segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A MENSAGEM FANTASIADA

O meio é a mensagem. Famosa frase do pensador McLuhan, que demonstrou ser a informação era “processada” pelos meios de comunicação, para então ser entregue. Em outras palavras a informação já não era mais a originária.

Quem entrega a mensagem acrescenta, subtrai, inverte, transforma a informação. E inclusive autocensura, esconde a informação do grande público. Hoje a crítica feita aos meios de comunicação, especialmente os hegemônicos é que fazem tudo isso pelo que se chama editar a informação.

Alberto Dines em entrevista com o pensador Zygmunt Bauman levanta a solução da pluralidade de fontes de informação, para que a população pudesse ter melhor consciência de sua realidade. Ao mesmo tempo que concorda com Dines, Bauman aponta um revés grave neste caminho.

As pessoas estariam tão desejosas de conforto que teriam criado verdadeiras zonas de proteção para não se exporem a outros, a ideias e circunstâncias que se tirem pasmaceira confortável. Enfim a imagem clássica da redução do burguês de revolucionário a uma enfadonha vida de negócios e convenções mudas e surda.

O pensador inclusive aponta as redes sociais e a internet em geral como um exemplo desta criação de “zonas de conforto” (acrescente a dezenas de opções de canais de televisão com o controle remoto para correr rápido do desgosto). Ali apenas dialogamos e procuramos o que não nos incomoda, aquilo do qual não divergimos, “desligamos” tudo que é incômodo.

Ou seja, as pessoas podem até ter fontes plurais de informação, mas tenderiam a se manter inertes a elas para não ter que articular suas próprias contradições. Esse é certamente o lado da cultura de consumo, da mercadoria enfeitiçada, dos símbolos irreais de uma digestão rápida de processos, performances e objetos.

Mas a crítica não se perde, apesar das zonas de conforto.  E mais ainda, logo a contradição é tão marcante que a inquietação se sobreleva ao conforto que, em última análise, depende das circunstâncias afinal mutáveis. E temos fôlego e indignação para apontar a censura das grandes corporações de Meios de Comunicação e de suas Agências de Notícias, todas sediadas nos países centrais (especialmente EUA) e sujeitas a todo tipo de pressão ideológica das Agências Governamentais de natureza imperial.

Ernesto Carmona, jornalista, escritor chileno e jurado internacional do Project Censored, publicado em Proyecto Censurado e traduzido por Carlos Santos para o site esquerda.net e reproduzido pelo site Carta Maior, aponta as 10 notícias mais censuradas pela grande mídia em 2014 e 2015 foram as que seguem abaixo.

O 1% mais rico possui metade da riqueza mundial, de modo que em 2016 apenas um 1% da população possuirá mais riqueza que os 99% restantes.  A segunda é que o fracking (processo de fratura hidráulica do subsolo para extrair petróleo e gás) envenena as águas subterrâneas. Esse envenenamento contaminou os aquíferos da Califórnia.

A terceira notícia mais censurada foi que 89% das vítimas paquistanesas de drones americanos nem seque são apontados como militantes islâmicos (ou seja, o famoso efeito colateral). A quarta é que a luta da Bolívia pelo direito à água deu certo e muitos países seguem o exemplo. A quinta:   o desastre nuclear de Fukushima se espalha pelo Oceano Pacífico e já ameaça chegar à costa ocidental da América do Norte.

A sexta notícia é que os níveis de metano na atmosfera atingiram o máximo histórico nos últimos anos e o Oceano Ártico tem perigo crescente e com alterações de modo abrupto, inclusive com a liberação de grandes quantidades de metano que é contido pelo gelo. A sétima notícia é que o medo da espionagem dos governos condiciona a liberdade de expressão dos escritores, incluindo jornalistas e advogados. Em comparação com outras nações, a polícia dos EUA mata muito mais: 100 vezes mais que as polícias inglesas, 40 vezes mais letal que as alemãs e 20 vezes mais que as canadenses.

As grandes corporações de mídia vivem de afagar os egos dos multimilionários esquecendo-se dos pobres. E a décima é que a Costa Rica já tem predomínio em sua matriz a energia renovável. Assim diminuindo a geração por combustíveis.  

Isso apenas significa que a grande mídia é apenas um projeto geopolítico. E todos os impactos citados, positivos e ou negativos, devemos avaliar com critério inclusão e exclusão. Não repetir os erros já verificados.  


sábado, 17 de outubro de 2015

SEXO SEM NATALIDADE

Como dantes, nunca se ouviu tantas vezes que antes se viu algo igual, os indivíduos mudam como se transforma a demografia. Redução vertiginosa da fertilidade, envelhecimento da população, urbanização universal e articulação global.

O eixo da fertilidade é o sexo, que é o eixo do amor, mesmo aquele dito de todos a favor de todos. E agora o que teremos? Grandes implicações em tudo que é indivíduo e coletivo: gênero, personalidade, moral, família, sociedade e conteúdo do projeto de futuro (filosofia).

O sexo que sempre esteve associado ao desejo, já se encontra codificado como mercadoria e consumo. Todos os símbolos se tornaram meios de venda. E mais do que nunca o sexo, sem natalidade, se encontra robustecido pelas marcas do lazer (prazer).

Como produto pós-biológico, o sexo é conduzido socialmente como conquista sem barreiras de gênero, de raça, de idade, posição econômica (ou para alcança-la) e sobretudo como estética aquisitiva para exposição pública (especialmente de belas espécimes do sexo feminino).

Por isso se ultrapassaram, por meios químicos, os limites de idade e se fabricam parafernália de brinquedos, cremes, vestimentas, luzes e assim continua para puro sexo como diversão. Sem natalidade. Ou seja, sexo sem história a ser feita.

Assim como se tornaram toscos os efeitos especiais dos filmes dos anos 80 diante da computação gráfica, os brinquedos e bonecos de sexo estão se aperfeiçoando. Já há quem diga, como o futurólogo Ian Pearson (blog Opera Mundi) que “o sexo virtual e o sexo com robôs superarão as relações íntimas entre humanos.

No fundo o que temos é construção filosófica da sociedade de consumo, especialmente aquela de base tecnológica, retirando a relação corpo a corpo entre as pessoas. O que falta esclarecer é o quanto a exclusão do corpo pode nos fazer mais humanos, espiritualizados e mentalmente aceitáveis.
A rigor a filosofia destas fontes tem o forte desejo de, com um aperto de botão, sumir com o corpo para uma ambiência que chamam de virtual, mas que não passa de meras gravações e interações sobre estas gravações.


E retornemos a outras fontes filosóficas: a memória (gravação) não explica toda a nossa humanidade. Ela é parte não o todo. 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Guerrilha 2015 divulga programação de espetáculos




07 | Sab
16h – O PALHAÇO MÁGICO (Tio G Eventos, Juazeiro do Norte-CE, Infantil, 70min, Palco)
19h30min – FEITO DE NÓS MESMOS (Grupo Dançá Mais Eu, Recife-PE, Livre, 45min, Anfiteatro)

08 | Dom
16h – A FADINHA E A NATUREZA (Cia. Tábua de Pirulito, Crato-CE, Infantil, 50min, Palco)
19h30min – UM BRAVO CANTO PARA DESATAR OS PERVERSOS NÓS! (Confraria da Paixão, São Paulo-SP, 14 anos, 80min, Palco)

09 | Seg
19h30min – ZUMIRA: A HISTÓRIA DE UMA RAINHA (Grupo Época de Teatro, Campos Sales-CE, Livre, 40min, Palco)

10 | Ter
19h30min – VERSOS DE MATUTO (Cia. Teatral Arte Livre, Trindade-PE, Livre, 40min, Palco)

11 | Qua
19h30min – AMOR INPROCESS (Grupo Cícera de Experimentos Cênicos e Cia. Ortaet de Teatro, Iguatu-CE, 16 anos, 40min, Palco)

12 | Qui
19h30min – EU SOU ASSIM... (Cia. WSA do Teatro, Icó-CE, 14 anos, 40min, Palco)

13 | Sex
19h30min – INQUISIÇÃO (Cia. Ludens em Cena, Juazeiro do Norte-CE, Livre, 40min, Anfiteatro)

14 | Sab
16h – TAMPINHA EM UM MUNDO DE HISTÓRIAS (Bete Pacheco, Juazeiro do Norte-CE, Infantil, 50min, Anfiteatro)
18h00min – EXISTE OUTRA PESSOA ENTRE NÓS DOIS? (Trupe Versos & Canções, Fortaleza-CE, 12 anos, 40min, Palco)
19h30h – E AGORA NÓS? (Grupo Teatral Loa, Fortaleza-CE, 16 anos, 50min, Palco)
21h – O TRIUNFO DE DIONÍSIO, A CELEBRAÇÃO (Grupo de Teatro Louco em Cena, Barbalha-CE, 18 anos, 50min, Anfiteatro)

15 | Dom
10h – PALESTRA DE LEGISLAÇÃO e BANCA EXAMINADORA do SATED-CE para emissão de Atestado de Capacitação Profissional para Registro Profissional dos Artistas e Técnicos na Superintendência Regional do Trabalho (SRTE/CE) do Ministério do Trabalho e Emprego (Sated-CE, 120min, Sala de Ensaios)
16h – A CAIXA DE BRINQUEDOS (Cia. Teatral Jovens em Cena, Juazeiro do Norte-CE, Infantil, 50min, Palco)
19h30min – MORTE ANUNCIADA (LATOR Produções, Fortaleza-CE, Livre, 45min, Palco)
20h30min – TOQUE-ME (Coletivo Dama Vermelha, Juazeiro do Norte-CE, Dança-Teatro, 16 anos, 50min, Anfiteatro)

16 | Seg
19h30min – CRIADORES EM CENA (Grupo Criadores em Cena, Fortaleza-CE, Livre, 90min, Anfiteatro)

17 | Ter
19h30min – UM TOM DE VINÍCIUS (Grupo de Teatro Zaíla Lavor, Juazeiro do Norte-CE, Dança-Teatro, 12 anos, 40min, Palco)
20h30min – AS SETE FORMAS DE AMAR (Cia. Mákara de Teatro, Crato-CE, 16 anos, 50min, Palco)

18 | Qua
19h30min – MARACATU (Maracatu Raízes, Crato-CE, Livre, 40min, Anfiteatro)

19 | Qui
19h30min – BUQUÊ DE SANGUE (Cia. Arte e Cultura de Teatro, Crato-CE, 14 anos, 40min, Palco)

20 | Sex
19h30 – SEPARACIÓN (Cia. Mandacaru de Artes e Eventos, Juazeiro do Norte-CE, 14 anos, 90min, Palco)  

21 | Sab
19h30min – A COMÉDIA DA MALDIÇÃO | Especial: comemoração 10 anos em cartaz (Cia. Brasileira de Teatro Brincante, Crato-CE, Livre, 60min, Palco)
21h – ACORDA GUETO (Irmandade Rap, Crato-CE, Música, Livre, 50min, Anfiteatro)

Cacá Araújo
Coordenador Geral

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

TEMOS PAPA, VIVA O PAPA ! - Demóstenes Gonçalves Lima Ribeiro (*)

Aos prantos, ela se jogou ao pés do Frei Abelardo e implorou para que a criança ficasse. Era mais um menino consagrado a São Francisco, vestindo marrom desde o nascimento e que a mãe não tinha como criar. Percebendo minha comoção, o superior aceitou, mas que eu me responsabilizasse.

Aparentava sete anos e se chamava Raimundim. Logo, os moleques o apelidaram Perna-Santa – apesar do defeito, corria, driblava e chutava de maneira surpreendente. Quem sabe, dali não brotasse um novo Chagas, aquele que começou no Salesiano, brilhou no Treze, voou pra Roma e envelheceu nos braços de uma condessa italiana. Mas, se ele ia bem no futebol, na alfabetização era um desastre. Sempre o pior aluno, jamais a pendeu a ler e a escrever, independente do esforço e de diversas tentativas pedagógicas.

Com o tempo, me convenci de que era impossível alfabetizá-lo e ordená-lo frade. Além disso, como se agravaram o defeito na perna e um problema na coluna, o sonho do futebol foi embora. No entanto, sempre de batina marrom, adorava limpar o altar, tocar a chamada da missa, responder ladainha, sacudir o turíbulo e estar à frente nas procissões. Tornou-se um agregado da Igreja e virou irmão Raimundim.

Memória prodigiosa, ele sabia de cor os evangelhos e nenhuma liturgia lhe faltava. Na Semana Santa, apoderava-se da matraca na procissão do Senhor Morto e ficava a noite inteira ajoelhado na Sexta Feira da Paixão. Ninguém na Ordem Franciscana conseguia acompanhá-lo, E assim continuou até quando Frei Abelardo faleceu e eu fui promovido a pároco.

Curvado sobre a bengala, barba e cabelos brancos, Raimundim envelheceu precocemente, tão longe aquele menino que eu vislumbrava um craque. Ao saber que Bento XVI renunciou, ele se recolheu em orações, aumentou as penitências, não comia nem dormia, cada vez mais introspectivo e solitário.

Certo dia, o Bispo convocou o clero pra orientações no período da vacância papal. À tarde, quando voltei, percebi algo estranho, um povaréu imenso ia da estação ferroviária à Igreja dos Franciscanos. Mil fogos espocando, banda de pífanos, bacamarteiros e maneiro-pau. O badalar dos sinos e um mar de braços erguidos num ondular de chapéus e gritos ritmados de “temos Papa, viva o Papa, temos Papa...”.

A muito custo, atravessei beatas ajoelhadas e, penitentes em flagelação. Cheguei à sacada da Igreja e constatei perplexo: era ele mesmo, agora sem marrom, mas de batina, estola e solidéu brancos. O crucifixo pendia do pescoço e Raimundim abençoava a multidão que ecoava “temos Papa, viva o Papa, temos Papa...”.

Retomei o fôlego, olhei no azul dos seus olhos e fulminei colérico: o que é isso Raimundim, pode me explicar que loucura é essa ??? Sereno, ele fitou-me com extrema gravidade e falou para que só eu escutasse: Oxente, Frei Serafim, eu ia deixar os romeiros sem Papa ???


(*) Demóstenes Gonçalves Lima Ribeiro (médico cardiologista, nascido em Missão Velha, residente e exercendo a profissão em Fortaleza) 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

As reflexões, imaginações, especulações, adivinhações, ocupam parte do nosso viver. Por isso mesmo tanto representam na vida. Porém as grandes questões são ações e reações frente ao surgir, ao momento, ao acontecendo.
A fusão entre o longo da imaginação e o imediato do acontecer é uma das maiores evidências pelas quais o amor existe. Ele é o manifesto do relâmpago e o reboar dos trovões.
Aqui um pouco desta experiência:


domingo, 4 de outubro de 2015

DIREITOS HUMANOS

Na selva viva das redes sociais apareceram tipos que apenas refletem as palavras odientas de desesperados, ou que têm tanta insatisfação com a própria história que vivem à caça de culpados como os nazistas aos judeus, ciganos, comunistas, gays e tantos que poderiam, indefesos, serem a expiação de tanta culpa. Mas essa é a origem imediata de um discurso mas existem outros mediatos.

Há na selva desarmônica heranças históricas que teimam em permanecer apesar de outros tempos.  A herança das polícias (que se assemelhavam a pistoleiros, bandidos, justiceiros, vingadores etc.) que existiam para proteger os privilégios de elite em explorar e perseguir a população de trabalhadores e camponeses.

Vejamos uma questão. Quem mais semeia o ódio contra os Direitos Humanos, inscritos na Constituição Federal, nas Leis Nacionais e na Carta da Declaração dos Direitos Humanos da ONU são grupos militares (especialmente policiais).

 Os grupos militares do Estado o tempo todo tentam privatizar em benefício de suas operações o que é um monopólio do Estado: a violência em defesa das pessoas e seus direitos. A violência do Estado é pela justiça que é um modo de pesos e contrapesos para garantir a plena liberdade à acusação e à defesa.

Quando um grupo, seja de mídias, religiosos, políticos, de interesses ou corporativo tenta estigmatizar todo o curso da justiça quer apenas se apropriar da violência que é monopólio do Estado. Quando policiais vêm com aquele discurso genérico de que prendemos e o juiz solta, logo imagine que eles querem apenas para eles o monopólio que é do Estado.

Por isso os discursos de má qualidade contra os direitos humanos normalmente nascem de picaretas políticos, de exploradores da raiva pública nos grupos de mídia e de grupos militares que querem o privilégio da violência para si.

Ao criminoso o caminho corretivo é o da justiça. À violência se contrapõe a educação, a democracia, a justiça e os direitos humanos. E por isso toda a dinâmica tem que ser pelos direitos humanos, que passo a escrever segundo os termos de um vídeo divulgado pelo Youtube chamado: “A História dos Direitos Humanos (legendado em português). Tomo algumas frases essenciais:

Onde fica o lugar dos Direitos Humanos?

“Indivíduos de pensamento livre que se recusam a ficar calados;
Que compreendem que “Direitos Humanos” não é uma lição de história em sala de aula;
Palavras escritas nas páginas de livros;
Não são discursos, propagandas, ou campanhas de relações públicas;
São as escolhas que fazemos diariamente como seres humanos;
São as responsabilidades que todos nós compartilhamos que são:
Respeitar uns aos outros;
Ajudar uns aos outros;

E proteger aqueles que precisam”.
A estética da arma de fogo

Ao assunto das mortes por arma de fogo. A primeira coisa pensemos nas armas como uma posse. Um objeto pessoal. Uma categoria de fetiche. De design. Misturada ao consumo como estas tecnologias digitais cada vez mais atraentes. Isso tudo se encontra nas séries de armas de fogo, especialmente as chamadas armas leves.
Em segundo lembremos o caso do cigarro. Desde que na abertura do Canal de Suez, para ganhar tempo dos trabalhadores, inventaram a máquina de fazer cigarro, que ele se tornou um objeto de consumo de massa especialmente na indústria americana. Afinal as grandes tabageiras se fundaram no Império Inglês e o americano, convenhamos, é apenas o mesmo transferindo ativos para a América do Norte.
Os americanos usaram a maior máquina de gerar consumo com o cinema. E foi no cinema, na estética do cinema, cenas preparadas para dar profundidade e estética ao ato de fumar. Aquele momento da reflexão, o charme da sedução, a virilidade masculina, o desafio da juventude, tudo isso foi usado para aderir o público ao consumo do cigarro.
E tem um fato mais criminoso ainda. As estratégias foram se adequando à faixa etária que aderia ao consumo. Quando esta baixou para menos de 18 a indústria não teve escrúpulo algum, avançou no estímulo específico. Humphrey Bogart e outros meninos transviados formavam a imagem. A tragédia é que Bogart morreu de câncer provocado pelo cigarro assim como o cowboy que era o homem de Marlboro.
Pois agora a indústria armamentista faz o mesmo no cinema. A estética da arma de fogo, fazer clics viris para encaixar a bala, as munições que destroem tudo à frente, o ódio, a vingança desenfreada, as acrobacias para atirar deitado, no ar, caindo, pulando com as balas saindo em câmara lenta e explodindo no "inimigo".
Enquanto no cigarro a estética se associava ao drama e às seduções de amor, agora é no ódio desmedido que a estética da arma se justifica. Por isso Hollywood tem feito tanto filme destruindo tudo. Com a queda das torres gêmeas a vontade de destruir tudo que se move e tudo que se encontra em pé se aprofundou na cultura americana.
Agora imaginem, o que esta estética faz com uma sociedade acumulativa, com uma meritocracia de faz-de-conta, onde o sucesso é sempre o revés, as insatisfações aumentam e o ódio cresce ao tentar explicar as permanentes derrotas da imensa maioria. Um estado permanente de culpa de terceiros pelo próprio fracasso.

Imaginem o que isso gera com a estética da arma de fogo. Especialmente na mão de quem já não consegue sair do estado de alienação do feitiço da mercadoria e da estética cultural da destruição ampla, geral e irrestrita.

sábado, 3 de outubro de 2015

A PRIMEIRA EXPOSIÇÃO DE BRUNO PEDROSA

Onde o Vêneto começa seu abraço aos alpes dolomitas, vive um artista plástico corre-mundo, que hoje navega o abstrato pictórico, mas foi nas sinuosidades, ângulos e ilusões da tridimensionalidade que se descobriu. Após formar-se na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, é aquele joio que fica das levas de formandos que desistem ou escondem suas obras em guardados. Ele viveu, vive e viverá até o fim dos tempos levando o pão para casa do valor de mercado de sua arte.

E para compreender os séculos gestados a partir do Renascimento, o Bruno Pedrosa é um espécime em amostra. Não por ser quase italiano, ou por artista plástico, mas pelo que aquele movimento fez ao buscar no passado uma bússola para abrir novas, inimagináveis e interditadas trilhas da alma.

Séculos que carregam simultaneamente a ousadia iconoclástica, a inovação, o questionamento do posto ou a revisão da realidade ao mesmo tempo em que se veste de corpo e alma com o arcaico que sua passadas derruba. Nascido e alimentado numa longa mesa patriarcal, com 32 assentos, no sertão do Riacho do Machado no Ceará, com as barbas e cabelos de profeta, Bruno Pedrosa é o tipo humano dos nossos séculos renascentista-iluminista-técnico-científico.

E este caleidoscópio de eras, das dimensões imperiais, dos fragmentos civilizatórios e localidades culturais resultou neste associativismo abstrato. Em que o obscuro é parte essencial da luz. Da realidade multiforme e por isso mesmo sensível.  

Nos últimos quarenta anos do século XX, numa cidade típica do mais profundo interior nordestino, localizada no centro geodésico do Nordeste, ali se desenvolveu o coletivo daqueles séculos. Uma cidade ajoelhada aos séculos coloniais com os olhos brilhando para as luzes inovadoras que piscavam nas publicações jornalísticas, nas ondas da Rádio Araripe e nos fótons projetados na tela dos cinemas.   
E foi numa peça automotiva do pós-guerra, um jipe com tração nas quatro rodas, que Bruno Pedrosa, poderia ser Raimundo, Pinheiro ou Campos, assistiu à explosão da sedução. Uma jovem cratense ganhara o título de Miss Ceará e iria para a disputa nacional. E a cidade comemorou igualmente com já fazia com Antonio Corninho um transeunte das ruas.

Não é para esticar. Mas Antonio Corninho era no Crato a representação da modernidade com adereços do arcaísmo. Pela rua central de comércio as senhoras das honradas famílias faziam compras nas lojas chiques. Era o ambiente de exposição da sociedade, da elite da cidade. E por ela também passava Antonio Corninho e os gaiatos gritavam: Antonio Cornin! Comunista! E Antonio Corninho fazia descer do mais intenso arcaico uma profusão de palavrões suficientes para abalar até os cabarés do Gesso.

Então puseram a Miss em pé, ao lado do motorista, no jipe sem capota, se movendo pelas ruas principais da cidade. Apinhadas de gente, fogos espocando, sorrisos largos e a miss desfilando a glória da beleza. Especialmente para Bruno Pedrosa, então uma criança beirando a adolescência.
As famosas misses das capas da revista O Cruzeiro, desfilavam em vários trajes. O escolhido para o desfile no Crato foi aquele de banho na piscina. Um maiô colante que expunha todos os centímetros da perfeição, dos cabelos até as unhas pintadas dos pés, passando por toda vibração erétil do corpo da juventude desbragada. E ali Bruno Pedrosa.

Que já manifestava seus pendores para o desenho. E com pedaços de gesso de um conserto da vizinhança, desenhou aquele corpo sensual, de maiô, desfilando num jipe no cimento da passarela que atravessava o jardim da casa. A casa de uma tia carola e violenta que, segundo o sobrinho, quando apresentou as credenciais ao chefe do fogo eterno, recebeu deste uma pequena gleba para ali implantar seu inferno particular e fora dos domínios do decaído.

O cimentado, da miss desenhada, foi esfregado, raspado, tomou banho de ácido, até que nem lembrança restasse daquele pecado mortal do lembrado adolescente. Foi um prazer interrompido. Assim como ser pego no auto prazer solitário e por escândalo surgirem vituperações de todas as injúrias possíveis.

Acontece que segurar a era de Bruno Pedrosa, é igual segurar a água líquida pela mão. É uma era amoldável aos continentes, mas capaz de drenar, pelas falhas estruturais existentes em todos os contidos. Logo estava Bruno na fazenda do pai. Na redondeza pessoas moldando telhas para depois queimar no forno como uma cerâmica.

E com a telha moldável, a argila ainda mole, Bruno Pedrosa desenhou a miss sedutora sendo conduzida naquele jipe na representação do alazão do prazer. Um tio viu aquilo e encantou-se qual o sobrinho. Mandou queimar a telha. Pôs a dita com a face desenhada para baixo, do alpendre, bem na mira do seu olhar quando deitado na rede usada para sonhar.


E ali ficou anos sem fim visíveis aos olhares admirados por aquela primeira exposição de uma obra de Bruno Pedrosa.