terça-feira, 16 de julho de 2013

O Casamento da Senhora Baratinha - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quem quer casar com a senhora baratinha
Que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha
É carinhosa e quem com ela quiser se casar
Terá doces todo dia, no almoço e no jantar.

O genial Braguinha pegou esta música de domínio público, deu-lhe uma letra memorável que muitas crianças pelo Brasil cantaram e ainda cantam. Mas na semana que passou outra Baratinha casou-se, no Copacabana Palace, o mais palácio de todos os palácios da burguesia brasileira. A filha do magnata dos ônibus, Jacob Barata que tem concessões desde o Amazonas até o Rio e que pelo que consta é sócio de Chiquinho Feitosa, o mais próspero magnata dos ônibus mui confortáveis das ruas de Fortaleza e seus subúrbios.

Foi uma festa digna de encher as revistas de consultórios e cabelereiros, uma festa apropriada ao exibicionismo dos riquíssimos cearenses que tão bem o afiadíssimo Jáder de Carvalho estripou em seu livro denúncia intitulado Aldeota. Enquanto as ruas de Fortaleza e das cidades cearenses cruzam com um dos maiores índices de violência eis o que disse a colunista social Hildegard Angel sobre a vestimenta das madames presentes à festa.

“Todo esse décor (ela falava da deslumbrante decoração dos salões) serviu de cenário à mais fantástica coleção de vestidos jamais reunida numa festa no Rio de Janeiro. Esta a opinião que ouvi de vários que lá estiveram, quer como convidados, quer prestando serviço ao evento. Um especialista em moda, que pediu para não ser identificado, falou: Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes como nessa festa. E de gente que ninguém conhece. Acredita-se que grande maioria das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura, grandes marcas, fosse de convidados do Ceará, que ocuparam vários apartamentos no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.”

E a “ocupação” se deveu a duas manifestações que cercarem o grande baile da corte: uma na igreja e outra em frente ao Copacabana Palace. Na igreja enquanto o padre celebrava o enlace, a gritaria vinda de fora ressoava no vão celestial da santa cerimônia. A saída de noivos e convidados foi na base da porrada: policiais e seguranças às cacetadas e cotoveladas enquanto o povo rebelado gritava no mínimo que o noivo iria broxar.

Um destaque da festa foi o padrinho dos noivos: Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Logo a maldade levanta na rede uma série de processos que tiveram o dedo do ministro que se originavam na família Barata. Mas a razão é mais familiar: Chiquinho Filho, é filho de Chiquinho que é irmão de Guiomar mulher de Gilmar. Chiquinho Feitosa, o pai, também teve um pai. Que foi Carlos Albuquerque, nascido na localidade de Jardim na cidade de Paracuru. Temos duas derivativas dessa história: Carlos Albuquerque para melhorar de vida migrou para Tauá. Lá montou um grande armazém e se envolveu no assassinato da primeira mulher por “questões de honra” como se dizia antigamente. Mas casou-se com uma filha de uma das matriarcas dos Inhamuns.

O pai de Carlos Albuquerque, conta uma lenda, que deve ser lenda, embora toda a Paracuru acredite nela. Consta que um navio carregado de fardos de borracha navegava próximo à costa da cidade e foi bombardeado por submarino alemão. Os fardos de borracha se espalharam nas correntezas do mar. O pai de Carlos Albuquerque, que tinha barcos de pesca, navegou em busca dos fardos, além de estimular os jangadeiros da cidade a arrastá-los até a costa que ele os compraria. Seria esse o nicho ecológico desse imenso capital.

Mas fardo pesado quem vivenciou mesmo foram seu bisneto e convidados do seu casamento com Beatriz Barata. Filha de Jacob Barata. Não adiantou que um dos três salões da frente do Copacabana Palace fosse destinado a ser o Salão de Doces como bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana Guinle, chocolates de Fabiana D´Angelo, chá, café, brownies. O chamapagne era Veuve Clicquot e garrafas de Black Label eram virais no copo que o desejasse. Vários bares de caipirinha, saquê e assim por diante. O bolo de Regina Rodrigues em vários andares numa brancura de fazer inveja aos mais puros anjos.

O buffet foi do Copacabana Palace, distribuído em vários salões e varandas, mesas de frios, pratos quentes e o cerimonial de Ricardo Stambowsky e fotos de Ribinhas. Não sei nada disso.  Tudo foi copiado da nota de Hildegard Angel.

E o povo na rua assistindo a todo tipo de desprezo com a dor dos outros, a mobilidade urbana, o baixo salário, fome e a miséria. Uma das evidências foi que nesse dia a Lei Seca não funcionou para o convidados mamados que pegavam seus carrões. O povo na rua gritando, vaiando e os convidados lá de cima esnobando suas posições. Jogavam notas de vinte reais, salgadinhos até que um parente da noiva jogou um cinzeiro que feriu um manifestante e aí a OAB entrou no circuito e parece que alguma punição haverá.

Mas a linda festa da Baratinha terminou mesmo foi com a polícia de choque com gases lacrimogêneos, spray de pimenta, balas de borracha, prisões e pancadaria. No povo da rua. Naqueles que até vivem na zona sul mas têm horror a este exibicionismo de bilionários que insultam o povo.

Na manhã seguinte um dos manifestantes da zona sul foi abrir a porta para sua faxineira que viajara quatro horas nos miseráveis ônibus do pai da Senhora Baratinha. Nem só de fora Dilma as manifestações vivem. Parece que alguma consciência de classe também entra nesta dispersa agenda dos movimentos de rua pelo mundo todo e aqui nas ruas brasileiras.  

Ps. Hildegard Angel é uma das últimas remanescentes do colunismo social à moda antiga. Mas tem uma matriz dolorida em sua vida: o irmão Stuart Angel foi preso e assassinado na Ditadura Militar e a mãe Zuzu Angel sofreu uma morte suspeita de ter sido provocada enquanto investigava a morte do filho. No texto dela, em seu blog, ela toma o pulso desta luta de classe nas ruas do Brasil







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