A priori, e com
absoluta convicção, que fique bem claro: assim como meio mundo e a outra banda
pensa, também entendemos como vil, inadmissível e covarde, sob qualquer ângulo que
se observe, o atentado ao jornal francês (e as mortes daí decorrentes).
No entanto, e já que a
questão está posta à mesa, bem que se poderia aproveitar a ocasião para tentar
esclarecer dúvidas ou questionamentos pertinentes: afinal, qual o alcance desse
tal “direito de expressão” ou “liberdade de imprensa” ??? Não haveria aí uma certa “subjetividade” caolha,
um certo “excesso” de bondade, uma determinada e indesejável “liberalidade”, para
com os integrantes de tal segmento ???
Ou o “agredir”,
“desonrar” ou “injuriar” publicamente se enquadraria em tais conceitos ??? O “enxovalhar”
com outrem, em razão de divergências político-religiosa-cultural, poderia ser
considerado algo “normal”, “direito” ou “permissível” ??? A tentativa de incitar
terceiros contra uma determinada
instituição, cultura ou crença (e a imprensa tem esse poder, sim), se
enquadraria como “aceitável”, mesmo que através de “inocentes” (?), mas, paradoxalmente,
ácidas e auto-explicativas “charges-(pseudo)humorísticas” (?) como restou
comprovado ser a característica marcante do Charlie Hebdo ???
Não custa lembrar (guardadas
as devidas proporções), que por essas bandas algo parecido (na essência) aconteceu
recentemente, quando o panfleto da Editora Abril (a revista ÓIA-Veja) antecipou
o lançamento de sua edição semanal para manchetar em capa (sem que houvesse
nenhuma prova comprobatória) que “Lula e Dilma sabiam de tudo” (sobre os
malfeitos da Petrobras). E não só os brasileiros como todos com um mínimo de
neurônios consideraram tal iniciativa um autentico “jogo sujo”.
Assim, repetimos a fim
que dúvidas não pairem e/ou julgamentos precipitados sejam externados: em sã
consciência ninguém é favorável a que qualquer ser humano seja “executado” de
forma violenta e covarde por essa iniciativa (falta de respeito a instituições,
crenças ou pessoas, literalmente), mas, não seria o caso de se pensar duas
vezes (o “escriba”, lá na origem, quando
com o papel à frente e a caneta à mão) antes de tentar “descredenciar de graça e
irresponsavelmente” um presumível “adversário” ???
Afinal, se no Ocidente veneramos
um ser superior a quem denominamos “Deus” e a ele exigimos respeito, por qual
razão lá no Oriente as pessoas não podem venerar e exigir respeito ao “seu” ser
superior, denominado “Maomé’ ??? Como aceitar seja ultrajado, gratuitamente ???
Juntando as pontas, a
verdade é que é perigosamente imperceptível (sob qualquer ótica), a fronteira
entre o “poder” teoricamente albergado no tal “direito de imprensa” ou
“liberdade de expressão” e a convivência pacifica de povos de “credos díspares”
ou “culturas antagônicas” (até porque os fundamentalistas são, na acepção plena
do termo, isso mesmo, fundamentalistas; e, pois, jamais abririam mão dos seus
princípios, por mais que os consideremos radicais).
Assim, embora a comoção
que tomou conta de todos (insuflada pela imprensa, sim) com o ocorrido em
Paris, seja de certa forma compreensível (afinal, Paris é Paris), também
deveria servir de uma séria reflexão sobre os “excessos” do “quarto poder” (a
imprensa), antes que dele nos tornemos reféns. A propósito, aqui em Fortaleza,
no bairro denominado Bom Jardim, todos os dias uma “carrada” de gente é
fuzilada sumariamente e sem piedade, sem que a imprensa repercuta (afinal, assim
como Paris é Paris, Bom Jardim é Bom Jardim e... estamos conversados).
Alfim entendemos que antes
de adentrarmos e bradarmos tratados sociológicos ou coisa parecida, a respeito,
urge que nos questionemos seriamente sobre essa tênue e perigosa fronteira: afinal,
qual o alcance desse tal “direito de expressão” ou “liberdade de imprensa” ??? Seria o mesmo que os “anarquistas” usam
para exigirem “democracia”, quando dos seus excessos em manifestações ???
Mas... anarquia e
democracia por acaso têm alguma semelhança uma com a outra ??? Não são amazônica
e diametralmente opostas ??? Como esconder-se atrás de uma para justificar a
outra, se tão paradoxais ???
"A morte de cada homem diminui-me, porque sou parte da humanidade. Portanto, nunca procure saber por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".
(John Donne)