sábado, 13 de julho de 2013

A Praça Deserta - José do Vale Pinheiro Feitosa

E lá venho em meu caráter renitente a esse banco vazio de uma praça da minha cidade. É noite de sábado, mas em minuto algum desta noite ela se encheu de gente como no passado.

Estão todos no Facebook, em frente às telas iluminadas das televisões, deixando vazios um, dois, três, quase todos bancos e apenas um ocupado, esse em que me sento.

Mas venho com esperança do humano. Não me falem em passado e nem em futuro. Basta ser vivo para ser presente. Acho um horror aquela frase que diz ser o jovem o futuro. Conversa de conservador querendo guardar seu privilégio de há muito que domina.

E venho como aquele personagem da canção do Milton Nascimento que todos os dias vem esperar o trem que nunca passa. Mas enquanto solitário nesta noite de sábado, o silêncio me faz ouvir o clic das pequenas sementes pretas que caem do cimo das palmas que adornam a praça sobre o mosaico do seu piso.

Um Crato inteiro sumiu desta praça. Entrou profundamente dentro das furnas onde se comunica com o mundo todo, menos com a praça. Talvez resguardando seus peitos de balas das armas apontadas que lhes surrupiam os objetos de valor. Até os tênis de marca. Como se as armas não ultrapassem os portais das furnas.

E por isso meu caráter renitente. Vim à solidão da praça esquecida. Do esquecimento que a praça tem de gente. A amnésia das estrelas que já não enxergam os dedos que lhes contavam. A lua que olvidou todas as pessoas sumidas.


Vim para solidão para não esquecer de ninguém. Ninguém que nesta praça não se encontra.  

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