pronta e acabada, onde ilusões não serão mais cabíveis, onde o futuro não estará lá para nos entreter. Estaremos todos vivendo às margens do “Muro de Berlim” aquele que separa com pedras e armas a divisão entre pobres e ricos.

A realidade do capitalismo, afinal pronta, é a senha teórica da luta política pela superação do muro, para a luta pelo socialismo. E pensar que tanta gente, achava que votar na Dilma e não em Aécio, também era uma aposta do avançar, ao invés dos acordões da velha sociedade brasileira. Acontece que o reacionário brasileiro sempre teve esta característica anticapitalista. Armínio Fraga, que Aécio embandeirou, não passa da velha elite privilegiada, que precisa aplicar seus capitais em rentáveis negócios, anticapitalismo financista.  

Afluentes e efluentes do grande e estagnado lago do latifúndio, do emprego estatal, do clero patrimonialista, das forças armadas, da exploração infinita dos pobres e de uma tradição fortemente atrelada à memória escravagista, os reacionários têm horror à evolução capitalista. Isso não é contraditório, nem apenas brasileiro, toda a América Latina, setores atrasados nos grandes centros capitalistas, na África e na Ásia. É a luta entre o século XIX e o século XXI. Aliás certas bandeiras e argumentos são tão arcaicos que lembram a idade média com sua monocracia coroada.

E ao falar de anacronismo, não se tenha por certo uma ação política absolutamente irracional. Este reacionarismo brasileiro sabe pegar as mais avançadas bandeiras do capitalismo para consolidar a grossa capa oxidada de sua realidade. O liberalismo é uma teoria capitalista da primeira ordem. Uma dinâmica em que tudo seria virtuoso (sabemos que não) no mais avançado que se pensou para esta. No entanto, o neoliberalismo é mais anticapitalista das práticas reacionárias. Com ela os privilégios se tornam inamovíveis. Eternidade é o desejo de toda doutrina em processo de mortalidade.

Vejam agora as bandeiras neofacistas pelas ruas das capitais. Agora o neoliberalismo brasileiro, “aeciano”, “fernandohenriquiano”, do além, muito além de tenebrosas negociações, não pode mais se travestir de luta capitalista. Não precisa o PT, o PSB e tantos tributários mais, já o fazem com mais vigor e mais senso de oportunidade. Resta agora, a “face negra” deste neoliberalismo adotando a bandeira do privilégio de classe com as capas das revistas Veja e “outras mumunhas mais”, do mais atrasado que o atraso paulista já conseguiu formular em matéria de pensamento.

Por isso tudo, Dilma e o PT prometem o capitalismo pleno. É a vez dele. Com suas virtuosidades inclusivas até os limites impostos pela acumulação. E como esta acumulação que cria o “Muro de Berlim”, já está em curso, agora é o início da formulação de suas contradições e superação de suas incapacidades. A grande materialidade da luta pela solidariedade humana, pela racionalidade evolutiva, pelo progresso redistributivo, pelo socialismo. 


  

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