quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Nico X Normando
Que posso dizer mais? milhões de palavras não bastam...fiquei sem meu irmão!
LÍNGUA DE PAPAGAIO
Diocesano realizar Noite Lusitana
Em uma seqüência de apresentações relativas à presença de outras culturas na colonização brasileira, considerando aspectos da influência de Portugal, África, Espanha e Itália, no idioma, na religiosidade, culinária, dança e outros costumes, foram mostrados trajes típicos, músicas, elementos de culto, danças e pratos tradicionais dessas nações. A promoção somou esforço didático-pedagógico da sala de aula em um espetáculo que reuniu pais e mães no pátio do colégio, a vivenciar o desempenho dos filhos em práticas modernas do exercício das disciplinas estudadas.
Compuseram a mesa diretora dos trabalhos do evento os padres Rocildo Alves Lima Filho e Vaudênio Nergino, atuais administradores do tradicional educandário cratense, além dos professores Ricardo Correia, Lázaro Alves do Nascimento, Graça Oliveira, Sebastiana Gomes Job (Bastinha) e do assessor de Comunicação da Universidade Regional do Cariri, Emerson Monteiro.
No decorrer das várias situações caracterizadas na moda e nos hábitos dos povos referenciados, houve declamação de poemas, exibição de cartazes com palavras originárias de outras línguas e que constituem o português falado no Brasil; desfile de faixas, flâmulas, placas; enquanto alunos, vestidos com indumentárias típicas das várias culturas, demonstraram a riqueza dos costumes trazidos pelas populações que integraram as bases civilizatórias do país e alimentam a força da nacionalidade verde-amarela.
Iniciada com a caracterização de procissão alusiva a Nossa Senhora de Fátima, padroeira de Portugal, desenvolvida pelos estudantes, verificou-se também a demonstração dos tipos elementais dos santos provenientes da cultura africana, os orixás mais conhecidos, Iansã, Iemanjá, Oxalá, Oxossi, Ogum, Omulu e Oxum, testemunho da liberdade de crença desta Nação.
Em prosseguimento, alunos vestidos com roupas próprias dos mestres de cozinha dos países enfocados na mostra exibiram pratos típicos produzidos no fiel padrão de receitas culinárias originais, preparados pelos participantes e familiares, o que, em seguida, foi exposto aos componentes da mesa dos trabalhos, inclusive para sua degustação.
O brilhantismo da noitada teve ponto alto com a exibição de danças folclóricas africanas e européias, pelos alunos do colégio, e de luta de capoeira, sob a responsabilidade de membros do Projeto Nova Vida, de Crato, numa indicação clara do talento de quem, por dias sucessivos, ensaiara coreografias e evoluções dos grupos envolvidos nas performances.
Digna de nota, portanto, a beleza dessa promoção de alunos e professores do Colégio Diocesano do Crato, instituição que guarda extensa folha de serviços prestados à educação brasileira, no momento de outras homenagens relativas aos seus 80 anos.
SESC lança Nona Edição da Mostra SESC Cariri de Cultura
bem como a programação
no site:
Acontece hoje, quarta-feira, 31 de outubro, o lançamento da 9ª Mostra Sesc Cariri de Cultura, a partir das 19 horas, no Auditório do Centro de Referência Turística e Cultural do Araripe, mais conhecido como Largo da RFFSA, no Crato. O espaço, recentemente reformulado, vai abrigar este ano a abertura do evento (dia 10 de novembro) e uma movimentada programação durante os sete dias de realização: Mostra de Rua, Horário Maldito, Café Literário, oficinas e exposições.
Durante o lançamento, a população poderá informar-se sobre a programação da Mostra e conferir as novidades dessa edição. Na ocasião, haverá exibição do documentário DOC Cariri e apresentação da Orquestra de Rabecas Cego Oliveira. Às 21 horas, também no Largo da RFFSA, será apresentado o espetáculo "Só Tinha de Ser com Você", da companhia Quasar (GO), dentro da programação da VI Bienal Internacional de Dança do Ceará.
De 10 a 16 de novembro, a região do Cariri, torna-se palco das mais diversas manifestações artísticas e culturais do País, reunindo espetáculos de teatro e dança, shows, exposições, instalações, rodas literárias, performances poéticas e mostras de cinema e vídeo. É a Mostra Sesc Cariri de Cultura, que chega à sua nona edição, ampliando ainda mais o caráter de pluralidade que sempre foi sua marca registrada.
A Mostra consegue reunir, durante seus sete dias de realização, desde grupos tradicionais, que representam a memória cultural da região do Cariri - como reisados, bandas cabaçais, maneiro pau, lapinhas, pastoris, guerreiros e congadas – até produções experimentais de arte contemporânea.
Realizado pelo Departamento Nacional do Sesc e pelo Sesc Ceará, o evento conta mais uma vez com a parceria do Centro Cultural Banco do Nordeste, associando-se agora à programação da mostra. Entre outros espaços nessas cidades, a mostra se espalha por teatros, galerias de arte, galpões e clubes. Sem falar nas ruas e praças, cortadas por cortejos chamando a população para participar. Serão mais de 150 apresentações, 95 grupos e artistas participantes de 13 Estados do País, além de apresentações locais. O circuito itinerante Patativa do Assaré irá levar espetáculos a 12 cidades do cariri cearense (Farias Brito, Várzea Alegre, Altaneira, Caririaçu, Missão Velha, Jati, Jardim, Brejo Santo, Araripe, Assaré, Santana do Cariri e Potengi).
As cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Nova Olinda são os pólos principais da Mostra Sesc Cariri de Cultura. Nessas cidades, as apresentações irão acontecer nas unidades do Sesc, no Centro Cultural do Banco do Nordeste, nos teatros, nas galerias de arte, nas praças, nos galpões, nos clubes e na rua, durante um grande cortejo que envolve toda a população das cidades. Sua estrutura foi dividida em cinco núcleos: Artes Cênicas, Música, Artes Plásticas, Literatura e Audiovisual, incorporando, além de manifestações artísticas, os hábitos, costumes e crenças do Cariri e de cada região do Brasil, elementos que formam a pluralidade e, ao mesmo tempo, determinam a singularidade do nosso País.
Um dos projetos que vão estrear nessa Mostra é o BiblioSesc uma biblioteca volante, instalada em um caminhão baú, equipado com prateleiras para guarda e exposição de livros. O Ceará é o 2º estado do Nordeste a receber o projeto. Durante o evento o BilbioSesc aportará na Reffsa, funcionando junto ao Núcleo Literário, aberto a visitação e empréstimos, depois, volta à Fortaleza, onde iniciará o seu funcionamento.
Após percorrer longa trajetória de sucesso em diversas casas de espetáculo de todo o Brasil, a cantora maranhense Rita Ribeiro foi convidada a levar sua "gira eletrônica" à abertura da Mostra com o seu show Tecnomacumba que acontece na cidade do Crato na noite do dia 10 de novembro. Na mesma noite, se apresentam no palco do Crato Tênis Clube os cantores João do Crato e Cacai Nunes.
Para a coordenadora Dane de Jade, "a Mostra tornou-se uma das mais importantes alternativas concretas de intercâmbio e formação profissional em artes cênicas, cultura tradicional popular, artes plásticas, literatura e música. Isso é raro hoje em dia". Ainda segundo Dane, essa é uma das raras alternativas de fomento, reflexão e difusão das artes e cultura no país.
Esse ano, foi criada uma nova ferramenta de interação com o público do evento, o Blog da Mostra no qual pode ser acessada a programação completa, novidades, fotogalerias com espaços para comentários. O endereço:
Vanessa Campos| Assessora de Imprensa - Sistema Fecomércio
Assessoria de Marketing e Comunicação - AMC
Sistema Fecomércio Ceará - Fecomércio . Sesc . Senac .. Ipdc
vanessacampos@fecomercio-ce.org.br (85) 3452 9060 | 8802 9172
POR TODOS, OS RIOS....
Pedras de rios,
Por um rio me apaixonei,
Por rios me deixei levar!
Com que sonha um rio?
Encontrar um mar que for
Eu me fiz de um
Em busca de um mar de amor!
Rios navegáveis, imaginários,
N’águas passadas mundo desaguou.
Rio de mim mesmo,
Da verdade do que sou.
Ame o rio e por ele se deixe banhar,
Lave a alma,
Roupa suja, não se lavar por lá!
De onde nasce até aonde o homem o deixa ir,
Quando segredo guarda um rio do seu existir!
Um rio que o homem mate,
Quando der por falta, tarde será,
Há rios rasos, outros pra se aprofundar!
Mas há um rio além,
Se você acredita que há,
Na outra margem peixes anjos a nadar,
Cante o rio e por ele se deixe levar...
Pachelly Jamacaru
O rio acima, é o mesmo que corre para o Sitio Fundão, razão da matéria anterior. É assim que queremos ver o rio e vamos ver! Embora não seja um rio perene, tovadia nunca lhe faltou as águas benfeitoras! É bonito de ver o prazer dessa criança e a sua harmonia com a natureza!
terça-feira, 30 de outubro de 2007
SOS Rio Batateiras e Sítio Fundão
Hoje te visitei e tu estavas agonizando no leito, pois no teu leito não corria uma fiozinho d’água sequer. Lembrei, nostálgico, quando, depois de longas e sábias conversas com Seu Jefferson, proprietário e benfeitor do Sítio Fundão - a tribo urbana, da qual eu fazia parte, mas que era fascinada pelo mato, descia pelas veredas, até enxergar, maravilhada, aquela que era uma das nossas maravilhas: teu pequeno cannion, esculpido pelas tuas correntezas, aparentemente apressadas, mas que eram, na verdade, pacientes pela grandeza da tarefa, realizada através de milhões de anos. Passávamos tardes inteiras banhando-nos nas tuas águas e fartando-nos com as bananas, mangas, ingás e cocos que Seu Jefferson nos autorizava comer. Na volta, sentíamos as almas leves e fagueiras, descendo a acrópole pela escadaria, já com as luzes dos postes acesas, iluminando o centro do Crato.
Passaram-se décadas desde que te visitei pela última vez, quando Seu Jefferson ainda ocupava o posto de Guardião do Sítio e da parte do teu corpo, meu Rio, que repousa naquele santuário ecológico.
Antes, ao lado de Seu Jefferson, dediquei um bom tempo de minhas visitas ao Sítio, manuseando empoeirados documentos cartoriais que celebraram acordos de partilhas de telhas de água entre os proprietários rurais, já em meados do século XIX. Seu Jefferson reclamava da água que diminuía. O acordo estava sendo desrespeitado.
Hoje, voltei ao Sítio. A sua entrada, tão bucólica nas minhas reminiscências, a ponto de compará-la a um pórtico de acesso a um mundo mágico e misterioso,- já não é mais a mesma: uma grande fábrica fica-lhe ao lado, tendo-lhe tomado uma grande parte de sua área, agora arroteada e cercada de alambrado. Parte da mata, na entrada do sítio, está estorricada, calcinada que foi por um incêndio criminoso ocorrido poucos dias atrás. Dos males o menor, pois a mata recuperar-se-á com as chuvas de dezembro que se aproximam (a cigarra já começou a cantar). O problema são os piromaníacos irrecuperáveis.
Pior foi ver o teu estado, meu Rio, agonizando no leito, pois teu leito hoje é só de pedras. Pior, ainda, foi saber que a tua agonia não é natural, vítima de um cataclismo à inversa, como se o apocalipse estivesse próximo e o superaquecimento global resolvesse antecipar o fim do mundo. Nem poderá ser também o agourento canto da acauã, que ouvimos lá da mata, enquanto caminhávamos no teu leito seco e Ed Alencar(*), esse Dom Quixote que insiste em vencer os moinhos "d’água" - quanta coincidência histórica e ao mesmo tempo quantas ironia do destino, meu Rio! -, nos dava o teu diagnóstico. Mas, não! Triste foi saber que tua morte anunciada é por conta da ganância daqueles que, se considerando os donos da terra e aliados do poder, se arvoram a ser donos das águas também.
Vimos como isso vem acontecendo. Tuas nascentes estão sendo desviadas por canos que estupram as entranhas da serra, sugando grande volume do precioso líquido que, de forma tão generosa, a Mãe-Terra oferece indistintamente a todos. Não satisfeitos, antes mesmo das águas molharem teu leito, mais canos e levadas desviam o resto das águas que teima escapar do vampirismo.
Lastimável, meu Rio, é saber que tu estais em estertor, e estertorante também está todo um ecossistema que depende diretamente de ti, formada por vegetação ciliar (desde pteridófitas, como samambaias e plantas afins, até árvores de grande porte) e animais silvestres (veados campeiros, tatus, guaxinins, tamanduás, pássaros, cobras etc). Os animais que não podem migrar perecem, tanto por sede e fome como por se tornarem presa fácil de inescrupulosos caçadores. Homens e mulheres, que formam a população ribeirinha, sofrem e nem entendem porque o rio já não é mais aquele de outrora.
Mas, meu Rio, ah, meu Rio! Sua recuperação deste estado crônico é possível, e isso sem nenhuma panacéia ou plano miraculoso. Basta que os pretensos donos de tuas águas, liberem o líquido durante a noite, quando todos estão repousando, comendo, bebendo, contando dinheiro, assistindo televisão, dormindo ou ocupados em atividades nem sempre produtivas ou essenciais. Basta, pois, que liberem as águas, desviadas de ti durante o dia, das seis da noite às seis da manhã, e pronto, tu voltarás a viver e farás com que toda uma cadeia vital também sobreviva.
É fácil, é simples. É questão de inteligência, bom senso e consciência, pois a vida e suas maravilhas são muito maiores do que interesses menores, individuais, oligárquicos.
Rio, não vamos chorar! Vamos lutar!
(*) Edmundo Alencar, conhecido por Ed Alencar, é neto de Seu Jefferson e está à frente da luta para salvar o Sítio Fundão e o Rio Batateiras. Entre nesta campanha. O contato de Ed é (88)9233.7241. Para movimentar a campanha, Ed vem realizando uma série de eventos com vistas à mobilização da sociedade organizada em prol da causa. O próximo será a celebração de uma missa, que acontecerá nesta terça-feira, dia 6 de novembro, às 8 horas da manhã, no leito atualmente seco do Rio Batateiras, localizado no Sítio Fundão, em Crato.
Blog Poem
Advertência
Europeu!
Nos tabuleiros de xadrez da tua aldeia,
na tua casa de madeira, pequenina, coberta de hera,
na tua casa de pinhões e beirais, vigiada por filas de cercas
[paralelas, com trepadeiras moles balançando
[e florindo;
na tua sala de jantar, junto do fogão de azulejos, cheirando a
[resina de pinheiro e faia,
na tua sala de jantar, em que os teus avós leram a Bíblia e
[discutiram casamentos, colheitas e enterros,
entre as tuas arcas bojudas e pretas, com lãs felpudas e linhos
[encardidos, colares, gravuras, papéis
[graves e moedas roubadas ao inútil
[maravilhoso;
diante do teu riacho, mais antigo que as Cruzadas, desse teu
[riacho serviçal, que engorda trutas e
[carpas;
Europeu!
Em frente da tua paisagem, dessa tua paisagem com estradas,
[quintalejos, campanários e burgos, que
[cabe toda na bola de vidro do teu
[jardim;
diante dessas tuas árvores que conheces pelo nome- o carvalho
[do açude, o choupo do ferreiro, a tília
[da ponte — que conheces pelo nome
[como os teus cães, os teus jumentos e as
[tuas vacas;
Europeu! filho da obediência, da economia e do bom senso,
tu não sabes o que é ser Americano!
Ah! os tumultos do nosso sangue temperado em saltos e disparadas
[sobre pampas, savanas, planaltos,
[caatingas onde estouram boiadas tontas,
[onde estouram batuques de cascos, tropel
[de patas, torvelinho de chifres!
Alegria virgem das voltas que o laço dá na coxilha verde,
Alegria virgem de rios-mares, enxurradas, planícies cósmicas,
[picos e grimpas, terras livres, ares livres,
[florestas sem lei!
Alegria de inventar, de descobrir, de correr!
Alegria de criar o caminho com a planta do pé!
Europeu!
Nessa maré de massas informes, onde as raças e as línguas se
[dissolvem,
o nosso espírito áspero e ingênuo flutua sobre as cousas, sobre
[todas as cousas divinamente rudes, onde
[bóia a luz selvagem do dia americano!
Publicado no livro Toda a América (1926).
In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.187-188. (Manancial, 44)
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Café Brasil - Dihelson Mendonça entrevista Abidoral Jamacaru que fala sobre sua vida, obra e a cultura do Cariri.
Dihelson Mendonça entrevista Abidoral Jamacaru.
No "Café Brasil" desta semana, o grande poeta e compositor Cratense Abidoral jamacaru fala sobre a sua carreira, seus grandes sucessos, e as tendências da cultura e das artes no cariri. Também discute o eterno problema das secretarias de culturas dos municípios, vontade política, e a realidade cultural da cidade de Crato e do Cariri em geral. Entre um tema e outro, Abidoral executa apenas com sua voz e o violão, músicas já consagradas por seu público.
Clique no player abaixo:
Foto: Dihelson Mendonça
Sobre labirintos e portas
É possível tatear no escuro à procura de uma saída, mesmo que as portas pareçam fechadas. O texto não é de Paulo Coelho nem de nenhum outro guru da auto-ajuda, dos que freqüentam a lista dos dez mais vendidos da Veja.
Não é difícil reconhecer que o escuro existe, basta ligar a televisão ou o rádio, ler os jornais ou ir ao cinema. Ou olhar pela janela do carro. Você nem precisa freqüentar como paciente a emergência de um hospital público ou uma delegacia de polícia. Não vá tão longe.
As trevas sempre existiram e Plínio, O Velho, até escreveu que encarar a luz é para os mortais a coisa mais aprazível e o que está sob a terra é nada. O que jaz escondido pertence ao mundo da ignorância. Quando desejamos conhecer algo, trazemos para a luz. A luz da ciência, a luz do conhecimento, a luz da razão.
Isso não é Paulo Coelho, insisto, mas prefiro a luz do conhecimento, que não é necessariamente a luz da razão. O logos, este saber dos gregos que no ocidente chamou-se ciência, e que explica o que a mitologia deixou de explicar, não preenche todo o saber. Permanece o espaço da não razão, que não é necessariamente treva.
A ciência não nos colocou no lugar mais calmo e justo, isso já sabemos. O medo de que algo inevitável está para acontecer atormenta nosso sono. Do mesmo jeito que atormentava o dos povos antigos, ao pressentirem o exército inimigo sitiando suas muralhas. Qual a diferença entre as bolas de fogo arremessadas das máquinas de guerra medievais e o fogo de uma bomba atômica? A morte está no fim de tudo, não importa a intensidade da explosão.
No filme "Sonhos", do japonês Akira Kurosawa, alguns soldados se perdem na tempestade de neve quando procuram o forte. Amarram-se uns aos outros para não se extraviarem. Cuidam em não dormir. Mas a fadiga e o sono são irresistíveis. O comandante deita e sonha com a morte. Ela vem buscá-lo, sedutora e bela. Ele acorda e grita por seus homens. Tateiam há dias, dão voltas sem nunca acharem o fortim que os acolherá e salvará suas vidas. Por fim, escutam um toque de corneta bem próximo. Sempre estiveram perto da salvação, mas no escuro não divisavam nada.
Nunca existirá uma porta, afirma Jorge Luis Borges ao escrever sobre labirintos. Pior que afirmar não existirem portas é dizer que estamos sós. Talvez. Ligados numa rede de comunicação; fios de Ariadne que não nos colocam em contato verdadeiro com ninguém. Dura metáfora. Duros muros de pedra.
Ronaldo Correia de Brito é médico e escritor. Escreveu Faca e Livro dos Homens. Assina coluna na revista Continente.
Fale com Ronaldo Correia de Brito: ronaldo_correia@terra.com.br
CRATÍDIAS - postada em homenagem a Socorro Moreira
Os homens, mitos são
Os mortais não são quietos como pedra, pois sonhos lhe invadem.
Mesmo ela, cristalina rigidez, vibra, como o homem, imóvel não é.
Humanos, a sacra narrativa de marcas ultrapassadas, pelos mitos agem;
inundam as margens convencionais, cada pergunta, uma resposta quer;
todo átimo gestual, perdido na profusão de tantos, uma explicação tem.
Se esforço houver, com os deuses e sem eles, com o raciocínio ou a fé;
cada ato um fato, toda face um caráter, ao que todo desejo símbolo é.
Os homens e deuses, mitos são, como em minaretes, evocam almoedem:
o ato de acelerado circular, o carro solar, estiolando o verdor quando vem;
os tempos idos, sem retorno; vida, em raio, matéria permanente da glória é.
Vastas visões do mundo
Como na ágora grega, agora, no centro do Crato, na Siqueira Campos,
entre bancos de marmorito, sob a copa de palmas, teatro da vida em atos,
o milagre do nascimento, resulta do termo grávido, o mito abre-se de fatos.
Drama de atores com visão própria do mundo, abre-se em vida e Tânatos.
Primeiro chega, como mágica, o mundo clássico de Gregos e Troianos;
em resposta, aponta, na cena, os racionais, intérpretes dos mundos amplos;
há uma constelação de deuses, olímpicos, atos caridosos, protetores mantos;
rebatem o hábito da razão, jugo implacável da mecatrônica, sem prantos;
após, entra o capitalista dos interesses móveis, que o arrasta aos trancos;
por último, rock, droga e cartão de crédito, o jovem, aleatório, feito dados.
Explicitam-se os personagens
O drama: corpo contorcido a dores, fio de sangue, prodomos do nascituro,
no cor da praça, uma mulher indigente, ao abandono em trabalho de parto,
mancha rubra infiltra-se no tecido das calças, ao que desnuda o muco farto,
como largas faixas encilhando, dores lombares intensas vêm por seu turno,
do assento escorrega ao rés do chão, com entranhas em ambiente soturno.
Chega-se até ela, um homem de fé, carregando o peso da própria imanência,
no lapso dos afazeres, um homem racional, chega-se sem a transcendência,
especulando, é o hábito, um homem capital, sutil como uma transparência,
elefante na loja de cristais, um jovem, busca algo, mas cai na permanência,
são os personagens da tragédia do circuito humano, marca da indolência.
Para um único fato, fartas interpretações
A alvorada em vida, contempladores, os homens apenas são manicurtos,
emerge aos atores uma roca a tecer destino, grande questão ao seu turno,
a questão é! Não basta a cena! Ao personagem a exegese! Veio do monturo?
Seria a prenhe fidalga? Porque tal abandono? Quem do seu ventre nasce?
Tanta pergunta, como ramos e galhos, nem pingo que na inteligência passe,
alegrai filhos caribocas, netos dos Cariris, ponham as idéias para que asse,
aos deuses vitoriosos e àqueles tombados, no altar, sacrifique-se, eu julgo,
quem importa as versões? Primaveras e verões, como estações ao mundo,
os homens, esferas, não são, globais também, beleza é ser quimbundo,
rejubilai povo da terra, genealogia cruzada de um mor de sangue junto.
Ao que vês, o que afinal farás?
E a questão é: uma mulher em fase de dilatação, ao sol da Praça Central,
em volta, um homem de fé, outro de razão, consultado o feito capital,
logo se aproxima um jovem, buscando entender a cena de certo fatal.
Do século a grande dúvida: seria a inteligência alienígena? Sem resposta.
Algures! Porque afinal? Se ao lado tanta ignorância da inteligência posta,
afinal mova-se ao ritmo do que teus olhos vêm, e nascer é aqui e agora.
Bem ali, sob a sombra das palmas, ao limiar do termo e começo, é natal.
Qual fé a engravidou? Que sêmen ao óvulo nidificou? Quem pagará afinal?
Três homens se nutrem dos próprios hábitos para repetir-se o ciclo de bosta;
vozes fogem ao foco afora, com teorias, na prática, ao mundo dão as costas.
Nem deuses, nem reprodutores, apenas fazer
O homem de fé, do milagre à frente sua, às contrações dos lisos músculos,
da luz iminente, que a mulher expulsa, vê a planície qual manada de búfalos,
ao homem de razão diz: de Deus vontade desdobrando galhos a caulículos;
ao homem, o arbítrio livre, vontades migratórias, febres, acasos e impulsos;
e Deus, magnânimo, aponta a senda dos passos seus à paz do repouso,
se Deus não houvera, a fé alimentar-se-ia apenas do tempo momentoso.
Responde o homem de razão: como qualquer, os maus, felizes também são,
desprezíveis, rivalizam com animais; entre os dois, não há diferenciação.
O homem capital, absorto, esquadrinha a cena, calcula a própria subtração,
O jovem, desejo súbito, como faz no impreciso, de fumaça enche o pulmão.
Cabe a pausa reflexiva, frente ao drama?
E os fatos implacáveis são, o curso do grão, na ampulheta, jamais cessará,
a contratura expulsatória o rumo mantém, ao que os homens também,
permanente no longo significado de suas idéias o homem de fé continuará:
Forma, apenas isso, seria se à massa não aderisse a alma que lhe convém,
ela, o logos entre deus e os homens, hermeneuta, a alma certo traduzirá.
Abre os braços em condescendência humílima, o homem de razão vai além:
entre os homens e os demais animais, mais igualdade entre tais refletirá,
continuidade de ambos, a cura, igual do médico, no veterinário contém,
a obra da vida, que da criação foi, o cotidiano é o ensaio que a modificará;
a criação age no mundo e o mundo na criação, o homem pesa em achém.
Ignora-se tudo, mesmo a brisa
A brisa, largo da praça, sopra a folha de jornal, ao que é aprisionada e lida,
haveria nas suas tabelas o pregão Nasdaq? Examina-a, divergente da vida,
o homem capital cala-se, nos olhos, que percutem o vazio ilógico do jogo.
Se há para quem tudo é fé, ou àquele racional, há os abrasados em fogo;
o capital não se cala ao drama, aposta, especula, lucra, qual avião-suicida,
troca acusações a fé e a razão, sob o olhar atento, especulador, do tadarida;
ao que se indigna, apontando o parto em dores, o homem razão com arrogo:
transformação, em profundas raízes, debulhando grão, luz ao mundo novo,
será tempo vindouro, muito além do milênio, incandescendo a lamparina,
luz em desvãos sombreados, polindo o cinabre dos metais, qual ambarina.
Milenarismo revolucionário
Escoimados de Deus, decantados ao demônio só, são as crenças milenares;
esperança vã, se à ordem eclesial não forem, serão farrapos feito militares,
horda desordeira, condução da insanidade, lixo que se junta aos milhares,
ao sacrário exclui, à palavra de Deus deturpa, rapina a fé feito ladravazes.
De súbito diz o homem de fé e aquele de razão libera as apícolas mordazes:
Nem os escombros resistem, a mínima parte do edifício, se reduzirá ao pó,
o castelo da fé inabalável, ao etéreo se diluirá, nem fica o peristilo rococó,
clérigos, adubos da nova esperança, serão, pacíficos, qual o cativo mocó,
valores episcopais, novos rebanhos distribuirão, revolução não é tema só,
como funil arrasta todas as águas, transpõe sobrenadantes, abranda o jiló.
Vem um deus clássico
Um grito risca arco sobre a praça, se desdobra sobre íris, sinal divino,
as vozes se calam, os pensamentos emudecem, é o ponto do adivinho.
Lancinantes as dores são, o ventre, botão desabrochando, desejo de flor,
espera-se a realização dos sinais e de fato um deus clássico juntou-se à dor:
o mundo subjetivo é a diversidade, ao contrário da objetividade uniforme;
celeste, por assim dizer, subjetivo, de criação infinita, da corte disforme.
A objetividade, mediana é , já a subjetividade é dispersão e oportunidade;
cada sujeito um universo próprio, uma versão dada, determinada cidade,
o céu da subjetividade é, sem o Deus mediador, o céu expositor, o liberal.
Recolhe-se a luz celestial, fica a dor bestial, ao lado os homens, em geral.
É pausa. É repetição
Levanta-se, efeito dos ventos rasteiros, poeira de bilhões de grãos de areia,
quem irá saber de cada, se depositando, esmerilado, como realiza a bateia?
Assim vemos o drama humano, grandes números, fluxo da banalidade;
o autor some, desfaz-se o sujeito, desejos irrealizados, podre mocidade.
Assembléia sem decidir, tomada sem rumo, ao deus dará, nada mais há!
Há! O barro sublimado que cerâmica fez-se, um vaso e um pé de manacá,
mas, por se falar em frutos, o que se dirá da criança que na praça nasce?
Ao olhar atento, mente ocupada, membros dispersos, letras em longa haste;
versos gongóricos, pensares alegóricos, a vida flui, apesar do londrino fog,
afinal todos, a não ser o drama desenvolto, personagem de Gog e Magog.
Apropriações
Sobe a cotação da nova economia, Celera Genomics, ciência empresária,
nem conquista ou avanço, saber é negócio, célere feito “La Passionária”.
A ciência da vida cresce o pregão, multiplica aplicações, é gestacionária,
mesmo evoluindo do elementar, a ciência é uso na sua fase relacionária,
é lastro para a inversão...eis o homem capital e a sentença reacionária.
O jovem, hambúrguer, vídeo game, coca-cola, nem o drama ou discurso,
ignora tudo, enoja-se do líquido gestacional, apascenta-se ao dado curso,
o drama: qual seu papel? Prateleira de mercado, mercadoria em concurso.
Pai provedor o tutela à vontade. Fosco olhar enfastiado: hibernação do urso.
Vontade imprecisa, desejo disperso; tudo quer, nada é; só rumo excurso.
A felicidade é química
Intensificam-se as contraturas, a cada intervalo menor, no centro da praça,
rés do chão, nível abaixo dos longos discursos, o parto continua sem graça,
uma anunciação, o deus máquina entre eles, do impreciso, talvez de Talassa:
houve tempo em que a felicidade era busca no mundo afora; cada qual,
com seu método de conquistá-la, outros com a sorte de encontrá-la igual;
segredos guardavam tantos da felicidade possuída, mas veio um viés tal,
que a busca externa nada resolve. Sinapses, neurotransmissores, cerebral;
felicidade é o metabolismo da serotonina, sofrer é afinidade de massa.
De volta ao satélite de Netuno, o Deus foi, abandonando o parto na praça,
os homens permaneceram como os anéis de Saturno, um sinal que marca.
Impulsos culturais e biológicos
O homem racional aponta a parturiente: não é, o fruto, produto cultural,
mesmo que se programe, postergue o filho, a mulher na libertação social,
sua escolha sexual não é suficiente, pois de dentro, inexorável força vital,
um filho surgirá para somar o mol dos humanos socialmente necessários.
Um grupo de mulheres, de filhos mais cedo e outras, tardios, ao contrário,
todas mais férteis, tocadas pelo relógio biológico que não pára arbitrário.
O jovem perplexo ouve e nada compreende, nem a mulher em erupção,
ou as palavras da razão, não sabe da fé, da riqueza, só o efeito da sedução.
Ameaçado pela razão, o homem de fé se agarra ao mistério sem solução.
Já o quarto personagem indiferente ao ato, espreita oportunidade capital.
Entre o prazer e a tortura
Vendo-a assim, deitada no chão, nas dores do parto, um sentimento revolve,
o espírito do homem racional: entre o úmido bacante e o seco franciscano,
despojado face a luxúria, vive o medo do pecado, o líder Cratense é pobre.
Sorve o gole de cachaça numa mão e na outra aplica o cilício mortificando,
sedutor, servil, covil de crueldade; ao líder, toda culpa que ao outro move,
jamais é sua. A ele o esplendor da anunciação em seguida vai parando,
as luzes, apagam, os telefones se calam, o consumo cessa, passa das nove.
Tanto cinismo assim indigna ao homem de fé: porque aos líderes acusas,
se embaixo de ti uma alma clama ajuda e nada mais fazes que detratar,
a ciência vitoriosa é, também, a maior catástrofe, a todos e a tudo abusa.
Entre a fé e a razão
Jamais se viu algo igual, uma luta de deuses às claras quanto à dos homens.
Fazia-se de subterfúgios, ameaçou o deus máquina: tudo se resume a tijolos
- elétrons, múons, tau - e forças: forte, eletromagnética, fraca e gravidade.
Reage furioso deus clássico: teu pecado e a preguiça que a todos reduzem.
A forma? Imitas as casas que te abrigam. Vontade é força, como bipolos.
Ser é artigo de lei, social dinheiro é, natureza uma máquina em atividade.
O homem racional se alegra do mundo que seus deuses a si conduzem,
já o de fé rejubilou-se da mecanização que a ciência reduz com dolos,
o homem capital registra os fatos, as idéias, na busca de sua contabilidade,
rompe-se a bolsa d’água, amiúdam-se as contrações, desponta o nenen.
A ira do deus clássico
O deus clássico continua o argumento: a razão não fez o mundo mais belo,
a ciência ampliou a ameaça do ambiente sobre todos. O que era melhora,
fez-se apenas servidão. Conhecimento? Fortaleceu o dominador da hora.
A cada descoberta ou nova invenção, mais um braço a esgoelar o elo,
que mantém a integridade do ser. O liberto que da ciência é certo,
integrou-se ao processo da exploração. A sujeição da natureza morta?
Apenas a troca de uma crença eclesial pela economia secular e agora,
em desespero como sempre fez, ao fluxo de caixas, tudo estratégico.
A natureza hostil é projétil, violência é o cântico apologético.
Como de costume, lançou um raio que fulminou metade das palmas.
Ao que se ira o deus máquina
O deus máquina, em luzes de néon, rebate a ira clássica: Manipulação!
Palavras em Cristo, Buda ou Maomé, relíquias falsas sobre palma da mão.
O combustível que tangeu massas famintas e desesperadas tal qual o cão,
danados nas rotas da peregrinação. A paz, cuja única e possível realização,
é a morte. A sorte, ceifada a lâminas negras que arrasam tudo feito tufão.
A vitória da razão foi a descoberta das Américas, longas rotas comerciais,
foi a máquina a vapor, o laboratório, a imprensa, pensamentos racionais.
Eis a civilização do hidrocarboneto, sobre a pólvora, o ferro e os metais.
Destruição, na ira sua, não, possuía a bomba, mas preferiu efeitos espectrais,
jatos de luzes, canhões holográficos, focos de laser, mor efeitos especiais.
Surpresos! Fala o jovem.
Indiferentes, o epicrânio do nascituro da vagina brotava, ficaram surpresos,
com as palavras pelo jovem ditas: falso é o mundo a quem estamos presos!
Nada é natural, tudo se produz pelas máquinas, que nos conduz coesos.
Mansos, tudo artificial é, a luz do dia, a temperatura ambiente. Tal coelhos,
em caixas de laboratórios experimentais, consumidores de produtos coevos.
E tu! – Aponta o homem capital – Condutor deverias ser! És conduzido.
Crises capitais, ciclo depressivo, concorrência. As cifras, por elas seduzido,
não tens caminhos nas estrelas, apenas o chorume poluído por ti produzido.
Diferente não és! – Acusador ao homem de fé – Eternizas o pó evanescente.
Nem tu! – Ao homem racional – Reduzido imanente, jamais transcendente.
Ao que os sábios respondem
Uma associação imediata, mais denunciava identidade que contraditório.
Os homens presentes, em série reagiram, primeiro a fé: E tu? O ilusório,
as malhas da ficção televisiva e cinematográfica, em efeito alucinatório?
Quem sóis? – Reage o de razão – Apenas sobejo do pai um dia revisório.
Quanto queres? – O homem capital – Dinheiro divide, mas é consistório.
Como em coro, os três continuam: informe-se, informatize-se, fale inglês,
negocie, despoje-se do passado, a globalização aceira os valores de vez.
A sobrevivência, é ocupar canto entre melhores, os demais são apenas rês,
se prestam para alimentar as trocas dos talentos que a tecnologia fez.
Chão da praça, líquido amniótico derramado, finda-se o parto em higidez.
Segue a vida
Os deuses vitoriosos e os vencidos, os homens e o jovem, cada um em si,
pelas vias entremeadas de bancos e jardins, separam-se, hora é de partir.
Carregam consigo as malhas que os contém, as travas que os sustenta, eu vi.
A fase de decedura, antecâmara do puerpério, quando expulsa foi a placenta.
A mulher separando o recolho, esgotada, beija a cria, como à flor o colibri.
Segura nos braços a criatura, como oferta ao seio fizesse, ao quadril assenta,
não importa o corpo que nascera, sabe quem viera, as pernas mal a sustenta.
Solitária, entre palmas, imersa na brisa farta, trôpega, lentamente se ausenta.
Consigo, no colo de afago, leva um certo projeto, ou tentação de anfiguri,
talvez, nem suspeitas hão, para o manancial que a tudo arrastará feito bariri.
DRAMA, A FLORESTA DO ARARIPE EM CHAMAS!
Dinossaurus verdes
Quando abro os meus arquivos fotográficos me sinto um "Forrest Gump": estou sempre no lugar certo na hora certa !
As fotos acima registram os primórdios do PV (Partido Verde) aqui no cariri e que agora pretendo levar o projeto adiante, com o mesmo entusiasmo que tenho dedicado quase toda a minha vida aos movimentos culturais.
AS BALAS PERDIDAS: DESCULPA DAS ACHADAS.
para ti há muito prometida,
mas pode ser de repente cedida,
tudo depende da pressa vivida.
Existem balas, a gosto, perdidas,
para a artista da TV Globo, urdida,
a professora na ociosidade devida,
a universitária na faculdade fingida.
São tantas as perdidas, porém achadas,
pelos investigadores de conclusões taxadas,
as balas de estatísticas gráficas apresentadas,
e das trajetórias balisticamente erradas.
Mas o Governo há de dizer: estão perdidas,
as pessoas, o governo, as balas estão,
o emprego também, o futuro é em vão,
velhos e moços, defunção na terra cindida.
E os jornais querem a manchete atual,
bala perdida, corpo caído, tudo normal.
Apontam o dedo para o morro, é natural,
balas e vidas perdidas, tudo é igual.
Mas neste mundo tracejado de balas,
as luminosas e as silenciosas aladas,
deste carnaval de mortes achadas,
esquecem-se das balas manjadas,
para lembrar-se das perdidas balas.
domingo, 28 de outubro de 2007
Irmandades negras no Cariri (a caixinha de vozes silenciadas)
Há pouco tempo surgiu aqui no blog uma bela postagem sobre São Benedito e (no campo dos comentários) foi iniciada uma pequena discussão acerca da contribuição cultural dos negros à região do Cariri. Lembrei imediatamente da linda Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Barbalha (que não existiria se não fosse a iniciativa dos negros da cidade), e Salatiel sugeriu que eu postasse algo sobre isso. Pois bem. Vou tentar escrever resumidamente e sem pretensões rigidamente historiográficas, ok?
Segundo o valioso Irineu Pinheiro, no próprio Congo já havia confrarias negras voltadas para a devoção à Nossa Senhora do Rosário, que fora introduzida na África através da catequese dos missionários portugueses. As irmandades religiosas eram muito comuns no Brasil do século XIX e no Ceará existiram muitas delas, com diferentes estatutos e obrigações. Uma das mais comuns era a de Nossa Senhora do Rosário, que tinha por hábito coroar escravos como reis e rainhas. Em Barbalha, a Irmandade admitia homens e mulheres de todas as condições e cores, mas apenas os negros podiam cuidar da administração; a Irmandade de Fortaleza, por sua vez, deixava explícito que só admitia pretos.
Crato também teve sua Irmandade do Rosário, cujo objetivo principal era edificar um templo em honra da Virgem. Chegaram a ser levantados os alicerces da construção que ficaria na Praça do Rosário (posteriormente transformada em “Três de Maio”, depois em “Juarez Távora” e onde, por fim, foi edificada a Igreja de São Vicente). Não se sabe por que a construção da igreja dedicada à Nossa Senhora do Rosário não vingou, mas temos outras informações interessantes sobre a Irmandade do Crato. Tendo acesso ao estatuto, por exemplo, vemos um pouquinho da estrutura organizacional, formada por dois núcelos: o primeiro, constituído de homens e mulheres livres; e o segundo, composto por escravos (que participavam com licença dos senhores) integrantes do séquito régio.
Dez anos antes (em agosto de 1860), Barbalha já havia fundado sua Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, também criada com o objetivo de construir uma igreja em honra à santa. Os alicerces da construção foram erigidos no mesmo ano, mas acabaram sendo destruídos pelas fortes chuvas. Além disso, a falta de recursos e a abolição da escravatura (e a conseqüente dispersão dos negros) impediram que fosse dada continuidade à obra. Em junho de
No livro “Casa de Mãe Iaiá III”, Alacoque Sampaio fala um pouco sobre a história da construção da igreja e assevera que a idéia inicial veio da Irmandade do Rosário. Da mesma forma, Irineu Pinheiro cita com freqüência os desfiles religiosos e a coroação dos reis em Crato, práticas que marcam até hoje nossa cultura...
Por que é que às vezes essas coisas são esquecidas, hein? Mais uma vez a gente percebe que existem pedaços de História perdidos (que podem até parecer inexistentes), mas às vezes podemos encontrá-los em alguma caixinha escondida e fechada, uma caixinha cheia de vozes que foram silenciadas e que têm o direito de receber de volta o dom da fala.
Xangai no Cariri!
Xangai iniciou sua carreira em 1976 e transita dos forrós aos repentes, dos rodeios aos teatros, tocando com as mais diversas formações. Com Elomar, o paraibano Vital Farias e o pernambucano Geraldo Azevedo, gravou dois volumes do antológico Cantoria, registro de show de mesmo nome e disco de cabeceira de todo calouro de universidade. Mas é sozinho, com seu toque único de violão e brincando com a voz, que ele se solta melhor. É neste estilo que Xangai chega ao Cariri no dia 31 de Outubro para apresentar-se no Auditório da Rádio Educadora em Crato às 21 horas.
Você não pode perder essa chance de ouvir e cantar com Xangai ao vivo os seus maiores sucessos!
SERVIÇO
Show com Xangai
Abertura com João Nicodemos
Local: Auditório da Rádio Educadora - Crato
Dia 31 de Outubro, às 21 horas.
Ingressos antecipados: R$ 15,00
Em Juazeiro: VIP SHOP (Centro e Cariri Shopping)
Em Crato: Lá na Praça - Comidaria & Sanduicheria
Trilha Sonora / Soparia
Clientes do SESC com carteira ganham 50% de desconto no dia do show.
sábado, 27 de outubro de 2007
Wilson Bernardo, Bendito maldito!
Poesia VIVA Poesia, com Wilson Bernardo
No Sesc, momentos anteriores ao show da celebrada cantora, registrei ensaio poético com o nosso Wilson Bernardo. Ame-o ou deixe-o.
Os Grãos de Areia
Se eu disser que a cultura está atualmente em perigo, que está ameaçada pela influência do dinheiro, e do comércio, e do espírito mercantil, de múltiplas faces, ibope, pesquisas de marketing, expectativa de anunciantes, números de venda, lista de best-sellers, dirão que estou exagerando.
Se eu disser que os políticos, que assinam acordos internacionais reduzindo as obras culturais à espécie comum de produtos sem qualidades, dependentes de leis que se aplicam ao milho, às bananas ou às laranjas, contribuem,sem nem sempre sabê-lo, para o apequenamento da cultura e dos espíritos, dirão que estou exagerando.
Se eu disser que os editores, os produtores de filmes, os críticos, os distribuidores, os responsáveis pelas cadeias de rádio e de televisão, que se dobram precipitadamente à lei da circulação comercial, a da caça aos best-sellers ou às vedetes midiáticas e a da produção e glorificação dos sucessos a curto prazo e a qualquer preço, mas também a das trocas circulares de concessões e de complacências mundanas, se disser que todos estes colaboram com as forças imbecis do mercado e participam de seu triunfo, dirão que estou exagerando.
E no entanto...
Se eu lembrar agora as chances de parar essa máquina infernal repousam em todos aqueles e aquelas que, detendo algum poder sobre as coisas da cultura, da arte e da literatura, podem, cada um seu lugar e à sua maneira e , de sua parte, por mínima que seja , jogar seu grão de areia na engrenagem bem lubrificada das cumplicidades resignadas, e se acrescentar enfim que aqueles e aquelas que têm oportunidade de trabalhar em Revistas de Arte ( não necessariamente nas posições mais eminentes ou mais visíveis) estariam, por convicção, e por tradição, entre os melhores colocados para fazê-lo, dirão talvez, de uma vez por todas que sou desesperadamente otimista.
E no entanto...
Pierre Bourdieu
Paris, setembro de 2000
Fhátima Santos - Tudo por uma interpretação !
( clique na foto para ampliar ! )
Salve grande Diva da MPB ! - Que arraso! Que show de interpretação ontem !
Fotografia: Dihelson Mendonça
Imagens, fatos e idéias nos céus do Rio de Janeiro
As lentes frias da filmadora, atrás delas as mãos nervosas do cinegrafista. Dois jovens desesperados descendo, na velocidade que suas pernas permitem, um morro através de um capinzal, quedas aqui e ali, até serem abatidos pelos projéteis assassinos do helicóptero excitado sobre eles. No helicóptero as mãos nervosas de policiais desempenhando o papel insano da violência. Ou seja, da banalidade do mal.
No dia seguinte: mídia e o governo do Rio de Janeiro traduzem o desdobra o mal, como visualizou Norberto Bobbio ao refletir o século 20 do Holocausto Nazista, em dois: o mal ativo exercido pela prepotência sem limites do poder e o mal passivo daqueles que cumprem uma pena sem culpa. O poder e seus agentes que praticam ordem sem reflexão.
A conclusão: o Governo se associou aos cânones do totalitarismo cuja meta é a erradicação da ação humana, tornando os seres humanos supérfluos e descartáveis.
As imagens torrenciais das chuvas dissolvendo as encostas do Túnel Rebouças aprisionam os transeuntes da Cidade Maravilhosa. Ao final daquele dia, as ruas em lados extremos. No centro da cidade um nó cego infartou o movimento daqueles que pretendiam voltar para o domicílio residencial. Na zona sul o trânsito como aos domingos, livre e solto, os avisados de última hora não saíram de casa.
Nos dias seguintes o trânsito da zona sul voltou ao que era há 40 anos, com milhares de carros a mais. Um pântano de abandono, assaltos, saques, insulamento pelas águas, bares cheios dos que tanto esperaram. Uma autoridade da defesa civil avisa: quem estiver em área de risco deve sair o mais rápido possível. O prefeito elenca culpas: de uma adutora da CEDAE (companhia de águas e esgoto) até o "só quem sentiu foram os donos de carros" (apontando para o individualismo deste transporte). Os "classe média" do asfalto adiantaram o laudo técnico, acusaram a bosta e o mijo dos "classe média" moradores da Favela do Cerro Corá. Ps. favelado não tem mentalidade e sonhos de operários ou de lúmpens como tantos cristalizaram, mas os valores de uma pequena classe média.
Nestes dias, o fato que obstruiu o livre transitar se explicou com todo o léxico e o conteúdo discursivo de uma sociedade injusta e de um poder promotor de injustiças.
As manchetes dos jornais do Rio de Janeiro desvendaram a real face do poder instituído. E que face as manchetes revelaram?
A instigação da violência pela hipocrisia, dissimulada em bandeiras da modernidade. O governador do Rio cometeu um ato falho. De classe social com enfeites de uma Daslu da vida. Como sabemos: os que ocupam os estratos mais avançados da sociedade brasileira têm a mentalidade escravocrata, o corpo mulato e se vestem de grifes. A frase destacada nos jornais. Com o enfeite da modernidade, o aborto e o controle da natalidade, o governador, no calor dos assassinatos por efeito colateral de sua política de ataque às favelas, advogou a morte dos filhos das pessoas que moram na Rocinha, antes mesmo do parto. Não basta caçar os que já nasceram.
Nego e suas fantásticas esculturas em terra
"O AMOR nos tempos do MESSENGER "
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Luar
Lua de corpo de mulher, de olhos níveos
Lua segue o espaço, que vigia impérios
Lua para a pena do poeta, para o cine no vídeo
Lua moderna coberta de cinzas
Lua antiga, teu esmalte a brilhar
Lua voraz, sôfrega cintila
Teu beijo em minha boca estalar
Lua de seios etéreos, de lábios dulcíssimos
Oh luar cai eterno em meus olhos e enfim
Apareça ao nascer do dia, uma lua de festim
Teu trabalho de arte inexorabilíssimos
Luar sobre o mar, sobre as relvas e selvas
Sobre as chapadas desce tua luz feito manto
Beija o Egito, o Saara, luar me leva
Leva este poeta neste luar sacrossanto.
Ipês
Qual a manchete mais palpitante desta semana, meus caros ouvintes ? As peripécias corrupto-sexuais do Renan ? O Toma-Lá-Dá-Cá do Congresso pela aprovação da CPMF ? As repercussões do roubo do Rolex do Huck ? A mais importante notícia destes dias, talvez tenha passado despercebida da maior parte dos cairirienses. Embotados pela hipnose da TV e da WEB sequer percebemos o milagre que se refaz, a cada dia, à nossa volta. Imersos num mundo cada vez mais virtual, vamos ,pouco a pouco, nos afastando da realidade e carregando esta vidinha.com pelos poucos dias que nos restam. A tecnologia que tem aproximado eletronicamente, no cyberspace, as pessoas , as tem ensinado um relacionamento impessoal e distante. Faltam o olho-no-olho, o toque, o abraço, o beijo. Namoros podem ser desfeitos com um simples aperto de uma tecla do PC. Adoram-se figuras irreais e fotoshopadas. Os sentimentos são deletados na velocidade da luz. Num mundo já pleno de indiferenças e barreiras um pode ser formatado pelo amigo, pelo patrão, pelo consumo, pelo namorado. Todos nos tornamos igualmente desnecessários e supérfluos. O amor, o carinho, a compreensão vão sendo sacrificados a cada dia nas salas de chats.
Assim é bem possível que este pobre cronista semanal seja logo taxado de louco, quando anunciar a mais importante notícia desta semana. Pois é, caros ouvintes, o que mais deslumbrante aconteceu nestes dias no nosso mundinho foi justamente a Floração dos Ipês. De repente, como se previamente combinado, os ipês revestiram-se de um roxo fosforescente e tingiram toda a Chapada, como que anunciando uma páscoa tardia e atemporal. Aos poucos, num lúbrico strip-tease, peça após peça, os ipês se foram desnudando. Em poucos dias começaram a revestir o chão com suas vestes : pétalas, que carregadas pelas asas do vento, em feito de manto, agasalharam as terras caririenses com um violeta algo esmaecido, mas iridescente. Mal terminara o show, já os Ipês Amarelos tomam de assalto o palco da natureza e florescem um dourado quase que incandescente. Os pés-de-serra , súbito, têm a monotonia do verde quebrada pelo áureo dos ipês lhes imprimindo tons patrióticos, junto com o branco das nuvens, o azul do céu e o agora verde-amarelo das matas. A chapada, ao longe, assemelha-se a uma bandeira desfraldada, tremeluzindo ao sabor da brisa. Nestes dias, as terras caririenses já se recobrem de um tapete auricolor . Os ipês , novamente, desvestiram suas ricas roupas e como que estendem aos hipnotizados passantes uma esteira dourada onde possam sentar e apreciar a vida com todas suas nuances e cambiantes tonalidades.
O toque monocórdico do computador sequer entende a infinitude de lições que brotam junto com a floração dos ipês. A vida que emerge em ciclos e que brilha em matizes diferentes a cada diferente estação. A florescência que anuncia multiplicidade e eternidade , polinizando o mundo e fertilizando a terra. A grandeza de perceber que as mesmas pétalas que encantam os olhos e douram a natureza na primavera , serão o humilde tapete e a delicada alcatifa que no outono confortarão os pés cansados do viandante. E mais que tudo a beleza da vida dura um único, inefável e etéreo momento, que se esvai num átimo, como a fulgurante floração dos ipês. Num piscar de olhos, o êxtase foge de nossa vista e só servirá de lembrança e de manto nos dias de inverno que se já prenunciam. A Vida é já !
J. Flávio Vieira
Fhátima Santos encanta a platéia em show percorrendo toda a história da Música Popular Brasileira !!
Em shows extremamente úteis às novas gerações, que não tiveram acesso à música dos grandes mestres da MPB, tais como Pixinguinha, Nelson cavaquinho, Tom Jobim e tantos outros que fizeram a história dessa arte, a cantora alagoana Fhátima Santos vem ao cariri, em shows performáticos, onde resgata brilhantemente todo o glamour da Música Popular Brasileira de todos os tempos.
Ontem, dia 25 de outubro aconteceu no SESC Crato um dos grandes shows do ano de 2007. Trata-se do show da cantora Fhátima Santos, verdadeiro baluarte da música Brasileira. Foi um show simplesmente arrebatador, onde a platéia vibrou do início ao final apoteótico com o extraordinário talento da cantora e do seu grande violonista. No show, Fhátima Santos faz uma espécie de retrospectiva do que de melhor existiu e existe dentro da Música Popular Brasileira.
Sob o título de "Eu, Vocês e a Música", Fhátima Santos, acompanhada pelo exímio violonista Eduardo Menezes, de pouco mais de 20 anos de idade, Fhátima encantou a platéia, com seu enorme carisma e vozeirão, percorrendo praticamente toda a história da música popular Brasileira, desde o Lundu, passando por ritmos como o Samba, o Frevo, a Bossanova, o Samba-Canção, e até a música brega com nova roupagem. Tudo isso com caráter extremamente didático, explicando previamente cada peça musical que se seguiria.
De cada ritmo abordado, as canções mais representativas daquele período eram tocadas e cantadas, e o público invariavelmente cantou junto. Sucessos de cartola, de Ary Barroso, de Tom Jobim e muitos outros foram tocados com nova roupagem, muito bem arranjadas, e a cada música, eram lidos textos informativos e conversas com o público, num estilo muito descontraído. Diversos artistas da região estiveram presentes no show. Registramos as presenças de Abidoral jamacaru, Pachelly Jamacaru, João do Crato, baterista Demontier DelaMone, que se confessa fã de carteirinha da cantora, além de Dihelson Mendonça, que fez 2 participações no show.
Hoje, sexta-feira dia 26, às 19:30, Fhátima Santos se apresenta novamente no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro do Norte. Para quem perdeu esse show espetacular, esta será uma grande oportunidade para viajar no som da autêntica Música Popular Brasileira, interpretada por uma das vozes mais ecléticas da MPB. Estejam por lá, pois definitivamente, vale a pena conferir. É imperdível !!
Reportagem e Fotos:
Dihelson Mendonça
NOTA: VISITEM O WWW.ZOOMCARIRI.COM
Pachelly Jamacaru & Dihelson Mendonça
Escritora norte-americana visita o Cariri
Doutora em literatura brasileira, Candace é diretora do Departamento de Espanhol e Português da Universidade da Califórnia-Berkeley e consultora do Ministério da Cultura do Brasil nos Estados Unidos. Ela é autora de sete livros, entre os quais “A vida no barbante” (sobre a literatura de cordel) e “Trail of Miracles” (sobre os milagres atribuídos ao Padre Cícero e conservados no imaginário popular).
Candace conhece o Brasil desde 1972. Naquele ano, ainda estudante – de passagem para o Chile – permaneceu dois dias no Rio de Janeiro e ficou encantada com a cultura brasileira. Foi o bastante para mudar o projeto da sua tese, antes direcionada para a cultura chilena. De volta do Chile aos Estados Unidos, Candace aprendeu português. Em 1973 desembarcou em Recife onde, durante um ano, pesquisou sobre cultura popular nordestina a partir do romance “A Pedra do Reino”, de Ariano Suassuna.
Em Recife, Candace passou a freqüentar o Mercado São José. Ali, conheceu vários cordelistas. Esse tipo de literatura popular a seduziu de imediato. Foi o próprio Ariano Suassuna quem a incentivou a vir pesquisar os cordéis e os cordelistas do Cariri. Na opinião de Ariano Suassuna o Cariri conserva toda a pureza e originalidade da literatura do cordel.
A partir daí, Candace Slater já visitou várias vezes o Cariri. Chegou a residir por alguns meses na Colina do Horto, em Juazeiro do Norte. Recentemente, ela iniciou pesquisas sobre as histórias e tradições orais do interior do Nordeste, com ênfase para o território da Bacia Sedimentar do Araripe. Nesta atual temporada no Cariri, Candace dará continuidade às pesquisas iniciadas em 2005. Daqui ela segue para Belo Horizonte, onde participará do Congresso dos Pontos de Cultura do Brasil, projeto do ministro da Cultura, Gilberto Gil, no qual Candace Slater presta consultoria.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Suspiros
Já não mergulho em águas turvas
prefiro a transparência da chuva,
que desfaz a tempestade
Prefiro a partida,
sem apelo ou despedidas.
No vai e vem do tempo
deixo escorrer as águas
deixo secar os sonhos
faço espuma nos mares da pia
esquento a bóia-fria...
Tudo é fria!
Nada volta...
Apenas um cheiro fica,
no lençol que me cobria!
Depois do leite derramado
Há sempre um gato
para lamber o prato
depois da chuva
há sempre um canto para secar
um cheiro novo no ar
uma surpresa no olhar...
depois de nós
fica o tudo no futuro
para o amor continuar!
Chuvarada
passeio na tarde
lembranças doces me espantam
prefiro a venda que tampa
o olhar que me esquecia!
Suspiros...
Senti-los como um beijo
que molha a boca
girando louco
no carrocel do corpo
domando a alma
que goza submissa!
Album de família
Em tempos idos, que recordo com carinho, também fotografava em película 35mm,P&B, com uma "Pentax" e, depois, cismava de colorizar com lápis cera. A fotografia ganhava importância de arte pelo que as lentes focavam. Taí um exemplo: Geraldo Urano (Ghandi na época) e o "ninfeto" Pachelly Jamacaru. Foi nesse dia que compomos "Limite".