Não é um sentimento incomum. Ao conquistarmos velocidade,
potência energética, estoque de alimentos, habitações confortáveis,
medicamentos entre outras conquistas, também nos aproximamos muito do perigo
concentrado.
Como a vida da atual civilização é fundamentada nestas
conquistas, somos educados, assumimos onipotências, fazemos processos de
negação, enfim temos uma certa volúpia de viver perigosamente. De algum modo
temos que não lembrar um quanto navegamos continuamente entre margens estreita
entre abismos.
Uma cena encontrada nas cidades. O trânsito lento dos
veículos de quatro rodas literalmente atravessados por inúmeras buzinas de
motos se deslocando afoitamente entre as brechas. Afoitamente fechando,
surgindo em pontos de visão ocultos, pondo todo o seu corpo num jogo suicida
que parece ser superado pelos avanços na velocidade de deslocamento.
É tanto que logo após o drama de um acidente envolvendo
motociclistas, a maioria, ao testemunhar a cena, parece se deslocar com menor
velocidade e experimentando um menor número de malabarismos com suas vidas. É a
visão do drama que lembra a iminência do próprio drama.
Assim como imagino hoje se encontra a Europa após a queda de
um avião entre a Espanha e a Alemanha, sobre os Alpes franceses, onde morreram 150
pessoas. Em primeiro lugar porque tanto o fabricante quanto a companhia aérea
são europeias. Depois porque é um acidente com uma das chamadas companhias de
baixo custo. Um conceito controvertido, onde não se sabe o quanto se sacrificam
de itens de segurança nos voos.
Esse último aspecto é tão marcante que tem sido o foco dos
lamentos e desculpas da companhia aérea. Como se observa no noticiário existem
para os mesmos donos duas companhias aéreas: uma para ricos e outras para
pobres. E o mesmo dono chama-se Lufthansa. Cujas asas para ricos são as
aeronaves com sua bandeira e para pobres esta chamada Germanwings.
Aliás o sonho de Ícaro sobre este nome de asas que derrubam
a Germânia causam maior incômodo ainda. Bem, para uma Europa mal amada pelas
partes pobres do mundo, onde seus turistas são até metralhados, a queda deste
avião é mais uma suspeita de terrorismo. E mais uma vez o perigo se desdobra na
proximidade entre ação e os fatos.
Todo o discurso da perplexidade e da tecnicidade tomarão
corações e mentes, mas é certo que fica uma sensação de motociclista nisto
tudo. O avião, como diz a canção popular: “é
bonito quando voa, mas feio quando cai.”
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