O mundo se espatifou. Morreu gente pra burro. De fome, de
bala, de praga, largado, fugindo, morreu gente. A Europa em frangalhos, se
matava uns aos outros, mais a uns que a outros só porque o sujeito estava fora
da linhagem da grande burrice humana.
Aí a grande guerra acabou. Os estúpidos se olharam no
espelho e outros se maquiaram para aparentar outra coisa do que teriam sido.
Mas afinal em torno da estripação generalizada, o melhor mesmo seria manter as
vísceras no abdome.
Acordo feito e começou uma paz de araque. Um bando de
burgueses tecendo regras para tudo. Na igreja, na calçada, na rua, debaixo da
escada, nos lupanários a mijar na fidelidade impossível. E esta hipocrisia
ficou à amostra.
Foi este acordo de merda, sem futuro e pleno de apenas
representações que foi questionado pelos filhos dos operários e da burguesia.
Na música pop, nas manifestações de rua, na iconoclastia ampla e geral.
Esvoaçantes vestimentas de hipocrisia rasgadas no cerne da
cultura. Tudo, que é sistemático esteve sujeito ao olhar crítico e desarranjador
de uma fé que escondia a descrença de tudo que era por medo de ser diferente.
E por aí que vejo a geração, o trabalho, a linha, a sequência
do seminário Charlie Hebdo. Estamos falando da cultura que mostrou a arrogância
e o embuste de tantos valores feitos apenas para alienar a consciência da
realidade.
Vamos ao cerne. Há uma direita raivosa querendo superar as
desgraças do capitalismo salvando a alma dos capitalistas. E são estes “cavaleiros
do apocalipse” que necessitam de um novo “incêndio do Reichstag” para
implantar o autoritarismo raivoso e violentador nos governos europeus.
Este atentado tem tudo menos culpa dos cartunistas. Quem assim
andou pensando, escrevendo e falando não consegue esconder o rabo das suas
farsas burguesas. Ora se você é muçulmano jamais desenhe Maomé, mas não venha
me proibir de desenhar o que desejo desenhar, inclusive Maomé.
É este o limiar do problema. Se algo não pode ser criticado,
nada o poderá. Para a crítica não há limite, embora se tenha como certo que
este mandato crítico, faz parte do desmascaramento e ao mesmo tempo do aprendizado.
Ninguém vai querer ser a seiva de uma civilização degenerada em perdas do
faz-de-conta.
A morte do pessoal do Charlie não é apenas a morte
privilegiada de europeus. Nisso eu discordo de muitos que analisaram assim. O
que se tem por parte disso é que os fascistas são aqueles lá fora, não a
revista. E a morte da revista tem o mesmo dom da mudez que existe nos milhares
de iraquianos, sírios, afegãs, paquistaneses mortos na ação imperial americana e
europeia.
A questão é que a Europa anda rapidamente para o velho
cenário turbulento do sofrimento e da perseguição, tudo para salvar os anéis dos
senhores do dinheiro.
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