domingo, 14 de dezembro de 2014

Maumau Noel - José do Vale Pinheiro Feitosa

Empadões, cachorro quente, salpicão de frango, cerveja, refrigerante não, mas sucos e o tradicional das praias cariocas: mate gelado com limão. Crianças e adultos circulando no amplo playground. Mesas, conversas entre quem há tanto tempo não se via.

Há pouco o avô, de joelhos, os bicos de papagaio pinçando os trajetos nevrálgicos, brincava com a neta numa pequena piscina de praia. Uma piscina sem água, cheia de areia da praia. Úmida. Caía aquela chuva pingadeira e contínua.

E foi na mesa de guloseimas que nos encontramos. Pondo a conversa em dia. Sem falar em política. A experiência de outros carnavais demonstra a impossibilidade de se cruzarem numa síntese. O máximo, nestes casos, que se consegue é cruzar argumentos, com vistas a uma aposta cujo ganhador leva.

Como disse um papo de assuntos variados e ricos de novidades. Aí chega o momento. A nora vem, quase pedindo desculpas para dizer que a hora é chegada. Achei que era para cantar parabéns. Mas não era. Ele iria ao quarto se fantasiar de Papai Noel para trazer alegria às crianças e apresentar a alegria à netinha.

Fui a procura de outros papos. Noutras partes da festa. Após um tempo, enquanto conversava com uma mãe, ela pede desculpa e interrompe o diálogo. Precisava levar o filho para a proximidade do Papai Noel que entra no ambiente. Olhei e estava toda a meninada se aproximando do bom velhinho. Aquele que oferece presentes e sonhos a todos. Inclusive às crianças.

Passou o homem do mate e tomei mais um copo. Outra coisa para comer. Um novo papo, com outro interlocutor. Levou um tempo para melhor dizer. A avó se aproxima. E vou confraternizar com ela. Que se encontra numa quase imperceptível situação de angústia. Se não a conhecesse tão bem, não descobriria.

Assim que a neta, no alvoroço da criançada, viu aquele velho ameaçador, de roupas vermelhas, um saco nas costas, agitando toda a galera, se apavorou. Chorou como choramos pelas novidades que nos chocam. Chorou por aquele que invadiu sua festa. Sua alegria. E fez sumir o vovô e não adiantou nem a vovó para consolo. Andou nos braços da mãe a chorar de um lado para outro.

Daí a pouco volta, desconsolado, o vovô. Com todas as boas perspectivas de sinais trocados. O que era alegria, se traduziu em choro. O que era afetividade se transformou em aversão. A cena da bondade e da oferta se tornou um aperto de desacerto no coração. Papai Noel de repente era Maumau Noel.

Uma explicação de pronto havia. A netinha completava ali dois anos de nascimento. Ainda não tivera plena consciência de um natal verdadeiro. Aquele era o segundo e, do bom velhinho, desconhecia o mito. Mas como vovô achou ruim aquele papel...

Porém, como sempre o natal retorna.


O vovô se encontrará com o vovô novamente.  

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