Não é apenas por proximidade no tempo. Se bem que a
contemporaneidade dos fatos nos façam automaticamente raciocinar assim. Qual a
questão?
A relação entre o fuzilamento dos jornalistas do Charlie
Hebdo e o fuzilamento do brasileiro, traficante de drogas, na Indonésia. Embora
de natureza distinta os dois fatos parecem guardar uma relação implícita.
A relação é sobre quais valores a civilização contemporânea,
de natureza globalizada, vai implantar em suas diretivas históricas. E aí
despontam alguns destes valores: democracia e liberdade; direitos sociais e
humanos, governança mundial e fases de desenvolvimento do capitalismo
globalizado com as suas instituições e regras.
Aliás, valorizar atributos de uma civilização já é um
problema pois a rigor não se trata de precificação de bens. O que se discute
são os fundamentos de uma civilização, numa fase histórica sui generis: há um
continente universal a conter os conteúdos de todas as culturas.
Bem ou mal este continente está em evolução, especialmente
pela natureza de conter no mesmo “espaço” da história tantas e diversificadas experiências
humanas. E, particularmente, no momento histórico, quando nosso raciocínio bem
poderia ser: ora como existem grandes linhas culturais cobrindo enormes
segmentos da humanidade – islamismo, cristianismo, budismo, confucionismo, iluminismo,
racionalismo, materialismo, etc. – este continente será mais fácil.
Mas, ao contrário, são estas grandes extensões culturais que
mais se chocam na ideia de uma democracia, liberdade, direitos, governança e
crítica ao capitalismo. Como vigas a sustentar esta ordem-desordem mundial, as
grandes culturas têm força suficiente para sabotar, apagar, acender, destruir e
confundir a síntese de diretivas históricas globalizadas.
De qualquer maneira como a estrutura básica, que sustenta o
futuro planetário da humanidade, é o modo de produção, distribuição e consumo,
incluindo seus “avatares” financeiros, que se encontra numa crise de modelo,
isso implicará no deslocamento de forças globalizadas (as grandes vigas da
cultura mundial). Outra questão é a própria condição material do planeta terra
incluindo aí seus mares; o solo e a biota; o ar e o clima e grandes desastres
provocados pela própria ação humana (como explorações e guerras, especialmente
a nuclear).
Ontem passou o dia aqui na minha casa um grande artista
brasileiro que mora na Europa. A visão dele, mesmo incluindo as suas
particularidades, é de uma região inteira sob enorme impacto econômico, social
e político prestes a viver um grande desastre. Uma terceira guerra mundial.
E concluo como tese: a guerra do neoliberalismo
(consequente) e enormes dores da globalização assimétrica, mas mesmo assim de
natureza universal.
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