domingo, 24 de maio de 2015

ONDE FICA A PAZ? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Onde se encontra a razão?

A minha, a tua, a dele? A razão como aquele dom da verdade. Da justiça. No modo cearense de dizer: ele tinha razão.

E vou falar do lugar onde moro há quarenta anos. No Rio de Janeiro. Jardim Botânico, cercado de belíssimos e qualificados equipamentos urbanos: o próprio Jardim, o Parque Lages, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Jóquei Clube, a Hípica, hospitais públicos e um seguro modo de viver.

Aí dou um salto e vou àquele samba do Nélson Cavaquinho: “não sei quantas vezes, subi o morro cantando, sempre o sol me queimando e assim vou me acabando”.

Sim. Para pautar a razão: escrevo pensando no médico esfaqueado e morto enquanto fazia ciclismo na Lagoa, no caminho pelo qual sempre passo. E para ajustar mais o campo: sou Flamengo e tenho uma nêga chamada Tereza.

Mas voltando ao morro. Quantas vezes terminei a minha função de médico da comunidade da Favela do Escondidinho, no Rio Comprido, descia o morro para continuar subindo pelo túnel da Rua Alice e, então, descer uma escadaria imensa (o povo subia fazendo zig-zag nos batentes para melhor respirar) até a Avenida Laranjeira, pegar o ônibus, atravessar o túnel Rebouças e chegar à Lagoa e daí a pouco em casa (apartamento).

Eu vivia em dois mundos. Pertencia aos dois. E foi tão imenso este viver para a cultura carioca, partida, onde rico não sobe o morro, mas o pobre presta serviço em suas casas, que me tornei manchete de jornal, editorial de primeira página no famigerado O Globo e até entrevistado fui no Jornal Nacional para falar o óbvio, que o povo precisava da segurança urbana (emprego, educação, saneamento básico, transporte e lazer).

E era este o clima como a moçada costuma falar. O povo do morro vivia em insegurança, inclusive da violência interpessoal. Cheguei a tirar bala de jovens que viveram pouco. Atender punguista todo cortado de gilete por tentar roubar travestis na Praça Tiradentes.

Nos anos seguintes, o tráfico de drogas empregou muitos jovens, mas trazia a marca maldita da criminalização e com isso a formação de grupos armados, que levaram a guerra para o coração do povo.

Esperem um pouco, ao recordar aqueles atendimentos médicos não generalizo. Era a exceção. O meu grande trabalho era com gente honesta em igualdade de valor que meus vizinhos do “asfalto” (acho que até mais, pois no limite sabem o papel da solidariedade).

Aliás. Posso afirmar que mais honestos. Pois, por estes dias no Jardim Botânico e Lagoa o barulho dos batedores de panela foi ensurdecedor em protestos contra o PT, governo Dilma, Lula e tudo que representa esta linha que afinal me coloquei: entre dois mundos que os bem-sucedidos teimam em manter separados.

Portanto, não acredito uma patavina furada na manifestação em solidariedade ao médico morto. Falando em paz para todos. E não apenas para a Zona Sul, enquanto pedem mais policiamento e que as linhas de ônibus dos seus empregados não parem mais na região. E eles sabem que não podem cercar ainda mais seus condomínios.

Como sempre, o discurso da paz é furado. Enquanto batem panelas, querem mesmo é usar o trabalho de prestadores de serviços, porteiros, vigias, empregadas domésticas e babás vestidas de branco, mas têm medo de seus filhos e netos.


Querem o todo, mas apartam o seu querer.

sábado, 23 de maio de 2015

E OS VENDILHÕES DO TEMPLO DOMINARAM O MERCADO - José do Vale Pinheiro Feitosa

O grande fenômeno dos BRIC´s, entre as particularidades nacionais, étnicas, culturais, sociais e econômicas, é essencialmente parte do denominado Capitalismo Desenfreado pelo economista indiano Prabhat Patnaik. O capitalismo, para este economista, não teria mais restrições sociais e políticas como a da aristocracia, do operariado em formação e dos capitais nacionais.

A superação destas restrições acontece com a Globalização Financeira que, praticamente, superou os contrários pela natureza universal atingida. Assim este capitalismo global tem suas características imanentes agora expressas numa “liberdade” sem freios. E esta liberdade destrói formas humanas de viver antiguíssimas substituindo-as pelos seus parâmetros capitalistas de ser.

E o economista identifica algumas de tais características do capitalismo desenfreado: mercantilização numa escala nunca vista (saúde, educação, cultura, religião, vida pública etc.); destruição implacável da pequena produção (produções tradicionais, populares, pequenas empresas, riquezas nacionais, etc.); enorme aumento da desigualdade econômica (não só em riqueza, mas também em rendimento); aumento da fome mundial (tendência à super-produção sem consumidores) e agressão às formas democráticas de sociedade (financiamento de movimentos fascistas, financiamento privado das eleições, etc.).

A se considerar o que foi resumido do pensamento do economista indiano, nestes dias uma publicação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE – formada por 34 países que aceitam os princípios da democracia representativa e a economia de livre mercado ou seja Europa, América do Norte, Austrália, Japão, incluindo os países liberais da América Latina como México e Chile) a respeito do consumo de álcool nestes países.

A pesquisa é relevante porque revela o ambiente psicológico, social e cultural do que seria considerado a “ponta de lança” do “capitalismo desenfreado”. Estes países se conformam como o mais avançado modelo do capitalismo contemporâneo, em outras palavras. E o que temos na pesquisa.

Nestes países o consumo de álcool é cerca de duas vezes a média mundial. Do ponto de vista per capita, em média, nestes países, se consome 9,1 litros por ano. E mais ainda, se verifica que o consumo atinge segmentos específicos destas sociedades, quando o maior consumo se concentra em apenas 20% da população.

A se considerar como espelho da sociedade capitalista desenfreada, extrai-se um componente da educação mercantilizada o fato (talvez não superável apenas pela educação) de que o consumo de álcool tende a se concentrar nas elites bem-sucedidas ao mesmo tempo que o consumo perigoso atinge a base da pirâmide econômica. As pessoas com mais educação e maior nível econômico tendem a beber mais. No entanto os mais pobres tendem a maior risco de consumo perigoso.

Isso significaria um desarranjo endógeno das sociedades capitalistas de ponta, onde os custos decorrente do consumo perigoso do álcool impacta 1% do PIB dos países de alta e média renda; em todo mundo é a quinta causa de mortes prematuras, responde por 1 e cada 17 mortes, deficiências especialmente em homens, repercute em mais de 200 tipos de agressões à saúde e tem repercussão sobre terceiros como causa de acidentes de trânsito, violência e afetando a gestação de crianças e o seu futuro social.  
   
O relatório da OCDE trouxe um fato positivo uma queda pequena na média do consumo de álcool, mas quando se observam os números por dentro, na verdade houve um agravamento social no consumo. Nestes últimos anos houve um deslocamento do consumo de álcool para jovens e mulheres, ambos grupos muito mais vulneráveis. Aí neste grupo os efeitos sociais são imediatos (trânsito, violência, doenças crônicas etc.) e afetam mais o futuro das pessoas (ou seja, novas gerações mais enfraquecidas).

Nos últimos anos a percentagem de crianças de 15 anos que já faz uso de álcool passou de 66% para 70% e a percentagem destes jovens que se embriagam já de 43% para meninos e 41% para meninas. Deste modo é que o capitalismo desenfreado (bebida alcoólica é um bem de consumo muito bem divulgado no marketing de venda) firma o seu modo “desenfreado” de ser.   

Agora considerem o seguinte: se agrotóxicos é do interesse dos produtores, se as sementes geneticamente modificadas são do interesse da Monsanto, se a exploração de petróleo, em larga escala, alavanca corporações, se o desmatamento se transforma em pastagem e esta em carne, se os pesqueiros nos mares pertencem à exploração desenfreada, por que o álcool e as substâncias psicoativas não absorveriam o interesse capitalista?

Não nos enganemos: a chamada guerra do tráfico de drogas é um mero jogo “mafioso” (bem no estilo americano) de troca e distribuição desta mercadoria. As máfias não estão fora do capitalismo, elas são instituições imanentes a ele. Por isso o ex-Presidente Mujica do Uruguai entendeu a lógica e a transformou num jogo aberto (tentando controla-lo pelo Estado).


Enfim: a tese do Prabhat Patnaik é de que não existem formas de amenizar os efeitos imanentes do capitalismo. A única forma é a sua superação. E isso as novas gerações vão ter que pensar uma vez ultrapassados os efeitos negativos do fim das experiências que tentaram superá-lo, especialmente na União Soviética e na China. 

terça-feira, 19 de maio de 2015

"MAR DE ALMIRANTE" - José Nilton Mariano Saraiva

Assim como o “céu de brigadeiro” caracteriza aquele estágio do voo em que o avião prescinde literalmente do comando humano-manual face à tranquilidade na rota seguida (ausência de pesadas nuvens ou turbulências), o “mar de almirante” é sinalizador que o oceano não oferece qualquer dificuldade (ondas, tempestades, etc) aos navios que por ele singram.

A reflexão é só para lembrar que após o insano, desonesto e intenso “bombardeio-depreciativo” patrocinado pela “tucanalhada” e certo segmento da mídia tupiniquim (com repercussão na mídia internacional), com o objetivo precípuo de pô-la a nocaute (a fim de facilitar sua entrega à “gringalhada”), a PETROBRAS continua brasileiríssima e ninguém vai meter a mão no nosso pre-sal.
Para tanto, bastaram algumas medidas básicas:
01) enxotar de lá, vapt-vupt, os “ladrões-engravatados” oriundos da era FHC (e quem tiver alguma dúvida é só ouvir o vídeo do presidente do grupo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, uma das empresas abastecedoras do propinoduto), onde afirma detalhadamente que desde 1997 o tal esquema-mafioso vigia na Petrobras;
02) a decisão da presidenta Dilma Rousseff de “peitar”, contra tudo e contra todos, o tal “mercado”, colocando no comando da nossa maior empresa não um representante do dito-cujo (que certamente trataria de entregar a Petrobras a preço de banana em fim de feira à banca internacional), mas, sim, um “bancariozinho” entendedor de finanças, oriundo dessa outra empresa que muito nos orgulha, o Banco do Brasil;
03) no mais, ao contrapor o anunciado em Nova York por Fernando Henrique Cardoso, segundo o qual “esses malfeitos vêm de outro governo, isso deve ficar bem claro; vêm do governo Lula; começou aí”, o jornalista Jânio de Freitas complementa: “se é para ficar “bem claro”, vêm de outro governo, sim. Como disse Pedro Barusco em sua delação premiada e na Câmara, “começou em 1997” na Petrobras do governo Fernando Henrique. Ou o que é dito em delação premiada vale só contra adversários de Fernando Henrique ?”.
Claro que, como o estrago foi de proporções amazônicas, a recuperação completa dar-se-á paulatinamente, num médio prazo; mas a sinalização, que depois de saneada a empresa corre nos trilhos, que a tormenta foi superada com galhardia, pode ser constatada com a divulgação do balanço (auditado) do primeiro trimestre/2015, que apresenta um lucro líquido de expressivos R$ 5.300.000.000,00 (cinco bilhões e trezentos milhões de reais), quando os abusados “especialistas” previam algo em torno de R$ 2,5 bilhões.

No mais, há que se atentar que apesar de toda a abjeta campanha encetada, a PETROBRAS foi a empresa do ramo petrolífero que mais cresceu no mundo, ano passado, superando portentos como a Shell, Chevron, Total e demais.  

domingo, 17 de maio de 2015

A WHITER SHADE OF PALE - José do Vale Pinheiro Feitosa



Porque aquele órgão encantador mais embriagava a dose de Cuba Libre. Entretanto tuas emanações inebriantes a todas as minhas fibras tremiam na angústia da urgência. Aquele momento único não podia se perder.

E teu silêncio denso, como a mais dura rocha, deixava aquele momento grave como o irrealizado que é renúncia. O pingo de perfume na ponta de tua orelha, a fornalha que molda uma vontade no malho do ferreiro.

E aquele órgão se desdobrava em canção. Numa língua que eu não traduzia, mas compreendia. O fervor do teu corpo era o enigma em decifração.  Jogava-me um feito único e toda a iniciativa a mim cabia.

Na timidez ameaçada por um escândalo no salão. Um tapa na cara que move todas as humilhações do mundo. E a tua rocha de silêncio era um lajedo quente no pleno do meio dia.

E os dedos do organista ocupando todo os teclados implodiu o silêncio. Nada mais se escutava, apenas nossos corpos quentes ligados por um cabo rijo e um anteparo que promete o encaixe.

Mas nada havia entre nós. Uma fusão organista, uma concentração no mesmo ponto de fusão. Um momento que não diz nada, mas revela todo o universo. Eis o salto qualitativo do momento de urgência da timidez e do sólido silêncio de espera.

A iniciativa fora disparada. Um pleno orgástico ao som do órgão de A Whiter Sade of Pale.




Co-autores: Gary Brooker e Keit Reid, do grupo Procol Harum. O arranjo de órgão é de Mathew Fisher.

Reid numa festa ouviu um rapaz falando para uma moça: você se tornou a mais branca máscara pálida. Uma exótica letra que traduz toda a leitura da educação inglesa do letrista. Parece, no estilo rock progressivo, traduzir a  sedução a dois embriagados, que termina numa relação sexual

A canção e o arranjo são derivados do Bach e isso traduz bem a erudição e a tecnicidade dos músicos do rock progressivo. O órgão introduz, reaparece ao final de cada estrofe e varia durante toda a canção.

No disco apenas estas duas primeiras estrofes foram cantadas. As demais apareceram em DVD e performances do Grupo de Rock inglês Procol Harum.


A mais branca máscara pálida

Nós girávamos a luz do fandango,
Carroça tombada cruzando o piso,
Eu me sentia um tanto enjoado,
Mas a desordem gritou por mais,
O quarto zumbia forte,
E o teto flutuou além,
Quando chamado para mais uma dose,
E o garçom trouxe uma bandeja.

E foi então, que mais tarde,
Como o moleiro disse em seu conto,
A face dela a princípio fantasmagórica,
Virou uma a mais branca máscara pálida.

Não há nenhuma razão, disse ela,
E a verdade é simples de ver,
Mas eu misturava meu jogo de cartas
E não a deixaria ser,
Uma das dezesseis virgens vestais
Que saiam para a costa do litoral,
Embora de olhos plenamente abertos,
Eles estariam sendo bem fechados.

Se a música for o alimento do amor,
Então o riso é a sua rainha,
Da mesma forma se atrás é a frente,
Então a sujeira é o limpo,
Minha boca igual a um cartão,
Parecia deslizar em linha reta ao meu coração
Então submergimos rapidamente,

E atacamos o leito do oceano.

UM DESERTO A SER DECIFRADO - José do Vale Pinheiro Feitosa

E foi por carregar uma criança de colo que caminharam longe pelo deserto. Montados num jumento iam porque o assassinato dos diferentes era a regra do governante.

Balançando no andar do muar, seguia aquele que explicitou que todos somos iguais. Ao invés de uma coisa ou animal de trabalho, somos humanos, pertencemos à mesma família, derivada de igual natalidade.

E aquele que seguia no deserto árido sabia que esta terra estava lá como potência de fertilidade. Sabia que gosmas que se amoldam aos contornos sólidos, lhes daria o beijo da traição.

Mas a questão não se encontra na gosma, nem nas rochas onde se ergue a avareza que tudo deseja apenas para si. A questão se encontra na humanidade traduzida em pessoas humanas que brilham num determinado natal com todo o deserto à frente, pronto para se revelar um potencial fértil.

Mas há que somos iguais e tantos se corrompem na ilusão da superioridade onde tudo que imaginam é um mérito a explorar os outros em diferenças. Há aqueles que decoram sua história com frases da mensagem e sob essa decoração luminosa, tentam ludibriar os demais com merecimentos que dividem, discriminam.

Dois mil anos após, o deserto continua lá pronto para ser entendido. Os chacais ainda o ronda em busca de corpos vivos. Os traficantes do trabalho, em orações de maldita fé, continuam fazendo escravos. Os execráveis continuam com suas vestes ornamentais a pregar anátemas aos demais, condenando-os só para arrancar-lhes o alimento que faz humanos às suas vítimas.

O deserto é para ser atravessado, pois é nele que o relevado se encontra. Ali onde os pilares das instituições nunca se ergueram, onde as bibliotecas da avidez medieval e burguesa nunca foram impressas.

No deserto viverá suando junto ao suor dos demais. Sombras para conservar os escusos que operam a ilusão do progresso não há. Assim como não há a divisão da terra, os livros da mais avalia que acumula, os bytes que fogem com a riqueza coletiva para entocá-las nas ruínas do livre mercado.

O deserto, dois mil anos após, diz tudo ao contrário destes alicerces eclesiais sobre os quais se ergue a acumulação que desfaz a pessoa humana.


A pessoa humana, nós que somos iguais em natalidade.

sexta-feira, 15 de maio de 2015




Um em Laranjeiras, outro na Lapa e o terceiro no Engenho de Dentro. Três cariocas de origens sociais diferentes. Nasceram em anos próximos e viveram o mundo desta civilização como ela é: necessária e ilusória.

E por primazia a necessidade se põe à frente das ilusões que reconhecemos vãs. Porém quando se procura as coisas primeiras que são as essenciais, imprescindíveis, indispensáveis ao final e ao cabo há um vazio preenchido pela ilusão.

E ficamos em frente a écrans luminosos estimulados por quimeras e devaneios. Uma maçã envenenada de doses sub-letais que me faz matar por um mero objeto e me faz morrer pelo correr para pegar o bólido da fugacidade.


Por isso o amor, mesmo reconhecido como uma grande ilusão me faz querer a ilusão. Afinal Custódio Mesquita e Mário Lago, bem posicionados socialmente, deram à voz de Orlando silva esta frase magistral: “Eu não quero e não peço, para o meu coração, nada além de uma linda ilusão”.  

"APROPRIAÇÃO INDÉBITA" - José Nilton Mariano Saraiva


Com o título “Apropriação indébita”, eis artigo do economista José Nilton Mariano Saraiva. Ele critica decisão da Prefeitura de Fortaleza que, na reforma feita no Parque Parreão I, situado no bairro de Fátima, deu sumiço na placa que registrava o local como obra do prefeito falecido Juraci Magalhães. Confira:
“Nas administrações Juraci Magalhães e Antônio Cambraia a cidade de Fortaleza experimentou um surto de desenvolvimento inquestionável; e para corroborar isso, à época a muito bem bolada propaganda oficial anunciava que para se constatar o progresso vigente na cidade bastava “abrir a janela”; lá estavam viadutos, parques, novas ruas, praças, etc.
Uma dessas obras e de grande utilidade foi o Parque Parreão I, localizado no Bairro de Fátima (vizinho à Rodoviária, entre as avenidas Borges de Melo e Eduardo Girão), porquanto um local destinado a pratica de caminhadas, atividades físicas, reencontro de amigos e por aí vai; enfim, um agradável e aprazível local sócio-recreativo-esportivo para onde acorriam os moradores de diversos bairros, principalmente nas manhãs e finais do dia.
Compreensivelmente, a fim de registrar para a posteridade sua marca, a administração de então fincou numa das laterais do parque um modesto pedestal encimado por uma placa onde registrado estavam os nomes do prefeito e secretário responsável (Juraci/Cambraia), data da inauguração (03 de Setembro de 1993) e outras informações básicas.
De lá para cá, entretanto, o Parque Parreão I, por descaso e falta de manutenção, enfrentou um desgastante e corrosivo processo de degradação, com o consequente afastamento daqueles que o frequentavam, tendo em vista a “invasão da área” por parte de desocupados e marginais de alta periculosidade.
Eis que, na atual administração da cidade, houve a “recuperação” do Parque Parreão I, só que com um detalhe ESTARRECEDOR e de uma DESONESTIDADE a toda prova: mantido o pedestal original, a placa com os nomes de Juraci Magalhães e Antônio Cambraia foi substituída por uma outra onde os frequentadores tomam conhecimento que o Parque Parreão I foi “INAUGURADO” em 16.setembro.2014, na administração do prefeito Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra, tendo como secretário da prefeitura um tal Samuel Antônio Silva Dias e chefe da regional IV o senhor Francisco Airton Morais Mourão.
Além do desrespeito patente a um dos maiores prefeitos de Fortaleza (já falecido), tal atitude simboliza uma irresponsável e abusada tentativa de APROPRIAÇÃO INDÉBITA, porquanto os fortalezenses que usam o Parque Parreão I (já há décadas) sabem que o próprio foi idealizado e inaugurado pela dupla Juraci Magalhães/Antônio Cambraia (no dia 03 de Setembro de 1993, é necessário que se repita).
Conclusão: como do jeito que está temos configurada uma situação ilegal, imoral e amoral, ou verdadeira excrescência, se restar uma nesga de honestidade ao atual prefeito da cidade a placa original (com os dados corretos) será reposta e, ao seu lado, aí sim, um outro pedestal e uma outra placa informarão da REINAUGURAÇÃO (e não “INAUGURAÇÃO”) do Parque Parreão I, na atual administração.
É o mínimo que se pode esperar de pessoas com um átimo de sensatez e clarividência”.
* José Nilton Mariano Saraiva,
Economista pela UFC e Aposentado do BNB


terça-feira, 12 de maio de 2015

GUERRA - PORQUE TE QUERO, MORTE! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Atrasado. Reconheço. Refiro-me às comemorações pelos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Seus mitos, mentiras e verdades.

Os mitos. O mito da Alemanha Nazista invencível. Surpreendente, vingativa e dominadora. O mito que a ferocidade com uma boa base de tecnologia, organização e disciplina vence a ordem o do mundo. Um mito vencedor.

O mito dos Deuses Caídos. Derrotados. Até o roer os ossos que deuses não deveriam ter. A enorme derrota da Alemanha Nazista e da Itália Fascista. Onde Hitler (o covarde supremo) suicidou-se logo após estimular seus soldados morrerem lutando. Onde Mussolini foi preso e morto tentando fugir para a Suíça.

Mentiras sob os raios luminosos de feiticeiros do cinema. Onde os EUA, Inglaterra e França se tornam OS ALIADOS e sozinhos vencem a guerra. Mentiras para esconder vergonhas do amor a Hitler.

Onde nos EUA Chaplin foi perseguido por ridicularizar o líder nazista. Onde os chanceleres Ingleses e Franceses operaram francamente para jogar Hitler para cima da União Soviética. E vergonhosamente cederam os sudetos num no acordo de Munique.

Onde os EUA, a Inglaterra e outros aliados atacaram os alemães na África, mas não na Europa e deixaram a União Soviética lutar sozinha até quase chegar às fronteiras da Alemanha ao mesmo tempo que ocupava todo o Leste Europeu. Onde já com a Alemanha quase batida em seu próprio território finalmente chegaram as cenas da Normandia cuja gloria é cantada em filmes e no resgate do Soldado Ryan que presta loas a uma família de vítimas da guerra.

Mas não falam de 20 a 27 milhões de russos mortos na guerra. Enquanto na Alemanha morreram 8 milhões, onde ingleses morreram menos, franceses numa divisão de cooperação à Alemanha e guerra no final. Onde italianos, brasileiros, holandeses e tantos morreram.

Onde os EUA fizeram enorme economia de vida e materiais para no final, no campo esgotado da guerra, levar o botim e consolidar-se como um Império diferente de todos os outros. Todos os demais eram saqueadores, mas também civilizadores. Os EUA não têm contribuição original nenhuma, com frequência até aprendem, mas saqueiam até a medula.



A verdade se encontra nas imagens tiradas em 2 de maio de 1945 pelos russos na Berlim arrasada, quando empunharam a bandeira Soviética no alto do prédio do Reichstag. Verdade porque brotada do maior sentimento de vitória sobre o povo que tanto lhes fizera sofrer e morrer.

Verdade porque mostra a miséria da guerra. Quando se examina o ato heroico dos soviéticos no cimo do prédio semidestruído embaixo é tudo terra arrasada. Fumaça. Lama. Morte. Soldados se matando. O povo perdido em ruas que não são mais cidades, sem linhas de abastecimento e sem redes de proteção.


A guerra é isso: mitos, mentiras e verdades.   

segunda-feira, 11 de maio de 2015

QUEM CHORARÁ COM ELE? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Com os olhos marejados, nariz vermelho, a face de sofrimento um jovem, aqui em Paracuru, levantava uma questão central para o futuro do país. Uma questão que machuca mais do que nunca pois praticamente exonera o compromisso social com a demanda da família do rapaz.

A sogra, em franca insuficiência cardíaca, precisava de urgente troca de uma das válvulas do coração. Antes que imagine tudo de ruim, mire-se na explicação mais adiante. Ela demandava o direito dela à saúde dentro do Sistema Único de Saúde, de acesso universal, gratuito, igualitário e com participação social.

Depois de um périplo de empurra-empurra, incompatível com o conceito de sistema, era jogada de um lugar para outro que não resolvia e nem encaminhava a solução. Finalmente chegou a um hospital conveniado com o SUS na capital cearense.

Para espanto familiar, não havia quem recepcionasse a paciente, ninguém chamava um profissional e, finalmente, uma supervisora por pressão familiar descobriu que no andar dos médicos, nenhum sinal deles havia. E mais ainda, quando alguém apareceu não cuidou de encaminhar o caso. Simplesmente enrolou a família no seu desespero.

Como se tratava de gente com prestígio social e político um amigo foi acionado, telefonou para o “colega” no hospital que então partiu para a ação que até então enrolara.

Continue comigo.

Uma das figuras mais populares de Paracuru, aposentado como diretor da Universidade Federal, grande músico, detentor de enorme poder de comunicação tem igual problema numa válvula cardíaca. Aí pelos, também credenciados, Planos de Saúde.

O que aconteceu?

Um caso de estenose foi diagnostico há cinco anos e o médico simplesmente não operou e deixou o estreitamente evoluir até um estágio extremamente perigoso, com grande possibilidade de morte súbita. Em seguida não atendeu mais ao paciente, a secretária passou a avisar que ele estava em formação no exterior.

Na última revisão de imagem da lesão da válvula, ele ouviu o tal doutor trabalhando normalmente. Quando foi a um cirurgião mais consciente, este ficou perplexo com a atitude do “colega”. Francamente explicou que o plano paga pouco pelo procedimento e o cara havia fugido do problema. Mas no extremo da covardia e o espírito de ave de rapina jamais deixou claro para o paciente que procurasse outro profissional. Simplesmente deixou que ele evoluísse até o risco de morte.

 Fique mais um pouco.

O sogro do rapaz que, então, revelou todo o desespero do seu choro, aconteceu aqui mesmo em Paracuru. Um cirurgião que serve à cidade simplesmente adiou a extração de um câncer de pele (o tipo mais agressivo o espino-celular) para quarenta dias. E não adiantou o pedido de outro colega, pai do rapaz.

Qual, então, o denominador comum das três histórias. O SUS e Planos de Saúde foram tomados por um conjunto de abutres que no limite só pensa em negócio. Em ganhar rios de dinheiro numa fragmentação de procedimentos que reduzem a efetividade de qualquer tratamento e aumenta os danos à saúde.

Enfim, o modelo liberal e capitalista de exercício da medicina tem se mostrado perverso, tolhendo a liberdade, a segurança e o futuro da humanidade. Ou nos voltamos aos fundamentos do Controle Social verdadeiro, não chapa branca, que bebe suas lutas nas demandas da sociedade e que jamais se torna um capacho a serviço de prefeitos e vereadores, ou este modelo só produz choro e desespero.

Não precisamos entrar numa caça às bruxas e nem no andar meramente punitivo, mas precisamos antes de tudo colocar o interesse de todos à frente da exploração comercial da saúde pública. Não se trata apenas de desonestos profissionais de saúde, mas de um modelo que os estimula a isso. Já vimos isso no tempo do INAMPS e estamos novamente na linha deste comportamento.


Talvez não explique tudo, mas parte da revolta desses profissionais com o mais Médico venha desta antiética prática do negócio com a doença. Negócio que se alimenta nos doentes reduz a efetiva do tratamento e causa mais danos à saúde de mortalidade por causas evitáveis. 

domingo, 10 de maio de 2015

LIBERDADE ÀS MÃES - José do Vale Pinheiro Feitosa

Mãe toda vez que busco tua definição, apesar da maternidade que sou eu, encontro na raiz a mulher que me abriu a luz deste mundo. Mesmo matéria da fusão com a matriz linguística pater, sei que matriz é a mesma coisa que se manifesta em ti.

Tu mulher. Mesmo que minha voz seja feminina é a tua condição de gênero, nesta divisão do trabalho, da renda, dos bens, do acesso aos parâmetros desta civilização, que posso dizer: eis aí uma civilização desgraçada. Aquela que discrimina a ti, mulher.

E não adiante toda esta ternura, por um dia apenas, se do meu amor não surgir uma forte ação permanente para superar o rebaixamento das mulheres em relação aos homens. É disso que falamos no dia das mães. Da condição relativamente discriminada.

E quando canto o amor por ti mãe, preciso ouvir o acompanhamento da melodia, entender os ruídos que a cercam. De outro modo o encanto musical me aliena da tua condição. A tua condição de mulher.

O que do teu corpo fazem como mercadoria de consumo erótico. Como suporte para o fetiche de roupas, joias, cremes e produtos gourmet. Do teu útero que alugam para fazer crescer os delírios genético das classes endinheiradas.

Tu mulher, quanto mais pobre, mais discriminada, usada e descartada. Vítima de abusos. Atacada por uma moral que dizem religiosa e que parecem retornar às pedras lançadas sobre o corpo frágil de Madalena.

E por ti, mãe, que medra até mesmo nas pedras, eu sei que tudo isso nada tem a ver com qualquer fragilidade inerente. Jamais, em momento algum, tive o menor indício de que esta discriminação tenha a ver contigo. Por um mínimo traço que seja do teu ser de mulher a justificar o que esta civilização desgraçada faz de ti.


E sei, mãe, é da tua coragem que a revolução onde se diz igualdade às mulheres nascerá. Da tua luta. Da tua denúncia. Da tua liberdade. Onde nenhum padrão de consumo, de negócio ou moral patriarcal irá tracejar o teu destino.    

sexta-feira, 8 de maio de 2015

E toda a história começa assim: um líder operário tenta conciliar as classes sociais num projeto de governo. Logo de cara encontra o preconceito de madame, mas ele grava um samba enaltecendo o amor acima da luta de classes.



Mas madame tem mais do que preconceito de cor. Ela tem medo da proximidade dos pobres. Mas madame não sabe que os grandes líderes de sua classe pensam assim nela e nas panelas: “Aqui tem a chave do meu barracão, pode voltar quando quiser, as panelas já estão reclamando a falta de uma mulher”.



E madame bate panela para mostrar que o som da sua inoxidável é mais metálico que o da vizinha. Só que madame não conhece Kathy Calvin, presidente e Chief Executive Officer da United Nations Foundation. Tal fundação foi criada em 1998 por contribuição particular, especialmente de Ted Turner (ex-marido de Jane Fonda) para apoiar causas e atividades da ONU. O trabalho da fundação está focado em diminuir a mortalidade infantil, o empoderamento das mulheres e meninas, criação de energia limpa.

E madame que vive no varandão do seu apartamento batendo panela contra o PT e Lula não sabe que Kathy foi identificada em 2012 pela Newsweek entre as 150 mulheres que balançam o mundo, isso sem falar nas referências do New York Times em 2011. Bem Kathy não tem nem um fio de cabelo que possa lembrar a madame que seja uma marxista, bolivariana, petista ou coisa assemelhada. Antes da ONU ela foi presidente da AOL Time Warner Foundation, Vice-Presidente Sênior e Diretora de Comunicações da America Online, Diretor Gerente Sênior da Hil and Knowlton que é uma empresa global de relações públicas e foram muitos os cargos desta americana típica.

Agora madame, que bate panela e quer um fora Dilma e que leve o PT junto vai ficar perplexa. Olha o que a Kathy disse sobre o governo destes corruptos do mensalão e do petróleo. Disse isso após uma visita à Presidente Dilma:

Estamos particularmente felizes de ver e aprender sobre o progresso que o Brasil fez em termos de reduzir a fome e a mortalidade materna, a mortalidade infantil, melhorando a cobertura para meninos e meninas. Melhorando a equidade de gênero e assegurando que há uma inclusão no trabalho que tem sido feito para cidadãos brasileiros. ”

A Kathy raspa o fundo da panela de madame:

Estamos impressionados com o trabalho que já vem sendo feito no País para garantir que você tenha um futuro com energia sustentável. Isso é algo que poder ser compartilhado pelo mundo e onde o Brasil é uma grande liderança. ”  


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Não vim trazer a paz, mas a espada - José do Vale Pinheiro Feitosa

Não tem futuro uma humanidade que entende o progresso como um faça-se você mesmo, de modo egoísta e com argumentos de uma meritocracia que justifica a exclusão. Este bate panelas que apenas estão vazias porque as empregadas domésticas já as lavaram e as guardaram.

Há uma fonte permanente de desastres e morte no sistema de acumulação de riquezas que explora outros povos de modo colonial e imperial, extraindo seus potenciais e deixando milhões na miséria. Que após o desespero de verdadeiros campos de concentrações e desgraça, como acontece na África, ainda deixa que se afoguem nas águas do Mediterrâneo.

E quando a humanidade é vítima deste vício destrutivo é preciso a revolução. Uma revolução que separe, que divida, que não pregue a paz quando a espada é necessária para superar o veneno que corre no braço que bate na panela, antes cheia, como se batesse nos pobres.

E há uma oração, de uma fonte tão universal no pensamento dos brasileiros que é preciso escutá-la para situar-se. Alguém já ouviu o que segue?

Não julgueis que vim trazer paz a Terra; não vim trazer-lhe paz, mas espada; porque vim separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão os seus mesmos domésticos.

Ou dito de outra maneira:

Eu vim trazer fogo à Terra, e que que eu, senão que ele se acenda? Eu, pois, tenho de ser batizado num batismo, e quão grande não é a minha angústia, até que ele se cumpra? Vós cuidais, que eu vim trazer paz à Terra: Não, vos digo eu, mas separação; porque de hoje em diante haverá, numa mesma casa, cinco pessoas divididas, três contra duas e duas contra três. Estarão divididas: o pai contra o filho, e o filho contra seu pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra.

Pois como já se deduz pelo estilo, quem não conhecia esta oração logo sabe a origem. Jesus Cristo sabia que mudar os homens gera resistência. Os privilegiados da ordem corrompida não querem mudanças, os acostumados a que nada mude não acredita nela, os que sofrem a opressão temem mais açoites.

Então Jesus sabia desde dois mil anos passados, que a mudança virtuosa gera oposição e um enfrentamento inerente. Toda revolução, enfim, busca a paz, mas intimida enquanto se realiza.  E não resta qualquer dúvida que Jesus, na qualidade judaica do Messias, aquele que redime, sabe que o saber é evolutivo e que a sua negação é causa de corrupção humana. Em outras palavras redimir, é usar o conhecimento da realidade das pessoas para oferecer-lhe uma nova ordem social de paz, de justiça e liberdade.

Se você não pensa assim, mas se diz cristão, precisa mergulhar em águas batismais. Leiam sobre estes dados:

Atualmente 3,3 bilhões de pessoas vivem em regiões com transmissão ativa de Malária. Isso compreende as América, África, Ásia e Oceania. Países mais ao sul e ao norte, incluindo a calha do Mediterrâneo não têm transmissão da malária.

Em torno de 1,2 bilhões de pessoas vivem em territórios com risco elevado de pegar malária. Existem países na África onde para cada mil habitantes 100 têm malária.

Estima-se que 198 milhões de pessoas pegaram malária em 2013 e 584 mil pessoas morreram da doença. A concentração de casos e mortes se verifica na África – 82% do total de casos mundiais e 93% das mortes.


E tem mais: quanto mais pobre é o país e sua população mais alto é a incidência de malária. A população mais vulnerável à doença: pobres, crianças, mulheres gestantes, pessoas infectadas pelo HIV. A malária se tornou a doença da exploração colonial e do avanço do capitalismo.  

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O JUIZ E O RÉU - José do Vale Pinheiro Feitosa

Comecemos pela religiosidade. A maioria dos brasileiros se declara religioso. A principal corrente é judaico-cristã. Portanto há um Deus pai, onisciente, onipresente, onipotente cuja única exigência às suas criaturas é que o compreendam.

Nesta visão o princípio de todas as coisas é Deus e ele se manifesta pela bondade (sem fim acrescentou o poeta do sertão) a tudo que nos faz e decide. E a bondade é necessariamente compreensível. Ou seja, Deus explica a bondade e a compreendemos.

Agora vamos a um canal de Diálogo durante depoimento entre um preso da Lava Jato e o Juiz Sérgio Moro:

Cerveró – “Eu estou preso há cinco meses, sem nenhuma culpa provada. Nenhuma acusação que o senhor fez foi provada. ”

Juiz Moro – “Eu não fiz nenhuma acusação senhor Nestor, foi o Ministério Público. ”

Cerveró – “Mas o senhor aceitou a denúncia, baseado em ilações do Ministério Público”.

Juiz Moro – “Não vou discutir com o senhor aqui as provas, vou avalia-las na sentença”.

Cerveró – “Mas qual é o sentido de eu estar cinco meses preso, por que eu não posso responder em liberdade ou em prisão domiciliar? Isso não pode ser analisado antes?”

Juiz Moro – “Não, o processo está encerrado, praticamente”.

Cerveró – “Mas já me custou cinco meses de cadeia. Qual foi o critério que o senhor usou para me colocar preso preventivamente”?

Juiz Moro – Eu não vou ficar discutindo minhas decisões judiciais com o senhor. O interrogado aqui é o senhor, e não o juízo”.

Para os espíritos exaltados que se encontram na primeira fila do apedrejamento, não custa lembrar que se um Juiz não pode se explicar a quem acusa ou penaliza, ele pode tudo. Inclusive contra os exaltados, seus antepassados ou descendentes.

A base da violência institucional (ditadura, achaques, agressões, tortura etc.), que normalmente esconde outras intenções, é o biombo de quem não se explica escondendo suas decisões e atos. Se Generais tão estúpidos tivessem, no combate aos adversários da Ditadura o cuidado de prestar contas ao menos institucional, agentes não teriam cometido as barbaridades inclusive decorrentes da psicopatologia do torturador.


Então num e noutro caso, as Forças Armadas então e o Juiz de Direito agora, adicionam outro  atributo a Deus: prepotência. 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

QUAL O SIGNIFICADO DO PRIMEIRO DE MAIO? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Foi um Judeu que deu outra interpretação ao trabalho. Na matriz religiosa judaica o trabalho fora um castigo do Criador ao homem. Que já nascera com todos os atributos e por isso “no suor do teu rosto comerás o teu pão...”

Engels, tomando a teoria evolucionista de Darwin para compreender a diferenciação do trabalho como a matriz do ser humano, teorizou sobre o papel daquele no desenvolvimento físico e intelectual desse. O homem é fruto do trabalho não é um exagero de se dizer a respeito desta visão.

Acontece que Engels, assim como Karl Marx viveram as consequências da Revolução Francesa que definitivamente desmontou a velha ordem ocidental. Quando o capitalismo se organiza, a industrialização avança, a navegação cria o sistema mundial de comércio e definitivamente se estabelece a equação capital e trabalho.

Agora o trabalho não apenas cria o homem como o liberta da exploração social do mesmo. É que a distribuição humana em classes sociais, que se diferenciam pelo poder de apropriação do produto do trabalho, gera uma contradição no modelo de economia capitalista que aponta para a revolução libertadora das classes.

O século onde toda a consciência de classe evoluiu nos trabalhadores foi o XIX e princípio do XX. Se a Revolução Francesa foi da classe burguesa sobre a velha ordem aristocrática, a Revolução Russa seria a classe operária sobre a ordem burguesa do capitalismo.

O dia do trabalho na maioria do mundo é comemorado no 1º de Maio rememorando a luta de operários americanos pela jornada de 8 horas de trabalho. A repressão policial aos operários americanos naquele tempo, caracteriza o primeiro de maio como a luta do operariado contra a ganância da classe burguesa ávida por mais lucro.

Daí nasceu o princípio dos direitos universais dos trabalhadores que resultaram nos direitos sociais e, claro, sobre a base dos direitos humanos já conformados com a Revolução Francesa. Em outras palavras, numa sociedade livre e democrática, o capital pode jogar sua liberdade até as margens do direito do trabalho à dignidade e à liberdade.

Portanto, nada é mais temático para um primeiro de maio do que a manifestação dos trabalhadores, por meio de seus sindicatos, contra a terceirização de atividades fins como manobra patronal para reduzir direitos trabalhistas. Este é o sentido das coisas.


Vivemos, como antes, a luta de classes e esta é uma dinâmica contínua e acumulativa até o limite de uma sociedade em que as classes cessem. Em que o progresso é contingente à natureza e aos efeitos causados pelo consumo de seus recursos.