Quem
quer casar com a senhora baratinha
Que
tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha
É
carinhosa e quem com ela quiser se casar
Terá
doces todo dia, no almoço e no jantar.
O
genial Braguinha pegou esta música de domínio público, deu-lhe uma letra memorável
que muitas crianças pelo Brasil cantaram e ainda cantam. Mas na semana que passou
outra Baratinha casou-se, no Copacabana Palace, o mais palácio de todos os
palácios da burguesia brasileira. A filha do magnata dos ônibus, Jacob Barata
que tem concessões desde o Amazonas até o Rio e que pelo que consta é sócio de
Chiquinho Feitosa, o mais próspero magnata dos ônibus mui confortáveis das ruas
de Fortaleza e seus subúrbios.
Foi
uma festa digna de encher as revistas de consultórios e cabelereiros, uma festa
apropriada ao exibicionismo dos riquíssimos cearenses que tão bem o afiadíssimo
Jáder de Carvalho estripou em seu livro denúncia intitulado Aldeota. Enquanto
as ruas de Fortaleza e das cidades cearenses cruzam com um dos maiores índices
de violência eis o que disse a colunista social Hildegard Angel sobre a
vestimenta das madames presentes à festa.
“Todo
esse décor (ela falava da deslumbrante decoração dos salões) serviu de cenário
à mais fantástica coleção de vestidos jamais reunida numa festa no Rio de
Janeiro. Esta a opinião que ouvi de vários que lá estiveram, quer como
convidados, quer prestando serviço ao evento. Um especialista em moda, que
pediu para não ser identificado, falou: Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes
como nessa festa. E de gente que ninguém conhece. Acredita-se que grande
maioria das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura,
grandes marcas, fosse de convidados do Ceará, que ocuparam vários apartamentos
no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.”
E
a “ocupação” se deveu a duas manifestações que cercarem o grande baile da
corte: uma na igreja e outra em frente ao Copacabana Palace. Na igreja enquanto
o padre celebrava o enlace, a gritaria vinda de fora ressoava no vão celestial
da santa cerimônia. A saída de noivos e convidados foi na base da porrada:
policiais e seguranças às cacetadas e cotoveladas enquanto o povo rebelado
gritava no mínimo que o noivo iria broxar.
Um
destaque da festa foi o padrinho dos noivos: Ministro do Supremo Tribunal
Federal Gilmar Mendes. Logo a maldade levanta na rede uma série de processos
que tiveram o dedo do ministro que se originavam na família Barata. Mas a razão
é mais familiar: Chiquinho Filho, é filho de Chiquinho que é irmão de Guiomar
mulher de Gilmar. Chiquinho Feitosa, o pai, também teve um pai. Que foi Carlos
Albuquerque, nascido na localidade de Jardim na cidade de Paracuru. Temos duas
derivativas dessa história: Carlos Albuquerque para melhorar de vida migrou
para Tauá. Lá montou um grande armazém e se envolveu no assassinato da primeira
mulher por “questões de honra” como se dizia antigamente. Mas casou-se com uma
filha de uma das matriarcas dos Inhamuns.
O
pai de Carlos Albuquerque, conta uma lenda, que deve ser lenda, embora toda a
Paracuru acredite nela. Consta que um navio carregado de fardos de borracha
navegava próximo à costa da cidade e foi bombardeado por submarino alemão. Os
fardos de borracha se espalharam nas correntezas do mar. O pai de Carlos
Albuquerque, que tinha barcos de pesca, navegou em busca dos fardos, além de estimular
os jangadeiros da cidade a arrastá-los até a costa que ele os compraria. Seria
esse o nicho ecológico desse imenso capital.
Mas
fardo pesado quem vivenciou mesmo foram seu bisneto e convidados do seu
casamento com Beatriz Barata. Filha de Jacob Barata. Não adiantou que um dos
três salões da frente do Copacabana Palace fosse destinado a ser o Salão de
Doces como bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana Guinle, chocolates
de Fabiana D´Angelo, chá, café, brownies. O chamapagne era Veuve Clicquot e
garrafas de Black Label eram virais no copo que o desejasse. Vários bares de
caipirinha, saquê e assim por diante. O bolo de Regina Rodrigues em vários
andares numa brancura de fazer inveja aos mais puros anjos.
O
buffet foi do Copacabana Palace, distribuído em vários salões e varandas, mesas
de frios, pratos quentes e o cerimonial de Ricardo Stambowsky e fotos de
Ribinhas. Não sei nada disso. Tudo foi
copiado da nota de Hildegard Angel.
E
o povo na rua assistindo a todo tipo de desprezo com a dor dos outros, a
mobilidade urbana, o baixo salário, fome e a miséria. Uma das evidências foi
que nesse dia a Lei Seca não funcionou para o convidados mamados que pegavam
seus carrões. O povo na rua gritando, vaiando e os convidados lá de cima
esnobando suas posições. Jogavam notas de vinte reais, salgadinhos até que um
parente da noiva jogou um cinzeiro que feriu um manifestante e aí a OAB entrou
no circuito e parece que alguma punição haverá.
Mas
a linda festa da Baratinha terminou mesmo foi com a polícia de choque com gases
lacrimogêneos, spray de pimenta, balas de borracha, prisões e pancadaria. No
povo da rua. Naqueles que até vivem na zona sul mas têm horror a este
exibicionismo de bilionários que insultam o povo.
Na
manhã seguinte um dos manifestantes da zona sul foi abrir a porta para sua
faxineira que viajara quatro horas nos miseráveis ônibus do pai da Senhora
Baratinha. Nem só de fora Dilma as manifestações vivem. Parece que alguma
consciência de classe também entra nesta dispersa agenda dos movimentos de rua
pelo mundo todo e aqui nas ruas brasileiras.
Ps.
Hildegard Angel é uma das últimas remanescentes do colunismo social à moda
antiga. Mas tem uma matriz dolorida em sua vida: o irmão Stuart Angel foi preso
e assassinado na Ditadura Militar e a mãe Zuzu Angel sofreu uma morte suspeita
de ter sido provocada enquanto investigava a morte do filho. No texto dela, em
seu blog, ela toma o pulso desta luta de classe nas ruas do Brasil
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