quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O “ser digno” – José Nilton Mariano Saraiva


Se o senhor Moroni Bing Torgan já entrou na corrida pra eleição da prefeitura de Fortaleza pela porta dos fundos, já que com um (reprovável) objetivo pré-definido – provocar o “racha” dos votos da periferia, objetivando claramente ajudar o candidato governista (o que de fato findou acontecendo), além de apoiá-lo e recomendá-lo no segundo turno – temos o contraponto a tão desonesta manobra corporificado no candidato Renato Roseno, do raquítico PSOL que, sozinho, sem qualquer aliado ou tempo na TV, conseguiu estratosféricos 150.000 votos, E, como antes e no decorrer da campanha bateu forte e incisivamente tanto no candidato da Prefeitura como no do Governo do Estado, ao tempo em que conclamava a população a ajudá-lo na implementação de “um novo jeito de fazer política”, nada mais coerente que, não conseguindo o almejado passaporte para o segundo turno, anunciasse que não apoiaria nenhum dos dois e, portanto, liberados estavam seus eleitores pra escolher em quem votar.
Aliás, sua coerência é tamanha e seu eleitorado tão fiel, que, na eleição passada, quando se candidatou a Deputado Federal, obteve votação muito parecida, só que “não levou” (não foi eleito), em razão da esdrúxula lei eleitoral brasileira vigente, que privilegia a tal da legenda, possibilitando que candidatos com votação inexpressiva sejam “coroados” com os votos que “sobram” de integrantes do mesmo partido (assim, alguém que consegue míseros 10.000 votos entra, em detrimento daquele que consegue 15 vezes mais).
Mas, voltando ao mote inicial ou retomando o fio da meada, ao contrário de Moroni, que fez da eleição pra prefeitura de Fortaleza um rentável “balcão de negócios” (deve ganhar uma secretaria de governo) e de Heitor Ferrer, que pisou feio na bola ao “omitir-se” na hora de dá o troco ao Governador do Estado, Renato Roseno sai pela porta da frente e de cabeça erguida, mercê da altivez e dignidade demonstradas.
Isso, sim, é “ser digno” (e na política, por incrível que pareça); isso, sim, é “um novo jeito de fazer política”; isso, sim, é ter respeito ao seu eleitorado.  
 

Tudofel: Um arco-íris no Céu

Tudofel: Um arco-íris no Céu: Quase todas as recordações acerca de Normando Rodrigues são aprazíveis, contornadas de alegria, diversão e, principalmente, de lições...

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Reclamações ??? Direto com o "Papa" - José Nilton Mariano Saraiva

Em vésperas de qualquer eleição todo cuidado sempre será pouco visando não contrariar o ator e alvo principal: sua excelência, o eleitor. Assim, caciques da situação e da oposição, usando de todo o contorcionismo possível e imaginável, tratam de se equilibrar sobre o fio de navalha, objetivando não contrariá-los, não aborrecê-los, sob pena de colocarem tudo a perder.
Fato é que, como Fortaleza se prepara pra sediar uma das chaves do Campeonato Mundial de Futebol, em 2014, diversas intervenções urbanas estão previstas, com prazo definido pra começar e terminar. E uma das mais importantes, a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos-VLT (também conhecido como “metrô dos pobres”) foi alvo de intenso tiroteio verbal entre integrantes do poder municipal e do poder estadual, antes da recém-finda eleição pra prefeito.
Por um motivo simples: no projeto original, firmado por ambas as partes, lá atrás, explicitadas se encontravam as tarefas de cada um: ao Governo do Estado, cuidar da “remoção” de centenas de famílias das áreas onde serão implantados os dormentes e trilhos respectivos, com a consequente "relocalização" em um bairro periférico da cidade: à Prefeitura, a tarefa de construir a obra física, propriamente dita.
Só que “esqueceram” de lembrar aos técnicos do governo que no meio do caminho tinha uma eleição a ser definida. E quando finalmente “acordaram”, viram a mancada que tinham dado. E foi aí que a porca torceu o rabo: pressentindo que eleitoralmente seria um desastre (praticamente entregaria ao adversário, de mão-beijada, a eleição, dada a antipatia da medida), o Governador chegou ao absurdo e desfaçatez de afirmar que tinha “assinado o documento sem ler”; mas que não concordava com a “remoção” de tanta gente, já que tal tarefa (no seu novo entendimento) seria da alçada da prefeitura (se dispôs, inclusive, a entregar à prefeitura um vultoso valor para esse fim), só que sob a condição de jamais assinar embaixo. Com a “arenga” criada, a situação foi posta em banho-maria e com isso a eleição passou e ninguém sofreu o corrosivo desgaste previsto.
Agora, ganha a eleição pelo candidato governamental, este já anunciou em alto e bom som que ao ser empossado na  prefeitura assumirá, sim, o ônus da tal “remoção”, e não está nem um pouco preocupado se  A ou B goste ou não de tal ato. E os que votaram nele, agora insatisfeitos, que vão reclamar ao “Papa”. 
E aí, alguém tem dúvida sobre quem vai mandar na Prefeitura de Fortaleza nos próximos quatro anos ???

No Cariri Encantado de amanhã, Cila Braz vai estar com a gente!

Pois bem , nesta quarta-feira, eu e o memorialista Huberto Cabral vamos conversar com "a voz de ouro do cariri",  Cila Braz. A maravilhosa voz feminina dessa seresteira caririense já está registrada no seu quinto CD e que será lançado no próximo dia 10 no salão nobre da AABB do Crato, em baile dançante.
O Cariri Encantado se antecipa, portanto, e já nesta quarta-feira, pelas ondas sonoras da Radio Educadora do Cariri 1020 Khz, brinda seus ouvinte com algumas das canções do seleto repertório da cantora.
O programa Cariri Encantado, a partir das 14 horas, também pode ser ouvido pela internet no endereço: www.radioeducadora1020.com.br

Agende-se!

Tudofel: Um arco-íris na Terra

Tudofel: Um arco-íris na Terra: A primeira vez que vi Normando Rodrigues foi como se estivesse desembarcando numa praia com um imenso arco-íris no céu. Um dia D. ...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Moroni" e "Heitor" - José Nilton Mariano Saraiva



(Em aditamento à postagem do Zé do Vale sobre as eleições de Fortaleza).

Meses atrás, antes das convenções partidárias que homologariam os candidatos à prefeitura de Fortaleza, o Governador do Estado Cid Gomes viajou pra Portugal, onde teria tido uma conversa particular com o cidadão Moroni Bing Torgan (candidato derrotado em mais de uma tentativa para o cargo) e que houvera sido mandado pela Igreja à qual pertence para uma “missão religiosa” em terras lusitanas. Comentou-se, na oportunidade, que o objetivo do Governador seria “convidar” o referido senhor a voltar de imediato a Fortaleza e concorrer à Prefeitura mais uma vez, só que por um partido que não o oficial, o do Governador. No fundo e mais que evidente, a estratégica “jogada” embutia o aproveitar-se da popularidade do Moroni na periferia da cidade a fim de “rachar” ao meio o eleitorado naquelas comunidades, impedindo que o candidato da Prefeita de Fortaleza “dominasse o pedaço”, partindo com vantagem sobre o candidato oficial.
A despeito de tal versão nunca ter sido confirmada (embora o Governador tenha viajado a Portugal, sim), não mais que de repente Moroni mandou para o espaço a tal “missão religiosa”, abdicou de continuar pregando em nome de Deus, largou tudo de uma hora pra outra e desembarcou extenuado em Fortaleza no final do dia da convenção dos Democratas (já ao apagar das luzes), onde foi recebido apoteoticamente no aeroporto, de onde se dirigiu para o ginásio onde se realizava o evento, sendo cristalizado pelo partido como o candidato a prefeito (tudo isso, acreditem, “por amor a Fortaleza”, como disse na oportunidade).
Se foi “doutrinado” ou não pelo Governador, a verdade é que o Moroni que voltou nem de longe lembrava o Moroni que houvera partido: repaginado, seletivo, esqueceu o discurso agressivo, a postura desafiadora e se nos apresentou na pele de um caridoso pastor, fala mansa, a pregar a paciência e o perdão, evitando critica mais pesada aos concorrentes políticos, especialmente ao candidato oficial. O seu negócio agora era suplicar, pelo amor de Deus e de todos os Santos, que lhe dessem uma “caneta”, que com ela resolveria todos os males de Fortaleza. Ainda assim, cumpriu a “missão” para a qual houvera sido escalado pelo Governador, recebendo expressiva votação no primeiro turno (claro que em troca de alguma coisa).
E aí entra em cena o candidato Heitor Ferrer, Deputado Estadual do PDT, que se tornou conhecido e respeitado pela atuação firme, valente e corajosa no plenário da Assembléia. Voz solitária a denunciar com consistência os abusos perpetrados pelo Governador do Estado surpreendeu ao receber um “transatlântico” de votos quando as urnas foram abertas, passando Moroni pra trás e quase tomando o lugar do candidato oficial (houve, inclusive, a suspeita de que a manipulação das pesquisas às vésperas do primeiro turno o tenham prejudicado, impedindo sua ida para o segundo turno; tanto que há, sim, um despacho (não cumprido e, portanto, desmoralizado), de uma juíza de Fortaleza, “desautorizando” a realização do segundo turno (antes que o caso fosse esclarecido). A mídia, incompreensivelmente, não divulgou (por qual razão ???) e poderá haver contestação mais adiante (embora não vá dá em nada).
Pois bem, no segundo turno, Moroni, como esperado, apoiou de pronto (e recomendou) ao seu eleitorado a candidatura oficial, carreando uma boa quantidade dos votos dos seguidores, que ajudou em muito a eleição do novo prefeito (claro que será aquinhoado com algum “mimo”, possivelmente a secretaria de segurança do Estado). Aguardemos.
Já Heitor Ferrer, que passou toda a vida parlamentar batendo forte e com consistência no Governador do Estado, decepcionou as quase trezentas mil pessoas que o sufragaram, ao optar por uma posição neutra (e de certa forma covarde), sob a alegativa de que ao partido cabia decidir a questão. Dúvidas inexistem de que o seu apoio individual (ou recomendação do “político” aos seguidores) ao candidato contrário ao oficial (já que cáustico crítico do Governador) certamente teria mudado o rumo das eleições de Fortaleza. No entanto, aos 48 minutos do segundo tempo, Heitor Ferrer roeu a corda, manchou a sua biografia e perdeu o gol mais feito que se tem notícia.
Moroni e Heitor tiveram, pois, de maneiras distintas, papel decisivo no resultado final das eleições de Fortaleza. Alguém tem dúvida ???    

Tudofel: Faça teatro, mas não me peça para escrever a peça

Tudofel: Faça teatro, mas não me peça para escrever a peça: Certo dia bateu em minha porta um garoto franzino, aparentemente tímido, mas dono de um olhar expressivo e revelador de sua verve artís...

domingo, 28 de outubro de 2012

A Vitória do Candidato de Cid Gomes é forte indicativo da próxima eleição de Governador - José do Vale Pinheiro Feitosa


Com uma diferença de 74.172 votos o candidato Roberto Claudio do Governador Cid Gomes ganhou a eleição para a prefeitura de Fortaleza, batendo o “poste” Elmano da atual prefeita. A vitória de Roberto Claudio aconteceu em 7 das 13 zonas eleitorais da capital onde ele ganhou com mais de 85 mil votos.

As vitórias mais expressivas aconteceram na Zona 1 e Zona 3 onde Roberto Claudio praticamente decidiu sua eleição com uma vantagem de 38.688 votos. Estas são as zonas das classes mais abastadas da cidade: Aldeota, Meirelles, Papicu, Varjota e mais o Centro e alguns bairros que já foram da elite há muitos anos como Jacareacanga, Joaquim Távora e Praia de Iracema. No entanto o candidato também ganhou com boa margem de votos em zonas de voto popular como a 112, 116 e 117.

O candidato Elmano teve vitória mais expressivas em 2 zonas, nas 114 e 82 que pegam a zona oeste da cidade, até a Barra do Ceará. A disputa foi equilibrada, com menos de 3% de diferença em quatro zonas 118, 94, 115 e 83. A rigor o resultado não foge muito do empate técnico encontrado nas pesquisas feitas próximas ao pleito. Com uma margem de erro de 3% a diferença no resultado final foi de 6%.

Algumas constatações das eleições cearenses. A “neutralidade” de Heitor Férrer ajudou ao candidato do Governador, uma vez que o peso de Heitor foi marcante no primeiro turno. A prefeita Luiziane jogou, como se diz no futebol, de salto alto. A história do “poste” que Lula soube explorar tão bem na eleição de São Paulo e em resposta à mídia conservadora do sudeste, parece não ter sido muito bem incorporada pelos cearenses, especialmente a classe média. Sem contar aquele papo do Elmano do voto popular contra o voto de rico: quando o Lula juntou os dois ele venceu, ao contrário sempre perdeu.

Os Gomes apontam uma sobrevivência política além do “migrante” Tasso Jereissati. Mesmo que o velho Senador Jereissati explique um pouco o Tasso, não foi por ele que o filho foi o que foi na política cearense, o momento histórico era outro. Já os Gomes têm o pulso da velha oligarquia cearense: sabem dominar os sertões e de vez em quando acertam na capital. A capital cearense continua rebelde, mas é preciso saber somar a rebeldia e com o estilo “gostosona” o foco se desviou. Nem sempre boas obras são suficientes para vencer eleições. Podem ser boas para certas áreas de cidade, mas não serem para o conjunto.

O futuro da família Gomes no Estado é promissor. Especialmente em razão que nenhuma força política nova se inventa no estado. Nenhuma região tem peso político para modificar nada, nem mesmo alguns municípios da região metropolitana. É muito provável que a próxima eleição de Governador se tenha um “poste” dos Gomes, maquiado como um bom gestor, para garantir o poder da família.

Onde surgir uma força nova? Leva algum tempo, até os Gomes ao vencerem várias prefeituras pelo interior representaram o novo. Uma indicação: o velho PMDB cearense, incluindo Eunício Oliveira é o velho a ser superado e não consegue ser uma alternativa a rigor.

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sábado, 27 de outubro de 2012

Sentados em um Banco da Orla Bardot - José do Vale Pinheiro Feitosa


Sentados em um banco da Orla Bardot. Uma brisa para os nossos padrões de litoral cearense quase gelada. Apesar do adiantado do mês de outubro, de dias de sol e a temperatura tropical, mas a brisa do Mar da Armação de Búzios tem alguma memória dos pinguins que descem por estas correntes enlouquecidas do Atlântico Sul.

À nossa frente uma passarela estreita da Globalização da cultura. Enquanto as luzes do brutal crescimento de Búzios dobram vinte vezes ao longo das largas enseadas que afinam para formar aquela flor sextavada do seu litoral. O cume daquele desvelo demográfico é aquele rosário imenso, de pequeníssimas pérolas iluminadas ao longo do que ante fora um segmento deste quase infinito que é hoje Barra de São João e depois Rio das Ostras.

Vozes argentinas, um castelhano com ritmo de tango. Italianos exuberantes com suas ragazza como saltando de uma canção de San Remo. Vozes em Francês. O Inglês por certo. Alemão. E que mais vozes que de estranhas línguas parecem nórdicas e outras que nem memória existe para encontrar sequer um norte geográfico para elas.

As ruas de Búzios são como alamedas de um Shopping Center. Mais de onze horas todas as lojas estão aberta e o footing nas artérias do centro parece assim como o sol da meia noite que nunca se esconde. Foi na Manoel de Farias, outra alameda de shopping paralela à Rua das Pedras que alguém nos ofereceu Arepa. Uma comida tipicamente colombiana: uma tortilha de milho seco, não frita, assada como pizza e com recheio. Era uma comida agradável, mas não é dela que vem a nota.

A mulher que fez a propaganda e nos atraiu ao restaurante, é mineira, casada com um colombiano ambos vindos dos EUA onde moraram 15 anos. Ela tem um sotaque não tão intenso, mas o suficiente para se perceber, de sua longa estadia americana. Veio para Búzios com o marido colombiano, ambos latinos na marcha globalizada, como os EUA não dão mais, por aqui estão.

Mas retornando à Orla Bardot onde nos encontramos. Estamos rigorosamente calçada da Praia do Canto, em frente à Ilha Caboclo e próximo da Praia da Armação. E chama-se por que Brigite Bardot, símbolo sexual francês dos anos 50 e 60 passou uns quinze dias naquilo que era uma vila de pescadores, hospedando-se numa casa de pescador, mas ficou desapercebida da população local.

Acontece que os grandes jornais, revistas e a televisão nascente na época transformaram aquele evento fortuito numa propaganda de “jet set international” e assim a neoplasia globalizada se espalhou. Foram tantas metástase naquele mundo que vi ainda quase primitiva nos anos 70 que hoje é orla Bardot. O quê isso significa? Nada! As pessoas tiram fotos numa estátua de bronze que seria a Brigite, mas poderia ser uma jovem qualquer do mesmo modo que abraçam a estátua de Juscelino Kubitschek mais adiante e nem sabem de quem se trata.

E foi aí que me lembrei das nossas linguagens: andar de pés, andar de cavalo. Esse montar de banda as nossas preposições. Mas afinal quem mandou desde então decorar e apenas decorar as palavras quando o segredo se encontrava no conceito.

Enquanto os passos alegres do mundo globalizado passam na minha mente se locomoviam: par, per, perante, por....E Tereza tem mais: a, ante, até, após....A este decoreba das preposições.    
     

Tudofel: Carregando um balaio de cultura na cacunda

Tudofel: Carregando um balaio de cultura na cacunda: A música pop brasileira conheceu em 1994 uma agradável novidade, o lançamento do disco Da lama ao caos, da banda recifence Chico Scie...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A irresponsabilidade do decano



(Enviado por luisnassif, sex, 26/10/2012 - 09:25 (Autor: Luis Nassif)

Há duas maneiras dos Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) se manifestarem: uma, através dos autos; outras, através de manifestações extra-autos.
No primeiro caso, preserva-se a liturgia do cargo e até se pode disfarçar preferências, preconceitos e ideologia através das escolhas doutrinárias. A profusão de citações oculta ao leigo a enorme dose de subjetividade que permeia julgamentos.
Quando os magistrados enveredam pelo caminho da exposição pública e se permitem manifestar preferências políticas, o jogo muda. A toga vira ornamento vestindo o ego de uma celebridade. E o magistrado se expõe ao olhar público, como qualquer celebridade.
Sem o manto solene da toga, há muito a se reparar na personalidade de cada um: na falta absoluta de civilidade de Joaquim Barbosa, nos episódios controvertidos de Gilmar Mendes (que protagonizou uma possível fraude, com o senador cassado Demóstenes Torres, no episódio do "grampo sem áudio"), nas decisões sempre polêmicas de Marco Aurélio Mello, na submissão total de Ayres Britto aos clamores da mídia.
Mas nada se equipara à irresponsabilidade institucional do Ministro Celso de Mello, decano do STF.
O Ministro cumpriu carreira típica de servidor público qualificado. Primeiro, foi Procurador do Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo. Com reputação consolidada, foi guindado ao cargo influente de principal assessor jurídico do controvertidíssimo Consultor Geral da República do governo Sarney,  Saulo Ramos.
Ainda estão por serem reveladas as peripécias de Saulo à frente da consultoria e, depois, como Ministro da Justiça do governo Sarney. Foram muitas, desde a mudança do decreto do Plano Cruzado, visando dar sobrevida à indústria da liquidação extrajudicial, até o parecer conferindo direito aos investidores de títulos da dívida pública de receberem a correção monetária integral de um ano de congelamento, mesmo que tivessem adquirido o título na véspera do descongelamento.
Celso era o grande filtro técnico, o especialista capaz de dar vestimenta técnica às teses mais esdrúxulas de Saulo. A Saulo, Celso serviu. E, como recompensa, ganhou a indicação para Ministro do STF.
Há toda uma hierarquia no serviço público na qual poderosos de hoje dependeram de favores dos antigos poderosos de ontem.
Até aí tudo normal. Não consta, em sua longa carreira, que o decano Celso de Mello tenha desmerecido a instituição para o qual foi indicado, mesmo levando-se em conta a qualidade dos seus padrinhos.
A grande questão é a maneira como ele, do alto da posição de decano do STF, está conduzindo suas declarações políticas. É de uma irresponsabilidade institucional mais adequada a um jovem carbonário do que a um decano.
Não se discutem as penas. Isso é prerrogativa do Magistrado. O que se discutem são as manifestações políticas inadmissíveis para quem representa o Supremo e a subordinação à segunda pior forma de pressão: o clamor da mídia (a primeira é a pressão do Estado).
Há uma grande chaga na política brasileira: as formas de cooptação de partidos políticos. E duas maneiras de combatê-la: entendendo-a como um problema sistêmico ou focando em apenas um partido.
Ao investir contra os "mensaleiros" com um rigor inédito, o STF desperta duas leituras: a benéfica, é o da necessidade da punição exemplar do episódio para extirpar sua prática da vida política nacional; a segunda, a de que seu rigor se limitará a esse julgamento, não aos próximos. Contra a imagem de isenção da corte tem-se a maneira como indícios foram transformados em provas. E tem-se o modo como o STF mudou a jurisprudência até então em vigor.
Há duas linhas de análise dos crimes das chamadas organizações criminosas. Uma - a "garantista" - exige a apresentação de provas objetivas para a condenação. Outra sustenta que, devido à complexidade das organizações, os julgamento podem se basear apenas em evidências. Até então, o STF adotava a primeira linha doutrinária, que beneficiava criminosos de “colarinho branco”. A partir do "mensalão", passou a adotar a segunda.
Não será fácil conquistar a aura de poder severo com todos os crimes. Na mesma semana do mensalão, por exemplo, o Ministro Marco Aurélio Mello concedeu habeas corpus a um vereador carioca suspeito de chefia uma gangue de milicianos. No episódio Satiagraha, o STF, quase por unanimidade, acolheu a agressividade ímpar do Ministro Gilmar Mendes e concedeu liminar a um banqueiro cujos lugares-tenentes foram flagrados tentando subornar um Policial Federal.
O Ministro Marco Aurélio concedeu um habeas corpus a Salvatore Cacciola que, nos poucos dias antes de ser derrubado, permitiu a fuga do ex-banqueiro. No momento, a Operação Satiagraha está parada no STJ, apesar dos esforços do Ministério Público Federal. No caso do chamado “mensalão mineiro”, segundo o próprio Joaquim Barbosa, foram os demais Ministros que aceitaram o desmembramento da ação, ao contrário do “mensalão do PT”.
Só no próximo julgamento se saberá se o STF é isento ou discricionário. No entanto, a discricionariedade de Celso de Mello se manifesta antecipada e gratuitamente no campo das manifestações políticas, com um desapreço pelo sistema Republicano de causar inveja aos juízes da ditadura. Não se limitou a condenar o cooptação dos partidos mediante pagamento. Condenou como ditatorial o próprio instituto das coligações partidárias, peça central de governabilidade no país.
Sabendo ser generalizada a prática de cooptação, os financiamentos obscuros de campanha, em vez de uma crítica geral à prática – até como sinal de que outras infrações receberão o mesmo tratamento - chegou ao cúmulo de comparar um partido político ao PCC.  O que pretende com isso? Criar uma situação de esgarçamento político com o Executivo? Colocar o STF a serviço de um partido? Dar razão aos críticos que duvidam da isenção do tribunal?

Tudofel: No tempo dos festivais

Tudofel: No tempo dos festivais:   Qual o cratense com mais de quarenta anos que não tem uma lembrança, mesmo que tênue, dos festivais de música que aconteceram no ...

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A Faca e a Bainha



O Coronel Sinfrônio Arnaud era sério que só um touro mijando. Homem de uma só palavra, volta-seca e positivo como um pólo de bateria, sempre foi respeitadíssimo em Matozinho. Trazia aquela sistemática do berço. Ainda menino, entrou na cozinha de casa e, desavisadamente, encostou o cotovelo numa caçarola quente, queimando-o.  A mãe saltou de lá com um “bem-feito ! Naõ sei o que é que quer menino em cozinha!” . O menino Arnaud , ainda com rosto de sofrimento, rebateu : “Nem eu !” Já beirava os oitenta e, desde aquele dia, nunca mais na vida entrou numa cozinha. Fazia muitas vezes os percursos mais oblíquos, mas mantinha a decisão tomada na infância. Quando perguntavam a razão de aquela opinião perdurar por tantos anos, dizia :
                                               --- Não é nada,  não! Me dá sobrosso !
                                               Arnaud pôs no mundo uma récua de treze filhos e, como sempre acontece, alguns terminaram lhe trazendo dor de cabeça. Viviam em tempos menos rígidos, onde as amarras da moralidade já tinham se esfacelado e terminaram por colidir com as leis inflexíveis do pai. Sinfrônio fechou-se como pequi verde , ignorou-os  e, pior,  fingiu que não existiam. Não mais quis saber deles, sequer mencionava seus nomes em conversas informais e quando alguém os citava , perguntava :
                                               --- Quem ? Afrodízio ? Isabel?  Conheço , não senhor ! É daqui de Matozinho ?
                                               Um compadre seu, preocupou-se. Arnaud , por último, já negava a existência de cinco filhos. Dizia, sempre: “Cortei um dedo ! Não quero mais saber!” O compadre procurou o amigo e, usando da amizade que os unia há tantos anos, pediu a Sinfrônio que abrandasse o coração, reconsiderasse, não havia condições de afastar-se de tantos rebentos como ele vinha fazendo,  Cinco dedos cortados ! Pediu para servir de intermediário na reaproximação, os tempos eram outros e filho é assim mesmo , um criatório difícil e sem futuro. O Coronel, no entanto, deu o maior pulo:
                                               --- Não sei que loucura é essa que você tá falando, compadre. Eu só tenho oito filhos, não sei quem são esses outros aí,  não ! Eu já tô conformado mesmo, de tanto arrancar dedo, vou terminar cotó !
                                               Homem vivido, com um Código de Ética tão rígido, Sinfrônio terminou por se tornar uma espécie de conselheiro das novas gerações. Qualquer emboança em Matozinho e cercanias,  terminavam batendo à porta do Coronel para pedir sua abalizada opinião. Os interessados geralmente faziam um minucioso relato da sinuca de bico por que estavam passando e , logo depois, vinham as questões inevitáveis : Mato ou não mato ? Caso ou não caso ? Capo ou não capo ? 
                                               Pois bem, naquele dia, ainda cedinho, bateu à porta de Sinfrônio, um tal de Bartolomeu Calangro, vindo de Bertioga. Apeou-se, gritou um “ô de casa” característico e aguardou  a vinda da velha empregada da casa. Solicitada a audiência, foi endereçado aos fundos  , onde  encontrou o Coronel sentado, fazendo palitos de marmeleiro. Identificou-se e, então, desfiou seu problema :
                                               --- Coronel, vim aqui pedir sua opinião num caso chato que me aconteceu. Tenho uma filha chamada Filismina , tá com uns vinte anos, naquela idade agoniada que fica parecendo rolinha em galho de jurema, saltando de um lado pro outro com medo de tiro de espingarda.  Pois bem , caiu de namoro com um cabra sem futuro lá de Bertioga, desses que vivem com um violão embaixo do braço e um disco de Roberto Carlos debaixo do outro, prá cima e prá baixo. Pressionei de um lado, a mãe arrochou do outro, mas de nada adiantou: aí é que o namoro pegou fogo. Ontem vieram me contar que o safado ofendeu ela. Ela cresceu os peitos, anda vomitando pelos cantos, acho que tá buchuda. Ele diz que quer casar. Resolvi matar o sem-vergonha e lavar a honra da casa. Mas antes, resolvi vir falar com o senhor ! Me diga aí, eu num tô certo ?
                                               Sinfrônio ouviu com atenção de psicanalista o relato de Bartolomeu. Com tanto desmantelo mundo afora, vinha ficando especialista, nos últimos anos, na especialidade de descabaçamento de donzela. Ao invés de emitir a opinião abalizada, estranhamente, o Coronel voltou-se para o cliente e perguntou:
                                               --- Bartolomeu, você tem uma faca aí ?
                                               Calangro estranhou, mas , que jeito ?  Arrastou do vazio uma lambedeira de doze polegadas e estirou na direção de Arnaud:
                                               --- Tenho, sim ! Taqui, coronel !
                                               Sinfrônio desembainhou a jardineira , tomou a bainha nas mãos e devolveu a facona a Bartolomeu.
                                               --- Agora, Bartolomeu, eu quero que você embainhe essa faca aí nessa bainha que está aqui na minha mão.
                                               Calangro não entendeu nada. Imaginou que o coronel estava tresvariando. Mesmo assim seguiu sua ordem. Levou a faca até  a bainha que estava na mão do coronel, só que à medida que aproximava a lâmina, Sinfrônio mudava subitamente a posição da bainha, ora pra baixo, ora pra cima, ora de lado. Ficaram nessa luta por uns cinco minutos, até que Bartolomeu desistiu:
                                               --- Não Coronel, desse jeito não tem que embainhe faca não, o senhor num para num canto, é só mexendo a bainha pra lá e pra cá...
                                               Sinfrônio, então, matou uma charada , até então insolúvel :
                                               --- Tá vendo , Bartolomeu ? Se a bainha não quiser,  a faca não entra! Filismina gostou do movimento, ficou paradinha danada !  E você quer fazer uma besteira dessas  ? Mata o pai do seu neto, vai preso, a família vai ficar desamparada e o pior de tudo, agora que a bainha de Filismina tá acostumadinha, num pode viver sem a faca , não, homem de Deus ! Sem o  noivo não vão faltar outras facas, facões, canivetes e quicés...

J. Flávio Vieira