quarta-feira, 25 de março de 2015

DE BRAÇOS COM O PERIGO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Não é um sentimento incomum. Ao conquistarmos velocidade, potência energética, estoque de alimentos, habitações confortáveis, medicamentos entre outras conquistas, também nos aproximamos muito do perigo concentrado.

Como a vida da atual civilização é fundamentada nestas conquistas, somos educados, assumimos onipotências, fazemos processos de negação, enfim temos uma certa volúpia de viver perigosamente. De algum modo temos que não lembrar um quanto navegamos continuamente entre margens estreita entre abismos.

Uma cena encontrada nas cidades. O trânsito lento dos veículos de quatro rodas literalmente atravessados por inúmeras buzinas de motos se deslocando afoitamente entre as brechas. Afoitamente fechando, surgindo em pontos de visão ocultos, pondo todo o seu corpo num jogo suicida que parece ser superado pelos avanços na velocidade de deslocamento.

É tanto que logo após o drama de um acidente envolvendo motociclistas, a maioria, ao testemunhar a cena, parece se deslocar com menor velocidade e experimentando um menor número de malabarismos com suas vidas. É a visão do drama que lembra a iminência do próprio drama.

Assim como imagino hoje se encontra a Europa após a queda de um avião entre a Espanha e a Alemanha, sobre os Alpes franceses, onde morreram 150 pessoas. Em primeiro lugar porque tanto o fabricante quanto a companhia aérea são europeias. Depois porque é um acidente com uma das chamadas companhias de baixo custo. Um conceito controvertido, onde não se sabe o quanto se sacrificam de itens de segurança nos voos.

Esse último aspecto é tão marcante que tem sido o foco dos lamentos e desculpas da companhia aérea. Como se observa no noticiário existem para os mesmos donos duas companhias aéreas: uma para ricos e outras para pobres. E o mesmo dono chama-se Lufthansa. Cujas asas para ricos são as aeronaves com sua bandeira e para pobres esta chamada Germanwings.

Aliás o sonho de Ícaro sobre este nome de asas que derrubam a Germânia causam maior incômodo ainda. Bem, para uma Europa mal amada pelas partes pobres do mundo, onde seus turistas são até metralhados, a queda deste avião é mais uma suspeita de terrorismo. E mais uma vez o perigo se desdobra na proximidade entre ação e os fatos.


Todo o discurso da perplexidade e da tecnicidade tomarão corações e mentes, mas é certo que fica uma sensação de motociclista nisto tudo. O avião, como diz a canção popular: “é bonito quando voa, mas feio quando cai.”

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