quinta-feira, 28 de novembro de 2013

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O "piscinão" - José Nilton Mariano Saraiva

Esses políticos brasileiros não têm mesmo jeito. Rubens Ricupero, Ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco, durante o intervalo da gravação de uma entrevista, sem saber que o microfone se achava aberto, confidenciou ao repórter global Carlos Monfort (seu  primo) não ter mesmo nenhum escrúpulo: se a notícia fosse boa, divulgava e, se não (se fosse má) jogava pra debaixo do tapete. Como as “parabólicas da vida” captaram a sua fala, de repente metade do mundo e mais a outra banda tomou conhecimento e, assim, o metido a esperto acabou por perder o emprego.

Agora temos aí o pseudo-valentão Ciro Gomes, que tomou de conta do Governo do irmão e literalmente se autonomeou Secretário de Saúde do Estado; e chegou fazendo uma zoada danada, ao anunciar que em 90 dias acabaria com o tal “piscinão” do Hospital Geral de Fortaleza (para os que não sabem, “piscinão” é como ficou conhecido o local, localizado no térreo daquele hospital, e onde, por falta de leitos, os doentes eram amontoados em macas, no chão, nos banheiros e por aí vai).

Pois bem, de repente o “piscinão” secou. Num instante, como num passe de mágica, os doentes e agregados sumiram do local e isso logo foi divulgado como se fora a marca da eficácia e eficiência do gestor Ciro Gomes que, recém-chegado, já resolvera o problema, que perdurara anos.  Tanto que a área do antigo “piscinão” agora era um imenso vazio.

Mas, como a mentira tem pernas curtas, algum repórter bisbilhoteiro descobriu que o “piscinão” ressurgiu no segundo andar do mesmo edifício; ou seja, dando uma de malandro, o referido senhor mostrou a área do “piscinão” desocupada, mas esqueceu de informar que seus ocupantes apenas tinham sido transferidos, acomodados ou realocados dois andares acima, longe dos holofotes.


E aí, para não melindrar o nobre Secretário de Saúde, apenas se trocou a palavra “piscinão” por “varandão”, já que localizado num andar superior.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Lilliput



J. FLÁVIO VIEIRA

                                            
   O mundo de Madalena era minúsculo. As fronteiras percorriam-se facilmente sem  atropelos. O centro do universo brotava no pequeno sítio onde vivia e estendia-se , quando muito, À pequenina vila onde, religiosamente, ia aos domingos fazer a feira. A cidade enchia-lhe o coração de um certo travo, como se alcançasse a mordida final da polpa do caju. Tudo ali lhe parecia desproporcional e barulhento:  o nanico arruado cintilava-lhe aos olhos como a metrópole , a capital do seu mundo prenhe  dos hipnotizantes avanços tecnológicos : a luz elétrica, o calçamento tosco ( para ela ladrilhado com pedrinhas de brilhante), a praça, a igrejinha. Todo domingo chocava-se o mundo minimalista de  Madalena com a aparente grandiosidade  da Vila, dir-se-ia Gulliver saindo de Liliput e adentrando os portais de Brobdingnag.
                                    Como não se emprenhar  da pequenez do planeta, visto através do translúcido filtro do sítio ? Para o pinto  os horizontes  não terminam na casca do ovo ? Ali, a lua cheia beijava-lhe o terreiro em reverência quase que religiosa. As estrelas refletidas na lâmina do açude podiam ser bebidas com a concha das mãos e o sol , onipresente, morava no quarto da frente, envolto no seu cobertor de fogo e de luz. Até o outro mundo percebia-se convidativo ,ali defronte,  num cemiteriozinho improvisado, perto da casa, com suas cruzes tronchas e suas flores murchas. Talvez, por isso mesmo, a vila saltava-lhe aos olhos como um estorvo, uma outra longínqua galáxia.
                                   Madalena ouvia, vez por outra, falar de terras estranhas e distantes. Recife, Rio, São Paulo...Na sua escala, no entanto, não deviam ser locais tão remotos. O Oiapoque terminava no pequizeiro defronte da casinha de taipa e o Chuí iniciava-se longo adiante , no fim do quintal.  Os feirantes , vorazes engolidores de estrada, falavam das terríveis e penosas viagens a muitas lonjuras. Madalena, no entanto, assegurava-os, alimentando o riso de muitos, que atrás de sua casa tinha uma veredazinha que era pertinho de todo canto deste mundão de meu Deus. Na feira, o povo mangava daquela pretensão, daquele portal particular da roceira e apelidaram a vereda de : “Caminho de  Madalena”. Queriam que algum fazedor de mandado se apressasse?  Sapecavam:
                                   --- Vá pelo Caminho de Madalena, viu  ?
                                   Se alguma pessoa chegava atrasado num trato, a pergunta fazia-se inevitável :
                                   --- Por que não veio pelo caminho de Madalena ?
                                   Diferentemente de Liliput, no entanto, aos olhos de Madalena era o mundo que se revelava microscópico e não as pessoas. Os homens e as mulheres desnudavam-se enormes  e coloridas talvez como um contraste natural ao opaco-cinza do restante da aquarela. Os sonhos, também, tantas e tantas vezes, trespassavam    as fronteiras daquele mundinho, a contragosto da sonhadora, e deslindavam-se para além  dos limites extremos do pequizeiro e do quintal  fazendo-se palco mais que suficiente para o enredo de uma vida.  E aos poucos se ia aprendendo que nas muitas viagens,  físicas e sentimentais,  empreendidas na existência, nesta contínua corrida de obstáculos ,  pode-se buscar, sempre,  um atalho menos penoso, uma via mais expressa: um Caminho de Madalena.

Crato, 22/11/13

Namore um "barrigudinho" (transcrição)

Tenho um conselho valioso para dar aqui: se você acabou de conhecer um rapaz, ficou com ele algumas vezes e já estar começando a imaginar o dia do seu casamento e o nome dos seus filhos, pare agora e me escute. Na próxima vez que encontrá-lo, tente disfarçar, tente descobrir como é sua barriga. Se for musculosa, torneada, estilo `tanquinho´, fuja!  Comece a correr agora e só pare quando estiver a uma distância segura. É fria, vai por mim. Homem bom de verdade precisa, obrigatoriamente, ostentar uma barriguinha de chopp. Se não, não presta. Estou me referindo àqueles que, por não colocarem a beleza física acima de tudo (como fazem os malditos metrossexuais), acabaram cultivando uma pancinha adorável. Esses, sim, são pra manter por perto. E eu digo por quê. Você nunca verá um homem barrigudinho tirando a camisa dentro de uma boate e dançando como um idiota, em cima do balcão. Se fizer isso, é pra fazer graça pra turma e provavelmente será engraçado, mesmo. Já os `tanquinhos´ farão isso esperando que todas as mulheres do recinto caiam de amores - e eu tenho dó das que caem. Quando sentam em um boteco, numa tarde de calor, adivinha o que os pançudos pedem pra beber? Cerveja! Ou coca-cola. Tudo bem também. Mas você nunca os verá pedindo suco. Ou, pior ainda, um copo com gelo, pra beber a mistura patética de vodka com `clight´ que trouxe de casa. E você não será informada sobre quantas calorias tem no seu copo de cerveja, porque eles não sabem e nem se importam com essa informação. E no quesito comida, os homens com barriguinha também não deixam a desejar. Você nunca irá ouvir um ah, amor, `Quarteirão´ é gostoso, mas você podia provar uma `McSalad´ com água de coco. Nunca! Esses homens entendem que, se eles não estão em forma perfeita o tempo todo, você também não precisa estar. Mais uma vez, repito: não é pra chegar ao exagero total e mamar leite condensado na lata todo dia! Mas uma gordurinha aqui e ali não matará um relacionamento. Se ele souber cozinhar, então, bingo! Encontrou a sorte grande, amiga. Ele vai fazer pra você todas as delícias que sabe, e nunca torcerá o nariz quando você repetir o prato. Pelo contrário, ficará feliz. Outra coisa fundamental: homens barrigudinhos são confortáveis! Experimente pegar a tábua de passar roupas e deitar em cima dela. Pois essa é a sensação de se deitar no peito de um musculoso besta. Terrível! Gostoso mesmo é se encaixar no ombro de um fofinho, isso que é conforto. E na hora de dormir de conchinha, então? Parece que a barriga se encaixa perfeitamente na nossa lombar, e fica sensacional. Homens com barriga não são metidos, nem prepotentes, nem donos do mundo. Eles sabem conquistar as mulheres por maneiras que excedem a barreira do físico. E eles aprenderam a conversar, a ser bem humorados, a usar o olhar e o sorriso pra conquistar. É por isso que eu digo que homens com barriguinha sabem fazer uma mulher feliz. CHEGA DE VIADAGEM!  O mundo inteiro sabe que quem gosta de homem bonito são os viados. Mulher quer homem inteligente, carinhoso e boa praça. Chega de ter a consciência pesada após beber aquela cervejinha, ou aquele vinho, e comer aqueles petiscos. Passe adiante para todos os barrigudos e simpatizantes.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Definição de "avô" (transcrição)

Um avô é um homem que não tem filhos, POR ISSO GOSTA DOS FILHOS DOS OUTROS. Os avôs não têm nada para fazer, a não ser estarem ali. Quando nos levam para passear, andam devagar e não pisam nas flores bonitas nem nas lagartas. Nunca dizem: “some daqui, agora não, vai dormir”. Normalmente são gordos, mas mesmo assim conseguem abotoar os nossos sapatos. Advinham sempre o que a gente pensa. Só eles sabem como ninguém a comida que a gente quer comer. Os avôs usam óculos e, às vezes, ATÉ CONSEGUEM TIRAR OS DENTES. Os avôs não precisam ir ao cabeleireiro, pois são carecas ou estão sempre com os cabelos arrumadinhos. Quando nos contam histórias nunca pulam partes e não se importam de contar a mesma história várias vezes. Os avôs são as únicas pessoas grandes que sempre têm tempo para nós. Não são tão fracos como dizem, APESAR DE MORREREM MAIS VEZES QUE NÓS.  Todas as pessoas devem fazer o possível pra ter um avô, ainda mais se não tiverem televisão.

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(Tomamos conhecimento que o Carlos Eduardo Esmeraldo recentemente se tornou avô, daí a transcrição dessa autentica “pérola”, de autoria de Ana Paula, menina de 8 anos, de Florianópolis-SC).

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O "recomeço" - José Nilton Mariano Saraiva

Pintor famoso, sessentão, aposentado, família constituída, estabilizado na vida, eis que, de repente, se vê tomado por um profundo desejo de “sumir do mapa”, dar um basta naquele vazio imenso e doído que, sem mais nem menos, dele se apoderou. “Depressão” e depressão da braba, que o leva até a adquirir uma arma visando acabar logo com aquilo – para, quem sabe ? - encontrar um pouco de sossego, paz. Na hora de apertar o gatilho, no entanto, reflui, não tem coragem de fazê-lo; e aí, resolve sair pelo mundo no rumo que a “venta” (nariz) apontar. Logo se põe na estrada, sem qualquer compromisso com horário ou destino, dia ou noite.

Numa parada momentânea, em meio a uma chuva torrencial, batidas no vidro do carro lhe revelam o rosto apreensivo de uma jovem, encharcada pela tempestade. Mesmo a contragosto, aceita dar-lhe carona, “pra qualquer lugar”, conforme lhe determina a nova companhia.

De pronto, à sisudez do sessentão deprimido, contrapõe-se o comportamento irrequieto e questionador daquela adolescente que poderia ser sua filha e que, aos poucos, paulatinamente, consegue fazê-lo “se abrir”. Contribui para tanto, o fato de também ela ter saído de casa, expulsa pela mãe e padrasto, e não saber (ou não ter) pra onde ir.

Ao contrário do que normalmente acontece em dramas análogos, aqui o “velho” não tenta aproveitar-se da “jovem” de 17 anos, belíssima e desamparada. Pelo contrário, aos poucos cria uma afeição paternal tão grande por ela, de tal forma que chega a enfrentar alguns marginais (de rifle em punho) que tentavam abusá-la.

No dia a dia, Marylou (esse o nome da jovem) inocentemente se sente à vontade para chamá-lo de “velho”, reclamar da “cafonice” das suas roupas e por aí vai. E ele, que ultimamente não suportava nem ouvir a voz da própria esposa, passivamente aceita tudo, no maior bom humor. Chega, até, a sorrir das trapalhadas em que ela se envolve (principalmente no quesito comida).

O divisor de água, no entanto, se dá quando ela (que pensava ser ele um “pintor de paredes”) vê alguns de seus trabalhos e, de tão impressionada, o estimula a “fazer mais”. Ela mesma, na praia, serve de modelo (bem comportada). E aí ele redescobre, na pintura, o prazer pela vida, sente que “está vivo”.

De repente, a notícia estampada no jornal, de que a mãe se encontra à beira da morte em razão das agressões do padrasto, leva a “jovem” a fazer o caminho de volta, na companhia, é claro, do “velho”. Que aproveita para reatar com a esposa.

Durante a longa permanência da mãe na UTI, pra não deixar Marylou desamparada, de comum acordo com a “revigorada” esposa, ele consegue na Justiça a “guarda” daquela menina que praticamente lhe trouxe de volta à vida.

No final, com a mãe restabelecida e o padrasto preso, os dois retornam às origens: numa despedida pra lá de dolorosa para os dois, tão grande a afeição nascida, Marylou volta pra casa da mãe; o “velho” (Taillandier é o seu nome) pra sua casa, sua família. Renascido, por uma menina que lhe trouxe de volta à vida e que, a partir de então, considerará sua filha.


Sem dúvida, “SEJAM MUITO BEM-VINDOS” é um cativante filme e digno de se ver.

sábado, 16 de novembro de 2013

"Quando brigam os elefantes as formigas é que pagam."

Comentários ouvi de que o prefeito Ronaldo em nada teria interferido sobre o não acontecimento da 15ª. Mostra Sesc Cariri de Cultura na cidade do Crato com a força das mostras anteriores.  A omissão também é um ato político! O que acontece ou deixa de acontecer na cidade, para o seu mal ou bem, tem a ver com o poder público. Afinal, votou-se no Prefeito ou no seu secretariado agora responsabilizado (interrogação). A nossa amiga (e competente) Dane – Secretária de Cultura- foi sacrificada injustamente. Sabe-se que tem gente sem escrúpulos querendo puxar seu tapete e até de olho na sua secretaria.  A “Mostra Sesc...”  não é tão somente uma festa, mas o momento especial de culminância das ações que se efetivam durante todo o ano. É uma celebração. Nesses quinze anos, avaliamos que pelo menos 1200 espetáculos das diversas mais regiões do país e de outros países desfilaram nos vários palcos da Mostra e considero que as produções caririenses (música, teatro, artes plásticas, audiovisual) também tiveram a importância merecida. O evento coloca o nosso território Cariri no mapa cultural do mundo. Avalio que, hoje, a Mostra SESC Cariri de Culturas tem o mesmo grau de importância que a ExpoCrato - para o Crato -, sendo que ela não se restringe tão apenas a uma cidade, ela se amplifica e se espalha por todo o Cariri (28 cidades).
Outra componente a se avaliar é a indisposição (disputa de espaço) entre o Prefeito (Ronaldo) e seu vice (Raimundo filho) aliado político do Gastão (FECOMÉRCIO). É provável que a radicalização de minguar a Mostra no Crato tenha sua gestação por esta motivação política. Em Assaré, o palco estava ocupado por aliados do Raimundo Filho e Gastão que têm projetos políticos identificados.
Perdemos feio para a inabilidade política dos gestores públicos!



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"Desnecessidade" - José Nilton Mariano Saraiva

Como não somos nenhum “murista”, meses atrás já havíamos nos manifestado aqui neste espaço sobre a “desnecessidade” de criação de novos municípios, via emancipação dos respectivos distritos. Na oportunidade, aludimos à falta de receitas da pretensa nova comuna, porquanto incapaz de cobrir suas despesas, de par com a divisão das verbas atualmente existentes entre os novos contemplados, ocasionando uma espécie de “socialização da pobreza”.

Agora, como estudos do Ministério da Fazenda concluíram que a “pancada” mensal no orçamento do governo seria da ordem de portentosos nove bilhões de reais se a “porteira fosse escancarada”, a Presidenta Dilma Rousseff, numa prova de responsabilidade extrema, houve por bem vetar em sua totalidade a lei que lhe houvera sido encaminhada pelo Legislativo, sobre o assunto.

Evidente que tal decisão gerou certo mal-estar da parte de alguns aliados do governo e, dúvidas não tenham, quando a poeira assentar (talvez às vésperas da eleição presidencial, próximo ano) nova investida será feita, de vez que há muito político carreirista tentando montar seu “curralzinho particular’ objetivando manter-se em evidência e, mui principalmente, mamar nas tetas do governo.


Alguém duvida ???

Ingrizias sebastianas



                      
J. Flávio Vieira

                        Mais de três anos sem cair um pinguinho sequer. Os poços do rio Paranaporã já tinham batido a piaba há mais de dez meses. Matozinho estava mais seca que língua de papagaio. De bicho de quatro pés só havia restado tamborete e de  avoador : pipa. Verde, na cidade, só se via em solenidade da prefeitura quando hasteavam o panteão nacional, mesmo assim era um verde velho desbotado mais puxado para cinza. Ah, havia, ainda, um outro raro remanescente  da antiga esperança : o  pano da sinuca do Bar do Godô. Quem chegasse de fora, ficaria encafifado como era possível sobreviver em meio àquela catástrofe. Não se lia, no entanto, nos olhos dos matozenses, nenhuma aflição descabida. Estavam acostumados ao ciclo natural das intempéries. Angustiavam-se quando viam os animais serem dizimamos, em série, pela fome e pela sede, mas lia-se ,no fundo das retinas,  um longínquo verde de esperança, cover daquele que um dia já havia engalonado as árvores e as vidas.
                                   Afonso Caititu morava no alto da Serra da Jurumenha nas cercanias de Matozinho, uns quatro a cinco quilômetros mais perto do céu. Nos últimos dias, havia procedido ao inventário final pós hecatombe. O que restava ainda para se desfazer e transformar em víveres ? Deu , então, com um velho Rádio SEMP, ainda alimentado a válvulas. Lembrou, então, que naqueles dias terríveis se celebrava, por ali, a festa do santo da capelinha : São Sebastião . Havia um vuco-vuco danado de gente indo e vindo para as novenas. Do alto de seus conhecimentos de Marketing de pé-de-serra, teve uma idéia genial. Aproveitaria a festa religiosa e promoveria um bingo do rádio, dava para arrecadar uns reais e transformá-los em farinha e rapadura por mais alguns dias, até que outro santo , Pedro, resolvesse colaborar.  
                                   A casa de Caititu ficava na saída do arruado. Ele , então, providenciou os preparativos. Varreu todo o terreiro, espalhou cadeiras disponíveis , posicionou o oratório, do lado de fora, com a clássica imagem de São Sebastião amarrado e trespassado de flechas ; contratou alguns meninos para fazerem a propaganda de  boca em boca e melhorou a iluminação com algumas lamparinas subsidiárias, movidas a querozene jacaré. De noitinha, postou-se defronte, com o rádio colocado numa mesinha, em local bem visível, as cartelas, a cumbuca e pedras em ponto de bala para o início do jogo.
                                   Afonso havia planejado tudo , detalhadamente. Escapou-lhe, no entanto, um fato importante. Um vizinho --  Francalino  Bemtevi – tivera uma idéia parecida e pertinho dali promoveu um Forró numa latada improvisada, com o grande Sanfoneiro da região : Cotozinho dos Oito Baixos. Eram eventos de sobra para um arruado tão pequenino, mesmo envenenado com o turismo religioso. Caititu postou-se em frente à casa, esperando, pacientemente, a clientela. Alguns meninos e curiosos ficaram pelas beiradas esperando o desenrolar das coisas. Aos poucos começou a chegar a freguesia, mas passava direto para o Forró. Entre as cartas e o rela-bucho preferiram o esfrega coxa. O tempo foi passando e, pouco a pouco, iam se dissolvendo as esperanças do nosso promoter. De início, Afonso ainda tentou se convencer que as coisas mudariam, mas , por volta de nove horas, caiu-lhe a ficha e o orelhão todo na cabeça. Afobado, desistiu e começou a colocar as coisas para dentro de casa, numa penosa desprodução. Enquanto ia e vinha, percebeu, entre os  curiosos  que por ali ainda permaneceiam curruchiado. Estavam, cuidadosamente, mangando dele. Numa das viagens , no leva-leva de coisas, trouxe, consigo, a velha espingarda soca-soca. Firmou-a no chão, observou a platéia meio desconfiada e ameaçou:
                        --- Tô botando as coisas tudo pra dentro. Mas tô avisando! O primeiro filho da puta que armar um risinho de canto de boca , zonando comigo, eu meto bala. Querem ver ?
                        Ninguém queria, ao menos ali, defronte ao cano da soca-soca. Foram saindo rápido. Caititu, no entanto, ficou ainda mais fulo da vida, quando ao longe, ouviu as gargalhadas que se soltavam já fora da alça da mira. Quando pegou por fim a imagem de São Sebastião, sobrou a raiva para  o santo guerreiro:
                        --- Vai timbora pra dentro de casa! Num fica olhando pra mim , não ! Devia ter vergonha : com esses olhos pidão, revirados pra riba, como quem procura rola voando!  Pezim levantado, munheca e rejeito moles, todo flechado... Tome jeito de homem! Tu é loiça, é ? Num zone , não ! Tu nem pode correr todo ingriziado  de imbiriba pra todo lado! Num venha não, seu fresco  !Te lasco chumbo no rabo!
15/11/13

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Quinta Cultural com os Irmãos Aniceto, em Crato



QUINTA CULTURAL 
DIA 14/11, 19 HORAS 
MEMORIAL DA IMAGEM DO SOM 
INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI/ICC 
(EM FRENTE AO PARQUE DE EXPOSIÇÕES - CRATO)

O "laboratório' - José Nilton Mariano Saraiva

Meses atrás, numa das grandes lojas de departamento de Nova Iorque, localizada em plena 5ª Avenida, uma determinada e emergente atriz global foi presa em flagrante (já na boca do caixa), ao ter a bolsa que carregava devassada pelos fiscais (que haviam sido alertados pelos seguranças), onde foram encontrados alguns itens não apresentados para pagamento. Levada à delegacia, a inusitada e surreal desculpa: na verdade, estava apenas e tão somente praticando “laboratório”, por determinação da emissora global.

Destrinchando: é que fora escalada para a próxima novela do horário nobre, onde deveria fazer o papel de uma audaciosa ladra, daí a necessidade de exercitar antecipadamente as ações pertinentes (ou seja, o “modus operandi” de como roubar) a fim de bem cumprir o papel para o qual fora escolhida; e, numa prova do quão respeitava a fama de Nova Iorque, de como aquela fervilhante metrópole mundial lhe era cara e lhe causava admiração, a tinha escolhido para “laboratório”.

Mais realista foi a então jovem e esfuziante Vera Fischer que, após ser eleita missa Brasil, fora contratada pela emissora global e inserida no seu restrito ”cast” de celebridades, embora sem nenhuma experiência na arte de repreentar: e então, em pleno auge da fama, no apogeu da carreira, quando esbanjava sexualidade por todos os poros e era desejada por meio mundo e mais uma banda de homens, ao ser entrevista por uma emissora concorrente foi incisiva e contundente: pra chegar até ali (na Globo) ainda tão jovem, tivera que “freqüentar a cama” de diversos graúdos da emissora (na verdade, perdera até a virgindade). Não citou nomes, mas forneceu a senha.

A reflexão acima nos remete ao atual folhetim global do horário nobre, onde a mulher do melhor amigo do marido vive enfurnada num motel com o próprio, enquanto o marido não faz nenhuma cerimônia em freqüentar o mesmo ambiente com a esposa do melhor amigo; ou seja, a troca de parceiros se dá com a mesma naturalidade de como se troca uma camisa, numa degradação e promiscuidade de costumes que assusta. Na seqüência, quando um chega em casa, o outro já lá está e, após as desculpas esfarrapadas e tradicionais, ambos, alegando cansaço, se deitam de costas um para o outro.

Vida que segue, mais tarde, após o final da novela, normalmente acontecem as separações e ajuntamentos, tal qual o encenado no folhetim global. E então, consultados, sobre a influência da televisão, autores e diretores alegam que nada mais fazem que levar a “vida real” pra dentro de casa (se alguma adolescente resolver “adotar” tal postura, problema dos pais).

Como se vê, não é de hoje que o eficiente “laboratório” global funciona a todo vapor, daí a impressionante “rotatividade” de parceiros no meio artístico. Comenta-se, até, que entre eles vige o conceito de que ser “chifrudo” é questão de “status”. 


Você, aí do outro lado da telinha, gostaria de ser assim catalogado ???

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Signo de Caranguejo



J. FLÁVIO VIEIRA


"Não há nenhum pensamento importante que a
burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados
 e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém,
tem apenas um vestido de cada vez e só um
caminho, e está sempre em desvantagem." (Robert Musil)


                                               O Crato, amigos, é mesmo uma cidade sui generis. Esta semana conseguimos por abaixo  dois paradigmas históricos. O primeiro profundamente cratense, do nosso Quixadá Felício : “Nesta terra há lugar para todos os homens de boa vontade” e um outro nacional , ditado por Pero Vaz de Caminha, na sua carta: “Nesta terra em se plantando tudo dá! Acabamos de provar  que não há boa vontade neste mundo que suporte a burrice de alguns nossos conterrâneos e que, ao contrário do que pensava nosso escrivão, nesta terra em se plantando, tudo fenece.  A pretensa cidade da Cultura  já não tem um Cinema, não possui um Teatro sequer, não tem mais nenhum Jornal, o Instituto Cultural deixou de publicar há mais de 20 anos sua Revista Itaytera,  o Museu do Crato está com instalações deterioradas e parte do acervo desapareceu. Neste exato momento em que a Mostra Cariri das Artes foi cancelada na nossa cidade, a Câmara Municipal foi invadida , a Reitoria da URCA sofreu outra invasão e a centenária Diocese do Crato está envolvida em processos judiciais de estelionato e formação de quadrilha.  Tínhamos, por outro lado, este ano, um interessante alinhamento de planetas.  Foi coisa botada ? Costuraram a boca de um sapo e botaram ali no Muriti ? A melhor explicação deste azar reiterado vem do nosso compositor Abidoral Jamacaru. Segundo ele, o Crato faz aniversário em 21 de Junho , deve ser  pois do signo de Caranguejo, assim,  astrologicamente se justificaria esse nosso destino de dar um passo para frente e dois para trás.
                                   O certo é que complexados como todos os cratenses já vivem, pulularam inúmeras versões e teorias conspiratórias nas Redes Sociais e rodinhas de praça,  tentando culpar vários atores políticos e sociais nesta derrocada derradeira. Afinal as Mostras SESC  , nos seus quinze anos, se tornaram o mais importante evento de todo o Sul do Ceará, formando platéias e imantando de diversidade cultural o Cariri, promovendo encontro de artistas e estimulando um interessante intercâmbio.  O holocausto da Mostra SESC por aqui envolve, na polêmica, basicamente três principais atores : A Prefeitura do Crato, a FECOMÉRCIO e a Guerrilha do Ato Dramático. Pretendo, aqui, refletir sobre cada uma das partes para tentar entender, depois do dilúvio, o motivo do afogamento generalizado. Quase impossível se entender a tragédia quando, este ano, tínhamos um interessante alinhamento de planetas : Dane de Jade, nossa fabulosa Secretária de Cultura, veio de dentro do SESC e foi uma das mentoras da Mostra, por outro lado, nosso Vice-Prefeito, Raimundo Filho, sempre teve uma ligação fraterna e umbilical com a FECOMÈRCIO, a grande patrocinadora da Mostra. Só nosso caié eterno mesmo para explicar a tragédia acontecida !  
                                   O SESC/Crato,nos últimos quinze anos, é bom que se entenda, funcionou como a Secretaria de Cultura da Cidade. A ele devemos não só as Mostras, mas espetáculos freqüentes do Palco Giratório e do Sonora Brasil, lançamentos de livros, shows musicais principalmente através do Armazém do Som , leituras de Cordéis na Feira e um interessante calendário de exposições de Artes Plásticas. As Mostras sempre aqui se instalaram  com praticamente nenhuma ajuda dos Governos Municipais, além da cessão de alguns espaços públicos para que acontecessem. E chegaram a trazer mais de 700 artistas, englobando, só em Crato, mais de dez salas de espetáculos funcionando ininterruptamente. Aqui chegaram espetáculos fabulosos como “Cassandra”, “Gota D´água” , “O Círculo de Giz Caucasiano”, para citar apenas alguns.  Vários dos mais importantes grupos teatrais do país  e do exterior como Argentina, Portugal, Uruguai, França aqui estiveram, sem falar em shows musicais  de importantíssimos artistas brasileiros : Nação Zumbi, Chico César, Jorge Mautner- Nélson Jacobina, Naná Vasconcelos e muitíssimos outros. Os artistas da região, nas suas mais multifacetadas formas,  participaram intensamente dos eventos. As Mostras sempre trouxeram uma imersão cultural importantíssima para o Crato, sem se falar sequer na injeção de economia, na nossa  cidade, aluguéis de espaços,  com restaurantes , lanchonetes, hotéis abarrotados. Isso sempre sem nenhum ônus, praticamente, para o município. O SESC, pois, tem amplas razões quando reclama do boicote por parte da gestão municipal à XV mostra. Vá lá que não se apóie, mas criar empecilhos, construir barreiras, não é demais ?
                                   Quanto à Guerrilha do Ato Dramático, ela surgiu há mais ou menos cinco anos por grupos de teatro do Cariri insatisfeitos com a seleção de espetáculos e, também, com a política de cachês. Estes grupos, é bom que se frise, fazem um trabalho incrível de resistência. Imaginem vocês, fazer Teatro Amador ou semi-profissional, no interior do Nordeste !  Batalham dia a dia contra todas as adversidades, órfãos quase sempre de apoio governamental. É preciso tirar o chapéu para eles. É claro que podem ter surgido radicalizações de parte a parte. Sempre entendi que a Guerrilha fazia-se sempre contra todas muitas  adversidades e não contra a Mostra SESC em si. Faltaram, possivelmente, negociadores para dirimir as arestas. Podia-se, por exemplo, negociar para os dois eventos não acontecerem simultaneamente. Já temos tão poucos no calendário !  Corre-se sempre o risco de uma cobra engolir a outra e a outra engolir a uma e as duas desaparecerem, como na historinha de Trancoso, risco que se corre agora. A questão dos cachês, claro, podiam ser revista, sempre lembrando , no entanto, que não é a qualidade do artista mas o próprio mercado que a determina. Luan Santana, por exemplo, tem um cachê infinitamente maior que o de Ednardo ou Gilberto Gil. Não acredito, de sã consciência, que os guerrilheiros tenham sido os causadores diretos pelo problema que ora vivenciamos. Até porque, sem a presença da Mostra, sem o seu clima, eles serão diretamente atingidos.  Não , são apenas coadjuvantes. As decisões maiores vêm do Generalato e não dos soldados rasos.
                                   A Prefeitura Municipal vem tentando, reconheço, recolocar o Crato novamente no cenário da região, ao menos em discurso. Jogou, de imediato, a culpa de tudo, na intransigência da FECOMÉRCIO que teria fechado questão contra a Guerrilha, numa espécie de  “Ou eles, ou nós, escolham!”. Sinceramente não acredito nesta versão, até porque os dois eventos vinham acontecendo simultaneamente há muitos anos. Um dos grandes pecados foi não terem ouvido Dane de Jade, a Secretária de Cultura dos sonhos de qualquer município nordestino! Eu mesmo queria levá-la para Matozinho. Dane vem de dentro do SESC, foi uma das mentoras da Mostra e tem uma vivência fabulosa nesta área. Temo até que utilizem este triste acontecimento, do qual ela não teve participação direta, para fritá-la politicamente.  Já estamos no subsolo de tudo , amigos, não merecemos este último golpe de misericórdia!  Sem Dane fecham-se praticamente todas as perspectivas de se retomar o vultoso passado Cultural da Cidade de Frei Carlos.  Percebo ( e tive informações privilegiadas sobre tudo) que , como sempre , as causas vieram de uma briga de  generais e não de simples samangos. Uma disputa de espaço político envolvendo vários atores graúdos da  política local e estadual.  Bate boca na Casa Grande termina, invariavelmente, em paulada na Senzala.
                                   Perdemos uma batalha ou fomos vencidos definitivamente? A hecatombe de hoje diz respeito apenas a 2013 ou nunca mais teremos a Mostra em Crato  ? Como a questão é basicamente de política partidária cabe uma grande mobilização da Cidade ( Estudantes, Clubes de Serviço, ICC, Fundação Mestre Elói, CDL) no sentido de intermediar estas  delicadas pendências, nas próximas edições.  Já vestimos todos os trajes da burrice nos últimos anos, não merecemos utilizar todo o enxoval. Aqui não já foi o paraíso dos homens de boa vontade ?