quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Pau-do-Guarda: um ‘lugar’ que não quer ser esquecido

Carlos Rafael Dias
Professor do Curso de História da Universidade Regional do Cariri – URCA



Tabuleiro da Carne, sucessor e mantenedor da memória do Pau-do-Guarda

‘Pau do guarda’, no lado malicioso do senso comum, é uma expressão, no mínimo, ambígua. Porém, quando antecedido do substantivo ‘restaurante’ e permeado de hifens, passa a ser uma forte referência na memória dos cratenses com mais de 40 anos, assumindo uma ‘entidade’ que transcende sua singular origem e se dimensiona em contextos sociais e sentidos culturais mais amplos, capazes de provocar as mais diversas reações de emoção e enlevo.

Nesse contexto, uma questão é relevante: por que estamos agora a celebrar a memória do Pau-do-Guarda?

Antes de tudo, o Pau-do-Guarda enquadra-se naquilo que o historiador francês Pierre Nora chama de ‘lugares de memória’, espaços importantes onde a ideia da reminiscência é plena, por enxergar neles a vontade de ser lembrado por aqueles que querem revisitar o passado sob um prisma diferente.

Em segundo lugar, o desejo de lembrar é universal, a partir de esforços frequentemente projetados para evocar uma reação específica ou conjunto de reações, como reconhecimento público de situações vividas e compartilhadas. Assim, a memória possui uma forte carga de emoções, de histórias e de vidas, o que remete, para além dos rótulos, quase sempre superficiais ou artificiais, ao lado humano e fascinante das ‘coisas’, constituído de pessoas que, tidas comuns, se destacam no cotidiano local.

Falo, notadamente, de Cícero Ribeiro Lobo, mais conhecido por Cicinho do Pau-do-Guarda, e de sua esposa, Dona Raimunda, os principais ‘inventores’ deste hoje reconhecido patrimônio da cultura caririense. Por sua vez, os filhos de Cicinho e Raimunda dão continuidade ao empreendimento pioneiro, a despeito da outra ‘roupagem’ que reveste o seu sucessor. E o fazem com a utilização de alguns elementos discursivos, imagéticos e estratégicos, como o retrato do casal-fundador na parede e o cardápio ‘recheado’ de pratos herdados do menu original. Promovem, dessa forma, a permanência do antigo e tradicional perante ao novo e moderno, em um esforço que foi reforçado com a celebração festiva (e não poderia ser diferente) dos 65 anos do estabelecimento, mantido com uma nova (e antiga) denominação – Tabuleiro. Este é o atual e foi o primeiro nome deste consagrado monumento da memória regional.

Iniciativas como estas concorrem para o processo de materialização da memória, visto que transformam em símbolo um resgate histórico de valor coletivo para uma determinada comunidade, objetivando evitar o esquecimento e o descaso para com a história local. Como disse o filósofo austríaco Alfred Schültz, “só aquilo que já decorreu pode ser simbolizado”.

No mais, a ideia da materialização da memória é de suma importância para promover a compreensão e a consciência a respeito de como fenômenos passados contribuem para o bem-estar e a satisfação de uma comunidade consciente de seus direitos e obrigações.

O Pau-do-Guarda cumpre assim sua missão, mesmo já tendo, com esta nomenclatura, “cerrado suas portas” que, a rigor, nunca existiram. Uma de suas mais interessantes características era o de servir os clientes todos os dias e o dia todo, o que torna local historicamente distinto e, portanto, fadado a ser sempre lembrado.

O Pau-do-Guarda continuará nos servindo diuturnamente com o ‘néctar’ da memória coletiva, que será indelével ser for constantemente alimentada pelo exercício da manutenção da história como um espaço que renasce com as experiências que marcam e demarcam os tempos.

Celebração dos 65 anos do Pau-do-Guarda. Da esquerda para a direita: Cacá Araújo, Irene Lobo, dona Raimunda, Orleyna Moura, Cicinho e José Flávio Vieira

Ontem (29/01), portanto, foi uma data para celebrar a memória através dos sabores, das cores, dos sons e das falas do presente. O Tabuleiro (da Carne) estava lotado com a velha e a nova guarda do Crato e do Cariri, rememorando ou (re)conhecendo as imbrincadas velhas e novas cartografias da noite boêmia regional, em um palimpsesto que remete aos tempos e às experiências tidas como inolvidáveis.

Gastronomia tradicional, verdadeiro patrimônio da cultura regional, aliou-se à música de seresta e ao teatro que narrou, de forma bem-humorada, a história do tradicional restaurante Pau-do-Guarda, em um magistral texto escrito por José Flávio Vieira e interpretado pelos atores Cacá Araújo, Orleyna Moura e João do Crato.

Veja também:
http://blogdocrato.blogspot.com/2007/09/cicim-do-pau-do-guarda.html

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O "CHICAGO BOY" PAULO GUEDES - José Nilton Mariano Saraiva


A trajetória do economista Paulo Guedes é tão inexpressiva e vazia que apenas dois fatos se destacam no decurso de toda a sua vida acadêmica: 

01) sua presença na equipe do governo do ditador chileno Augusto Pinochet (interstício 1973/1990), onde participou da implementação de um plano econômico que ainda hoje espalha seus efeitos deletérios e maléficos sobre a população andina, principalmente aos seus aposentados e pensionistas, hoje vivendo à míngua em razão de; e, 

02) sua posterior desastrada (para os outros) atuação no mercado financeiro brasileiro (claro que à falta de qualquer outra opção), onde atuou no manuseio de uma massa gigantesca de recursos dos fundos de pensão de estatais, de lá saindo (quando se descobriu a verdade) sob a acusação do cometimento de portentosas fraudes em benefício próprio (dizem que está “podre de rico”, em decorrência).

Fato é que, com um “passado que condena”, reflexo da sua formação superior em Chicago, considerada berço do ultra neoliberalismo, (já que essencialmente “mercadista-privatista” e, consequentemente sem nenhum apego à questão “socio-humanitária”, com todos os efeitos perniciosos daí decorrentes), o certo é que num país sério jamais uma figura como Paulo Guedes teria oportunidade de atuar desabridamente em favor de um minúsculo segmento específico (os abutres, formadores do tal “mercado”, como ele sempre foi), e em desfavor dos menos favorecidos: toda uma população.

Quis o destino, entretanto, que, tal qual uma alma penada, à sua frente aparecesse de repente a figura desprezível de Jair Bolsonaro, deputado integrante do baixo clero legislativo, sem noção de absolutamente nada, em qualquer campo, mas que, por um aborto do destino, foi surpreendentemente eleito Presidente da República, oferecendo-lhe a ímpar oportunidade de comandar (na teoria e prática) um país da imensidão do Brasil (tanto que o comparou a um tal “Posto Ipiranga”, teoricamente um local onde tudo é resolvido e todas as soluções são encontradas).

O resultado, catastrófico e aterrorizante, está aí no nosso dia-a-dia: uma nação de dimensões continentais, rica em recursos humanos e naturais, tida e havida com toda razão como uma futura potência mundial (principalmente depois da descoberta do portentoso pre-sal, no governo Lula da Silva), sendo literalmente entregue de mão beijada à “gringarada”, ávida por sugá-la até nada mais restar (não duvidem que se instalem aqui até militarmente após assumirem a base de Alcântara), enquanto a privatização incontida e desmesurada de empresas governamentais joga na rua e desemprega não só pais de família, mas os próprios jovens (e tudo sob o comando dele, Paulo Guedes).

Depois do serviço feito e entregue, aí, lépido e fagueiro, o “chicago boy” Paulo Guedes, como recompensa, assumirá alguma vaga vitalícia num desses organismos americanos responsáveis por desgraçar a vida de outros países, através de prepostos da sua estirpe (como o fez Pedro Malan, outro vendilhão da pátria, na época de FHC).

Quanto ao seu patrão (Jair Bolsonaro, aquele que não sabe nada de nada) voltará a comandar os “milicianos” do Rio de Janeiro, junto com os filhos e com a proteção dos irresponsáveis integrantes do Supremo Tribunal Federal (abonadores, desde sempre, de tudo isso que está aí).





sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

PUSILANIMIDADE DO STF - José Nilton Mariano Saraiva


Era previsível que, já há algum tempo deixando-se quedar e vergar-se passivamente ante um juizeco de primeira instância (Sérgio Moro, que usou e abusou de transgredir diuturnamente o enunciado em nossa Carta Maior), o Supremo Tribunal Federal teria dificuldades imensas de se afirmar a posteriori, assim como de impedir que outros “iluminados” do judiciário, escudados na leniência daquela Corte para com o dito-cujo, adotassem o mesmo modus operandi. Afinal, a porteira fora escancarada acintosamente e a vaca já fora pastar no reino da impunidade (o brejo). 

Pra comprovar, a confissão de uma Procuradora da República que atuara como auxiliar do próprio juiz e que desabridamente afirmou que o referido sempre foi um sequencial e costumaz transgressor do constitucionalmente estabelecido, porquanto o tal Supremo Tribunal Federal sempre fez vista grossa para as arbitrariedades e os abusos cometidos por ELE

O resultado não poderia ser outro: com uma regularidade impressionante “pipocam”, aqui e ali, decisões esdruxulas até de magistrados de piso (iniciantes), afrontando literalmente o texto constitucional, como se o “livrinho” não tivesse mais nenhuma serventia e restasse inócuo

Agora mesmo, em Brasília, um desses “iluminados” (aqui um “graduado” Procurador da República) entendeu ser absolutamente desnecessário investigar ou indiciar preventivamente alguém, a fim de só então proferir a denúncia, conforme estabelecem os trâmites legais e, monocraticamente, decidiu formalizá-la contra o jornalista Glenn Greenwald, por suposta associação com hackers. 

Mesmo sem nenhuma prova material e apesar de um laudo da Polícia Federal tratando da mesma questão afirmar de forma contundente e peremptória que... “não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados”.

Como se vê, o caos e a esculhambação reinante na área judiciária tupiniquim tem como principal incentivador a pusilanimidade e frouxidão do tal Supremo Tribunal Federal, que omisso foi e omisso continua sendo, quando a questão envolve os mafiosos do executivo e legislativo (desagradá-los, nem pensar). 

E assim, o juizeco-transgressor, agora entronado como Ministro da Justiça e Segurança Pública, continua pouco ligando para as excelências togadas. E então, haja a aprovação de cabeludas “barbaridades” jurídicas, como indica o texto que Sérgio Moro está a empurrar goela abaixo no nosso ordenamento jurídico, com mudanças absurdas, especialmente no Código de Processo Penal. 

Ante tal quadro dantesco, se impõe indagar: por qual razão não extinguir, logo e de uma vez por todas, o tal Supremo Tribunal Federal, porquanto desnecessário, já que nem cheira nem fede (mas se omite, ao tratar de questões cruciais) ???

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

CERVEJA, PANELADA, SARAPATEL E BUCHADA - José Nilton Mariano Saraiva


Independentemente da raça, cor, sexo, religião, ideologia, credo, preferência clubística ou política, os milhões de adeptos de uma “geladinha” (cerveja) ou da “marvada” (cachaça), professam uma certeza absoluta: dia seguinte à homérica farra, quando se excedem no consumo e acordam com aquele terrível “gosto de cabo de guarda-chuva na boca”, nada mais apropriado pra curar a “ressaca braba” (que às vezes dá vontade até de morrer), do que “forrar o estômago” com um revigorante e bendito caldo (de mocotó, carne moída ou costela de boi), no capricho e tinindo de quente, capaz não só de matar todos os vermes que “encontrar na descida”, como também “levantar ou por de pé até defunto”.

No entanto, há que se ter cuidado com os “caldos da vida”. Sim, porque existem duas espécies de caldo: 01) o “caldo verdadeiro”, original, genuíno, que é aquele bem preparado, repleto de temperos e condimentos, capazes de lhe dar cheiro, sabor e “sustância”, e ainda operar o milagre de fazer seu usuário “renascer” das cinzas, a ponto de, sob o pretexto de “lavar o peritônio”, tirar o gosto ali mesmo com uma outra geladérrima, recomeçando a farra; e, 02) o “outro caldo”, o caldo falso, o caldo de segunda, o caldo de araque, que é aquele que é só uma espécie de água morna, desprovido de temperos e condimentos, sem gosto, sem cheiro, sem poder revigorante e, enfim, sem nenhuma serventia, capaz até de “bater e voltar”, ou seja, de fazer com que o seu usuário “bote até os bofes pra fora”, na hora. Esse, por suas características peculiares, findou sendo designado pelos biriteiros da vida com a alcunha de “caldo de bila” (portanto, quando você ouvir a expressão “caldo de bila”, lembre-se de que é algo fraco, inútil, sem serventia).

E a “expressão” pegou de uma maneira tal, foi tão bem assimilada por gregos e troianos, que quando queremos manifestar nosso descontentamento com algo ou alguém que não corresponde às nossas expectativas, em qualquer competição ou atividade, imediatamente professamos: é “mais fraco que caldo de bila”.

Tomemos como exemplo a Fórmula 1, um esporte por demais admirado no mundo todo e que, para nós brasileiros, num determinado momento da história, foi motivo de orgulho e respeito, quando tínhamos a nos representar nos mais diferentes autódromos dos quatro cantos do planeta os Emerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Ayrton Senna da vida.

Quem não lembra das manhãs de domingo em que renunciávamos à praia, clubes, balneários, açudes, cinemas ou um outro divertimento qualquer, só pra ficar por duas horas frente à telinha, beliscando uma cervejota com tira-gosto de PANELADA, SARAPATEL e BUCHADA, vibrando com o “pé-pesado” ou as ultrapassagens sensacionais dos nossos “homens voadores”, campeões mundiais em seguidas temporadas ??? Quem não lembra dos pegas fantásticos e espetaculares entre Fittapaldi X Jack Stuart, Piquet X Mansel, Senna X Prost, Senna X Piquet, dentre outros ???

Foi então que o destino nos pregou aquela peça terrível, aquele momento dantesco, nos levando prematuramente o Ayrton Senna, numa calma manhã de domingo, durante uma corrida aparentemente tranquila, na Itália, após a quebra da barra de direção de seu carro, a mais de 200 quilômetros por hora.

Imediatamente a TV Globo, em razão principalmente dos milhões de dólares despendidos na transmissão de cada corrida, e temendo a perda dos exuberantes patrocínios, tratou de “fabricar” da noite pro dia um substituto para o Senna; e como não havia muitas opções naquele momento, literalmente foi “decretado” pela cúpula da Globo e nos imposto goela abaixo, que um jovem piloto paulista, novato na Fórmula 1, seria o novo “ídolo” da torcida brasileira; e foi assim que tomamos conhecimento da existência de Rubens Barrichello, logo batizado pelo chefão de esportes da emissora (Galvão Bueno) de “Rubinho” (certamente que numa tentativa de torná-lo mais “palatável” ante os aficionados da categoria).

Daí pra frente todos nós sabemos a história de cor e salteado: apesar do hercúleo esforço da Globo em alavancá-lo, do generoso espaço lhe disponibilizado, de lhe arranjarem inclusive um lugar na disputadíssima e então imbatível Ferrari (à época detentora dos mais possantes e velozes carros da categoria), o que se via nas pistas era um piloto atabalhoado, lento, medroso, excessivamente burocrático, sem qualquer pegada, além de potencial e exímio “quebrador” de carros, os quais não conseguia “ajustar” nunca (quantas vezes vimos o tal “Rubinho” em desabalada carreira durante as corridas - SÓ QUE A PÉ E NA CONTRAMÃO - em busca do carro reserva ???).

Sem carisma, desprovido de empatia e simpatia, sempre com uma desculpa pronta para os recorrentes fracassos nas pistas, inventor de uma comemoração pra lá de ridícula (uma tal de “sambadinha”) quando ocasionalmente ganhava alguma corrida, Barrichello aos poucos foi se eclipsando, sumindo, escafedendo-se.

Assim, a Globo optou por uma descarada inversão de valores: à falta de resultados, o locutor global tratava de potencializar o fato de “Rubinho” às vezes ficar entre os 10 que obtiveram melhor classificação nos treinos, além de insistir e persistir em nos informar ser ele o piloto que disputou mais de trezentas (300) corridas de Fórmula 1 (olvidando, no entanto e propositadamente, de nos cientificar dos resultados ou da relação entre o número de vitórias obtidas e os grandes prêmios disputados).

Por essa e outras é que poderíamos associar Rubens Barrichello ao nosso famoso “caldo de bila”: não fede, não cheira, não tem gosto, não propicia qualquer serventia ou bem-estar, enfim, um blefe portentoso.



domingo, 12 de janeiro de 2020

GILMAR MENDES E A REPÚBLICA DE CURITIBA


"A República de Curitiba nada tem de republicana, era uma
ditadura completa. Assumiram papel de imperadores
absolutos. Gente com uma mente muito obscura, gente
ordinária. Se achavam soberanos. Gente sem nenhuma
maturidade, corrupta na expressão do termo. Violaram o
Código de Processo Penal”.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

AS "MENINAS DO PIMENTA" - José Nilton Mariano Saraiva


Desde tempos outros, o Bairro Pimenta, no Crato, ostentava com orgulho o título de “bairro nobre”, bairro dos poderosos, bairro da elite municipal.

Lá, residiam os “doutores” em geral (médicos, dentistas, engenheiros e demais graduados da terra), bem como os de bem com a vida (comerciantes, industriais, fazendeiros, profissionais liberais e por aí vai).

E também lá se localizavam os imóveis mais valorizados da urbi (residenciais e comerciais), assim como o ambiente mais seleto e charmoso não só do Crato, mas de toda a Região Cariri: o então revolucionário Crato Tênis Clube, com suas concorridas “tertúlias” ou “vesperais” às manhãs ou tardes de domingos, seus fulgurantes e concorridos carnavais, mas de frequência absolutamente restrita (adentrar o Tênis Clube, naquela época, só pra poucos, já que verdadeira epopeia para “estranhos”).

No entanto, apesar de toda essa “seletividade” latente, a joia do Pimenta eram as suas “meninas”: belas, educadas, charmosas, elegantes no vestir e no se portar (mas miseravelmente sumidas durante toda a semana), aos domingos, em algazarra esfuziante, desciam em “bandos” para a Siqueira Campos, onde (sabiam, sim), detinham o poder de dilacerar, atormentar e arrebentar os corações daqueles pre-homens/adolescentes carentes, ávidos e com o coração a mil (dentre os quais também os residentes na “periferia”, porquanto já então a praça era um espaço democrático) à espera de, pelo menos, um piedoso olhar, mesmo que de compaixão (o signatário, residente no Bairro Pinto Madeira, do outro lado da cidade, era um deles).


Particularmente (e numa outra perspectiva), devemos às “meninas do Pimenta” o despertar prematuro para uma questão essencial: a necessidade premente de tentar ser alguém na vida, a fim de, pelo menos, sonhar com a possibilidade de transformar aquele “amor platônico” domingueiro em realidade, via ascensão social (um bom emprego, um título de doutor, e por aí vai).

Fato é que o “statu quo” já se fazia, sim, presente àquela época, de sorte que a blindagem, o hermetismo e a absoluta inacessibilidade dos “periféricos” às “meninas do Pimenta”, já então era uma realidade triste e palpável (quantas noites indormidas, quantos belos sonhos alimentamos tendo por protagonistas algumas das beldades da Siqueira Campos).

Alias, sobre elas reportamo-nos anos atrás em uma das nossas postagens nos blogs da vida, a saber: “enquanto as moçoilas em flor, devidamente produzidas giravam, giravam e giravam em seu calçadão, momentaneamente transfigurado em uma ativa, grande e concorrida passarela, exalando beleza e frescor, nós, os marmanjos, de pé, braços cruzados, às bordas do quadrilátero, atuávamos como expectadores privilegiados de um seleto concurso de beleza, na expectativa de um olhar receptivo”.

Doces lembranças que, mais tarde (já na fase adulta), fizemos questão de lembrar e reviver com inusitado e compreensível carinho, conforme afirmamos em uma outra postagem: “e no entanto, aqui estamos nós, desconhecidos, que nunca se encontraram, nunca se falaram, não têm a menor ideia de como é o outro fisicamente, mas que, certamente, em algum domingo da vida se cruzaram na praça Siqueira Campos, vivenciando uma época fabulosa; e agora, através de reminiscências comuns, constroem uma perspectiva real de amizade fraterna”.

MENINAS DO PIMENTA’… quantas saudades.




quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

"REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI", PROCURA-SE - José Nilton Mariano Saraiva


REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI”, PROCURA-SE - José Nilton Mariano Saraiva
Num país onde as leis são solenemente ignoradas, sem que haja maiores cobranças e consequentes penalidades, não é de espantar que a estadual Lei Complementar nº 76, de 26.06.2009, subscrita pelo Governador do Estado do Ceará, reste totalmente desmoralizada.
Para quem não sabe, referida Lei dispõe sobre a criação da Região Metropolitana do Cariri e já em seu artigo 1º reza: “Fica criada a Região Metropolitana do Cariri - RMC, face ao que dispõe o art. 43 da Constituição Estadual, constituída pelo agrupamento dos municípios de Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Jardim, Missão Velha, Caririaçu, Farias Brito, Nova Olinda e Santana do Cariri, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum” (ipsis litteris).
Ora, já aí, no corpo da própria lei, pela ordem como foram relacionadas as cidades, se observava uma tendência a se priorizar e privilegiar uma delas, Juazeiro do Norte, colocada como “cabeça de chapa”, sem maiores justificativas. Afinal, por que não dispô-las na ordem alfabética tradicional (Barbalha, Caririaçu, Crato, Farias Brito, Jardim, Juazeiro do Norte, Nova Olinda e Santana do Cariri) como é praxe.
Na oportunidade (antes mesmo da promulgação da tal lei em 26.06.2009), antevendo o blefe que viria no futuro, que a criação da tal Região Metropolitana não passava de uma fraude grotesca PARA BENEFICIAR UMA ÚNICA CIDADE, afirmamos de forma peremptória e incisiva, nos blogs da vida (em 03.06.2009): “Desde que haja honestidade de propósitos e compromisso com a seriedade, Região Metropolitana implica a distribuição equitativa e equilibrada, entre os diversos conglomerados urbanos que a compõem, dos benefícios (principalmente econômicos) a serem recomendados ou gerados por iniciativa governamental".
E prosseguimos:
Não parece ser o caso da que será criada aí no Cariri (a tônica é, sim, o ‘esvaziamento do Crato’ tanto que antecipadamente já nos tomaram a UFC e agora atentam contra a Exposição) já que a tendência explícita é a manutenção e solidificação de beneficiamento de um só pólo, uma só cidade, um só aglomerado, conforme ficou evidente na simples denominação da mesma, com a turma do Governo já anunciando a plenos pulmões que chamar-se-á por cima de pau e pedra, quer chova ou faça sol, Região Metropolitana de Juazeiro (ou seja, as demais cidades serão meros e insignificantes satélites a ‘orbitarem’ em torno de um pólo centralizador – independente, autônomo e que ditará as regras do jogo, para o bem ou para o mal)".
Como até a “velhinha de Taubaté” tem consciência que no mundo atual quem manda e desmanda, casa e batiza, faz e desfaz é o “vil metal”; que potenciais investidores de empreendimentos de porte só se dispõem a se instalar onde facilidades lhes sejam disponibilizados pelo governante de plantão; e, principalmente, que quem movimenta e faz a roda do progresso girar em determinada direção é o “componente político”, o que afirmamos naquela data se concretizou.
E dessa vez não vamos aqui falar em “premonição”.
Na verdade, a razão de acertarmos mais uma (sob o fogo cerrado de alguns “gênios”, aí do Crato), foi que, da forma como foi concebida e estruturada a tal Região Metropolitana do Cariri, a perspectiva era mesmo de deixar órfãos ao longo do caminho, porquanto desde o princípio flagrantemente direcionada a uma única cidade-pólo, na órbita da qual girariam os satélites errantes e desprezíveis (cidades outras).
Perdemos o bonde da história.



segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A GARGALHADA FINAL - Demóstenes Ribeiro (*)


Embora a sua família fosse considerada inteligente e um dos seus irmãos, importante advogado, ele, sequer sem o ensino médio, era frequentemente desprezado. No entanto, todos reconheciam a sua facilidade de expressão e intuição oratória, notadamente quando tomava umas cachaças.
Por isso, adorava ser o locutor da amplificadora local, onde a sua voz agradável consagrara o bordão “... senhoras e senhores ouvintes, pontualmente, seis horas. É a hora do Ângelus, e com esse prefixo musical, a difusora a Voz do Cariri – a sua D.V.C. -, acionando modernos equipamentos e potentes alto-falantes, transmite para toda a cidade e interior dos lares, as mais belas canções e os acontecimentos palpitantes da nossa comunidade. Na locução, Erivan e no controle de som, Francisco Pena!”
E ele tocava a vida, noticiando pelo microfone, aniversários, falecimentos, comerciais e propaganda política. Às vezes, surpreendiam as edições extras da D.V.C., prenunciadas pela “marcha fúnebre”, de Chopin, se alguém importante falecia, ou por uma melodia alegre em datas festivas familiares.
No entanto, ao se exceder na bebida, às vezes se atrapalhava. Entrou para o folclore local, a vez em que, bastante embriagado, ao anunciar o aniversário de uma criança, sobre o fundo musical “hoje é dia do seu aniversário, parabéns, parabéns. Fazem votos que vás ao centenário, os amigos sinceros que tens...” trocou o pai pela mãe, e disse solenemente “hoje, belíssimo dia, é o aniversário natalício do interessante garotinho Fernando Carlos. Nessa efeméride, seu pai, Cecília da Silva e a sua mãe, Chico da Silva, lhe oferecem esta linda melodia como prova de carinho e amizade.”
Porém, o que o fazia ainda mais feliz era discursar presencialmente e de improviso em comemorações ou fazer uma família inteira chorar, falando à beira do túmulo quando do sepultamento de alguém muito estimado.
Enquanto isso, a cidade seguia sua rotina monótona, mas violência e vingança sempre estiveram no ar e vez por outra sacudiam o lugarejo. Crimes de pistolagem, feminicídio, enforcamento, traição política, infidelidades conjugais e a expectativa por um ajuste de contas que viria cedo ou tarde, preenchiam o imaginário popular.
Para sempre lembrada, foi a briga entre três rapazes acontecida há mais de vinte anos. Antes, amigos e companheiros, uma discussão banal culminou com a morte estúpida de um e feroz inimizade entre as famílias. Depois, morreram os outros dois, e nos filhos de um deles, desde a tenra infância, plantou-se a maldição de que alguém mais deveria morrer, pelo simples parentesco com um dos mortos.
Assim, muitos anos depois, um senhor idoso – Emérson Menezes de Lucena - foi surpreendido por um jovem que, a sangue frio, lhe disparou vários tiros, numa morte que consternou a cidade.
No cemitério lotado, à beira do túmulo, Erivan, muito comovido, exaltava as qualidades do falecido, porém completamente embriagado, trocou o seu nome falando “que nessa tarde sombria, triste e pesarosa, quando a Porta do Cariri se despede do querido Emérson Fernandes de Oliveira, vítima de uma violência tão covarde...”
Ao ouvir essas palavras, outro Emérson, temido e odiado, o interrompeu bruscamente: “o que é isso, Vanzim, eu tou vivo aqui, bem atrás de você, não me mate não!” Por alguns segundos, tristeza e choro deram lugar a uma risada discreta e abafada, mas refeito o silêncio, veio do caixão uma sonora gargalhada macabra.
A multidão debandou em disparada e deixou sozinho, “Seu” Corrumbeque. O velho coveiro, benzeu-se três vezes, depressa sepultou o cadáver e por muito tempo não quis enterrar mais ninguém.

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(*) Dr. Demóstenes Ribeiro, médico-cardiologista, natural de Missão Velha, com atuação profissional e residência em Fortaleza-CE





sábado, 4 de janeiro de 2020

A INDESEJÁVEL VOLTA DOS "XERIFES" DO MUNDO - José Nilton Mariano Saraiva


Não se constitui nenhum segredo que os Estados Unidos da América já há um certo tempo passam por sérias dificuldades no tocante a fontes energéticas, principalmente à utilização do petróleo.


Mas que, mesmo e apesar de enfrentar um corrosivo, desgastante e avassalador processo de decadência econômico-produtiva, se nos apresenta (ainda) como a maior potência do mundo em termos técnico-científico e bélico, embora a China e Rússia já “funguem” em seu cangote de forma ostensiva e ameaçadora.

Mas, como a “fonte” que sustenta tudo isso - suas reservas petrolíferas - rapidamente se exaurem em função da “farra” e mau uso durante décadas (seu consumo interno sempre se manteve nas alturas), sem que se lhes apresentem condições de diminuí-lo ou haja qualquer outra fonte alternativa no médio prazo, há, sim, a possibilidade iminente de um “stop” da atividade produtiva do próprio país, dentro de certa brevidade.

Portanto, pra que se mantenha a máquina em funcionamento há uma imperiosa necessidade e um premente desafio de buscar, encontrar, extrair e até “roubar” petróleo, onde houver petróleo abundante e em excesso (leia-se Oriente Médio, preferencialmente, e Brasil, Venezuela dentre outros), senão o país mais poderoso do mundo inexoravelmente irá à lona, restará nocauteado.

Para consecução de tal mister, uma das mais eficientes armas utilizadas até aqui tem sido a distorção de informações (tal qual a utilizada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial), propagadas por uma mídia corrupta, amestrada e dócil, que tem papel preponderante na fixação do uso de certos métodos heterodoxos de “convencimento”, objetivando sejam atropelados ou aniquilados aqueles que se lhes postarem à frente, ou, até, os que ousem contestá-los ou confrontá-los (desde quando, por exemplo, os americanos respeitam fóruns coletivos internacionais tipo a OTAN, ONU, G-8, G-20 e tal, quando resolvem que têm de intervir mundo afora ???).

Assim, nada mais conveniente e apropriado (pra eles, americanos) que se autoproclamarem e tentarem difundir e manter o galhardão de “XERIFES” do mundo, defensores da raça humana e dos bons costumes, protetores dos desvalidos, última reserva moral do planeta, solução para todos os males dos terráqueos, e por aí vai, mesmo que a sua belicista prática diária se contraponha à teoria.

Necessário, para tanto, a provocação e manutenção infindável de um “conflitozinho” básico com um país periférico qualquer (contanto que abarrotado de petróleo) a fim de que, quando a coisa apertar e se tornar necessário, possam descredenciá-lo, jogá-lo às feras, pô-lo contra o resto do mundo, invadi-lo e, assim, tomar de conta das suas portentosas reservas minerais.

Afinal, quem não lembra do recentemente ocorrido no Iraque, quando os "gringos", sob o fajuto e inconsistente argumento da existência de letais armas químicas com potencial de destruir a própria humanidade, acionaram sua mortífera e poderosa força bélica com o objetivo único e exclusivo de apoderar-se do petróleo iraquiano, como realmente aconteceu (desde o começo desconfiava-se, e posteriormente se comprovou tratar-se de uma deslavada mentira o argumento das armas químicas).

Para tanto e sem nenhum escrúpulo, anunciaram e difundiram além mares a intenção de “caçar”, “julgar” e “assassinar” em tempo recorde o ditador-presidente Saddam Hussein. O que foi feito de pronto e sem maiores tergiversações (na forca e com transmissão ao vivo e a cores para todo o planeta). .

Agora, aqui pra nós, alguém tem dúvida que aquilo ali foi um verdadeiro assassinato, mesmo se sabendo tratar-se de um ditadorzinho de quinta categoria ??? Que aquilo foi uma descarada “interferência indevida” em assuntos internos de uma nação independente ???

Fato é que, como não houve maiores protestos ou reações (à época), hoje os “xerifes” do mundo se preparam para tomar de conta das infindáveis jazidas petrolíferas do vizinho Irã, mesmo que para tanto tenham que provocar mais uma carnificina num país distante; para tanto, e provocativamente, nada como assassinar covardemente (via aérea) uma das figuras mais queridas dos iranianos, o general Qasem Soleimani, segundo nome na hierarquia daquele país, sob o argumento de que ele estaria a se preparar para assassinar americanos por todo o mundo (embora nenhuma evidência haja, sobre).

Resta-nos a pergunta que não quer calar: se são tão valentes e protetores da humanidade, por qual razão não se metem com a Rússia, que se acha assentada e também “lambuzada” num mar de petróleo ??? Será que o arsenal nuclear russo os assusta tanto ???

Teremos um outro 11 de setembro ???

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Post Scrioptum:

Quanto ao Brasil, especificamente, não foi preciso qualquer conflito, nenhuma arenga, sequer um buchicho, já que o tosco e desequilibrado que está presidente da república (aquele que bate continência para a bandeira americana e é capaz de declarar publicamente, num inglês macarrônico “I love you, Trump”) entregou o nosso pre-sal, de mão beijada, aos gringos.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

CONFIDÊNCIAS NA MADRUGADA" - José Nilton Mariano Saraiva


Desde tempos imemoriais criamos o saudável hábito (ou seria pura insegurança ???) de, ao sentar para tentar redigir alguma coisa, termos ao lado um velho companheiro de luta: o dicionário.
Assim, logo após o seu lançamento no Brasil, em 2001, adquirimos o Dicionário Houaiss (embora já tivéssemos o do Aurélio) por entender tratar-se de uma grande, necessária e imprescindível obra.
Para que tenhamos ideia da sua grandeza, basta atentar que, na sua elaboração, nada menos que 200 (duzentos) lexicógrafos e especialistas no mister participaram da empreitada, e que em suas 2.924 páginas o “livrão” nos traz cerca de 228.500 verbetes, 376.500 acepções, 415.500 sinônimos, 26.400 antônimos e 57.000 palavras arcaicas, além de um sem número de consistentes informações técnicas, evidentemente que versando sobre a Língua Portuguesa (daí também ter sido lançado em Portugal). Sem qualquer demérito ao “Dicionário Aurélio”, o Houaiss lhe dá de goleada. Temo-lo, pois, como um companheiro inseparável, sempre que – como agora – queremos colocar o preto no branco, tentar passar alguma coisa pra você, aí do outro lado da telinha.
Pois foi exatamente numa dessas íntimas trocas de “confidências na madrugada” (vocês também conversam com o Dicionário, no silêncio da noite ???) que a porca torceu o rabo: a palavra que procurávamos (que não nos recordamos no momento), começava com a letra “P”, cujo vastíssimo banco de dados se encontra relacionado entre as páginas 2.099 a 2.340 do Houaiss, para onde nos dirigimos.
Uma primeira pesquisa e a surpresa desagradável: nadica de nada da dita-cuja. Pacientemente, creditamos o seu “não encontro” à zonzeira típica da chegada do sono àquela hora da madrugada, razão porque nos dirigimos à cozinha para bebericar um gole d’agua e “lavar a fuça”, objetivando acordar de vez.
Numa nova tentativa, nada da palavra. Ficamos um tanto quanto “baratinados” e murmuramos cá com os nossos botões: como é que pode, um “bichão” desse tamanho (2924 páginas) não ter uma simplória palavra dessa. E assim fomos nos deitar com a pulga atrás da orelha.
Pela manhã, já descansado e alimentado, partimos pra encarar a fera de frente, convictos que dessa vez ela não nos escaparia. Ledo engano. A tal palavra, definitivamente, não constava do estupendo Houaiss. Inconformados, tomamos então uma decisão radical: como que a procurar uma agulha no palheiro, sofregamente conferimos, uma a uma, da página número 01 à página número 2.924, na perspectiva da falta de alguma página.
Xeque-mate.
Encontramos, não só no espaço dedicado à letra “P”, mas, também, em mais duas outras letras (N e O ???), quatro ou cinco páginas faltando (em cada uma das letras) e, em seu lugar, páginas repetidas, num imperdoável erro de impressão (ou organização, ajuntamento e por aí vai) para uma obra de tamanho vulto.
Imediatamente acionamos o site ao qual o havíamos solicitado via Internet (Livraria Saraiva) e fomos orientados a devolver o Dicionário, via sedex (evidentemente que sem custos) e, semanas depois, recebemos um outro exemplar de volta (e aí já completo), com o agradecimento da editora responsável (Objetiva), que alegou que no “lote” em que se encontrava o exemplar que adquirimos originalmente teria havido o tal problema (repetição e falta de páginas).
Se, por conta disso, houve um “recall” a posteriori (solicitação de devolução de um lote ou de uma linha inteira de produtos, feita pelo responsável pela impressão do mesmo), não sabemos e nem nos foi dado conhecimento (mas, aqui pra nós, se você chegou a adquirir um Dicionário Houaiss, confira pelo menos a letra “P” à procura de páginas repetidas e consequentemente à falta das que deveriam ali constar, ok ??? ).
No mais, tirante esse detalhe (atípico), vale a pena investir no Houaiss (e como vale).












quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

AINDA SOBRE O "DESASTRE AMBIENTAL" NA AMAZÔNIA - José Nilton Mariano Saraiva


Durante muitos anos, o desenvolvimento econômico, decorrente da Revolução Industrial, sobrepôs-se e impediu que os problemas ambientais fossem considerados seriamente, como deveriam.

A poluição e os negativos impactos ambientais do desenvolvimento desordenado eram visíveis, mas, ante os benefícios proporcionados pelo “progresso”, eram justificados irresponsavelmente como um “mal necessário”, algo com que deveríamos conviver e nos resignar, ad eternum.

Só nos anos recentes, após a descoberta da camada de ozônio, do efeito estufa e do perigoso aquecimento global, a racionalidade foi posta em prática e o conceito mudou radicalmente: proteger o meio ambiente não significa impedir o progresso, bem como não se pode admitir um desenvolvimento predatório e insustentável.

Assim, urge que reconheçamos ser fundamental a conscientização coletiva da necessidade de se promover o desenvolvimento em harmonia com o meio ambiente, que é o que muitos de nós tentamos fazer, individualmente, na procura de uma vida saudável e duradoura.

Para tanto, é por demais louvável a ideia de defesa intransigente da adoção do desenvolvimento sustentável, que tomou corpo e cresceu assustadoramente nas últimas décadas, norteando a ação dos órgãos públicos encarregados da defesa do meio ambiente, em todo o mundo.

No caso do Brasil, especificamente, a própria Constituição Federal estabelece que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, porquanto é o homem, o ser humano, a pessoa, não só como indivíduo, mas como humanidade e como sujeito, a razão direta e prioritária do benefício de um meio ambiente sadio e autossustentável.

Pena que no atual governo do brucutu Bolsonaro tudo isso tenha sido deixado de lado, conforme constatamos com as queimadas recentes na Amazônia, sem que o Governo haja tomado qualquer providência para obstá-las.