terça-feira, 20 de janeiro de 2015

SAIR DA RÉGUA PRIVADA E IR PARA A PÚBLICA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Alguém já havia tido algum conhecimento sobre Alberto Nisman?

Muito provável que não. A maioria dos brasileiros, mesmo aquele bem informado, não sabe a respeito. Os Argentinos sim. Devem saber.

Agora saibam como tomamos conhecimento sobre Alberto Nisman. Jornais, rádios, televisões, blogs e outros rastilhos, diziam: morreu promotor que associava governo Kirchner à manobra para esconder a participação do Irã nos atentados contra entidades judaicas na Argentina.

O promotor foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, no seu apartamento. Aí estava montada a arapuca comunicacional. Antes da investigação, realçava-se a suspeita que a autora do crime teria sido a presidenta Argentina.

Acrescente a isso o fato, que interessa ao governo de Israel, associar o Irã, o inimigo de maior potencial, ao ato terrorista na Argentina. E considere que o fato aconteceu há 20 anos, portanto num intervalo em que muita coisa mudou. Na América do Sul, na Argentina, no Oriente Médio, em Israel e no Irã.

Agora é investigar o que de fato aconteceu com o promotor. Há uma possibilidade que a justiça argentina, poder independente, declare suicídio. Enquanto isso o governo Argentino tratou logo de tornar público o relatório do promotor com todas evidências. Ou não evidências.

A questão é o tratamento da informação, por meios que detém o domínio da comunicação, como matéria de ataque e defesa e não como exposição da realidade. Mas aí vem uma discussão necessária. A crítica ao modelo principal de condução da informação e conhecimento na nossa civilização.

Aliás, a questão do Charlie Hebdo foi um momento especial ao que se denomina regulação da mídia. A liberdade e o controle como contraditórios que ora serve de argumento a um lado para, logo em seguida, servir ao outro lado.   

Afinal tudo é uma questão política. Vamos lembrar na liberdade que o Sistema Globo defende como fundamental. Mas quando aquele pastor chutou a imagem de uma santa na Record, a Globo pediu punição e o rolo compressor foi tal que o pastor foi demitido, a outra emissora pediu desculpa.

Liberdade e controle a serviço da concorrência comercial é um péssimo uso destes parâmetros sociais e políticos. Por isso a regulação de mídia centra-se essencialmente na questão do monopólio da informação. É preciso que ocorra a pluralidade de meios, temas, conteúdos e visões diferentes.

Os membros da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão já chiaram que a regulação econômica pode enfraquecer economicamente os veículos de comunicação. E não disseram mentira. Acontece que isso tem muito a ver com o modelo de negócio destas empresas oligopolizadas. E a regulação nasceu nos EUA, exatamente em razão dos monopólios e oligopólios, ou o que tanto se dizia como trustes.  

A regulação, enfim, é pluralidade, estímulo à democracia, check and balances no conteúdo e técnicas, um meio público que abra possibilidades para investigação, apuração, tratamento e divulgação da informação e do conhecimento.

Em última análise o destino da liberdade e democracia no campo das mídias é um contraditório, onde a informação seja tratada cada vez menos como mercadoria ou um bem econômico e cada vez mais como traço da civilização de acesso universal. Onde a verdade não é um pântano acumulado, mas um rio que circula e se transforma como se move a natureza de todas as coisas.

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