NAÇÃO - José do Vale Pinheiro Feitosa


Nação - composição de João Bosco e Aldir Blanc. Cantada por Clara Nunes com a expressão de Bento Veríssimo na linguagem LIBRAS para surdos.

E nos cacos depositados no canal do rio a memória de uma lava que nasce no incêndio da nossa alma. E passa sem nunca nos deixar. Sem que os tucanos biquem as urnas numa ruptura que não dizem deles, dos uirapurus, dos galos campinas, dos pássaros que jamais passam.

Que evoquem os bandeirantes no seu desespero de inclusão do botim nos porões das sumacas. Das mortes dos Guaranis, da pele do gato maracajá, do ouro nas minas que rasgam a terra, com os rios transpassados, e as canoas por ondem descem aprisionados os guaikurus, terenas, paiguás, kadiweos a cobrir de lanhos o solo do plantio de riquezas. Os bandeirantes, desbravadores de terras, o instrumento do leito mercantil do oceano atlântico.

E tanta morte através do oceano, desde a costa da Mina, do Dahomé, os axantis, popós, crus, que nas praias do Maranhão e da Bahia fundaram o tambor de mina e o candomblé jeje. E cobriram o solo da terra com seus pés e os rastros ficaram para sempre.

Para desespero dos chicotes feitorados, o abraço entre corpos numa alma única e o cadinho Jeje-Nagô. Nagô, Iorubá, Oxumaré, Mawu é o centro indizível de uma correnteza que é nação, que é povo, que não se pode controlar, aprisionar, depositar.

E evoquem o Supremo Tribunal de suas malfeitorias que ainda assim a marcha da nação não irá parar. É que os mamelucos bandeirantes escondem dentro de si uma banda que diz terra, espaço, liberdade. Uma banda que desfila na Avenida Paulista, que navegou junto o Rio Tietê, subiu pela Mata Atlântica a Serra do Mar e como com seus tropeiros foram dar com os costados nas Minas Gerais.   

E todo este esforço de conquistar o metal dourado, não esterilizou o desejo da terra prometida. O destino profético do solo intato, o martelar contínuo do sussurro karaí, a dizer vai ao teu destino, abandona este solo e conquista a terra sem mal. Segue teu destino profético, e liberta a metade de tua alma deste gelado espectro do norte.  

BYE BYE


2014 - ANO DE MUDANÇA 



Ilustração do Facebook de Sibá Machado

SÁBIAS PALAVRAS

“SE EU NÃO VENCER EM MINAS, NÃO MEREÇO SER PRESIDENTE” (Aécio Neves)

********************
Pois é, perdeu.
E perdeu três vezes.
E numa mesma eleição.

E três vezes para o PT.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A BRIGA É MAIOR QUE A DERROTA DE AÉCIO NEVES - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ontem o Senador Aloísio Ferreira Nunes, candidato a vice-presidente junto com Aécio Neves foi para a tribuna do Senado reclamar de mentiras e chantagens na campanha eleitoral. Mesmo que alguém acredite na “sensibilidade” do senador, sou levado a crer que seu passado não o faça assim tão sensível.

Na verdade Aloísio está fazendo cenas públicas com duas finalidades. Quer matar dois coelhos de uma cajadada só. À primeira paulada pretende se antecipar a denúncias graves que a candidata Dilma tem contra as manobras sujíssimas da candidatura dele e de Aécio Neves. E, malandro velho, faz a partir de um sinal da própria vitoriosa no pleito em seu discurso comemorativo.

Dilma convocou a união nacional. Passou uma borracha nos ferimentos e manobras sujas da campanha. Diante desta disposição não tem porque ela relembrar as pesquisas eleitorais fraudulentas de dois institutos que foram utilizadas na campanha do PSDB, não tem que denunciar o papel da mídia que fez uma frente de destruição dela e do PT, não tem motivos para relembrar o uso eleitoral dos desvios da Petrobrás, não tem razões para continuar a denúncia contra a manobra fraudulenta da Veja, os milhões de reais utilizados para reproduzir capas da revista, o uso, caríssimo, das redes sociais para anunciar entre o sábado e o domingo a morte por envenenamento, com acusação direta ao PT, do doleiro delinquente.

Aloísio Ferreira Nunes, senador bem votado por São Paulo, põe uma sinuca de bico na Presidenta e seu partido. Diz que não quer o diálogo, denuncia apenas a campanha do PT, esquece as sujeiras da sua e com isso esconde toda as artimanhas conduzidas em nome do seu partido.

E agora a segunda paulada.

Ao levantar a voz desta maneira ele dá um cavalo de pau nas palavras do abatido Aécio Neves no dia da eleição quando admitiu a derrota, dizendo que tinha ligado para Presidenta Dilma para unir o país. Aloísio sabe que esta união não interessa ao PSDB, ele prefere a tese da divisão e da incompetência da Presidenta para conduzir os assuntos políticos do país. É isso que temos pela frente.

Nada de união. Nada de projeto comum. Esta é a ideia do PSDB.

Por outro lado o PMDB já quer a sua fatia de poder, a derrota ontem na votação do Decreto Presidencial que criava os Conselhos Populares foi um soco direto no fígado do setor mais à esquerda do PT. Ali a derrota foi da mobilização do poder popular o qual se apresentando de modo direto, reduziria as “tenebrosas transações” dos “representantes do povo.”   

A turma da Abril já comemorou a derrota. Espera que de derrota em derrota não aconteça a Reforma Política e nem a Regulação da Mídia. Quer dizer, não só a Veja, mas Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo e jornais televisivos do sistema. Mas na verdade a grande mãe de todas as derrotas é uma que nem o PT levantou a bola, mas se encontra na ordem do debate mundial.

Ontem foi a manifestação do Papa Francisco, o artigo do Paul Krugman dizendo que plutocracia não queria a democracia e temos conhecimento do impacto do livro de Thomas Piketty que é igual ao elefante incomoda muita gente.

E qual é esta reforma magna?

A Reforma Tributária. Aquela que derruba a absurda concentração de renda (85 pessoas mais ricas do mundo detêm toda a riqueza da metade mais pobre da humanidade), pode diminuir as desigualdades e promover políticas inclusivas que elevam a produção e a produtividade dos meios de vida de todo mundo. Só o dinheiro que este pessoal esconde em paraísos fiscais evitaria a morte direta de 29 milhões de pessoas, que faleceram precocemente em relação aos avanços da atual civilização.

Estamos no centro do velho debate. O lucro como instrumento de crescimento revela-se com a sua verdadeira face. Ao concentrar poderes em torno de pessoas, destrói a democracia e é um enorme fator regressivo nos fundamentos da civilização. Quando uma força produtiva inova em alguma coisa, imediatamente o lucro parasita este avanço a tal ponto que se esgota antes de todo potencial de mudança e melhoria de vida.

A reforma tributária, ainda que uma medida gradualista, não revolucionária, é um passo fundamental para ampliar o potencial das inovações e mudanças e é um ajuste de qualidade de vida das pessoas. A reforma é simples: muda a atual estrutura regressiva (taxa o consumo) para uma estrutura progressiva (taxa os mais ricos e detentores de grandes fortunas).


Estes detentores de grandes fortunas, até o Papa reconhece, não têm ética, cabeça e inteligência para conduzir o destino da humanidade.  

"FESTA DE ARROMBA" - José Nilton Mariano Saraiva

Era pra ser uma “festa de arromba”. E, para tanto, tudo fora criteriosa e detalhadamente planejado. A inescrupulosa revista “VEJA-ÓIA” houvera antecipado em dois dias sua edição semanal, com uma chamada de capa “criminosa” (embora no texto da reportagem correspondente vigesse o verbo no sentido “condicional” - teria, seria e por aí vai - sinal de nenhuma consistência); irmanada, a principal rede de televisão do país, a “GLOBO”, aderira de pronto ao plano antecipadamente arquitetado e consumira a maior parte do tempo do seu principal noticioso, o Jornal Nacional (na noite anterior) a repercutir com estardalhaço a chamada de capa da “VEJA-ÓIA”; gráficas de todos os portes-tamanhos foram acionadas às pressas para, na virada da noite, reproduzirem MILHÕES E MILHÕES de cópias da citada capa (quem pagou ???) inclusive em tamanho gigante (tipo outdoors), generosamente distribuídas na manhã do dia da eleição; jornalões do Sudeste do país, que já vinham em sistemática campanha contra, de há muito, alinharam-se naquela trincheira e trataram de divulgá-las em letras garrafais em suas edições matutinas. Definitivamente, nada fora esquecido e o “GOLPE” seria perpetrado, sim, sem choro nem vela. Dessa vez não havia escapatória.

Tanto é que, naquele momento (já após a eleição) no “ap” da “IRMÃ-MANDONA”, em Belo Horizonte, o candidato  era bajulado e paparicado por dezenas de “convivas”, oriundos de diversas partes do país, num beija-mão pra lá de asqueroso. Afinal, o homem “já era” o futuro Presidente da República. Daí o “scoth” correr solto e generoso e os variados canapés consumidos numa avidez impressionante.

Igualmente às reuniões da “cosa nostra” (máfia italiana), também ali uma senha seria usada a fim de “cristalizar” o momento. E isso seria feito através de mais um “vazamento seletivo” (qual o preço ???): é que, do interior da hermética sala usada para apurar os votos, no Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, um dos privilegiados vinte técnicos envolvidos na operação discaria para alguém presente àquela festa, lá em Belo Horizonte (o candidato ???) e lhe poria a par do andamento da apuração. E assim foi feito, coincidindo com o momento em que o candidato disparava na dianteira. E haja “scoth”. E haja canapés. E haja comemoração. E haja puxa-saquismo. Mas...

Mas, esqueceram de um tal “fuso horário”. Que, aí sim, dividia o Brasil naquele momento não em dois, mas em três. É que em Brasília e estados do Sul-Sudeste e Centro-Oeste vigia o “horário oficial”; nos estados do Norte-Nordeste uma diferença de uma hora a menos; e no Acre e parte da Amazônia, três horas a menos. Portanto, embora já totalizasse os votos a partir do horário de Brasília, os números obtidos só seriam disponibilizados para a população após o fechamento das urnas do Acre, três horas depois e, pois, já perto da sua totalização geral (apenas aquelas privilegiadas vinte pessoas souberam antecipadamente do andamento da apuração).

Por essa razão, chegada a hora, os primeiros resultados da apuração contemplaram as regiões Sul/Sudeste/Centro-Oeste (onde a votação terminara mais cedo) e onde o “playboy do Leblon” disparara na frente (embora à candidata Dilma Roussef colhesse expressiva votação). E foi essa a senha que faltava para ter início o bacanal no “ap” de Belo Horizonte. A apressada conclusão era a de que o  “GOLPE”, enfim, lograra êxito. Dera resultado. Não tinha volta. Xeque-mate.

E foi aí que a força e a união do povo norte-nordestino tratou de por os pingos nos devidos “iis”, restabelecer a verdade verdadeira, mostrar que a coisa não era bem assim. Em resposta ao “caminhão de votos” que o candidato tucano obtivera no Sul-Sudeste, uma “avalanche de votos” na candidata Dilma Roussef demoliu de vez com o sonho e pretensão tucano. Como um rolo-compressor, não restou pedra sobre pedra. O “playboy do Leblon” sucumbiu e teria que esperar por uma outra oportunidade. Dessa vez, sim, houve choro (inclusive do candidato). Ar fúnebre e fim de festa no ninho tucano, o que não impediu que o “astro-principal”, visivelmente constrangido, reconhecesse publicamente a derrota.

Como teria que haver uma explicação para a “virada”, num primeiro momento o comando tucano atribuiu à Região Nordeste o desfecho não favorável (daí o xenofobismo abjeto nas redes sociais); e aí foi só lembrar-lhe que no Sul-Sudeste a candidata oficial conseguira mais votos do que os obtidos no Nordeste, para restar constatado que faltaram votos ao tucano no Brasil todo. Que o Brasil houvera democraticamente optado pelo projeto que contempla a inclusão social, a redistribuição de renda e o bem-estar do seu povo.

À desculpa esfarrapada de que foi uma vitória apertada (quase três milhões e meio de votos, de maioria) lembramos que a Constituição Federal determina que metade dos votos mais um é o suficiente para a homologação da vitória.

 Portanto... chora, tucanalhada, chora !!!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

De cima ou de baixo : um mesmo Brasil

 J. FLÁVIO VIEIRA

          Brasi de Baxo subindo,
Vai havê transformação    
E a liberdade de imprensa
Vai sê legá e comum,
Em vez deste grande apuro,
Todos vão te no futuro
Um Brasi de cada um.
Patativa

                                               O certo é que o ninho tucano já tinha preparado o alpiste e o xerém para comemoração. A Grande Mídia, devota aliada, já havia colocado o smoking para a festa e havia filhotes por todo o terreiro esperando o aviso para começar o rapapé. O diabo é que o tiro saiu pela culatra e todos ficaram encandeados com o brilho de uma estrela que resplandeceu nos céus do Brasil. Baile desfeito, fantasias rasgadas, o desapontamento da Mídia levou-a, imediatamente, a buscar culpados pelo cancelamento das festividades. E o culpado mais óbvio, quem seria? Ora, o mordomo !
                                   De imediato os colunistas dos grandes jornais, mostrando mapas e infográficos, tentavam demostrar que o país estava dividido: Norte e Nordeste, todo vermelho ; Sul, Sudeste e Centro-oeste azuis. A pobreza, o atraso, a dependência econômica haviam eleito a candidata pior. As Redes Sociais, de repente, se viram atulhadas de insultos , impropérios, ameaças, ditos preconceituosos contra nortistas e nordestinos, coisas dignas do III Reich. E o bombardeio não pára !  A Casa Grande não se conforma  com qualquer movimento abolicionista, parece que vivemos ainda em pleno Século XIX.  Se o eleito tivesse sido o candidato tucano, com a mesma margem de votos,  a linha editorial seria completamente diferente. Não haveria divisão, estava tudo perfeito, a virada era mais que esperada, finalmente brotava a esperança no país. Basta ver todo o material pronto pela UOL, ligada à Folha de São Paulo, já pronto para comemoração, que terminou vazando depois da derrocada. Só encômios e elogios ao bravo povo brasileiro.
                                   A divisão alardeada é a mais perfeita falácia. Não  os chamo de levianos porque dá um azar miserável. Segundo os publicitários , o povo, em todo o mundo, vota de maneira pragmática. Todo eleitor pensa especificamente em que candidato, se eleito, poderá melhorar sua vida pessoal e profissionalmente. O nosso bem-estar próprio é o que conta, a felicidade da nação é apenas uma questão distante e filosófica.  Os médicos apoiaram abertamente os tucanos ao se sentirem feridos pela quebra da reserva de mercado trazida pelo “Mais Médicos”.  Assim, na França, Bordeaux é historicamente socialista, única e exclusivamente porque seus habitantes entendem que são os socialistas que têm uma sensibilidade maior para seu meio de vida : as vinícolas. A Flórida é secularmente Democrata e a Califórnia Republicana. Se se reparar direitinho, não dá para pintar as regiões do Brasil de Vermelho ou Azul.  Aécio ganhou no Sul e no Sudeste, mas lá Dilma teve mais de 26 milhões de votos, inclusive mais que em todo Norte-Nordeste.  Cotejem , minunciosamente,  Fortaleza, onde Dilma teve franca maioria, possivelmente perdeu nas urnas da Aldeota e do Meireles. No Leblon, no Rio, Aécio saiu vitorioso. Em  Caetés, Pernambuco, terra de Lula, Dilma teve 90% dos votos, mas 10% escolherem o tucano. Em São João Del Rey, terra do peessedebista, Aécio teve 65% dos votos, mas 35 % sufragaram o nome  da Dilma. Em Minas , estado natal do peessedebista, ele levou uma peia histórica. Se houvesse a divisão alardeada pela mídia e pintada no mapa do Brasil, Aécio teria sido o grande vitorioso, com uma margem gigantesca de votos. Simplesmente a população vota naqueles em que mais confia para resolver seus problemas mais prementes.  Pois foram os brasileiros espalhados no  Sul,  Sudeste,  Norte, Centro-oeste e Nordeste que deram a maioria absoluta à candidata petista.  Há de haver  razões mais justas para explicar o fenômeno.
                                   A elite brasileira tem que entender : o voto de cada um dos brasileiros tem o mesmo valor, independente de raça, cor, grau de instrução, poderio econômico. Os ricos e remediados sentiram-se  feridos em seus interesses por conta da regulamentação do emprego da doméstica ( ninguém pode mais ter empregada!); pela melhoria das condições de vida da pobreza que agora tem moto e carro e ninguém mais anda no trânsito; por ter aparecido nos aeroportos, coisa antigamente só de grã-fino; por não mais querer trabalhar no campo , só que com diárias de R$ 10,00.  Antes de apregoar que foram os votos comprados pelo Bolsa Família o responsável pela derrota do tucano, têm que afinar primeiro o discurso. Em off chamam o Bolsa Família de “Bolsa  Fome”, “Bolsa Esmola” , o “ vício do cidadão”. No microfone e no palanque pousam de pais do Programa .  Deduz-se, então, seguindo-se as premissas da elite,  que se D. Ruth e FHC são os pais, então, foram eles os reais responsáveis pela derrota do PSDB nestas eleições.
                                   A divisão alardeada  é perigosa e potencialmente mortal, quando incita preconceitos vis e seculares.  A Globo, a Bandeirantes, a Record, o SBT, a Folha de São Paulo, o Estadão estiveram em oposição franca e determinada à Presidente Dilma. A “Veja”, numa atitude criminosa, antecipou uma edição, nas vésperas do pleito, com denúncias caluniosas e sem prova, tentando mudar o curso inevitável da história. Sabemos que a liberdade de imprensa significa a plena liberdade do grande capital em veicular as informações de seu interesse, pois é ele que financia a Mídia. Pois é essa mesma trupe que agora tenta seccionar o país no meio, enfiando na cabeça do povo que foram os esfomeados e esfarrapados que elegeram o PT, em troca de um prato de feijão.
                                   Se deseja , um dia, retomar o poder, a elite brasileira precisa  compreender o Brasil em toda sua dimensão e complexidade. O mundo vai bem além da Avenida Paulista.  Justiça Social tem que preceder à Caridade. O Brasil, historicamente, não é vermelho ou azul, mas de todas as cores e essa é nossa mais importante grandeza.


Crato, 29/10/14

COMUNISTA: PRENDE E ARREBENTA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Digamos juntos, de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalha dá”.

E não satisfeito seguiu adiante:

Não existe pior pobreza material do que aquela que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho. O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos laborais são não inevitáveis, são o resultado da opção social prévia, de um sistema econômico que coloca os lucros acima do homem.”

E mais revolucionário ainda acusou o sistema:

“Este sistema já não se consegue aguentar. Temos de mudá-lo, temos de voltar a levar a dignidade humana para o centro: que sobre esse pilar se construam as estruturas sociais alternativas de que precisamos”.

E revela de qual perspectiva essas coisas se revelam:

debater tantos graves problemas sociais que afetam o mundo de hoje” na perspectiva de quem sofre a desigualdade e a exclusão “na sua própria carne”.

E politicamente põe uma bandeira de luta:

“Terra, teto e trabalho, aquilo que lutam, são direitos sagrados. Reclamar isso não é nada de estranho, é a Doutrina Social da Igreja.”

“Terra, teto e trabalho. É estranho, mas se falar disto, para alguns parece que o Papa é comunista...o amor pelos pobres está no centro do Evangelho.”

“Os pobres não só sofrem a injustiça mas também lutam contra ela...hipócritas que abordam o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção....transformando-os em seres domesticados e inofensivos.”

“São respostas a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para os seus filhos. Um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza que está cada vez mais longe da maioria.

PAPA FRANCISCO


O PODER ARGENTÁRIO - José do Vale Pinheiro Feitosa

O professor e prêmio Nobel de Economia Paul Krugman publica artigo com título: “Os plutocratas contra a democracia”. Antes de seguir adiante um aposto: o plutocrata é um membro das plutocracias que é o exercício do poder ou do governo pelas classes mais abastadas da sociedade. Enfim a influência ou poder das pessoas com dinheiro.

Até os jundiás do rio Batateira reconhecem que o dinheiro se desdobra em poder. Mas as raízes das plantas à margem do rio retêm o conteúdo que alimenta a vida. E ali os jundiás se alimentam. E acham que o poder do dinheiro é uma coisa natural, é uma necessidade do ser no mundo.

Naturalizar as artimanhas e os arranjos dos seres humanos mundo é o que os jundiás mais fazem. Afinal para eles apenas existem as águas deste rio que não é perene. E um dia eles desaparecem para apenas desovarem quando as chuvas ultrapassarem os limites das levadas que roubam a perenidade do rio Batateira.

A artigo de Krugman é revelador. O plutocrata que governa Hong Kong (legitimado pela China) diante dos manifestantes pró-democracia que infernizam a vida da colônia financeira da Ásia disse: “estaríamos dirigindo-nos a essa metade da população de Hong Kong que ganha menos de 1.800 dólares por mês. E acabaríamos tendo esse tipo de políticos e de medidas políticas”


Esta frase foi repetida milhões de vezes diante dos resultados das eleições no Brasil. A tal questão do bolsa família, do nordestino desinformado, do parasita que rouba de São Paulo é a mesma coisa do governante de Hong Kong, é a mesma coisa dos neoliberais americanos e europeus. É o mesmo da direita política aqui e lá. 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Ainda sobre o "BOLSA FAMÍLIA" - José Nilton Mariano Saraiva

Por entender que é preciso que essa questão relativa ao Bolsa Família fique bem esclarecida, abaixo disponibilizamos o número de FAMÍLIAS beneficiadas em cada estado da federação (posição setembro/2014). Para se obter o número de PESSOAS beneficiadas, basta considerar (num cálculo conservador) cada família com 04 integrantes (o casal e 02 filhos). 

BOLSA FAMÍLIA – NORTE-NORDESTE
ESTADOS
FAMÍLIAS BENEFICIADAS
- BAHIA
- 1.815.368
- PERNAMBUCO
- 1.153.941
- CEARÁ
- 1.094.126
- MARANHÃO
-    987.599
- PARÁ
-    887.633
- PARAIBA
-    526.984
- PIAUI
-    458.081
- ALAGOAS
-    441.931
-  R. G. NORTE
-    364.404
- AMAZONAS
-    359.911
- SERGIPE
-    281.897
- RONDONIA
-    115.389   
- ACRE
-      78.619
- AMAPÁ
-      55.346
- RORAIMA
-      48.088
TOTAL
- 8.669.317 (FAMÍLIAS)


BOLSA FAMÍLIA
SUL/SUDESTE/CENTRO-OESTE


- SÃO PAULO
- 1.270.732
- MINAS GERAIS
- 1.148.187
- RIO DE JANEIRO
-     828.716
- R.G. SUL
-     435.962
- PARANÁ
-     407.556
- GOIÁS
-     336.324
- ESPÍRITO SANTO
-     190.670
- MATO GROSSO
-     186.647
- MATO GROSSO SUL
-     146.228
- TOCANTINS
- SANTA CATARINA
- DISTRITO FEDERAL
TOTAL
-     140.108
-     136.279
-       86.373
-  5.313.792 (FAMÍLIAS)

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social 


Utilizando-se a medida “padrão” internacional de 04 pessoas por família (o casal e 02 filhos), num cálculo “conservador” temos que o Bolsa Família beneficiou 55.932.436 pessoas no total, sendo que no Nordeste 34.677.268 pessoas e Sul/Sudeste/Centro-Oeste 21.255.168 pessoas. 

Alguma dúvida ??? 
Um reacionário, acrescido de uma irracionalidade patológica, uma vez mandou-me um poema do Maiacovsky usando-o contra o PT e seu governo e, claro, contra toda ideia que não fosse neoliberal. Não conhecia a história de Maicovsky e, invertendo a equação, deturpava o sentido do poeta. Um poema contra a burguesia e sua opressão. Estes dias assisti a dois musicais do Chico Buarque: Saltimbanco Trapalhões e Ópera do Malandro. Ambas críticas dos acordões do capitalismo. Aconteceu que por falar em corrupção, com o selo colado na Dilma e livrando a cara do Aécio algumas frases realçadas serviu de manifesto para algumas palmas da classe média conservadora da Zona Sul. 

Por isso tive dúvidas sobre postar esta música. Mas não. Ela diz. Tudo. Diz principalmente sobre esta malta raivosa antipopular. 

UMA MÚSICA NA CALÇADA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Porque nasci ali. No único sítio que levava o nome do rio que corria em todo o seu terreno. Onde vi muito nascer de sol além de treze quilômetros de um belo canavial. E também a lua tomando o céu por trás dos morros onde um dia se ergue a visível estátua do Padre Cícero. Do meu lado esquerdo o Alto do Urubu, coberto de Mata Atlântica ali os pássaros e os urubus como memória do que um dia foi a matança  em suas árvores se abrigavam aos mistério da noite.

A autêntica Batateira. Que carreguei como parte inseparável do meu território corporal, afetivo e memorial. Onde aprendi, onde ensinei, onde fiz e fui feito de brincadeiras de meninos, do povo como eu. Com coisas que saltam da língua, das piadas toscas, dos palavrões. Dos desarranjos. Da tosse, do defluxo, da sapiranga. Do tracoma que andava naquelas áreas úmidas como uma lembrança bíblica do Oriente Médio.  

Do banho no rio. De fazer castelos em sua areia lavada. De deixar minha alta flutuando e rodando como um helicóptero feito as sementes que assim o eram. Como planadoras ficar mais tempo no ar até me afastar da árvore mãe. É assim que escute o comum da minha alma. 

Assim como esta música de João Bosco e Aldir Blanc. Bandalhismo. Escutem só que samba gosto, que violão de roda. E prestem atenção à suave voz de Paulinho da Viola cantado o mundo real de nossas vidas. Só Aldir seria capaz de uma letra desta.

A CASA QUE CAIU NA VIDA DE AÉCIO NEVES - José do Vale Pinheiro Feitosa

Seja porque Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa baixaram na alma de mentes raivosas. Ou porque eles nunca suportaram os partidos de origem trabalhista (mais ainda se socialistas ou comunistas) e sempre tiveram esteatose hepática à simples menção de seus quadros. Quem sabe mais raiva tenham ainda de líderes populares que ousem afrontar as migalhas do banquete que pegam embaixo da mesa da elite nacional e internacional. Seja onde nasça este ódio é preciso considerar algumas coisas.

Quando Eduardo Campo surgiu e depois Marina, mesmo quem estava escaldado com o PSDB, veio com a tese que o Governo Dilma estava ultrapassado pelo próprio povo que ajudara. Eles agora estavam numa nova classe média e queriam muito mais do que o Estado poderia oferecer. O exemplo? As manifestações de junho de 2013.

Agora ponha na conta de Gilmar e Joaquim mas abra o olhar para uma megaestrutura sem a qual Barbosas e Mendes não são nada. Ao ponto pacífico: a análise sistemática das valias das manchetes e escolhas jornalísticas dos jornais Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Globo, das revistas Veja, Época e Isto É e Jornal Nacional foram contundentes para uma propaganda negativa e sistemática, criadora de ódio inclusive, contra o governo e o PT. Esta avalanche de matérias pode transformar um pensamento livre em mero “equipamento” de repetição acrítica de propaganda política.

Aí junta a briga de casal, o filho que não estuda, as despesas que não fecham a carestia que é ser de classe média nos bairros chiques e por aí vai e surge um ódio baseado nas tais manchetes. O mundo está em crise e aquela classe média tradicional do Brasil precisa dividir espaços e serviços que antes lhe eram quase que, socialmente dizendo, exclusivo. Avião, Shopping, consumo de linha branca, carro, restaurantes e por aí vai.

Muitos dos raivosos se originam de uma situação em que os avós e pais foram beneficiários do “progresso” do regime militar. Cresceram inclusive nas estatais e nos movimentos da bolsa. Fizeram patrimônio e aí os filhos e netos foram criados, acreditando que aquilo tudo era natural. Aquilo existia desde que o mundo era mundo e eles tinham direito de exclusividade.

Vivem numa sociedade menos exclusiva e mais inclusiva. E será daí por diante. A “meritocracia” de origem não ajuda em sistemas efetivamente democráticos. Os que babam com raiva de nordestino, os conservadores que temem o amanhã, os neoliberais que vêm “totalitarismo” em avanços sociais coordenados, se tornam o resíduo odiento da realidade política e social em transformação.

A campanha de Aécio Neves foi financiada e todas as jogadas maldosas dela tinham uma articulação essencialmente originária em grandes fundos financeiros. Foi uma campanha caríssima e que não se coaduna com as declarações que agora farão à justiça eleitoral.

Como explicar a quantidade imensa de robôs que operaram na Internet, SMS, Whatssap e mais o que aconteceu no Twitter e Facebook. Como em menos de hora foi para a rua milhões de cópias da capa da revista Veja entre sexta e sábado às vésperas das eleições em São Paulo, Brasília e no Rio. E olhem que eram os mesmos cabos eleitorais contratados para bandeiradas do PSDB nas ruas que distribuíam. E quem pagou toda esta logística?

E os robôs que ontem mesmo convocavam manifestações pró-impeachment da Presidenta nas ruas de São Paulo. E os mesmos instrumentos via celular que inundaram os cidadãos com pragas contra nordestinos. Isso tudo demonstra um forte e desleal aparato financiado para golpear o julgamento popular.

Mas e como tirar a história das pessoas?

Falo do porteiro de um prédio na Zona Sul do Rio de Janeiro, com todo o cuidado possível, sentado em sua mesa de trabalho e um morador com a camisa de cima a baixo com bottons do Aécio Neves. E claro agressivamente impondo a vontade dele. O porteiro rindo e sem dizer mais nada. O orgulhoso eleitor saiu para seu voto de “consciência” enquanto o porteiro abria a porta eletrônica para que se fosse.

Quantos anos tens? 48 anos. Desde quando trabalha? Desde os 8. Durante mais de 35 anos de tua vida de trabalho quanto de crédito recebesse para comprar tua casa? Agora. Pago direitinho. Só agora aos 44 anos que tive minha casa e não um barraco no meio da família lá na Rocinha. Agora pago Minha Casa Minha Vida.

Como votar no Aécio? Não pelo que FHC não fez. Mas pelo que Aécio prometia e aí o povo é esperto o suficiente para mesmo não entendendo a linguagem do Armínio Fraga saber quem ia pagar a fatura.

Bolsa família?

Isso é de menos meu senhor. Minha filha faz pós-graduação e todo mundo aqui estuda.  



segunda-feira, 27 de outubro de 2014

SOBRE O "BOLSA FAMÌLIA" - José Nilton Mariano Saraiva

Na tentativa de ofuscar e/ou desvalorizar a vitória da Presidente Dilma Roussef, na eleição recém-finda, os “depenados tucanos” apelam para o velho refrão de que tal aconteceu porque o programa Bolsa Família foi usado com objetivos eleitoreiros, daí sua expressiva votação na Região Nordeste. Como se o Bolsa Família se restringisse e beneficiasse tão única e exclusivamente nossa região. Só que a coisa não é bem assim, a saber; o Estado de São Paulo, por exemplo, é hoje o segundo maior beneficiário do Bolsa Família, com 1.270.732 famílias atendidas, ao custo de R$ 2,1 bilhões (posição de SET/2014), só ficando atrás do Estado da Bahia, com 1.815.368 famílias atendidas, ao custo de R$ 3,2 bilhões). Pernambuco (1.153.941 famílias atendidas, ao custo de R$ 2,0 bilhões, Ceará (1.094.126 famílias atendidas, ao custo de R$ 2,0 bilhões), Minas Gerais (1.148.187 famílias atendidas, ao custo de R$ 2,0 bilhões) e o Maranhão (987.589 famílias atendidas, ao custo de R$ 2,0 bilhões) são os estados que seguem a Bahia e São Paulo no ranking dos mais beneficiados.

Enfim, o Bolsa Família é um programa tão abrangente que contempla todos os estados da federação, conforme se poderá observar na tabela abaixo (Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social).

Arte
No mais, vamos torcer para que certos babacas retrógrados voltem aos bancos escolares pra se inteirar do revolução que ocorreu por essas bandas do Brasil, deixando de lado  o preconceito e a xenofobia tão bem expressas na manifestação do tal Diogo Mainardi (que fugiu às pressas do Brasil pra escapar da Justiça), mas que não perde a oportunidade de produzir (naturalmente que na Globo) declarações nazistas como esta: “Essa eleição é a prova de que o Brasil ficou no passado. Não é nem bolsa família, não é marquetagem. O Nordeste sempre foi retrógrado. Sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno em relação ao poder”.
Portanto, é chegada a hora de se tomar conhecimento dos números reais, antes de sair por aí proferindo e/ou tendo que ouvir baboseiras, porque, no duro no duro, o apoio à Presidenta Dilma Roussef nas eleições de 26.10.14 fez foi  cair em pelo menos 07 (sete) estados da federação, tomando por parâmetro o pleito de 2010

A BANDA PAULISTA ÉBRIA DE DEMOCRACIA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Essa eleição é a prova que o Brasil ficou no passado. Não é nem bolsa família, não é marquetagem. O Nordeste sempre foi retrógrado. Sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno em relação ao poder. Durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e agora com o PT. É uma região atrasada, pouco educada, pouco construída, que tem uma grande dificuldade para se modernizar. Se modernizar na linguagem. A imprensa livre, a liberdade de imprensa é um valor que vale do Brasil para baixo.” – DIOGO MAINARDI NO MANHATTAN CONECTION DA GLOBO NEWS.

Analisar realidades complexas requer equilíbrio, método, renovação contínua dos dados de modo acompanhar as transformações sempre existentes em todos os componentes. Na mídia e agora na internet é muito comum repetição de análises feitas no passado sendo repetidas como se nada tivesse acontecido depois das mesmas. As conclusões que haviam chegado já não explicam mais a realidade atual.

Se fôssemos compreender São Paulo com os elementos de sua estrutura econômica e política tradicional iríamos encontrar um dos lugares mais atrasados do Brasil. Oligarca, infenso às mudanças sociais, agarradoS a tradições obsoletas e muito colonialista por princípio das classes proprietárias.

O nordeste brasileiro, o Rio Grande do Sul e até Minas Gerais quando compreenderam o atraso que era São Paulo para o Brasil fizeram uma revolução para mudar a estrutura política e econômica do país. Não esqueçam que São Paulo é a terra de políticos atrasados como Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf e que é adorado pelos paulistas que os seguiu como cordeirinhos sem qualquer crítica. Eles serviam aos propósitos da elite do Estado. E pelo menos Ademar e Maluf tiveram seus nomes associados à corrupção e nunca os paulistas e sua mídia funcionou como oposição a eles e nestes termos.

Aliás, São Paulo se tornou a menina de ouro da meritocracia neoliberal, cheia de universidades que correm atrás do sucesso pessoal em atropelo dos demais. O interior do Estado, não obstante a existência de estruturas econômicas bastante avançadas, tem um instinto caipira chique de postura country pois se identificam com os cowboys americanos.

Dizer que São Paulo é isso não significa que ali mesmo se encontram coisas impressionantes em termos de vanguarda, tanto cultural, quanto de experiência de um mundo em transformação. São Paulo é importantíssimo para um projeto de nação.

Assim como o Nordeste brasileiro. Que não é liberto das oligarquias e dos mandões que se renovam travestidos com outras vestimentas. O nordeste, também tem uma mistura de arcaico e moderno, de liberdade e escravidão. Mas o nordeste não é a rabeira da nação. Só a visão de antolhos pode imaginar que seja possível se viver num país irrequieto, grande e populoso como Brasil, mantendo traços arcaicos que nunca mudam. Tudo muda, tudo se transforma e o Nordeste é ao mesmo tempo fonte de vanguardas e tradições. Como aliás São Paulo, Minas Gerais, Rio, os Gaúchos e por aí vamos.    

O que o preconceito contra nordestino quer dizer? Então vocês votam juntos? Têm noção de região? Com esta unidade são capazes de eleger presidentes e marcar a política nacional? Isso não pode. Apenas a São Paulo isso é devido. Somos o centro do universo e tudo mais gira em volta de nós.

Mas o nordeste está fazendo esta revolução em que o centro não é mais o velho oligarca paulista. E isso aconteceu pelo crescimento da vida urbana, pela migração populacional que aprendeu. Pela maior facilidade de se deslocar conhecimento de um ponto para outro. Olhem para a tabela abaixo e sintam que o Nordeste tem um peso transcendental na eleição de Dilma Roussef. Tem um peso pela unidade de seu voto, mas isso anularia São Paulo e não seria suficiente para que ela vencesse.

A questão é que Dilma não perdeu de muito, à exceção de São Paulo (assim mesmo conseguiu quase 36%), em alguns grandes colégios como o Paraná e o Rio Grande do Sul. E levou mais de um milhão de vantagem no segundo e terceiro colégio eleitoral (Minas e Rio). A união nordestina foi central para a vitória da candidata mas isso não seria suficiente se não fosse uma substancial votação da candidata mesmo nos estados em que perdeu as eleições.

Portanto o preconceito chega às raias do nonsense quando pronuncia inverdades com elementos de alguma crítica do passado. E por falar em eleições olhem para segunda tabela e compreendam algumas coisas.

Fica claro que o público se relaciona muito bem com a urna eletrônica e que a quantidade de votos nulos e brancos não foge às margens bem pequenas. Também fica claro que de modo geral o voto de protesto não aconteceu com muita frequência, a não ser claramente no Rio de Janeiro quando quase um milhão de pessoas anulou o voto. Vimos o fato igualmente no Rio Grande do Norte, no Distrito Federal e no Amazonas.

No Rio Grande do Norte isso tem coerência com os votos nulos para governador que praticamente duplicam em relação ao de Presidente. Portanto se houve protesto ali foi muito mais para governador. No Rio de Janeiro igualmente aconteceu com os votos de governador (13,9% de votos nulos) e no Distrito Federal aconteceu a mesma coisa. Em outras palavras os votos nulos foram aumentados nestes estados igualmente a governador e presidente, portanto, não se refere apenas à presidência. 
  
Por último uma palavra sobre as abstenções. Elas não ultrapassam a um quatro dos eleitores habilitados e tendem a crescer naqueles estados onde não houve segundo turno para governador. Mas devem existir várias causas, inclusive de registro eleitoral, para explicar o tamanho da abstenção. E leve em consideração que não comparamos com as abstenções do primeiro turno, quando as candidaturas a deputado infiltram-se mais junto aos eleitores mobilizando-os.  

Sim quase que me esquecia. Crato votou maciçamente em Dilma: 83,55%. Juazeiro também: 80%. As abstenções foram relativamente pequenas, assim como os votos brancos e nulos.

Estado
Dilma Número
Dilma %
Aécio Número
Aécio Percentual
Diferença
TOTAL
Total
54.501.118
51,64%
51.041.155
48,36%
3.459.963
105.542.273
Acre
138.922
36,32%
243.530
63,68%
104.608
382.452
Rondônia
364.055
45,15%
442.349
54,85%
78.294
806.404
Amazonas
1.033.090
65,02%
555.810
34,98%
477.280
1.588.900
Roraima
97.329
41,10%
139.477
58,90
42.148
236.806
Amapá
227.414
61,45%
142.664
38,55%
84.750
370.078
Pará
2.103.829
57,41%
1.560.470
42,59%
543.359
3.664.299
Tocantins
428.662
59,49%
291.848
40,51
136.814
720.510
Região Norte
4.393.301
56,54%
3.376.148
43,46%
1.017.153
(13,09%)
7.769.449
Maranhão
2.475.762
78,76%
667.517
21,24%
1.808.245
3.143.279
Piauí
1.385.096
78,30%
383.884
21,70%
1.001.212
1.768.980
Ceará
3.522.225
76,75%
1.067.096
23,25%
2.455.129
4.589.321
R. G Norte
1.201.576
69,96%
516.011
30,04%
685.565
1.717.587
Paraíba
1.380.988
64,26%
767.916
35,74%
613.072
2.148.904
Pernambuco
3.438.165
70,20%
1.459.266
29,80%
1.978.899
4.897.431
Alagoas
941.286
62,12%
574.012
37,88%
367.274
1.515.298
Sergipe
772.253
67,01%
380.222
32,99%
392.031
1.152.475
Bahia
5.059.228
70,16%
2.151.922
29,84%
2.907.306
7.211.150
Região Nordeste
20.176.579
71,70
7.967.846
28,30%
12.208.733
(43,37%)
28.144.425
E. Santo
911.906
46,15%
1.064.067
53,85%
152.161
1.975.973
R. Janeiro
4.488.183
54,94%
3.681.088
45,06%
807.095
8.169.271
M. Gerais
5.979.422
52,41%
5.428.821
47,59%
550.601
11.408.243
S. Paulo
8.488.383
35,69%
15.296.289
64,31%
6.807.906
23.784.672
Região Sudeste
19.867.894
43,82%
25.470.265
56,17%
5.602.371
(12,35%)
45.338.159
Paraná
2.408.740
39,02%
3.765.025
60,98%
1.356.285
6.173.765
S. Catarina
1.353.808
35,41%
2.469.079
64,59%
1.115.271
3.822.887
R.G.Sul
2.997.360
45,47%
3.452.455
53,53%
455.095
6.449.815
Região
Sul
6.759.908
41.10%
9.686.559
58,90%
2.956.651
(17,97%)
16.446.467
M. Grosso
717.230
45,33%
864.999
54,67%
147.769
1.582.229
M.G Sul
590.835
43,67%
762.233
56,33%
171.398
1.353.068
Goiás
1.365.658
42,89%
1818087
57,11%
452.429
3.183.745
D. Federal
580.581
38,10%
943.275
61,90%
362.694
1.523.856
Região Centro Oeste
3.254.304
42.57%
4.388.594
57,43%
1.134.290
(14,85%)
7.642.898




Estado
Abstenções
Nulos
Brancos
Total
Brasil
21,10%
4,63%
1,71%
27,44%
Acre
22,18%
2,09%
0,88%
25,15%
Rondônia
24,35%
4,20%
1,17%
30,26%
Amazonas
22,62%
6,17%
1,58%
30,37%
Roraima
16,43%
4,46%
0,91%
21,8%
Amapá
14,56%
4.07%
0,82
19,45%
Pará
25,22%
4,41%
1,10%
30,73
Tocantins
24,73%
3,08%
0,91
28,72%
Maranhão
27,37%
2,68%
1,06%
31,11%
Piauí
21,25%
3,32%
0,86%
24,57%
Ceará
21,75%
5,03%
1,41%
28,19%
R.G.Norte
17,66%
8,53%
1,82%
28,01%
Paraíba
18,00%
5,68%
1,88%
25,56%
Pernambuco
17,77%
4,23%
1,95%
15,49%
Alagoas
19,63%
3,95%
1,50%
25,08%
Sergipe
15,91%
4,16%
1,56%
21,63%
Bahia
24,18%
4,30%
1,43%
29,91%
E. Santo
21,72%
3,09%
1,75%
26,56%
M. Gerais
21,17%
3,56%
1,47%
26,20%
R. Janeiro
22,36%
10,51%
2,78%
35,65%
S. Paulo
20,51%
4,47%
1,97%
26,95%
Paraná
18,43%
2,46%
1,27%
22,16%
S. Catarina
17,86%
2,88%
1,28%
22,02%
R. G. Sul
18,19%
3,85%
2,14%
24,87%
M. Grosso
25,43%
2,14%
0,90%
28,47%
M. G. Sul
23,13%
2,04%
1,12%
26,29%
Goiás
21,53%
4,64%
1,65%
27,82%
D. Federal
12,64%
6,24%
1,76%
20,64%