domingo, 11 de janeiro de 2015

Aprés moi le déluge - José do Vale Pinheiro Feitosa

Nenhuma frase representa tão bem a ideologia burguesa que essa em que após sua ordem apenas restará o dilúvio. É a fórmula ideológica de cessar toda crítica e qualquer ação para questionar e modificar esta ordem calcada no capitalismo econômico.

Esta ideologia para que cumpra sua sentença é niilista e no extremo tal niilismo sustenta o radicalismo das forças populares a serviço da ordem burguesa. Após o capitalismo, só o vazio e assim amedrontam o povo com a impossibilidade de uma sociedade que promova a justiça social, tenha plena liberdade e que avance a civilização.

Acontece que temos forças produtivas suficientemente desenvolvidas, amplo conhecimento da realidade da natureza e aprendizado suficiente sobre nós mesmos para podermos construir exatamente isso: bem estar, liberdade e contínua crítica da civilização. E não podemos avançar sem que toda a “institucionalidade” burguesa ou agregada a ela seja criticada.

A ideologia niilista da burguesia, vamos dizer um pouco menos, niilista para o mundo sem ela, com ela controlando tudo, apenas resta aos outros o destino neste vale de lágrimas. E isso não é pouco para dizer, especialmente quando o terrorismo do dilúvio é desaguado continuamente na consciência das pessoas.

Por isso seus pensadores, seus soldados e mulas ideológicas tanto temem de algo que não seja a ordem niilista do dilúvio. O bem estar geral é sempre combatido como a corrupção da ordem sem a qual é o dilúvio. A liberdade é sempre combatida como uma degeneração moral em que a moldura é a censura e o paspatur o poder maior. A civilização vista como um carro descendo uma grande ladeira necessitado de enormes freios.

Então tudo que existe é sujeito à crítica. Apenas ela é capaz de orientar os passos dentro de uma ordem que se declara a última fronteira da história (e até já decretou o fim dela).  

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