segunda-feira, 30 de abril de 2012

Os criminosos das Minas Terrestres - José do Vale Pinheiro Feitosa


Na metade dos anos 90 estive numa Missão do Itamaraty (Agência Brasileira de Cooperação – ABC) em Angola e Moçambique para organizar uma cooperação com aqueles países no esforço de consolidar a paz na região. Em Angola a lembrança mais forte que tenho é do estrago que as minas terrestres faziam sobre a população rural.

Nas ruas de Luanda, especialmente na região central, víamos centenas de pessoas mutiladas em decorrência destas minas. Tais minas terrestres são tão criminosas do ponto de vista dos direitos humanos que se de fato funcionasse um tribunal democrático da humanidade já deveria ter condenado Chefes Políticos, Militares de Alta Patente e a Indústria Produtora desta máquina de morte.

Os EUA e seu governo seriam o primeiro da lista apenas com o que fizeram no Laos: lá eles lançaram mais de 78 milhões de munições do tipo durante os conflitos no sudeste asiático. O pobre Laos ganha a medalha de ouro do país mais minado do mundo. E reforcemos a idéia: as minas estão nos campos, onde vive, trabalha e se sustenta a população rural. Mas as minas poderão estar nos campos que formam os atuais pontos de visitação do turismo ecológico, do turismo desbravador de paisagem. No caso a paisagem da morte.

Mas a América Latina também teve o seu solo com alvo de tais munições mutiladoras e mortais: Chile, Peru, Colômbia, Equador, Argentina, Bolívia, El Salvador e Honduras. A Nicarágua apenas recentemente terminou o seu trabalho de desminagem em seu território e, diga-se de passagem, é um trabalho altamente perigoso e de custo altíssimo. Na maioria destes países o ambiente a justificar estes atos criminosos de implantar minas terrestres foi de algum modo decorrente da guerra fria e da ação internacional dos EUA.

No Chile as minas foram postas nas fronteiras do extremo norte, especialmente junto ao Peru, no extremo sul e até mesmo na região central do país. Augusto Pinochet com sua ditadura para dar ventura aos Chicago Boys implantou estas desgraças e até hoje estão lá a lembrar da barbárie ideológica e imperial.

As minas não perdem validade e permanecem ativas quase que pela eternidade. Mas tem um fator mais chocante ainda. Movimentações do solo, por chuvas, tufões, ciclones, desmoronamentos, terremotos, carregam a minas para outras localidades, gerando mais insegurança num raio geográfico amplo.


Intantâneo

Dois homens hesitam em deixar no chão
restos do olhar que no encontro se quebrou.
Na dúvida, desce neles a calçada
a caminho de tão mísero salário.

Ontem, era a tarde nos olhos
de um deles: água salobra.
Sua presença tinha curva,
vara para as costelas e espinhaço,
ferrugem amaciando os dentes,
carimbos que o tempo tem de aço.

O outro trouxe a chuva.
E os dois homens se espremem,
se enroscam nos fios d'água,
a hora se enrijece nos ossos,
a chuva se amarra em balaustradas,
um deles lamenta: sua pressa 
encharca a cidade 
nervosa.

sábado, 28 de abril de 2012

O CARIRI TEM SAMBA

O nosso querido e amado Cariri tem artista por tudo que é canto. Como disse certa vez minha querida amiga Izaira Silvino, por onde você anda nessa região esbarra com um artista. Eu diria que, graças a Deus que é mesmo assim. Para todas as tendências de arte, o maior destaque sem dúvida que é a música. Nela estão inseridos diversos ritmos, indo do coco, embolada, forró autêntico, baião, samba, xote, mpb, passando pelo rock, pop-rock, blues, jazz e todas as variações desses ritmos. É um cenário deslumbrante, riquíssimo e de primeira qualidade. Dentre os já citados ritmos, quero aqui dar uma ênfase ao samba, um dos ritmos mais brasileiros e que, durante algum tempo andou meio esquecido pelos nossos músicos. Aqui e acolá, algum artista coloca um samba em seu repertório, mas sem dar maior destaque e importância devida. Agora esse delicioso ritmo está tendo um merecido reconhecimento através de um grupo recém formado aqui no Crato. É o "SAMBA DE MINUTO", formado por jovens artistas e músicos do Cariri, e que vem fazendo a diferença em suas apresentações. O grupo, formado com a maravilhosa voz de Janinha Brito, o delicioso violão de Cidinho, o fino pandeiro de Walesvick Pinho, a batida perfeita da percussão de Rodrigo Moura e o ritimado cavaquinho de Savio Souza, tem animado e muito as noitadas caririenses e nos brinda com deliciosos sambas dos mais respeitados compositores brasileiros. É ouvir e sentir o pulsar do coração chamando para a dança, a festa e a alegria. Samba é o nosso ritmo mais festejado, cultuado e admirado e agora aqui no Cariri o grupo "SAMBA DE MINUTO" está o levando para o nosso prazer.

Se você quer ouvir o "SAMBA DE MINUTO", nesta próxima segunda-feira, dia 30, véspera de feriado, o grupo vai se apresentar no "TERRAÇUS - Bar e Petiscaria", um maravilhoso espaço que fica no triângulo do Grangeiro em Crato. Lá vai rolar o SAMBA DE PÉ (de serra), com o grupo. Começa por volta das 20h, mais cedo para não perturbar tanto a vizinhança, e vai ser cobrado cinco reais por pessoa de couvert artístico. Vai ser uma noitada regada a muito samba, cerveja e feijoada, além da alegria do encontro com pessoas bacanas. Vamos nessa?

Spike Lee mando o Brasil ir adiante - José do Vale Pinheiro Feitosa


Nos anos 80 o cineasta Spike Lee se tornou uma referência na cultura americana. Abordando a questão da integração do negro na preconceituosa sociedade americana, Spike Lee produziu filmes que se tornaram cults inclusive pela abordagem. Spike Lee é de uma geração pós anos 60, quando os direitos sociais já haviam sido conquistados em consequência da radicalidade de Malcom X ou pela mobilização de multidões com Luther King.

De qualquer modo, mesmo usando os elementos pops da cultura em seu cinema, Spike Lee soube bem retratar a América negra dos grandes centros urbanos. Por isso a iniciativa dele em fazer um filme chamado “Go Brasil Go!” é relevante dado o seu perfil.

Espere-se uma crítica contundente aos mitos de que no país não exista preconceito de raça, apenas preconceito social. Como se um e outro fossem distintos, especialmente pelo ônus histórico que recai sobre negros e mulatos na escala social. Portanto Spike Lee levantará boas contradições em nosso crescimento e neste caminhar de nos tornarmos uma grande potência mundial.

De qualquer modo a presença de Spike Lee, inclusive encontrando-se com a Presidenta da República significa o reconhecimento mundial do que tem acontecido aqui nas duas últimas dezenas em nosso país. Especialmente a partir do Governo Lula quando a crise nos países centrais e a melhoria na distribuição de renda evidenciou o país. 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

As táticas para as artimanhas das verdades dos criminosos - José do Vale Pinheiro Feitosa


Alguns anos passados havia um blog em que o blogueiro saia de dedo em riste ou até mesmo com o martelo dos juízes a vaticinar a verdade. Confesso que a performance parecia-me algo assim como aqueles apresentadores de televisão: o Ratinho e o Datena.

As tais verdades eram tão gritadas e em tons de indignação que lembravam os traços da face de moralistas como Demóstenes Torres. Essas lembranças vieram-me em face da verdade jornalista.

Ontem li um dos textos jornalísticos dos mais representativos dos cuidados com a verdade que ultimamente tenho lido: tratava-se de um texto de Jânio de Freitas na Folha de São Paulo noticiando que uma alta autoridade de Israel negava que o Irã tivesse a intenção de fazer a bomba atômica. No final ao sentir-se bem a mudança de ventos no governo de Israel, o jornalista ainda aventava a possibilidade que autoridade israelense tivesse a possibilidade de inibir preparos secretos do Premier para atacar o Irã. Enfim, o jornalista pintava a verdade com todas as cores e tentava expor a face oculta que por ventura houvesse.

O assunto da verdade é fundamental, pois tem sido o cobertor sistemático dos fariseus e a desculpa preferida dos canalhas. A grande imprensa joga com os fatos no limiar entre a verdade e suas manipulações de um modo a ter o passe livre para inventar a verdade que lhe convém. Mas a sociedade assim mesmo quer saber onde tem o nariz e qual estrada tomar com a verdade por bússola. Ninguém quer ser guiado, por exemplo, pelos desejos do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Hoje apareceu um texto escrito por H. Michael Sweeney intitulado Uma Cartilha da Desinformação em 25 passos. A cartilha foi desenvolvida a partir das Treze Técnicas para Suprimir a Verdade de David Martin. Ela é uma tática usada na solução de crimes de grandes repercussões públicas, usadas tanto em tribunais como nos veículos de comunicação. A ação pública das mídias no contexto de suas contradições políticas, econômicas, sociais e culturais adjetivou a verdade em variações decorrentes do original: verdades veladas, meias verdades, mentiras e supressão da verdade.
Como a informação não é uma mera técnica de origem e destino, um seu valor ético intrínseco é a consonância com a verdade. Todas aquelas adjetivações para a verdade são técnicas na verdade de desinformação. Ou em outros termos de propaganda de interesses específicos com a intenção de conquistar a sociedade para a livre ação de suas práticas.  
Por isso o texto enumera as 25 táticas e subterfúgios funcionam para o interesse e pessoas ou grupos. Uma ressalva, quando um criminoso é interrogado e nega seus crimes, ele está procurando não se incriminar, isso é um dado humano. Mas a mídia nas sociedades após o iluminismo não pode se albergar nesta conduta que é individual, uma vez que o compromisso da informação é exatamente ser o que é, ou seja, a verdade.
Eis algumas táticas e subterfúgios. 1. Se você é uma figura pública na mídia não ouça, não veja e não fale sobre a verdade. Se você não for informado é por que não aconteceu. E é o subterfúgio do nunca ouvi dizer. 2. Mostre-se incrédulo e indignado. Não discuta o principal, saia pela lateral acusando Cuba ou a Venezuela, xingue quem ousou lhe trazer o assunto, é a tática do “Como você se atreve!”.  3. Crie boateiros. Evite discutir os problemas dizendo que tudo não passa de rumores e acusações que visam perseguir alguém. Ao espalhar boatos com variações frágeis do problema, especialmente na internet, isso ajuda a neutralizar a verdade. 5. Use um “espantalho”. Encontre o até mesmo invente algo nos argumentos do adversário que seja facilmente desmentido. Ou desvie-se so assunto, encontrando algum defeito na fonte para que se possa desqualificá-la. Amplifique o seu significado de forma que pareça desmentir todas as acusações, reais e as fabricada, enquanto na verdade evita a discussão das questões reais. 5. Desvie os adversário através de xingamentos e ridicularização. Esta tática é bastante nossa conhecida. Até meu pai já foi alvo desta prática numa ação que sei não nasceu do suposto autor, mas de um grupo de arrivistas que se escondem na velha política da cidade. Isso vem quando os “argumentos” são irrespondíveis e o debate se torna em jogar pedras no adversário: comunistas, bicha, e etc. 6. Bata e Corra. O sujeito ataca e se manda para não ouvir a resposta. Isso é comum em fóruns e na internet. Não quer ouvir a resposta para não ter que confrontar a versão do outro, apenas deseja que permaneça a sua. 7. Questione os motivos. Isso é uma típica distorção do que diz o outro, tentando demonstrar que sua fala esconde tendências ou tem motivos ocultos. Isso evita discutir a questão e força o acusador a ficar na defensiva. 8. Invoque autoridade. Essa vou reproduzir na íntegra: “Reivindique para si mesmo autoridade ou se associe com autoridade e apresente seu argumento com o “jargão” ou “minúcias” o suficiente para ilustrar que você é “quem sabe”, e simplesmente diga que não é assim, sem discutir as questões ou demonstrar concretamente o porquê ou citar fontes.” 9. Banque o Idiota. Negue as questões têm qualquer credibilidade, afirmem que não fazem sentido, que existem provas, tenha lógica e assim por diante, sempre misturando tudo a ponto de obter o máximo efeito 10. Associe as acusações do adversário com notícias antigas com o objetivo de tornarem as acusações  uma mera repetição de um assunto já resolvido. 11. Estabeleça posições em que você pode retroceder. Isso reque uma boa preparação: primeiro levante uma questão menor e depois confesse com sinceridade que esse erro inocente e que os adversários usaram para simplesmente destruí-lo com a amplificação de uma coisa menor. Essa é a tática de ganhar a simpatia do aparentar jogar limpo e de reconhecer seus erros. 12. Enigmas não têm solução. Pegue a cadeia de eventos do fato e construa uma verdade bastante complexa de modo que não se possa decifrá-lo. Isso leva as pessoas a perderem o interesse pelo assunto. 13. Lógica da “Alice no País das Maravilhas”. Não debata as questões, use um raciocínio de trás para frente como se utilizasse uma lógica dedutiva de modo a não usar nenhum fato material real. 14. Exija soluções completas. Isso é uma forma de dar um ponto final a determinados assuntos. 15. Encaixe os fatos em conclusões alternativas. 16. Desapareça com provas e testemunhas. Se elas não existirem, não existe fato, e você não terá de resolver o problema. 17. Mude de Assunto. A tática é ainda melhor se a mudança levar os oponentes a querer discutir o novo assunto. 18. Emotive, antagonize e incite os oponentes. Se não pode fazer mais nada repreenda e insulte os seus adversários e os leve a respostas emocionais que possam fazê-los parecer tolos e emotivos, o que geralmente tornam o seu material um pouco menos coerente. 19. Ignorar a prova apresentada e exija provas impossíveis. Esta é antiga. 20. Falsas Provas. Isso significa introduzir novos fatos ou pistas para conflitar as apresentadas com o adversário. 21. Chame um Grande Júri, Promotoria Especial ou outro organismo habilitado para investigações. Subverta o processo para seu próprio benefício e efetivamente neutralize todas as questões sensíveis, sem uma discussão aberta. 22. Fabrique uma nova verdade. Crie seus próprios peritos, grupos, autores, líderes ou influencie os existente para seguirem-no novos caminhos. 23. Crie distrações maiores. Crie notícias mais importante (ou as trate como tal) para distrair as multidões. 24. Silencie os críticos. Aí a práticas são as piores, inclusive a morte, a chantagem, a destruição do seu caráter e assim por diante. 25. Desapareça. “Se você é um portador de segredos importantes relacionados a algum crime ou conspiração e você acha que o calor está ficando muito quente, para evitar os problemas, desapareça.”


quinta-feira, 26 de abril de 2012

HOJE MANEL DE JARDIM FAZ 50 ANOS!

PARABÉNS MANEL DE JARDIM! 50 ANOS COMENDO A VIDA COM UMA COLHER BEM GRANDE! DE UM JEITO OU DE OUTRO NÓS TE AMAMOS BELA ALMA EM(PENADA)! A GENTE SE ENCONTRA DAQUI A POUCO NO "BOTEQUIM" PARA AS DEVIDAS E MERECIDAS COMEMORAÇÕES.

Eu queria muito ouvir e falar com Marcus Cunha - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eu gostaria de falar com Marcus Cunha. De passar horas falando da desigualdades que perdura na minha cidade, no bairro em que nasci, entre os transeuntes dos quais fui um deles. Gostaria de sentir a coragem de romper com um passado que se sustenta de um lado nas tetas de uma tradição tão antiga quanto os anos cinquenta do século XX ou tão arrivista quanto certos aventureiros que nadam de braçada no sucesso individualista do alpinismo social.

Eu gostaria de, neste momento, ouvir as palavras de Marcus Cunha sobre a quebra desta desigualdade com a oportunidade da escola de qualidade, por acesso à universidades para os jovens dos bairros pobres, por transporte coletivo que dê impulso à energia criativa deste povo querido da minha terra.

Gostaria de ouvir de Marcus Cunha sobre os planos de um governo reorientador do meu município, que tem a vigilância sã dos nossos recursos naturais, que promova o maior programa de saneamento com água limpa, lixo tratado e esgotamento sanitário. Que nossos rios não se tornem cloacas dos despejos de quem não tem outra alternativa a não ser drenar os dejetos para as levadas que se tornam seus afluentes. Que os canais dos nossos rios sejam duradouros, seguros e ao mesmo tempo uma área de encontro e lazer da cidade, que, enfim, não se tornem apenas a morada dos automóveis velozes. 

Eu gostaria ouvir de Marcus Cunha que a saúde pública fosse inteligente, que se antecipasse aos fatores determinantes das doenças, que tivesse o amor pelas pessoas que são mais vulneráveis e que não se tome a saúde apenas como um objeto de consumo, mas como um direito que lhe é devido pelo município que é a expressão objetiva do Sistema Único de Saúde.  

Eu queria ouvir de Marcus Cunha sobre a nossa cultura tradicional e sobretudo sobre os nossos produtores culturais e nossos artistas. Eu queria sonhar com esta força da cultura nas escolas, no currículo, nas horas de recreio, no preenchimento da ociosidades dos prédios escolares quando eles cessam suas atividades letivas. Eu gostaria que Marcus Cunha desse visibilidade a este potencial da nossa cidade.

Eu tanto desejaria falar com Marcus Cunha sobre a região metropolitana de nossa cidade, ouvindo dele novas palavras, distintas daquela lenga lenga de filhinhos de papai com a eternidade do resmungo frente a realidade que torna conquistadora a nossa vizinhança. Ora aconteça em Juazeiro, Barbalha ou em Exu, no outro lado da terra, isso nos dá mais riqueza de entorno e exemplo de interiorização. Que viva a unidade da nossa região.

Enfim, eu gostaria tanto de ter uma conversa diferente destes tempos medíocres na política da minha terra. Espero que outros tantos cratenses, habitantes ou não do município, eleitores ou não nele, tenham  igual desejo por conversas desta natureza. 




Valei-me, Meu São Luiz !


Matozinho sempre foi antenada com as novidades mundo afora. Nos primórdios da sua história, elas chegavam através dos tropeiros e caixeiros-viajantes. Eles eram esperados na cidade ansiosamente e traziam consigo não só suas quinquilharias, mas também  a moda e  costumes da capital. Nesta época a Vila ligava-se ao mundo por trilhas varadas apenas por animais de carga. Com o tempo, foram melhorando os meios de transporte e os caminhoneiros receberam a missão que um dia  tinha pertencido aos tropeiros. Os Caixeiros  investiram-se de ares de nobreza e passaram a ser chamados de viajantes e depois Representantes Comerciais. Com a melhoria do transporte e, mais tarde, a chegada da TV, as novidades do consumo aportaram em Matorzinho quase que de forma imediata, sem nenhum delay. Um outro fator importantíssimo na modernização dos costumes da Vila : o retorno de matozenses que fugindo da seca haviam emigrado para o Sudeste. Passada a fase de euforia, quando o concreto armado caía por fim nas suas cabeças, voltavam para sua cidade natal, geralmente contando vantagem, cagando goma, com a língua trôpega: cravejada de chiados, de  “uais” e de “carambas”.
                                   Nesses dias,  aportou em Matorzinho, vindo de “Sum Paulo”, um desses filhos pródigos :  Sonisvaldo Coité. Trabalhara no  Sudeste numa infinidade de empregos, até ter se especializado , finalmente, como garçon. Migrou daí para uma Pizzaria, onde terminou por se firmar como Pizzarollo, um dos mais consagrados da capital paulista, segundo sua própria avaliação.  Fizera um acordo com a firma e recebeu uma graninha boa, proporcional aos mais de dez anos que trabalhou por lá na beira do forno. Vaval , este era o apelido carinhoso que nosso pizzarollo já não reconhecia, trazia consigo já a determinação de se estabelecer no comércio da sua cidade natal : vou botar a primeira Pizzaria de toda Grande Matorzinho , vaticinou ainda no ônibus, nosso Coité. Mal  desembarcou ,com sua indumentária esdrúxula : botas, gorro do Corinthians, casacão de frio e um tênis paraguaio espalhafatoso; Vaval encetou os preparativos para sua empreitada. Sobe rua, desce rua, terminou escolhendo o ponto que lhe parecia perfeito.  
                                   João do Bozó havia sido proprietário de uma Bodega próximo à praça da Vila que findou evoluindo naturalmente para um mercadinho e, agora, ostentava o vistoso nome de : “Supermercado Santa Genoveva”. Há alguns meses, Bozó providenciara um “puxado” lateral no prédio, pensando numa ampliação futura das instalações. A idéia empacara e  o espaço estava até então inutilizado. Vaval negociou então o aluguel e encetou os preparativos para a instalação daquela que seria a pioneira em massas  em toda região. Antes da reforma, já abriu o letreiro no frontispício, em letras gigantes : “Sonny´s Trattoria” e, para que o povo não ficasse pensando que ali se vendiam  tratores,  logo abaixo explicava : “Pizzas”.  Como era de se esperar,  o povo acorreu célere em busca da novidade de Coité e o empreendimento  se mostrou um sucesso.  Até porque nosso empresário entendeu rapidamente que precisava adaptar a novidade aos costumes locais. Os sabores tiveram que ser acrescentados dos quitutes matozenses e aí surgiram as pizzas de macunzá, de panelada,de manzape,  de sarapatel e de sarrabulho. Às tubaínas , também, foi preciso acrescer algumas bebidas tradicionais como Gingibirra , Aluá e garapa de cana. Tirante estas necessárias adaptações, nada foi mais preciso corrigir para que a “Trattoria” se transformasse num dos empreendimentos de maior sucesso naquele cafundó do Judas. Vaval , inclusive, estava sonhando em levar filiais para Bertioga e Serrinha do Nicodemos. E quem sabe, no futuro, vender franquias da “Sonny´s” para todo país. Tudo ia tão bem!  Mas, como diz o velho Giba: “ pobre só tem as coisas até Deus descobrir, aí toma tudo de volta”.
                                   Algumas questões certamente contribuíram para a tragédia que um dia desabou sobre a “Trattoria”. Primeiro,  a proximidade com o Supermercado de Bozó. Era lá que Vaval se abastecia e por ali não existia prazo de validade de produtos: enquanto o tapuru não comesse toda a carne e o gorgulho esfarelasse todo feijão, negociava-se. Mas o ponto crítico de tudo, certamente, foi a introdução no cardápio, da famosa Pizza de Buchada de Bode. O lançamento do novo produto foi feito com alarde e , no domingo, a “Trattoria”, de repente, viu-se apinhada de gente, pronta a degustar a novidade, apresentada naquele dia com preço promocional. A metade da vila obedeceu aos chamados de Vaval e degustou a nova iguaria ,de difícil conservação, sofregamente, acrescida de maionese caseira ( uma outra novidade perigosa trazida pelo pizzarollo). O certo é que a maionese serviu de estopim e fez explodir a bomba de bactérias da buchada de Vaval.
                                   Em poucas minutos, viram-se todos acometidos de uma caganeira universal e fenomenal. Faltou moita ao redor de duas léguas da pizzaria. Folhas e sabugos eram disputados à tapa. O velho Antonio Sitó que usava calças presas em suspensórios, só nesse dia, gastou mais de cinco : baixando e levantando os elásticos. Negrinho ,mal saía da moita,  já pegava novamente a fila. D. Filismina, uma velhinha esguia, fina que só assovio de sagüi , simplesmente desapareceu. De tanto ir ao mato encontraram apenas o molhado no chão e o filho dela, ajoelhado ante a poça , chorava inconsolado : Mãe dissolveu! Mãe dissolveu !   A família de Juca Caçote estava com o velho de vela na mão, empanzinado há mais de quinze dias. Quando souberam da catástrofe, correram na pizzaria e trouxeram um pedacinho da pizza de buchada e fizeram Caçote , in extremis, engolir. De repente, ouviu-se um murmurejo na barriga do velho e ele começou a se contorcer como se estivesse com  dores de parto. O  barulho tomou forças de trovão e , subitamente, ele gritou :
                                   ---“Valei-me, meu São Luiz !” 
                                   Ouviu-se um tiro seco,  como de um canhão no  quartel. Foi um destroço: esgotou-se a fossa, o homem desentupiu e sarou.

                                   Passados os dias, as coisas foram voltando ao normal, em Matozinho. Tirante D. Filismina, não houve baixas. Apenas o  velho Sinfrônio Arnaud preocupava. Há mais de quinze dias permanecia em casa, cabisbaixo e capiongo. Fora acometido da fininha em grandes proporções, mas aparentemente já recobrara as forças. A família preocupou-se com o velho. Vaval e Bozó, então, resolveram fazer-lhe uma visita. Encontraram-no recluso e tristonho , num canto do quarto escuro. Só com muito esforço conseguiram arrancar dele uma explicação. O velho foi enfático, estava bem, não mais sentira nada, mas estava com uma pulga detrás da orelha.
                                   --- O que está acontecendo, Coronel, o Senhor tá doente ainda?
                                   --- Não, seu Vaval, estive quase com  passagem na mão, mas já sarei.
                                   --- Mas por que anda tão triste, tão jururu ? –pergunta Bozó.
                                   --- Meu filho,  é que passei mais de três dias cagando sem o cu saber. Aí peguei aqui a matutar:  com um fiofó ignorante desses, que nem dá notícia do que tá saindo, se pode lá confiar num diabos desses, rapaz !
                                   --- Confiar como, coronel ? Quis saber Vaval.
                                   --- Se inventar de entrar alguma coisa, um fiofó analfabeto desses, será que o miserável vai  dar-se conta ?

J. Flávio Vieira

Marcos Cunha: `Não tenho tempo para ser vice´


Crato - CE:
Marcos Cunha: `Não tenho tempo para ser vice´
17/04/2012 às 08:04




Dr. Marcos Cunha 

O médico e pré-candidato a prefeito do Crato, Marcos Cunha (PT), concedeu entrevista ao site Miséria e falou sobre os rumores de que estaria sendo pressionado para ser vice de Sineval Roque (PSB). Ele falou ainda da sua militância e o que o credencia para postular o cargo. Sobre a questão de ter abandonado o Crato e ter se tornado forasteiro, Marcos disse que jamais abandonou o Crato e é mais cratense que muitos daqueles que o acusam.



Marcos Cunha finalizou a entrevista falando sobre o ritmo lento de desenvolvimento do Crato é o que precisa ser feito para avançar. Marcos Cunha é professor coordenador, doutor, da cadeira de neurologia da Universidade Federal do Ceará, campus Cariri.

Veja a entrevista na integra:

Madson Vagner – Existe rumores de que o senhor estaria sendo pressionado pelo partido para apoiar Sineval Roque (PSB). Isso é verdade?

Marcos Cunha – Isso não tem nenhum fundo de verdade. O Partido dos Trabalhadores, nos últimos doze meses fortaleceu enormemente a candidatura própria alinhado com a direção nacional de ampliar o número de prefeitos e vereadores nos municípios brasileiros. No Ceará temos quinze prefeituras e precisamos, no mínimo, dobrar esse número. Então não tem sentido, alguém comentar, que existe uma articulação para que se negocie a retirada do meu nome.

Madson Vagner – E como está sua pré-candidatura? O senhor tem discutido com outras forças?

Marcos Cunha – Ela está solida porque o partido está unido em torno dela. Nossa militância e as lideranças partidárias estão fechadas com a nossa proposta. Nós temos discutido com outros pré-candidatos, mas a ideia é fazer um projeto político conjunto para a nossa cidade. Não está em pauta a discussão de composição de chapas, mas entendo que o PT reúne as melhores condições para assumir a liderança desse processo, principalmente, pela questão histórica. Estamos nessa cidade há mais de 30 anos; participamos de todos os processos e temos uma relação com os governos do estado e federal, além de um corpo de militantes fantásticos.

Madson Vagner – Como o senhor traduz a sua frase: "não tenho tempo para ser vice"?

Marcos Cunha – Essa é a vantagem de quem não tem medo de envelhecer. Quem não tem medo ganha, acima de tudo, a experiência de ser tolerante. Quando eu digo que não tenho tempo, não me refiro ao tempo individual e, sim, ao tempo coletivo. Temos militantes fantásticos e que estão assumindo, como eu, a luta por uma nova sociedade. Esse tempo, é o tempo para um projeto novo para o Crato, que precisa ser discutido e isso não significa uma intolerância para discutir alianças políticas. Mas, a nossa discussão não acontece em função eleitoral; nós discutimos em função de um projeto político para a cidade.

Madson Vagner – Muita gente acusa o senhor de ter abandonado o Crato e até de já ser forasteiro. Como o senhor reage a isso?

Marcos Cunha – Vim morar no Crato em 1982 quanto terminei meu Curso de Medicina. Fui um dos fundadores do PT no Crato. Durante seis anos seguidos, organizamos o partido e o inserimos junto aos movimentos sociais e, em 1988, lançamos a minha primeira candidatura a prefeito. Perdemos, mas mostramos um novo paradigma que fugia da polarização entre UDN e PSD. Depois disso fui coordenador regional da campanha do Lula em 1989. Voltei a disputar a prefeitura em 1992, compondo como vice do extraordinário Dr. Raimundo Bezerra. Em 1993, resolvi cuidar da minha carreira acadêmica. Passei seis anos em Curitiba, onde fiz residência de quarto ano, mestrado e doutorado. Passei no concurso e fui ensinar na Universidade Federal do Ceará. Foram 14 anos morando no Crato e viajando nas quintas e sextas para dar aula em Fortaleza. Quando a UFC foi implantada em Barbalha eu vim junto. Mesmo tendo que cuidar da minha carreira, continuei minha militância onde quer que estivesse. Eu nunca abandonei o Crato e sou mais cratense do que muito que hoje falam coisas desse tipo.

Madson Vagner – Então é por isso que o senhor é pré-candidato? É isso que o credencia?

Marcos Cunha – Algumas pessoas acham que é credencial para ser prefeito do Crato, ser empresário, médico ou dentista. Eu, por exemplo, não sou pré-candidato a prefeito do Crato porque sou médico; sou pré-candidato porque tenho uma história de luta. E essa luta não é solitária; essa luta é coletiva. Hoje eu represento um partido que ninguém tem o direito de dizer que ele não faz. As grandes mudanças implementadas no Brasil foram feitas pelo PT e eu sou pré-candidato para, também, implementar essas mudanças no Crato.

Madson Vagner – Então o Crato não está acompanhando o crescimento experimentado pelo Cariri?

Marcos Cunha – Sim! Ele está. O Crato apenas tem tido um ritmo mais lento que outras cidades do Cariri. E aí, existem alguns fatores que precisam ser analisados com mais calma, mas eu acredito no grande potencial do Crato, se bem administrado, para retomar o ritmo de crescimento que ele merece. Agora não podemos pensar o Crato isoladamente. Temos que pensar o Crato dentro de um contexto global, envolvendo pelo menos as nove cidades que representam a macro região do Cariri.

Madson Vagner – Caso seja eleito, quais os principais problemas a serem enfrentados?

Marcos Cunha – O Crato necessita de duas respostas. Uma é política. Temos que fazer uma composição política que tenha a cara e o sentimento do Crato e que seja capaz de encaminhar todos os nossos projetos. Temos que imaginar uma política com representações nos parlamentos municipal, estadual e federal, além do executivo na prefeitura e uma relação política com os governos estadual e federal em pé de igualdade. O Crato tem carência dessas lideranças.

Madson Vagner – E isso não foi feito?

Marcos Cunha – Não! Os “filhotes” dos políticos antigos nunca fizeram isso. Sempre tiveram representação tímida e inibida. E isso precisa ser modificado. Esse é o desafio de que falamos. A segunda é uma resposta administrativa urgente. Precisamos ter uma cidade que possa gerar emprego e renda na sede e na zona rural. Na questão da educação é importante que os recursos sejam usados para construir novas ideias para a gestão dessa educação. São mais R$ 50 milhões gastos sem objetivo. Nós necessitamos aumentar o índice de valorização do professor e fazer escola de tempo integral. Com relação ao piso nacional apenas o nível 1 é atendido e são quase duzentos professores contratados temporariamente. E isso tem que mudar.

Madson Vagner – Mas, e a saúde?

Marcos Cunha – A saúde também é urgente, como também a prática de esportes nas escolas; mas a geração de emprego e renda e a educação são primordiais. A saúde pode ser melhorada, por exemplo, fazendo com que a população viva mais feliz estando bem empregada e sendo educada com qualidade. A prioridade da saúde é fazer com que as pessoas se sintam bem com uma boa praça para frequentar, se deslocando numa cidade bem urbaniza, principalmente nos bairros e nos distritos. Não adianta estarmos crescendo e as pessoas não estarem contempladas nesse crescimento.

Fonte: Site Miséria/Agência Miséria de Comuicação

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Ameaça de HAL - José do Vale Pinheiro Feitosa

O jornalista Pedro Dória publicou no jornal O Globo uma coluna em que noticia a automatização do texto escrito para jornais. O peso do assunto se deve ao fato de que textos poderiam ser produzidos por computadores sem a participação do ser humano. De algum modo nos remete ao medo de que as máquinas, inventadas pelos humanos, os substituam com maior eficiência num futuro próximo.

No filme 2001 uma odisseia no espaço Stanley Kubrick aborda o assunto de um modo angustiante, em longas e lentas cenas. A luta entre a máquina e o ser que o inventou. O cinema tem espalhado este “conflito” na cultura. Não é sem razão que aquele recente episódio da queda do avião da Air France indo do Rio para Paris, tenha tido um peso importante na crítica da automatização substituindo pilotos nas aeronaves do padrão Air Bus.

A considerar a realidade o problema é maior do que se imagina, não exatamente naquilo que a moda cultua. A questão central se encontra no modelo produção, distribuição e consumo de bens econômicos. Este fluxo sustenta-se na dualidade capital e trabalho. Na verdade o terceiro elemento a que se atribui como consumidor só existe no fluxo se houver renda para consumir e a renda principal é formada pelo trabalho, de modo que não existe a terceira categoria de consumidores solta no espaço independente daquela dualidade.

A automatização amplia enormemente a capacidade de análise de dados estatísticos e eventos sistemáticos da sociedade, mas a robotização junto com o futuro próximo da impressão em 3D, os novos materiais e a nanotecnologia prometem inovação, mas apontam para o desemprego geral e para a ociosidade em termos de trabalho.

Aí é que a cultura capitalista, bem consolidada nos países avançados, como é o caso do grande produtor da cultura dominante, especialmente nas mídias, incluindo o cinema e a televisão, os EUA sentem-se ameaçados. A estrutura capitalista não responde a mudanças dessa natureza. A automatização e a terceira onda produtiva, nascida com a revolução industrial, parece atacar muito mais tais arranjos da supraestrutura do que toda a ideologia que a combateu nos últimos séculos.

Afinal ao ler-se a matéria do Pedro Dória o que mais salta não é a substituição do humano pela máquina, é a potencialização da capacidade de analisar estatísticas através de programas de computação. Nada muito diferente do que são os laudos médicos, especialmente aqueles oriundos da diagnose tanto por imagens como por análises laboratoriais. Isso sem falar em toda área da engenharia, das ciências da terra, da física e assim por diante.
   

Ainda sobre os blogs

O Maurício Tavares que é um expert no assunto levantou a bola sobre o futuro dos blogs, aos quais o Salatiel chama de Revista Eletrônica. O assunto é relevante aqui por óbvio e por isso capturei esta postagem no blog do Nassif com dados importantes sobre o faturamento da Internet, o que demonstra o crescimento de público neste meio, especialmente comparado com outras mídias.


A internet assumirá a segunda posição entre as mídias ainda em 2012, deixando o meio jornal para trás em volume de investimentos. De acordo com estimativa apresentada pelo IAB Brasil nesta terça-feira, 24, o digital crescerá 39%, fechando o ano com 13,7% de participação e faturamento na casa dos R$ 4,7 bilhões. Em 2011, a web representava 11% do polo publicitário.
O crescimento do mercado de buscas será de 50% e o de display (banner) terá incremento de 25%, informou o presidente da instituição, Fabio Coelho - que também preside o Google Brasil.
p>De acordo com com o IAB, a internet cresce, em média, quatro vezes mais do que o mercado de publicidade, em geral - e esses números não contabilizam redes sociais. Em breve será divulgada uma estimativa de faturamento para este ano, em que sites como Facebook e Twitter estarão envolvidos. 
As 100 maiores empresas do país investem 13,4% de suas verbas publicitárias no meio digital, segundo Coelho, que considerou a web um mercado "pujante".
Para chegar aos resultados apresentados hoje, o IAB considerou os 80 milhões de internautas no país maiores de 16 anos, dos quais 49% pertencem às classes C, D e E e 51%, às A e B.

Pingo de Fortaleza – Um chuva musicalidade comprometida




Compositor, músico, brincante, pesquisador  e produtor cultural Pingo de Fortaleza é um artista  que nasceu um ano antes do Golpe Militar e que se envolveu com a música  e com outras linguagens artísticas na adolescência. Recebe esse pseudônimo por ter nascido prematuro. Com uma grandeza de olhar ele destaca que definir o que é  popular e  contemporâneo  está cada fez mais é difícil e perigoso usar estas compartimentações no campo da cultura e da arte. 


Alexandre Lucas – Quem é Pingo de Fortaleza?

Pingo de Fortaleza - João Wanderley Roberto Militão, nascido prematuro em Fortaleza no dia 08 de fevereiro de 1963, músico desde a adolescência e um eterno apaixonado pela arte da vida e pelas artes.

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória?

Pingo de Fortaleza - Comecei ainda menino tocando violão no bairro José Walter e em seguida junto aos amigos da ETFCE onde cursei meu segundo grau, depois fui cursar música na UECE e neste tempo já havia me envolvido com parceiros do teatro e da poesia. Ali no universo do movimento estudantil do inicio da década de 1980 fiz minhas primeiras apresentações e meus primeiros espetáculos individuais. Depois gravei meu primeiro LP em 1986 e nunca mais parei de produzir e seguir nesta viagem musical.

Alexandre Lucas – Como se deu sua relação com a música?

Pingo de Fortaleza - De forma natural, recebendo informações de todas as formas e linguagens e se fortaleceu na adolescência com a audição das músicas do Pessoal do Ceará.




Alexandre Lucas – você é autor do livro Maracatu Az de Ouro – 70 anos de memórias, loas e batuques. O que representa a publicação deste livro para o Maracatu Cearense?

Pingo de Fortaleza - Tenho mantido um envolvimento com o universo da cultura do maracatu do Ceará desde 1990 quando criei a canção Maculelê, acho que o livro traduz um pouco todo o meu aprendizado neste segmento e revela através da história do Maracatu Az de Ouro que ainda precisamos de muitos registros para reconhecer profundamente à rica e significativa presença do maracatu na cidade de Fortaleza.

Alexandre Lucas – Além de pesquisador, você é brincante de Maracatu. Isso possibilitou um olhar diferenciado para produção do seu livro?

Pingo de Fortaleza - Ser brincante me deu mais felicidade em conseguir produzir este trabalho, pois vivo este universo e procuro recriá-lo sempre.

Alexandre Lucas – você é um dos fundadores do Maracatu Solar. Como vem sendo desenvolvido esse trabalho?

Pingo de Fortaleza - O Maracatu SOLAR é um Programa de Formação Cultural Continuada da ONG SOLAR (ONG criada por mim e alguns parceiros em 2005) e de certa forma essa atividade deu mais visibilidade e articulação a SOLAR e também nos possibilitou uma prática mais livre desta manifestação.

Alexandre Lucas – Você agrega na sua musicalidade o popular e o contemporâneo?

Pingo de Fortaleza - Em minha arte agrego sempre aquilo que me vem de inspiração e atualmente tenho usado pouco essas nomeclaturas, por compreender que todas os gêneros estão de certa forma conjugados e que está cada fez mais é difícil e perigoso usar estas compartimentações no campo da cultura e da arte.

Alexandre Lucas – Como você ver a relação em entre arte e política?

Pingo de Fortaleza - Acho que no campo filosófico a arte é parte integrante das relações humanas na sociedade, portanto qualquer fazer artístico é uma ação política, contudo não me refiro à política de estado ou governo.

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos.

Pingo de Fortaleza - Depois dos cds Prata 950 (2009), Ressonância Instrumental (2010) e Axé de Luz(2011), pretendo lançar um novo livro sobre os universo rítmico do maracatu do Ceará e estou trabalhando num projeto intitulado "Pérolas do Centauro - 40 Anos da Música Cearense e 30 Anos da Musicalidade de Pingo de Fortaleza (1972-2012, Compositores e Intérpretes)

“Consignados” ( IV ) – José Nilton Mariano Saraiva

De acordo com o divulgado pelo Deputado Heitor Férrer, o arrecadado ( SÓ EM “COMISSÕES” ) pela empresa Promus, de propriedade do senhor Luis Antonio Valadares, genro do Chefe da Casa Civil do Governo do Estado, senhor Arialdo Pinho, no período de novembro/2009 a começo de 2012 (cerca de 27 meses), bateu em estratosféricos R$ 101.500.000,00 (cento e hum milhões e quinhentos mil reais). É uma montanha de dinheiro, aqui, na China ou no Haiti.
Assim, uma simplória e prosaica operação aritmética – R$ 101.500.000,00 / 27 - (meses) nos dá como resultado final o valor de R$ 3.759.260,00 (“comissão” mensal ao longo dos 27 meses) ou R$ 125.308,64 (faturamento diário no mesmo período) ou ainda R$ 5.221,20 (faturamento por hora). Não, você não leu errado: em CADA UMA MÍSERA HORA, no decorrer de 27 meses (incluindo sábados, domingos e feriados), a empresa do senhor Valadares arrecadou – SÓ DE “COMISSÃO” - o corresponde a 8,39 salários mínimos (hoje em R$ 622,00).
Apesar dos números impressionantes, o Governador do Estado, Cid Gomes (certamente que orientado pelo irmão Ciro Gomes, ex-empregado do senhor Arialdo Pinho) já “decretou” que não houve qualquer “tráfico de influência” do sogro (atual poderoso Chefe da Casa Civil) em benefício do genro querido.
Como a tendência, lamentavelmente, é o assunto esfriar ou arrefecer (ou passar por um providencial “esquecimento”) por parte dos meios de comunicação, espera-se que pelo menos o Ministério Público Federal não deixe pedra sobre pedra e vá fundo na investigação, visando debelar a fedentina que exala dos corredores e salas   que abrigam a cúpula do Governo Estadual.
De outra parte, matreiramente, a empresa Promus, querendo desviar o foco da questão principal, (se houve ou não tráfico de influência e o porquê dos juros exorbitantes cobrados) saiu com uma extensa e risível matéria paga nos principais jornais de Fortaleza, desafiando o Deputado Estadual Heitor Ferrer a abrir mão da sua imunidade parlamentar, sem, contudo, apresentar quaisquer provas que sirvam para descredenciar as denúncias levantadas pelo parlamentar ou, sequer, dispondo-se a abrir mão do seu sigilo bancário.

terça-feira, 24 de abril de 2012

A Veja e uma Cachoeira de Petróleo que fraturou o quadril do Rei de Espanha - José do Vale Pinheiro Feitosa


Os desejos por uma realidade podem se tornar numa pintura assinada, em que traços e cores jamais poderão ser modificados. Estas pinturas ficam nas paredes, imutáveis, realizando aquele momento capturado pelo artista. Podem perder as cores e os traços se confundirem, acrescentando novos valores pictóricos, mas estes valores serão sempre aqueles do tempo em curso, jamais a face do momento.

Assim, imagino, vêm o mundo alguns leitores e assistentes da nossa grande mídia centrada no eixo Rio-São Paulo, pertencente às quatro grandes famílias. Especialmente a fidelidade canina dos leitores da revista Veja que a tinham em conta como único instrumento de luta ideológica. Contra o comunismo, o ateísmo, a degradação dos costumes familiares, o petismo corrupto, o imbecil do Lula e outras bandeiras mais. Além de venderem produtos milagrosos e panaceias de modo em geral.

Agora o tempo mostra os métodos desta mídia, especialmente da Veja. Atolada até os joelhos na matéria fecal do mais puro banditismo numa simbiose perfeita: fonte de combate aos inimigos de ambos. Portanto no cerne do denuncismo para vender edições e aumentar audiência numa mistura entre fonte e matéria publicada em que os negócios escusos se confundem até não mais desbotar com o tempo: o quadro permanece imutável.

A Argentina faz reestatização de sua empresa petrolífera, para melhor coordenar sua política energética e a mídia nacional brasileira joga sujo. Faz gracinha com a barba de um assessor econômico do governo argentino, uma deslumbrada do Bom Dia Brasil num arroubo de puxa-saquismo chegou a vadiar que a Argentina poderia estatizar o Messi, isso para fazer ponte com a atual decisão do Barcelona no campeonato europeu. E assim foi. Ninguém deu palavras aos interesses do povo argentino.

E aí Marine Le Pen, da extrema-direita francesa surpreende com 20% dos votos nas eleições. A velha direita neoliberal entendeu o recado? O discurso por uma ordem estatizada, radicalizada, totalitária e antidemocrática é a resposta de quem não tem emprego, futuro e nem proteção social. Vão culpar os muçulmanos no bolo, vão criar as simbologias tão bem usadas no fascismo europeu dos anos 30 do século XX e este nhém nhém nhém a serviço do sistema financeiro não cessa.

Assim como aquela figura patética do Rei de Espanha, que não serve para nada em termos políticos e nem social, menos ainda econômico. Não atrai nada para a combalida economia espanhola, mas, no entanto, vai para a África. Matar elefantes! Em Botswana que constrói sua balança comercial com o turismo e com a caça a animais silvestres. O Rei da Espanha obrou tão fétido e degenerado como as descargas intestinais da história de uma era decadente. Ou melhor: a fratura no quadril da moral monárquica.  

  

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Amizade não respira burocracia
Amizade não escolhe nem hora nem dia
Amizade é leal, é legal e faz bem
Faz o bem sem dizer a quem fez
Fez e faz tudo que pode, tudo que é capaz
Amizade é amiga, não alimenta intriga
Amizade é de graça, é semeada na praça
Amizade é surda para a crítica barata
Amizade nos ampara diante da fera
Amizade não tem medo de ser sincera
e avisa do perigo que rodeia seu amigo
Amizade é pão, amizade é trigo
Amizade é cimento que garante a construção
Amizade é fermento que faz bem ao coração
Amizade é a primeira forma de amor
Amizade é o barro do santo no andor
Amizade é o copo d'água na hora da sede
Amizade é o retrato no branco da parede
Amizade não tem preço e faz a prece
pra o amigo receber sempre tudo que merece
Amizade é o unguento que alivia
Amizade fortalece com o tempo
Amizade compartilha sua sorte
Amizade multiplica pães e peixes
e não se acaba com a morte






(Parabéns Salatiel!)

A reputação do blog

Em uma dissertação de mestrado, que farei parte da banca, acabei me deparando com uma preocupação que tenho sobre o futuro dos blogs, e do Cariricult, em particular. O título da dissertação é "Visibilidade e autoridade na blogosfera". Em determinado trecho o autor pontua: "Os comentários recebidos pelos blogs podem ser considerados como métricas de mensuração, uma forma de atividade da comunidade, e repercutem na autoridade do blogueiro. Alguns autores comprovaram em suas pesquisas a correlação entre popularidade dos blogs e o número de comentários. Os comentários servem de maneira simples para que os usuários interajam com os blogueiros. Esses comentários são identificados pelos blogueiros como uma importante motivação para manter o blog.". As informações acima não trazem nenhuma novidade. No caso da dissertação elas são apenas referências que ajudam a interpretação dos dados quantitativos, Mas elas me fizeram pensar de novo nos nossos Caririblogs. É impressionante a falta de comentários nas postagens feitas nos últimos tempos. Em algum blog para que o post não passe em branco uma das blogueiras comenta o que a outra publicou. Além disso, o vazio. Sei que esse é um sintoma comum a maioria dos blogs mas , assim mesmo, me pergunto: quem, ou o que, nos salvará dessa solidão?

Os Pavôs e seus Filhetos


Zé Ramalho, em uma música famosa, criou uma denominação no mínimo curiosa: “Avohai”. Segundo ele um misto de pai e avô. A canção brotou de uma “viagem” do artista, numa das ruas de Olinda, aí pelos anos 70. Há certamente um quê de visionário neste delírio psicodélico do Zé. A partir daí , como por encanto, multiplicaram-se os Avohai´s. É que a revolução sexual, desencadeada mundialmente nos libertários e fulgurantes anos 60 , só aportou em terras brasileiras nas décadas subseqüentes. Aí começaram a se multiplicar os filhos desta liberdade, nascidos de pais adolescentes, em meio aos dourados sonhos juvenis e que acabaram por ser criados e educados pelos avós. Claro que , de alguma maneira , o aparecimento imprevisto destes bebês sobrecarregou toda uma geração que já imaginava ter cumprido o seu dever com os próprios rebentos, mas por outro lado encantaram e deram vida estes guris a pessoas que muitas vezes se consideravam inúteis e incapazes . De repente viram suas vidas florescerem com a chegada buliçosa dos netos.

Nos dias atuais, esta geração, que poderíamos chamar de “filhetos” ( uma mistura de filhos e netos), já cresceu o suficiente para ter a certeza absoluta de que o mundo lhe pertence, no que não está em absoluto errada.. O problema talvez diga respeito à porqueira de mundo que herdaram. A violência campeia por todo o país; as drogas anteriormente utilizadas com uma certa aura ritualística hoje se banalizaram e atapetam os noticiários de tragédias; o suicídio entre adolescentes aumentou para proporções inimagináveis; o aproveitamento escolar parece uma lástima. Talvez hoje se devesse mudar a denominação de “Avohai” para “Pavô” , tamanho o medo que vem assolando os pais e avós com o destino de seus descendentes. Os meninos nos parecem hoje totalmente perdidos : estudam pouco; suas festinhas começam depois da meia noite; quase não lêem um livro qualquer que seja; têm iniciação sexual geralmente com os primeiros namorados; parecem-nos extremamente irresponsáveis e inseguros; quase na sua maioria fazem-se muito pouco espiritualizados e a droga lhes é uma palavra bastante corriqueira e pouco tenebrosa. Além de tudo muitas vezes mostram poucas perspectivas de crescimento intelectual e profissional. Até mesmo o sonho de independência das gerações anteriores, eles não mais os têm: se pudessem jamais sairiam de casa. No casamento já não juram até que a morte os separe, mas até que a primeira briga os aparte. Separados retornam para “casa paterna , seu primeiro e virginal abrigo” , geralmente com os filhos a tiracolo.

O primeiro ímpeto dos “Pavôs” leva à conclusão mais óbvia: as velhas gerações foram mais bem educadas e seus guris aparentavam bem mais resolução e desenvoltura e bem menos vícios acachapantes. Diz-se, também, à boca miúda : estudávamos mais e tínhamos mais gana de mudar o planeta. Esta postura, no final das contas, não traz embutida nenhuma novidade, ela se repete em moto-contínuo de geração a geração. Os novos hábitos vêem-se com reserva, os novos costumes interpretam-se de forma bastante crítica. Com a mesma intensidade que os adolescentes confrontam as antigas verdades, os mais velhos torcem o nariz para as novas formas de pensar e ver o mundo. Mas afinal as deformidades tão facilmente apontadas nos “filhetos” têm ou não fundamento ?

Vamos por partes. Em primeiro lugar eles herdaram um mundo construído pelas gerações que lhes antecederam e tiveram que rapidamente se adaptar à triste herança que lhes legamos. A violência generalizada os tornou inseguros bem além da insegurança normal da idade e os prende mais fortemente ao ninho dos pais. Lêem e estudam menos na visão tradicional destes dois verbos, pois hoje têm uma infinidade de meios de obterem o conhecimento fora das páginas dos livros : a TV, o computador, a Internet, o telefone, o vide-cassete. Com o bombardeio incessante dos meios de comunicação ligam-se mais à imagem do que à palavra. O mundo que lhes legamos, por outro lado, lhes tolhe as perspectivas de um crescimento interior : a todo momento a geração dos “Avohai´s” lhes prega a verdade material : a felicidade está no consumo, é mais importante calçar um tênis Nike do que degustar Sêneca. A religiosidade dos novos foi em muito tolhida pelos “Pavôs”, cientes de que uma das formas de liberdade era a da escolha de credo e de que ninguém tinha o direito de impingir isto às crianças. A liberdade sexual também herdaram do grito libertário dos hippies dos anos 60 , o “Fica” faz-se apenas uma remasterização do antigo “sarro” ou “Casquinha”. O embevecimento no uso de drogas alucinógenas veio, certamente, da mesma fonte dos hippies e beats. Foram, também os “Avohai´s” que lhes deram aulas sobre a dissolubilidade do casamento que acaba sendo uma busca de felicidade comum( mesmo que efêmera) e não uma condenação às galés perpétuas. Talvez muitos deles não lutem por um crescimento profissional por vias mais retas porque a todo instante têm exemplo de que para chegar no éden do consumo existem veredas mais curtas: os pistolões, as maracutaias , a corrupção, a sonegação, o baba-ovismo. Estas aulas todas lhes ministraram as gerações anteriores, através da concreta arma do exemplo.

Antes de criticá-los e tecer previsões sombrias sobre seu destino é imprescindível lembrar que eles apenas estão inseridos num outro mundo cheio de avanços fenomenais e deformidades terríveis e esta ordem de coisas eles a herdaram . Talvez, apenas, se encontrem atônitos e embasbacados sem saber bem o que farão com tamanha batata quente nas mãos. Tomara que , com a força transformadora da juventude, consigam corrigir os rumos da humanidade e fazer deste planeta um lugar mais justo, mais solidário e mais respirável. Se não conseguirem este intento, ao menos terão o direito de pôr a culpa na próxima geração, exatamente como têm feito os seus “Pavôs” .

J. Flávio Vieira

Peluso: destempero na despedida (transcrição)

Na quinta-feira 19, o Supremo Tribunal Federal (STF) passou a ser presidido pelo ministro Carlos Ayres Britto, que completará 70 anos de idade em novembro e terá de deixar as funções, salvo se, até lá, for aprovada a apelidada “emenda da bengala”. Essa emenda-constitucional muda o regramento ao passar para 75 anos a idade limite de aposentadoria compulsória aos servidores públicos.
Fora o grande preparo jurídico, Britto tem marcado a sua trajetória na Corte pela ponderação, equilíbrio e independência. E não terá dificuldade em colocar uma pá de cal no mal estar criado pelo seu antecessor, Cesar Peluso, que se comportou, na véspera de deixar a presidência do STF, de forma destemperada, para dizer o menos.
Peluso atacou, pesadamente e sem razão, a presidenta Dilma Roussef que, diante de uma explosiva crise econômico-financeira internacional, não reajustou os vencimentos dos magistrados e, por tabela, o de todas as carreiras jurídicas assemelhadas. Ou seja, evitou o conhecido “efeito cascata”.
À suprema magistrada da Nação, por não ter contentado o bolso das togas, Peluso atribuiu violação à Constituição e descumprimento de decisão do Supremo. O ministro, que cai na compulsória em setembro próximo e poderá ficar no caso de vingar a emenda da bengala,  criticou também o colega Joaquim Barbosa, a sua vice no Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, e o senador Francisco Dornelles, responsável pelo arquivamento de projeto de emenda Constitucional (PEC) fundado em proposta de Peluso de aceleração de processos.
O ex-presidente do STF atribuiu insegurança ao colega pelo fato de o próprio Barbosa achar que chegou ao Supremo não por méritos, mas pela cor da pele. Sobre Calmon, disse não ter contribuído em nada, tendo sido uma espécie de Operação Mãos Limpas italianas, que não condenou ninguém. Calmon, até agora, não lhe respondeu e até poderia lembrar que, ao contrário da sua afirmação, ganhou dele todos os embates. Ao contrário de Peluso, abriu as portas para acabar com o corporativismo assegurador de impunidade a magistrados com desvios de conduta e tornou os tribunais mais transparentes. Quanto à Operação Mãos Limpas, Peluso esqueceu, dentre outras,  da condenação definitiva de Betino Craxi, primeiro-ministro italiano obrigado a fugir para a Tunísia para evitar a prisão.
Quanto a Dorneles, o ministro olvidou do vetusto princípio da separação dos poderes. Não bastasse, ouviu de Barbosa um juízo negativo: “se acha e não sabe perder”.
O STF, depois da trágica gestão de Gilmar Mendes, viveu na presidência de Peluso tempos de defesa corporativa. Mas com o mérito de apagar a imagem, deixada por Mendes, de agradar a grupos formados por potentes e poderosos. Peluso deu transparência ao STF e não deixou fora de pauta feitos sobre questões de interesse social relevante.
Walter Maierovitch (jurista e professor, foi desembargador no TJ-SP)