Nenhuma frase representa tão bem a ideologia burguesa que
essa em que após sua ordem apenas restará o dilúvio. É a fórmula ideológica de
cessar toda crítica e qualquer ação para questionar e modificar esta ordem
calcada no capitalismo econômico.
Esta ideologia para que cumpra sua sentença é niilista e no
extremo tal niilismo sustenta o radicalismo das forças populares a serviço da
ordem burguesa. Após o capitalismo, só o vazio e assim amedrontam o povo com a
impossibilidade de uma sociedade que promova a justiça social, tenha plena
liberdade e que avance a civilização.
Acontece que temos forças produtivas suficientemente
desenvolvidas, amplo conhecimento da realidade da natureza e aprendizado
suficiente sobre nós mesmos para podermos construir exatamente isso: bem estar,
liberdade e contínua crítica da civilização. E não podemos avançar sem que toda
a “institucionalidade” burguesa ou agregada a ela seja criticada.
A ideologia niilista da burguesia, vamos dizer um pouco
menos, niilista para o mundo sem ela, com ela controlando tudo, apenas resta aos
outros o destino neste vale de lágrimas. E isso não é pouco para dizer,
especialmente quando o terrorismo do dilúvio é desaguado continuamente na
consciência das pessoas.
Por isso seus pensadores, seus soldados e mulas ideológicas
tanto temem de algo que não seja a ordem niilista do dilúvio. O bem estar geral
é sempre combatido como a corrupção da ordem sem a qual é o dilúvio. A
liberdade é sempre combatida como uma degeneração moral em que a moldura é a
censura e o paspatur o poder maior. A civilização vista como um carro descendo
uma grande ladeira necessitado de enormes freios.
Então tudo que existe é sujeito à crítica.
Apenas ela é capaz de orientar os passos dentro de uma ordem que se declara a
última fronteira da história (e até já decretou o fim dela).
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