segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Nota de pesar pelo falecimento de Rossana Barros Pinheiro


A cratense Rossana Barros Pinheiro, 21 anos, acadêmica de medicina da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte - FMJ - faleceu hoje, por volta das 11 horas, vítima de acidente automobilístico após o carro em que viajava chocar-se com um caminhão tipo baú, que avançou o retorno em frente ao Atacadão/Carrefou, na rodovia Padre Cicero que liga Juazeiro do Norte ao Crato.

Rossana é filha do empresário Valter Pinheiro Leite, também presidente do Clube Recreativo Grangeiro, pessoa detentora de grande prestígio na cidade do Crato, querido pelos amigos e respeitados por todos os seus conhecidos.

Em nome de todos os colaboradores e leitores deste blogue, desejo à família enlutada, neste momento de dor e pesar, os mais sinceros e profundos votos de condolência.

O sepultamento de Rossana está previsto para amanhã, dia 1º de setembro, às 10 horas, no Cemitério Nossa Senhora da Piedade, em Crato. O corpo está sendo velado na residência da família, na Av. Pedro Felício Cavalcanti, 1885, Parque Grangeiro, em Crato.

Homenagem a Rossana por Demétrius Silva*

Rossana Barros Pinheiro, cursava medicina na FJN em seu quinto semestre. Minha colega que dividia a bolacha recheada em intervalos de pouco movimento na locadora Vídeo Shopp onde terei muito carinho por todos até meus últimos dias na terra. Faleceu no dia 31 de agosto, mais ou menos às 11 horas na Av. padre Cícero. Uma amiga que me apoiou quando abri minha primeira empreitada chamada Episódio, que conversava comigo sobre tudo que tinha em mente.
Minha adorada Sana que sempre quando a encontrava, ou ela aparecia na Vídeo Shopp, cantarolava "Rossana nas alturas". Uma simpatia incrível com todos que te circundava, linda com seu jeito menininha feliz e muita competência em seus estudos. Não consigo acreditar no que aconteceu, como?

Minha tristeza não me faz acreditar neste acontecimento, nesta tragédia sem volta. Tão distante, ponderando a minha distância (me fazendo perguntar o porquê que estou longe das pessoas que amo), o que fazer, a coragem de ligar para seus irmãos. Não consigo. Amava esta garota, gostava de trabalhar com ela, e aos 21 anos nos deixa aqui na Terra, se tornando assim uma privilegiada de não ter que dividir tanto sofrimento neste planeta cheio de injustiça, desamor, guerras e conflitos políticos insignificantes. A difícil luta de viver aqui na Terra nos dá desconforto e saber que uma menina que não tem culpa de nada disso tem que pagar por os erros dos outros.

Te adoro Rossana, que Deus conforte o coração de sua Família e de seus amigos. Fique em paz.
* Transcrito do Blog do Crato

A punição piora a segurança pública

Uma desculpa: não gosto de postar matérias já publicadas nos blogs. Mas isso não é absoluto, de vez em quando vale a pena pois a comunidade deste blog não é a mesma do outro. Esta matéria recuperei no blog do Luis Nassif, mas foi publicada na Folha de São Paulo.

A justificativa: a criminalidade e a punição é crucial na nossa civilização, desde o lugar em que moramos até a nação inteira. Esta entrevista com um professor Italiano da Universidade de Bologna levanta a questão do Direito Penal nesta fase da história. É muito importante para todos, especialmente para Advogados e alunos de Direito. Segue a entrevista:

FOLHA - O sr. diz que o direito penal está em crise porque o discurso pró-punição está desacreditado e a ideia de ressocialização não funciona. O que fazer?
MASSIMO PAVARINI - O cárcere parecia um invento bom no final de 1700, quando foi criado, mas hoje não demonstra mais êxito positivo. O que significa êxito positivo? Significa que o Estado moderno pode justificar a pena privativa de liberdade. Sempre se fala que o direito penal tem quatro finalidades:
serve para educar, produzir medo, neutralizar os mais perigosos e tem uma função simbólica, no sentido de falar para as pessoas honestas o que é o bem, o que é o mal e castigar o mal.
Após dois séculos de investigação, todas as pesquisas dizem que não temos provas de que a prisão efetivamente seja capaz de reabilitar. Isso acontece em todos os lugares do mundo.

FOLHA - O que fazer, então?
PAVARINI - As prisões já não produzem suficientemente medo para limitar a criminalidade. Todos os criminólogos são céticos. O direito penal fracassou em todas as suas finalidades. Não conheço nenhum teórico otimista. Isso não significa que não possa haver alternativas. Há um movimento internacional em busca de penas alternativas. O que se imagina é que, se a prisão fracassou, a pena alternativa pode ter êxito punitivo. Há penas alternativas há três décadas e, se alguma pode surtir efeito, foi em algum momento específico, que não pode ser reproduzido em um lugar com história e recursos econômicos diferentes.

FOLHA - Numa conferência, o sr. disse que o Estado neoliberal, que começou na Inglaterra e nos EUA, não pensa mais em ressocializar o preso, mas em neutralizá-lo. Por que morreu a ideia de recuperar o preso?
PAVARINI - Já se sabia que não dá para ressocializar o preso. O problema é outro. Existe uma obra bem famosa dos anos 70, chamada “Nothing Works” [nada funciona]. O livro foi escrito quando [Ronald] Reagan era governador da Califórnia [1967-1975]. Ele criou uma equipe de cientistas, de todas as cores políticas, e deu-lhes um montão de dinheiro. A pergunta era muito simples: você pode mostrar que o modelo de ressocialização dos presos tem um êxito positivo? Os cientistas pesquisaram muito e no final escreveram “nothing works”. A prisão não funciona nos EUA, na Europa nem na América Latina. Nada funciona se você pensa que a prisão pode reabilitar. Não pode. O cárcere tem o papel de neutralizar seletivamente quem comete crimes.

FOLHA - Ele cumpre esse papel?
PAVARINI - Pode cumprir. O problema é que a neutralização do inimigo, a forma como o neoliberal vê o delinquente, significa o fim do Estado de direito. O primeiro problema é que você não sabe quantos são os inimigos. Essa é a loucura.
Os EUA prendem 2,75 milhões todos os dias. Mais de 5% da população vive nas prisões. São 750 presos por 100 mil habitantes. Há ainda os que cumprem penas alternativas. Esses são 5 milhões. Portanto, são 7,5 milhões na América os que estão penalmente controlados. Aqui no Brasil são 300 presos por 100 mil habitantes.

FOLHA - Há teóricos que dizem que nos EUA as prisões se converteram em um sistema de controle social.
PAVARINI - Sim, isso ocorre. O setor carcerário nos EUA é quase tão forte quanto as fábricas de armas. Muitas prisões são privadas. É um bom negócio. O paradoxo dos EUA é que em 75, quando Reagan começa a buscar a Presidência, os EUA tinham 100 presos por 100 mil habitantes. Após 30 anos, a taxa multiplicou-se por oito. Os EUA não tinham uma tradição de prender muito. Prendiam menos do que a Inglaterra.

FOLHA - O senso comum diz que os presos crescem exponencialmente porque aumentou a violência.
PAVARINI - Isso é muito complicado. Se a pergunta é “existe uma relação direta entre aumento da criminalidade e aumento da população presa?”, qualquer criminólogo do mundo, eu creio, vai dizer não. Os EUA não têm uma criminalidade brutal. Ela é comparável à criminalidade europeia. Eles têm um problema específico: o número elevado de casas com armas de fogo curtas. Um assalto vira homicídio.

FOLHA - Por que prendem tanto?
PAVARINI - Os EUA prendem não tanto pelo crime, mas por medo social. Essa é a questão. A origem do medo social é bastante complexa, mas para mim tem uma relação mais forte com a crise do Estado de bem-estar social do que com o aumento da criminalidade. É um problema de inclusão social. Os neoliberais dizem que não dá para incluir todas as pessoas que não têm trabalho, os inválidos, os que estão fora do mercado. Os criminosos são os primeiros dessa categoria. Uma regra que ajudou a aumentar a população carcerária foi retirada do beisebol: três faltas e você está fora. Em direito penal isso significa que após três delitos, que podem ser pequenos, você está preso. Você está fora porque não temos paciência para tratá-lo. Vamos eliminá-lo.

FOLHA - Eliminar é o papel principal das prisões, então?
PAVARINI - É um dos papéis. O direito penal é cada vez mais duro, as sentenças são mais longas, “life sentence” [prisão perpétua] é mais frequente, aplica-se a pena de morte.

FOLHA - Como essa ideia neoliberal funciona onde há muita exclusão?
PAVARINI - Vou dizer algo que parece piada: quando os EUA dizem uma coisa, essa coisa é muito importante. Podem ser coisas brutais, grosseiras, mas quem diz são os EUA. Como imaginar que na Itália e na França, que têm ótimos vinhos, os jovens preferem Coca-Cola?
Não se entende. É o poder dos EUA que explica isso. A ideia de como castigar, porque castigar e quem castigar faz parte de uma visão de mundo. Se a América tem essa visão de mundo, isso se reproduz no mundo.

FOLHA - É por essa razão que cresce o número de presos no mundo?
PAVARINI - Isso é um absurdo.
Dos 180 e poucos países do mundo, não passam de 10, 15 os que têm reduzido o número de presos. Na Itália, temos 100 presos por 100 mil habitantes.
Há 30 anos, porém, eram 25 por 100 mil. Aumentou quatro vezes em três décadas. Isso acontece na Ásia, na África, em países que não se pode comparar com os EUA e a Europa.
Creio que é uma onda do pensamento neoliberal, que se converte em políticas de direito penal mais severo. É engraçado que os EUA, nos anos 50 e 60, eram os mais progressistas em política penal, gastavam um montão de dinheiro com penas alternativas. Mas hoje as pessoas acham que o direito penal que castiga mais tem mais eficiência. Isso é desastroso. Nos EUA, o número de presos cresce também porque há um negócio penitenciário.

FOLHA - O que há de errado com esse tipo de negócio?
PAVARINI - Os EUA têm cerca de 15% dos presos em cárceres privatizados. É uma ótima solução para a empresa que dirige a prisão. Ela sempre vai querer ter um montão de presos, é claro, para ganhar mais dinheiro, e isso nem sempre é a melhor política. É um negócio perverso.
Os empresários financiam lobistas que vão difundir o medo.
É um desastre. Mas pode ser que tudo isso mude. Obama parece ter uma visão oposta à dos neoliberais e já demonstra isso na saúde pública, um tema ligado à inclusão social. O difícil é que não há uma ideia suficientemente forte para se opor ao pensamento neoliberal sobre as penas. A esquerda não tem uma ideia para contrapor. Os políticos sabem que, se não têm um discurso duro contra o crime, eles perdem votos.

FOLHA - No Brasil, os políticos e a população defendem o aumento das penas. Penas maiores significam mais segurança?
PAVARINI - Isso é um pecado, uma ideia louca, absurda. Acontece o contrário. Penas maiores produzem mais insegurança. É claro, um país não pode neutralizar todos os criminosos. Nos EUA, eles podem colocar na prisão o garoto que vende maconha. Prende por um, dois, cinco anos, e ele vai virar um criminoso profissional. Quanto mais se castiga um criminoso leve, mais profissional ele será quando voltar ao crime. Há mais de um século se diz que a prisão é a universidade do crime. É verdade. Mas, se um político diz “vamos buscar trabalho para esse garoto”, ele não ganha nada.

FOLHA - No Estado de São Paulo, o mais rico do país, faltam 55 mil vagas nos presídios e as prisões são muito precárias. Por que um Estado rico tem presídios tão ruins?
PAVARINI - Há uma regra econômica que diz que a prisão, em qualquer lugar do mundo, deve ter uma qualidade de sobrevivência inferior à pior qualidade de vida em liberdade. Como aqui há favelas, as prisões têm de ser piores do que as piores favelas. A prisão tem de oferecer uma diferenciação social entre o pobre bom e o pobre delinquente. Claro que São Paulo poderia oferecer um presídio que é uma universidade, mas isso seria intolerável. O presídio ruim tem função simbólica.

FOLHA - Em São Paulo, o número de presos cresce à razão de 6.000 por mês. Faz sentido construir um presídio novo por mês?
PAVARINI - Mais cárceres significam mais presos. Se você tem mais presídios, você castiga mais. Por isso os países promovem moratórias, decidem não construir mais presídios.

FOLHA - Políticos dizem que mais presídios melhoram a segurança.
PAVARINI - A única coisa que você pode dizer é que mais presídios significa mais população presa. Há milhões de pessoas que delinqúem diariamente, e os presos são uma minoria. O sistema penal é seletivo, não pode castigar todos. As pessoas dizem que o crime não compensa, mas o crime compensa muito. O sistema não tem eficiência para castigar todos.
Quando você aumenta muito a população carcerária, algo precisa ser feito. Na Itália, há cada cada quatro, cinco anos há anistia. Entre os nórdicos, quando um juiz condena um preso, ele precisa saber a quantidade de vagas na prisão. Se não há vaga, outro preso precisa sair. O juiz indica quem sai. Porque é preciso responsabilizar o Poder Judiciário e a polícia pelos presídios. O cárcere tem de ser destinado aos mais perigosos. Uma prisão de merda custa 250 por dia na Itália. Não faz sentido usar algo tão caro para qualquer criminoso.

Pré-Sal: O petróleo é nosso?

Pré-sal são camadas petróliferas ultraprofundas, de 5 mil a 7 mil metros abaixo do nível do mar, o que torna a exploração mais cara e difícil.


Começa, de fato, hoje, a “batalha” do Petróleo.

O anúncio pelo governo, em ritmo de campanha eleitoral, do projeto de lei que altera as regras de exploração do petróleo divide opiniões.

O governo quer que a riqueza gerada na exploração das reservas de petróleo do pré-sal seja majoritariamente da sociedade brasileira, criando um fundo social que será utilizado em programas sociais e em obras de infraestrutura. A proposta é que seja adotado o regime de partilha, no qual o Estado se torna sócio das empresas no empreendimento. Ou seja, parte ou até mesmo a totalidade do petróleo fica nas mãos do governo, enquanto as empresas são remuneradas pelo serviço de exploração, além de receberem parte do lucro.

Já o setor privado diz que a lei atual é transparente e muito bem vista pelo mercado, e que mudá-la pode afastar futuros investidores. Pela lei atual, a exploração do minério dar-se através de concessões a empresas privadas mediante uma série de pagamentos ao poder público, como bônus, royalties e participações especiais. Cerca de 60% desse dinheiro vai para a União e os 40% restantes para Estados e municípios onde o petróleo é explorado.

Segundo a Folha Online, “são dois os principais motivos apresentados pelo governo que justificariam a definição de um novo marco regulatório para a exploração do petróleo da camada pré-sal. Um deles é que as empresas terão acesso a reservas de alto potencial e com risco exploratório praticamente nulo. A visão é de que, como os lucros serão maiores, é justo que uma fatia maior desses recursos fique com a sociedade - ou seja, com o governo. Além disso, o governo teme que o aumento das exportações de petróleo gere uma enxurrada de dólares no país. A entrada da moeda estrangeira de forma excessiva tende a valorizar a moeda nacional, prejudicando as exportações em outros setores . Uma saída, nesse caso, seria não gastar os recursos do petróleo, mas sim colocá-los em algum tipo de aplicação financeira. Dessa forma, o governo poderia usar apenas os rendimentos - poupando a maior parte do dinheiro para gerações futuras."

Representantes do setor privado, assim como partidos da oposição e grande parte dos especialistas questionam o conceito de "risco zero" que o governo aplica ao pré-sal. "Pode ser que o governo tenha alguma informação privilegiada. Mas o fato é que risco zero na exploração petrolífera seria um caso único", diz o professor Edmilson Moutinho dos Santos, do Instituto de Engenharia da Universidade de São Paulo (USP).

Um dos principais críticas ao projeto do governo é de que a maior ingerência do poder público na exploração e produção de petróleo tende a tornar o mercado menos eficiente. Nesse contexto, é comum que as decisões sejam tomadas com objetivos políticos, em detrimento de aspectos técnicos e mercadológicos. Além disso, os críticos à proposta do governo dizem que a legislação em vigor permite que o governo amplie seus ganhos com a exploração do petróleo, sem que para isso tenha de criar uma nova estatal, conforme deseja o Palácio do Planalto.

Segundo Wagner Victer, ex-secretário de Energia do Estado do Rio de Janeiro, a ideia do governo de criar um fundo social é "legítima", mas que não é preciso mexer na lei do petróleo para isso, bastando o governo aumentar a alíquota cobrada das empresas e com esse 'plus', captar o fundo". "Marcos regulatórios precisam de perenidade. Diante de mudanças e indefinições, o investidor pode optar por outro país. O pré-sal não existe apenas no Brasil", diz.

Fonte: Folha Online e G1

BOLA DIVIDIDA

Fernando Gabeira

Alguma coisa se mexe na política de drogas da América Latina.
O México descriminalizou o porte de drogas para consumo pessoal. E o México é a grande preocupação dos EUA, no momento. Os cartéis deixaram de exportar apenas droga, para exportar também o crime organizado.
Logo em seguida, a Argentina descriminalizou o uso de maconha. A Suprema Corte exortou o governo a combater o tráfico de drogas e, simultaneamente, fazer campanhas que enfraqueçam o consumo.
Os observadores americanos já tinham detectado alguma coisa. Três ex-presidentes, Fernando Henrique, Cesar Gavíria, Ernesto Zedillo, expressaram uma posição por mudanças na política de drogas. A posição deles é ampla, mas o que ficou foi a defesa da descriminalização da maconha.
Imagino a dificuldade de processar a última visita de Lula à Bolívia. Dois presidentes usando colar de folha de coca. Não creio que Lula tenha avaliado toda esse contexto, ou que, na verdade, dê alguma importância a esse contexto.Por influência de Chávez, discutem-se muito as bases americanas na Colômbia. Não se trata apenas de deter as FARC, mas o tráfico que as mantêm vivas.
Uma conferência interamericana sobre política de drogas seria mais produtiva do que todo esse carnaval sobre tropa americana. Mas o passado na América Latina é desses que sobrevivem sentados na cadeira do presente. O debate sobre drogas sempre se baseou na idéia de legalizar ou não. Nesse nível de abstração, as pessoas sentem-se como se fossem donas da verdade.
Se o eixo se deslocasse, os defensores das duas teses teriam que se desdobrar para explicar como realizá-las . A repressão é um fracasso. Os defensores da legalização apenas a defendem. Há um longo caminho. Obama tem energia para mais uma bola dividida?


Fonte: http://gabeira.com.br/blog/2009/08/bola-dividida/

Não somos um estoque de tempo, mas os capitalistas assim entendem

Por José do Vale Pinheiro
O público e o privado formam esquinas perigosas do capitalismo moderno. Baseado na exploração econômica de um ser humano pelo outro, o capitalismo já é em si um dicotomia em conflito: o capital (acumulado e manipulado por terceiros) e o trabalho (a única forma dos demais obterem renda).

Sobre a base há, no capitalismo, uma dinâmica muito simples: o capital aciona a produção (no atual modelo financista a moeda é o próprio produto), distribui a mesma e é remunerado no consumo. Acontece que o consumo para remunerar o capital implica em que os consumidores possuam renda (ou moeda para comprar a mercadoria). Os consumidores conseguem isso vendendo o seu tempo.

O mecanismo básico da acumulação do capital e de sua remuneração é o mesmo: o consumo do tempo das pessoas. Por isso mesmo é que “time is Money”, que a remuneração do tempo é diferenciada entre as pessoas e que do ponto de vista psicológico e filosófico o modelo capitalista de percepção de vida das pessoas é de um estoque de tempo se esgotando.

Literalmente o capitalismo consome o tempo das pessoas de um modo duplamente contraditório: em relação a cada indivíduo ele é estoque não renovável e do ponto de vista social (ou público) o nascimento de pessoas renova o estoque. Então, retornando ao princípio do texto: no capitalismo moderno existe uma esquina perigosa formado pelo público e o privado.

Se observarmos esta esquina perigosa vemos claramente que existem muitas possibilidades de uma nova arquitetura das estruturas simples do capitalismo. Uma delas se encontra na consciência de cada um: cada pessoa se vendo como o privado e o público simultaneamente. Ao tomar-se desta unidade, tornar a produção, distribuição e consome das necessidades essenciais o que são e não o único modo que o capitalismo permite se viver: consumindo tempo.

Em seus fundamentos (no sentido ontológico) a vida é construção de tempo e não o seu consumo. Apenas o capitalismo inverteu esta fórmula em face da maioria, pois a classe econômica capitalista que se tornou por isso mesmo uma classe social (com mecanismos de reprodução hereditários) mantém a natureza de fazer tempo e não de consumir tempo. Este modo de viver construindo tempo já é uma prova que a todos é possível assim viver.

E por falar nesta questão: o petróleo da camada de Pré-Sal na costa brasileira é uma boa oportunidade para observarmos não a síntese, mas a luta das esquinas entre o Público e o Privado. Os governadores do Rio e Santa Catarina gritam por mais recursos, o de São Paulo se cala. O sistema Globo de comunicação grita contra o público.

A síntese possível é a superação do público e do privado, com revolução social e política e o estabelecimento de uma nova forma de organização da civilização feita pela construção do tempo.

O disco busca outra ressureição


David Alandete

El pais

A venda de músicas avulsas não conseguiu reavivar a indústria fonográfica, em queda livre desde o início da pirataria - a Apple e as grandes gravadoras trabalham num novo formato digital com conteúdos agregados que convidem os fãs a pagarem mais
A Apple e as grandes gravadoras estão trabalhando num novo formato musical, um álbum digital que, além das músicas que formam um disco, oferece todo tipo de conteúdos especiais, como vídeos ou imagens interativas. É a mais nova tentativa da indústria fonográfica para reanimar o álbum musical de sempre, que se encontra em estado crítico depois de um aumento dramático nas vendas de músicas avulsas.
A indústria musical vive um permanente processo de seleção tecnológica. O CD matou o vinil e o cassete. O mp3 quase acabou com o CD. Nessa sucessão de mortes, o velho conceito de álbum foi ficando no esquecimento. O álbum era um conjunto harmônico de músicas unidas sob um mesmo conceito, com uma embalagem, um desenho artístico e, em certas ocasiões, as letras das músicas e informação sobre os intérpretes e autores.
Mas, a julgar pelos números das vendas, resta pouca vida a este formato. O sistema de downloads tornou mais fácil para os internautas baixarem as músicas de que mais gostam, sem ter que comprar o álbum inteiro. São más notícias para a indústria de discos. No mês de julho passado, que a Billboard classificou como agourento para o setor, nenhum artista nos EUA conseguiu vender mais de 100 mil cópias de um disco.
Os números da Associação Americana da Indústria Fonográfica (RIAA, na sigla em inglês) são realmente dramáticos. No ano passado, as vendas de álbuns completos em formato de CD caíram 25%, com 384 milhões de discos vendidos. Em 1998, uma década antes, eram vendidos 847 milhões de álbuns em formato de CD. São os estragos da pirataria, que custa à indústria quase € 9 bilhões (cerca de R$ 24 bi) por ano e que nos EUA causou a perda de 71 mil empregos, segundo a organização privada Institute for Policy Innovation.
A única coisa que sobe como um balão é a venda de singles digitais. É lógico. Lojas como o iTunes dão poder ao consumidor, permitindo que eles escolham as músicas de que mais gostam, criando discografias à la carte.
Além de tentar combater os danos da pirataria das redes P2P, a indústria vem tentando buscar outras razões para a queda nos rendimentos nos últimos anos. Vender músicas isoladas não é rentável. Por 1 bilhão de canções, as gravadoras receberam em 2008 pouco mais de € 700 milhões (cerca de R$ 1,8 bi). Em 1998, quando vendiam 847 milhões de discos, a renda era de € 8 bilhões (cerca de R$ 21 bi). A conclusão: o single digital matou o álbum e, com ele, desapareceram os lucros.
A indústria está tentando revitalizar o velho conceito de álbum. As grandes gravadoras e a Apple, empresa fabricante do iPod e proprietária do iTunes, estão há meses trabalhando em novos formatos que ofereçam conteúdo extra e que atraiam mais compradores. Assim nasceu o projeto provisoriamente batizado de Cocktail, que a Apple está desenvolvendo e que deixou os blogs de música intrigados.
A grande ideia do Cocktail é aproveitar a internet ao máximo: vender num mesmo donwload não só música e vídeos, mas também imagens relacionadas com o disco, entrevistas com os artistas, letras e outras informações.
Desde que o jornal "The Financial Times" publicou pela primeira vez a notícia sobre o projeto em julho, muito se especulou sobre o que a Apple tem em mente. O FT relacionava o projeto com o lançamento de um computador portátil de tela de toque, que a Apple espera concluir até o final do ano.
As notícias do novo projeto da Apple vieram seguidas por rumores sobre uma aliança entre quatro grandes gravadoras. A Sony, Warner, Universal e EMI estariam trabalhando em um novo formato musical, batizado de CMX, que também incluiria conteúdo especial e seria vendido como um pacote unitário. A notícia foi dada pelo "Times" de Londres, que adiantou que este formato chegaria ao mercado em novembro. Um assessor de imprensa da Warner Music e outra da RIAA recusaram-se a comentar o assunto.
A rede e outros meios de comunicação estão fervendo com opiniões sobre o quanto pode ser conveniente reanimar o formato de álbuns. Para que os consumidores se interessem, deve ser oferecido algo com muito valor agregado e a preço razoável, explica Michael McGuire, analista da consultoria Gartner. Nem as gravadoras nem a Apple podem ter uma ideia muito rígida de como irão vender. Deverão considerar dar ao consumidor a opção de decidir quais partes desse pacote são valiosas e quais prefere comprar.
Matt Rossof questiona, em seu blog Digital Noise, onde estarão os limites desse novo álbum. Identifica três: "A não ser que funcione sobre a tecnologia já existente, como o Adobe Flash, os usuários deverão baixar um novo software", escreve. "Segundo, esse tipo de formato está destinado ao consumo no computador. Mas no meu caso, a maior razão para colocar música digital no computador é transferi-la para outros dispositivos". O terceiro problema poderia ser de compatibilidade. Será que esse novo formato terá que passar, necessariamente, pelo iTunes, que além de uma loja é um reprodutor?
Esta é, já há alguns anos, a grande dúvida das empresas fonográficas e dos artistas. O que a Apple tem em mente? Não é uma pergunta sem importância. O iTunes é, desde abril de 2008, a maior loja de música do mundo, o Golias da música digital. Até hoje ele enfrentou poucos Davis, mas houve alguns.
Ameaçados pela ditadura das músicas avulsas, alguns artistas saíram pela porta dos fundos do iTunes. Na época dourada do vinil, primeiro, e do CD mais tarde, os artistas comerciais lançavam um disco, com algumas canções destinadas a batalhar pelos primeiros lugares da lista de sucessos. Logo, acrescentavam outras músicas que muitos consideravam menores, mas que concediam solidez ao disco.
Agora, o iTunes exige que as empresas fonográficas e os artistas vendam cada uma das músicas em separado. Elas podem ser agrupados em um só disco, mas todas elas devem ser colocadas à venda de forma isolada, por um preço próximo a um euro (cerca de R$ 2,68). Os artistas e as gravadoras, é claro, gostariam de uma política de vendas mais variável.
No ano passado, o cantor Kid Rock protestou, não comercializando seu álbum "Rock'n Roll Jesus" na loja da Apple. Ainda assim, vendeu quase dois milhões de cópias e chegou ao número três da lista de discos mais vendidos da Billboard. Em muitos sentidos, este negócio se transformou num negócio de singles, disse no ano passado o agente de Kid Rock, Ken Levitan, ao jornal "The Wall Street Journal", chamando esta mudança de toque de morte da indústria musical. Algo similar aconteceu com o último disco do AC/DC, "Black Ice".
É preciso ser o AC/DC para conseguir vender no Wal-Mart, explica Koleman Strumpf, professor de Economia e especialista sobre indústria musical na Universidade do Kansas. O mesmo fez o Starbucks com alguns artistas. Sem dúvida, são empresas que contam com uma rede potente de distribuição. Para os artistas é uma opção com poucos riscos, mas não é algo ao alcance de muita gente. É preciso ser alguém que teve muito sucesso no passado.
Ainda que durante anos muitos meios tenham traçado uma linha de batalha para enfrentar as gravadoras e a internet, a história nem sempre é assim. Os pequenos selos aproveitaram a democratização comercial que veio com a rede. Este é o caso de uma gravadora como a Vagrant Records, que lança discos de artistas pouco conhecidos, mas com uma sólida base de seguidores.
"Ainda que não reste dúvidas de que a pirataria online tornou as coisas muito difíceis para todos nós, os pequenos selos perceberam que agora é mais fácil competir com as grandes gravadoras. A rede é igualmente acessível para pessoas com menos meios", explica o diretor de marketing da empresa, Jeremy Maciak, que acrescenta que os grandes artistas continuam vendendo muito, mas costumam ter sucesso com músicas isoladas.
Um sucesso como "Just Dance", de Lady Gaga, já vendeu mais de cinco milhões de downloads nos EUA, segundo informações da Billboard. Mas é mais do que provável que os internautas não baixem mais de três ou quatro músicas dessa artista. As vendas de seu disco, "The Fame", chegaram aos 13 milhões de cópias, segundo a Billboard, muito abaixo das vendas do single.
Basta olhar os dez mais vendidos nos Estados Unidos no iTunes em agosto. As músicas mais vendidas são as de Miley Cirus, Black Eyed Peas ou Shakira, todos muito conhecidos. E na lista de álbuns mais vendidos? É formada por desconhecidos para o grande público, como George Strait, Thrice ou Cobra Starship.
"Os menos famosos podem aspirar mais ao mercado do álbum", disse Maciak, explicando a experiência de sua gravadora. Com uma campanha de marketing centrada na internet, em sites como o MySpace, e com um apoio forte das apresentações ao vivo, é provável que consigam vender álbuns.
Alguns dos grandes artistas viram essa oportunidade. Madonna lançou seu novo single, "Celebration", apenas em forma de download musical em lojas online. A música é uma antecipação de um disco de grandes sucessos. As apresentações ao vivo são o que dão dinheiro num mundo dominado pela pirataria, assim, desde agosto de 2008, ela está em turnê por lugares nunca antes imaginados para alguém como Madonna, como Montenegro, Sérvia ou Romênia.
O último disco de Madonna, "Hard Candy", não chegou ao milhão de vendas nos EUA. Até os grandes têm sofrido. A pirataria furou o casco do barco, e o pouco que resta flutuando se mantém a duras penas. Só há um motivo para o otimismo. Em 2008, as vendas de vinil cresceram 124%, com três milhões de LPs vendidos. Em plena crise, sempre há espaço para o romantismo.
Tradução: Eloise De Vylder

domingo, 30 de agosto de 2009

APROFUNDAMENTOS

"Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!"
(Fernando Pessoa, 1888 – 1935)

E sobre a terra estão tantas casas...
fora delas, tudo o que nelas se reduz.
Dentro, nessa longa viagem, perdemos muito.
A extensão da terra avança desde o nosso passado
criando maneiras diversas de amar.
Sim. Precisamos amar.
A terra abraça a história, engole a arquitetura e guarda
os segredos dos povos.
Sentir-se pronto a ser parte desse mundo aterrado
é comum aos que caminham muito,
porém antes vem o amor. Certamente.
Bem antes, ama-se muito.
As catedrais por aí
tocam nossa religião à casa parada
com grandes chaves e correntes.
Na terra é-se imenso e cheio de vida
e nunca se está farto. Viver é desdobrar-se
em cada dia.
Na casa onde se vive somente porque a vida passa
a memória é curta
e as lições se repetem, bem reduzidas,
à medida do que há por fora
e não são notadas.
O passado vive crescendo a cada dia
e está lá
bem guardado no escuro do tempo
uma sede imensa de descobertas
que o hábito de não pensar e a comodidade
ocultaram mais.
“Deus quis que a terra fosse toda uma...”
e descobri-la é mais que um desejo,
é sê-la própria
e nunca morrer.
(Francisco de Freitas Leite. In: Ave, sertão!)

Homenagem a CLEIVAN PAIVA...Por Wilson Bernardo.

O meu violão é um balanço de rede
cordas e segredos no embalo das notas sensuais...
BOÉMIA!
Um banquinho
e uma boa dose
de nostalgia
a bossa nova
apenas seria...

Wilson Bernardo(Fotoartgrafia sobre Foto de D.Mendonça)

Porque hoje é Domingo - Por Claude Bloc (Para Carlos Rafael)


DOMINGO

Aos domingos, ruas desertas
entorpecem o cenário,
parecem largas, parecem longas.

Aos domingos,
Dormem os sonhos de todos os homens
Dormem as cores matutinas
Dormem os cansaços para que os descansem.

Aos domingos
a vida escorre morosamente
e se dispersa pela cidade.
O tempo pára e se acanha
e se espreguiça sem muita graça
caminha aos poucos pelos desvãos
dos meus anseios, tão displicentes.

E assim,
as ruas ficam mais largas,
o ar mais limpo, o sol desperto.
Os anjos tristes alargam os braços
e escondem as asas, impacientes
acompanhanhando todo o silêncio
dessa cidade de muita gente.

HOJE É DOMINGO


É domingo.
E aos domingos a vida gira,
E tudo volta ao princípio.
E a princípio, já é domingo
e o asfalto da rua corre sem pauta
por entre as pedras do calçamento
e leva consigo a imagem das flores,
a imagem dos dias que já se foram
Leva no vento o deslumbramento
do inesperado, da cor fagueira
leva o sabor do pensamento,
o olhar perdido, um novo aceno.

As ruas dormem neste domingo
Dormem as horas:
Hoje é domingo!
.
Texto e foto por Claude Bloc

Samba do crioulo doido


Música lançada em 1968 pelo Quarteto em Cy, de autoria de Sérgio Porto, conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, fez grande sucesso em todo o Brasil, por retratar com fina ironia e humor, as confusões que os compositores das Escolas de Samba faziam querendo contar fatos da História do Brasil em suas composições para o carnaval. Foi inclusive tema de show musical estrelado pelo próprio Quarteto em Cy juntamente com Sérgio Porto.
O cronista, radialista e compositor Sérgio Marcus Rangel Porto nasceu no Rio de Janeiro em 11/1/1923, sendo um dos mais importantes cronistas dos anos 50 e 60, muito satírico e muito irônico. Escreveu na Revista Sombra, Jornal Diário Carioca, Tribuna da Imprensa e Última Hora (RJ). Atuou também na Revista da Música Popular Brasileira fundada por seu tio Lucio Rangel e Pérsio de Moraes. Escreveu em 1953 "Pequena história do jazz". Em 1961 escreveu "Tia Zulmira e eu" e em 1966 "Febeapá, Festival de Besteiras que Assola o País". Foi membro efetivo do Conselho Superior de Música Popular Brasileira. Faleceu em 30/9/1968.

(Dárcio Fragoso )


Samba do crioulo doido (1968)

Composição: Sérgio Porto
Interpretação: Quarteto em Cy


Foi em Diamantina,
Onde nasceu JK,
Que a princesa Leopoldina,
Arresolveu se casá,
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes,
E obrigou a princesa,
A se casar com Tiradentes,

Lá iá lá iá lá ia,
O bode que deu vou te contar,
Lá iá lá iá lá iá,
O bode que deu vou te contar,

Joaquim José,
Que também é,
Da Silva Xavier,
Queria ser dono do mundo,
E se elegeu Pedro II,
Das estradas de Minas,
Seguiu pra São Paulo,
E falou com Anchieta,
O vigário dos índios

Aliou-se a Dom Pedro,
E acabou com a falseta,
Da união deles dois,
Ficou resolvida a questão,
E foi proclamada a escravidão,
E foi proclamada a escravidão,

Assim se conta essa história,
Que é dos dois a maior glória,
Dna. Leopoldina virou trem,
E D.Pedro, é uma estação também...

O, ô , ô, ô, ô, ô,
O trem tá atrasado ou já passou,
O, ô , ô, ô, ô, ô,
O trem tá atrasado ou já passou...


PARA OUVIR A MÚSICA CLIQUE NO LINK ABAIXO:

Pacto

Aceito minha carne.
Minha fome.
As enrugadas falanges
dos meus dedos beatos.
Minhas faces equivocadas
diante do espelho embaçado.
Aceito meu refúgio.
Meu fabuloso abismo.
A santa esquizofrenia
das palavras sussurradas.
Aceito minha mentira.
Minha maldição.
Ofereço-me o corpo
às chicotadas de bambu.
Aceito esse coração trepidante.
A falta de sangue no olho.
Os ancestrais que se contorcem
envergonhados da minha fraqueza.
Aceito minha fraqueza.
A haste do capim queimada
pela sombra de uma formiga.
Aceito meu aneurisma.
As axilas friorentas.
O hálito denso.
O dorso da língua áspero.
As unhas anêmicas.
Os cílios ínfimos.
Aceito minha alma -
a obscura mendicância.
As coisas invisíveis,
a porta aberta,
os calafrios.
Aceito meu fim.
O remorso.
O cinismo.
O medo.
O último cafezinho,
a cafeteira suspirando.

Oitavo Mês

Sabedoria em mente aturdida
de fato não combina.

Mas tento uma ponte
entre o impulso e o silêncio.

Sobra uma pequena aranha
desde ontem imóvel na cerâmica.

Estratégia básica
para ludibriar os poetas
e abocanhar outros insetos.

Quem tem medo da doutora Dilma? *


Por Danuza Leão

Vou confessar: morro de medo de Dilma Rousseff. Não tenho muitos medos na vida, além dos clássicos: de barata, rato, cobra. Desses bichos tenho mais medo do que de um leão, um tigre ou um urso, mas de gente não costumo ter medo. Tomara que nunca me aconteça, mas se um dia for assaltada, acho que vai dar para levar um lero com os assaltantes (espero); não me apavora andar de noite sozinha na rua, não tenho medo algum das chamadas "autoridades", só um pouquinho da polícia, mas não muito.

Mas de Dilma não tenho medo; tenho pavor. Antes de ser candidata, nunca se viu a ministra dar um só sorriso, em nenhuma circunstância.

Depois que começou a correr o Brasil com o presidente, apesar do seu grave problema de saúde, Dilma não para de rir, como se a vida tivesse se tornado um paraíso. Mas essa simpatia tardia não convenceu. Ela é dura mesmo.

Dilma personifica, para mim, aquele pai autoritário de quem os filhos morrem de medo, aquela diretora de escola que, quando se era chamada em seu gabinete, se ia quase fazendo pipi nas calças, de tanto medo. Não existe em Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura.

Ela tem filhos, deve ter gasto todo o seu estoque com eles, e não sobrou nem um pingo para o resto da humanidade. Não estou dizendo que ela seja uma pessoa má, pois não a conheço; mas quando ela levanta a sobrancelha, aponta o dedo e fala, com aquela voz de general da ditadura no quartel, é assustador. E acho muito corajosa a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, que está enfrentando a ministra afirmando que as duas tiveram o famoso encontro. Uma diz que sim, a outra diz que não, e não vamos esperar que os atuais funcionários do Palácio do Planalto contrariem o que seus superiores disserem que eles devem dizer. Sempre poderá surgir do nada um motorista ou um caseiro, mas não queria estar na pele da suave Lina Vieira. A voz, o olhar e o dedo de Dilma, e a segurança com que ela vocifera suas verdades, são quase tão apavorantes quanto a voz e o olhar de Collor, quando ele é possuído.

Quando se está dizendo a verdade, ministra, não é preciso gritar; nem gritar nem apontar o dedo para ninguém. Isso só faz quem não está com a razão, é elementar.

Lembro de quando Regina Duarte foi para a televisão dizer que tinha medo de Lula; Regina foi criticada, sofreu com o PT encarnando em cima dela -e quando o PT resolve encarnar, sai de baixo. Não lembro exatamente de que Regina disse que tinha medo -nem se explicitou-, mas de uma maneira geral era medo de um possível governo Lula. Demorei um pouco para entender o quanto Regina tinha razão. Hoje estamos numa situação pior, e da qual vai ser difícil sair, pois o PT ocupou toda a máquina, como as tropas de um país que invade outro. Com Dilma seria igual ou pior, mas Deus é grande.

Minha única esperança, atualmente, é a entrada de Marina Silva na disputa eleitoral, para bagunçar a candidatura dos petistas. Eles não falaram em 20 anos? Então ainda faltam 13, ninguém merece.
Seja bem-vinda, Marina. Tem muito petista arrependido para votar em você e impedir que a mestra em doutorado, Dilma Rousseff, passe para o segundo turno."

* Publicado na Folha de São Paulo, 16 de agosto de 2009

sábado, 29 de agosto de 2009

A questão da corrupção

Por - Marcos Damasceno
Não entendi ! Alguém censurou esta postagem. O que aconteceu?

Últimamente tenho acompanhado muitas críticas aos governantes, relacionadas principalmente a corrupção. Será que estes que tanto criticam têm moral, e um passado limpo para tais críticas ?
A palavra corrupção deriva do latim corruptus que, numa primeira acepção, significa quebrado em pedaços e numa segunda acepção, apodrecido, pútrido. Por conseguinte, o verbo corromper significa tornar pútrido, podre. No Brasil existem pessoas honestas, mas há também pessoas (um número muito maior) sem ética e sem respeito pelo próximo e pela Pátria. Que só pensam em si mesmas. Neste caso, o egocentrismo (egoísmo) e o individualismo andam lado a lado. Existe um sistema de corrupção tão forte, que a falta de cumprimentos de leis e de valores morais estão exterminando os valores éticos brasileiros. É um problema de colonização, que em algumas regiões se deu pela via da emancipação e em outras pela via da exploração. Toda essa complexidade traz uma herança boa e outra ruim, moralmente falando. Dessa formação social surgiu também a formação moral de cada povo.
Devido às mudanças e circunstâncias comuns à vida coletiva, o surgimento de uma autoridade deveria ser natural. Seria um líder sem qualquer direito superior aos demais, porém não deixava de ser uma autoridade, onde sua opinião definiria o destino do grupo. Eram várias as situações em que se viu a necessidade de um líder. A partir do momento em que se formalizou a organização da sociedade, surgiram as normas, sejam estas codificadas ou não. Com a organização da sociedade, surgiu a relação representante/representado. Isso pra todas as instituições, todas as agremiações. Automaticamente surgiu também o poder. O poder de representar. Podemos observar isso em todas as sociedades humanas, as civilizadas e as selvagens, apresentam-se já organizadas, com um poder representativo permanente, ainda que rudimentar. Desde a antiguidade, o homem já tinha em mente a necessidade da sociedade submeter a um poder. Sob essa ótica, os homens públicos, sábios da época, asseguravam que a sociedade para sua integridade moral e para a ordem social necessitava das normas de um poder advindo de um líder, de um regime. Com isso, veio o verdadeiro sentido do poder: não a submissão de uns homens a outros, mais sim, o de todos os homens às normas de um poder ou de um regime. A formação do poder surgiria de um contrato entre os homens. Porém, a relação representante/representado vai mais longe, também são representados os defeitos e as qualidades de cada parte. As mentalidades, as visões, os anseios, as demandas. Progressistas e não progressistas (reflexo do atraso). O representante tem o perfil do representado, e vice-versa. A regra é esta. Dificilmente foge disso.
Outro fato relevante foi a influência, tradicionalmente, do poder econômico na escolha do representante. O capital intelectual muitas vezes é desprezado, prevalecendo o capital financeiro. Isso caracteriza uma “democracia monetária”. Porém, nos últimos anos vimos muitos de casos em que a formação social do poder se deu de maneira social/intelectual. No entanto, ainda são casos isolados. A representatividade precisa, em regra, ser melhorada, o homem precisa rever seus conceitos, a sociedade necessita de uma nova arrumação social. Não é novidade para ninguém ver o poder econômico influir nas escolhas representativas. É a pura realidade dos fatos. É a definição realística da situação. Segundo Rodrigo Rocha Loures, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, ‘a questão da corrupção no Brasil é algo que tem suas bases no período colonial, tempo em tudo era das famílias ou da burocracia estatal. Um problema advindo da nossa colonização. É uma decorrência trágica, mas natural, desse traço cultural’. Implica dizer que, a corrupção está no nosso ‘DNA’, às vezes “recessivo”, às vezes “dominante”. O fato é que o nosso sistema sócio-cultural é corruptor. Vale salientar que, a corrupção nos representantes é fruto da corrupção na sociedade (representados). Existe muita hipocrisia nisso. Existem muitas pessoas corruptas exigindo honestidade, ética e decência; muitos representados corruptos exigindo representantes honestos, éticos e decentes. Constantemente pratica-se a corrupção financeira, moral, religiosa etc. Quer um exemplo bem comum? Alguns quando estão numa agência bancária querem cortar a fila. Isso é corrupção. E depois querem condenar a corrupção. Os mesmos que praticam a corrupção, corrompem, são os que exigem (com muito moralismo) a ética, a decência e a honestidade. Aí é onde mora a hipocrisia. Tenho em mente que se existe um corrupto, existe também um corruptor. Luis Fernando Veríssimo, disse ironicamente: “Brasil: esse estranho país de corruptos sem corruptores”. Enfim, a representação é o espelho dos representados. No julgamento de Jesus Cristo por Pilatos, o povo foi consultado: “Jesus ou Barrabás?” E o povo escolheu Barrabás para ser absolvido e Jesus Cristo para ser condenado. E o arrependimento é histórico. É o povo e suas escolhas. No processo de escolha sempre tem representantes éticos, decentes e honestos. E muitas vezes, são escolhidos, pelos representados, representantes corruptos.
Não quero, portanto, dizer que a culpa toda é do representado que escolhe. Mas a maior parcela é da sua responsabilidade. Em regra, a sociedade aceita, e de certa forma até convalida com a situação. Assistir à corrupção faz com que o cidadão passe a descrer da capacidade da Legislação do nosso País de coibir erros. Daí, quem age certo começa a se questionar se vale a pena andar dentro da Lei. Muitos mesmo com as mãos sujas da corrupção, ainda querem negar ou jogar a culpa para os outros. Vejamos um exemplo: aquele bandido de rua (como é conhecido) quando é abordado pela polícia, pego no flagrante, ao cometer um assalto diz: “Rapaz não sei de nada não. Eu tava bem aqui assim. Eu ando com minha mãe, oh doido... Eu nem gosto de sair de casa!”. Isso só ocorre pela brecha da impunidade. Nossa Legislação é subjetiva e frouxa. A corrupção existe no mundo todo. A impunidade que é algo nosso e o grande agravante. A sociedade está corrompida, mas o maior corruptor é a ideologia vigente. Efetivamente isso se deve àquelas imperfeições inerentes aos seres humanos. Ideais de justiça, igualdade e liberdade são sempre esquecidos quando está em jogo privilégios e manutenção (ou detenção) de poder.
Outro inibidor que pode ser adotado, como regra, para redução e/ou combate da má representatividade é a avaliação da procedência daqueles que desejam o pôster de representante pela Justiça. Um “nada consta”. Puxar a ficha de todos seus atos. E adotar-se regras rígidas quanto a isso. Igualmente quando vamos fazer um crediário, em que nossa ficha (procedência comercial) é vistoriada. Ou vamos adquirir um automóvel, em que a sua ficha documental é vistoriada. Dependendo da procedência (se boa ou ruim), o postulante ao cargo de representante deveria ter o direito de representar assegurado ou negado, dependendo da sua ficha (procedência judicial). Isso pelo senso comum dos bons costumes e da integridade físico-moral da sociedade.
Na nossa região (Região Nordeste) a sociedade era representativamente desorganizada, sem poder de força, de mobilização. Tínhamos um sistema representativo machista (não tinha espaço para a mulher), personalista (não tinha espaço para o jovem) e capitalista (cooptação de forças e corrupção do processo de escolha dos representantes através do capital financeiro). E ainda existia uma resistência ao novo, à mudança. Mas esta realidade está mudando. Estão surgindo outros valores culturais, conceitos morais, princípios éticos, outras normas comportamentais, frutos da socialização de informações, das tecnologias, da consolidação de sistemas democráticos, da estrutura midiática moderna que adota uma agenda positiva. Vejamos o exemplo do Portal SRN. Vivemos na atualidade a liberdade e a prosperidade. Temos nossos direitos societários garantidos pelo menos no papel. O problema foi reconhecido. Várias campanhas de conscientização. Uma sociedade mais organizada em classes, mais esclarecida e mais ativa. Enfim, uma série de fatores que contribuíram para a redução da interferência e influência do poder econômico no poder representativo. Houve avanço, no entanto, há muito que melhorar.
Para Tizuka Yamasaki, consultora espiritual, ‘o que diferencia uma pessoa de outra é o seu imaginário, a interpretação que dá aos fatos da vida’. Para tanto, está faltando consciência, e sobrando paciência. E consciência só adquire através de um processo conscientizador contínuo. O debate não foi feito ainda na dimensão ideal. Não temos tempo a perder. É hora de mudar. Mas mudar com responsabilidade. Mudar em cima do que pode dar certo. É possível transformar a nossa sociedade. É possível mudar esta realidade. Está na Bíblia, em Romanos 12.1-2: “Transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Conclui-se, porém, que a mudança de perfil da relação representante/representado, para aqueles que condenam a corrupção, só ocorrerá com a mudança de atitude. Agindo de forma honesta e legal. Para exigirmos a parcela de responsabilidade dos outros, temos que, primeiro, cumprir a nossa. Penso assim. Senão, vai continuar a demagogia, o cinismo e o maquiavelismo ainda existentes. A mudança social só será possível com a mudança pessoal de cada pessoa. Lanço o bordão: “Somos o que escolhemos”. E isso tem conseqüências, dependendo da escolha do representante pelo representado. Boas e ruins. Já dizia um pensador: “As escolhas que fazemos ditam a vida que levamos”. É preciso almejar novos caminhos. Sem palavrório falso, sem discursos inconsistentes e sem idealismo vazio. Tenho a certeza de que ainda existe espaço para a esperança e o otimismo em nosso meio social.
_______
NOTA DA ADMINISTRAÇÃO DO BLOGUE:
O Cariricult foi criado com o objetivo de ser um espaço de construção coletiva dedicado à livre expressão, independente de ideologia política, credo religioso ou qualquer outra opção ou orientação de pensamento ou estilo de vida. A única restrição que se possa fazer aqui é no tocante ao ataque pessoal de forma desrespeitosa e injusta. Portanto, nunca se admitirá qualquer tipo de censura ou restrição que seja à manifestação de pensamento ou ponto de vista, desde que seja devidamente assinado ou indicado a fonte.
Desconheçemos, por fim, a causa que levou o autor desta postagem a indagar a possibilidade de que tenha havido censura. Mas, refutamos, peremptoriamente, a priori, qualquer ação tolhedora do livre pensamento ( 05:01 de 30/08/2009).

"Os midiotas".

Por Luiz Carlos Azenha.

"Ler os jornais brasileiros, hoje em dia, equivale a se expor a uma exibição despudorada de preconceitos vindos daqueles que, por ilustração, deveriam ser os primeiros a reconhecê-los. Mas o ódio de classe cega. Cega a ponto de fazer com que gente "bem" se exponha de maneira abertamente pornográfica. Há, subjacente ao preconceito, um motivo comercial a incentivar esse strip-tease ideológico: em um ambiente cada vez mais competitivo, marca quem chamar mais a atenção.

Não importa que o striper nos ofereça um corpo surrado, barrigudo, salpicado de celulites e estrias. Importa é que prestemos atenção nele, ainda que fortuitamente. Semana que vem, ele promete, tem mais. Dispensa-se o convencimento embasado em conhecimento e na razão. Importa é causar debate, atrair tráfego e leitores, "brilhar". Na sociedade midiatizada, inauguramos a era dos "midiotas". Assim como temos os famosos que são famosos por serem famosos, temos os comentaristas que são lidos pela capacidade de chocar. São as "moscas" da Folha de S. Paulo, jornal marqueteiro que quer nos vender o supra sumo do elitismo e do preconceito como algo revolucionário, "in your face", ousado. Que o espírito de Raul Seixas tenha piedade deles."


Leia mais.

Raro na oposição, PV se alia até a "moto-serra de ouro" para governar


Maurício Savarese

Do UOL Notícias

Em São Paulo


Adotado pela senadora Marina Silva (AC) para disputar as eleições presidenciais de 2010, o Partido Verde (PV) faz parte da base governista na ampla maioria dos Estados brasileiros, de acordo com um levantamento do UOL Notícias. A legenda esteve ao lado até do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), premiado pela ONG ambientalista Greenpeace com o "Motosserra de Ouro" há quatro anos.Somando os 26 Estados e o Distrito Federal, o PV, mesmo com poucos redutos no Brasil inteiro, como Guarulhos (SP) e Natal, só não auxiliou nos últimos anos as coalizões governistas de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Tocantins, Pernambuco e Sergipe. O partido não elegeu nenhum governador em 2006.A sigla também dá suporte ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e indicou Juca Ferreira ao Ministério da Cultura. Em troca, oferece o apoio da maior parte da sua bancada de 14 deputados federais. A exceção mais clara a esse posicionamento em Brasília é a do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), próximo do governador de São Paulo, José Serra (PSDB).Até em Estados onde não elegeu representantes para a Assembleia Legislativa, casos do Acre, governado pelo petista Binho Marques, e do Distrito Federal, do governador José Roberto Arruda (DEM), o PV faz parte da base aliada e indica membros da administração pública. Na maioria dos Estados, o PV conta com um ou dois parlamentares. Em São Paulo e Minas Gerais ficam as representações verdes mais expressivas: sete entre 94 deputados paulistas e sete entre 77 mineiros. Essa flexibilidade permitiu ao PV indicar integrantes nos governos de todos os principais pré-candidatos para as eleições de 2010. Participa da gestão federal, que deve ter a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) como porta-bandeira e também conta com secretários nas gestões tucanas de São Paulo, de Serra, e Minas Gerais, com Aécio Neves.
Marina Silva tomou a decisão certa ao sair do PT?
Dê sua opiniãoComo construir o discurso de Marina Silva na provável candidatura dela à Presidência da República em 2010 se o partido é tão entranhado nos governos dos principais adversários da ex-ministra do Meio Ambiente do presidente Lula?"Não somos muito oposição nem muito governo em lugar nenhum", afirmou o vereador por São Paulo José Luiz Penna, presidente nacional do PV. "Somos um partido aberto a quem quiser construir um programa novo. É como dizíamos: não estamos à esquerda nem à direita. Estamos à frente."Apoio regionalNa região Norte, onde está a maior parte da Floresta Amazônica, o PV está à frente de gestões de diferentes matizes partidárias: é da base de Ivo Cassol (PP-RO), Binho Marques (PT-AC), Ana Júlia Carepa (PT-PA), Waldez Góes (PDT-AP) e José de Anchieta Júnior (PSDB-RR). Faz oposição a dois peemedebistas, Eduardo Braga (AM) e Marcelo Miranda (TO).No Centro-Oeste, além de participar do governo de Maggi, criticado internacionalmente devido aos números de desmatamento no Estado , a sigla apóia o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), e conta com um subsecretário de Meio Ambiente.

A senadora e ex-ministra Marina Silva deixa o PT, partido ao qual era filiada desde 1985
O PV já teve representante no secretariado de Goiás, mas, segundo um assessor do governador Alcides Rodrigues (PP), perdeu o espaço porque estava "sem densidade eleitoral que justificasse". Mas mantém canais de comunicação com o governo, disse o assessor.Nos três Estados do Sul, o PV só tem representante na Assembleia Legislativa do Paraná e integra a base do governador Roberto Requião (PMDB). No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o partido participou de coligações de oposição aos governadores Yeda Crusius (PSDB) e Luiz Henrique da Silveira (PMDB).No Nordeste, o PV tem apenas um reduto expressivo: o Maranhão, que faz parte da Amazônia Legal. O expoente do partido é o deputado Zequinha Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e foi oposição ao governador cassado Jackson Lago (PDT). Voltou ao governo estadual com o retorno de Roseana Sarney (PMDB).Na Bahia, o partido costuma orbitar em torno do PT do governador Jaques Wagner e nunca caminhou ao lado do grupo do falecido governador Antonio Carlos Magalhães. Em Alagoas, ocupa cargos na Secretaria do Meio Ambiente do governador Teotônio Vilela Filho (PSDB).No Rio Grande do Norte, Estado onde administra a capital Natal com Micarla de Souza, o PV não tem membros da administração pública e seus únicos dois deputados estaduais tem posição independente, mas muitas vezes compõem com a governadora Wilma de Faria (PSB). É oposição aos governadores do Sergipe, Marcelo Déda (PT), de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da Paraíba, José Maranhão (PMDB). No caso paraibano, o partido governou ao lado de Cássio Cunha Lima (PSDB), que acabou cassado no fim do ano passado. No Piauí, nem o partido, nem o governo estadual nem a Assembléia Legislativa informaram a posição do PV em relação à administração de Wellington Dias (PT).Falta de críticaEntre agosto de 2008 e junho deste ano, o Pará foi o Estado que mais desmatou, com 47% do total registrado no período, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em seguida aparece Mato Grosso, com 30%.Os deputados estaduais da sigla não deixam de observar esses números e fazer críticas pontuais, tanto no Pará como em outros Estados. Mas em ampla maioria, dizem interlocutores do partido, não são como o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), que faz oposição aberta ao Palácio do Planalto. Preferem manter a interlocução com o poder estadual e, de preferência, ganhar cargos.
O PV é um partido fisiológico, tem muito pouco a ver com o PV alemão ou o PV francês, que são mais coesos. Esses optam por ficar fora do poder se for necessário e são mais próximos da esquerda desencantada com as experiências de comunismo na Europa e na China", disse o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB). "Não sei se a entrada da Marina Silva vai ajudar a refundar o partido de verdade, mas é fato que há muito a ser mudado se quiserem fazer um partido sério. Hoje é um partido de pequenos líderes regionais com um poder bastante limitado", afirmou.Os dois expoentes mais antigos da sigla, Penna e o vereador carioca Alfredo Sirkis, e já estiveram ao lado de políticos com visões diferentes entre si: o ex-prefeito do Rio de Janeiro César Maia (DEM), a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT). Hoje colaboram com as gestões de Eduardo Paes (PMDB) e Gilberto Kassab (DEM), adversários dos dois antecessores. Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, o partido também está à frente da coalizão governista de Aécio, que disputa com Serra a indicação tucana para concorrer à Presidência da República. "Temos como pontuar nossas diferenças com eles, em especial na questão ambiental. Não é nosso único tema, há muito para se discutir sobre educação, habitação e por aí vai", diz Penna. "Mas mesmo participando desses governos nós temos espírito crítico para saber onde precisa melhorar. E nosso partido vai melhorar também para ter mais autonomia nessa crítica."

Camaradas realizarão intervenções na Paraiíba

O XXIV ENECS pretende se reafirmar como espaço de reflexão de estudantes acerca dos problemas e questões que emergem da pauta política, social e cultural e deverá reunir mais de mil estudantes de todos os estados brasileiros.

Integrantes do Coletivo Camaradas realizarão intervenções artísticas durante o XXIII Encontro Nacional dos Estudantes de Ciências Sociais - ENECS que será realizado na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, em João Pessoa, no período de 29 de agosto a 04 de setembro.
Michael Marques, Cicinha Andrade, Dayze Carla e Amanda Priscila, integrantes do Coletivo e acadêmicos do Curso de Ciências Sociais da URCA são os responsáveis pela ação na capital paraibana e realizarão intervenções que discutem o uso comercial das imagens do Padre Cícero e da Mulher, carimbaço divulgando a suposta realização da bienal da União Nacional dos Estudantes no Ceará em 2011, a qual um dos desafios dos artistas e estudantes que vem batalhando para que esse evento seja realizada pela primeira vez no Estado cearense.
A artista Amanda Priscila será responsável pela realização de uma oficina de stencil, dentro da programação oficial do evento.
O poeta Michael Marques destaca que a participação do Coletivo Camaradas, na fomentação de uma ação engajada e com perspectivas de mudanças sociais vem fortalece a identidade de atuação do grupo. Ele acrescenta que o ENECS é um dos mais importantes eventos acadêmicos do Brasil, por se tratar da construção de novos pensadores sobre a sociedade e futuros Sociólogos.

Para se ter idéia da dimensão do evento a Comissão Organizadora apresenta uma proposta de programação que incluem 112 (cento e doze) atividades do eixo acadêmico (Grupos de Trabalhos, Mesas-Redondas, Palestras, Mini-Cursos), 11 (onze) atividades do eixo político (Grupos de Discussões, Oficinas de Preparação do Ato Público, o Ato Público, Plenária Final) e 40 (quarenta) atividades do eixo artístico-cultural (Oficinas, Shows Musicais, Apresentações de Teatro e Dança, Mostra de Vídeos/Filmes, Artesanatos e entre outros) durante os sete dias de evento.



sexta-feira, 28 de agosto de 2009

belchior não está

deu no fantástico de domingo:
belchior está sumido
seu corpo seu caminhar
a cor no tempo de seus cabelos
o próprio tempo comendo a cidade
pelas beiras nesse tempo
onde a incerteza é a rainha das rainhas
nesse tempo dizem: belchior não está

será possível?
em garagem de aeroporto
um carro aguarda as mãos
um pouco de pó recobre a cidade mouca
que não aceita o canto
senão o que se faz com dentes rangendo
navalhas nas palavras de meninos loucos
escândalo na avenida do senhor prefeito
nesse instante dizem: belchior não está

a cidade não tem respeito
repito
e não aguarda em silêncio
que alguém vestido sem tristeza
se aproxime com poucas frases e desfaça o mistério
mas simplesmente fria responde: belchior não está

as ruas passam zunindo fiéis ao presente
que no ar se desmancha dando vez
a outro e mais outro e mais outro
tão rápido quanto um e-mail
porque não há mais o que se dizer
senão o que alguém vem e diz: belchior não está

porque aqui poetas não têm vez
a cidade mastigando sonhos
com sua cara furiosa seus olhos de aço
a alma nutrida de mentiras
ela diz: belchior não está

e ainda é noite

FOTOARTGRAFIA...Wilson Bernardo

O QUASE DE TODO PEIXE SERIA UMA BOCA DE POTE??!

PEIXES ADORMECIDOS NO POTE!
Alimente os homens com
a sabedoria dos anzóis
e a boca dos pescadores
são dóceis bactérias fisgadas
na fome
da incerteza necessidade dos peixes.
Alimente os peixes
com a boca das agrurias humanas
água dormida no pote das andanças
o pirão lacrimeja o olhar da sede.
Wilson Bernardo(poema & fotoartgrafia)

São

Dois dias,
exatos dois dias
o fígado acorda
sob a melancolia
dos monstrengos -

as paredes
mudando de cores
e de ruídos.

Mostra Internacional de Música de Olinda- MIMO 2009- Imperdível !

Buena Vista Social Club estará no MIMO 2009


Confira a programação completa do Mimo 2009, Mostra Internacional de Música de Olinda, evento imperdível para amantes de boa música de igrejas antigas.



QUARTA, 2/9



Concerto


20h30 – Didier Lockwood e Ricardo Herz Convento de São Francisco (João Pessoa)Participação Especial do Quinteto da Paraíba



QUINTA, 3/9



Concertos


18h – Fernando Sodré Igreja de São Francisco (Olinda)


19h – Art Metal Quinteto Igreja do Rosário dos Homens Pretos (Olinda)


20h30 – Didier Lockwood e Ricardo Herz Igreja da Sé (Olinda) – Participação especial de Siba, Antonio Nóbrega, Renata Rosa e Seu Luiz Paixão.


Filmes


18h30 – Orquestra de Meninos Pátio da Igreja da Sé (Olinda)



SEXTA, 4/9



Concertos


17h – Duo Milewski Ordem Terceira do Carmo (Recife)


18h – St. Petersburg String Quartet Igreja de São Bento (Olinda)


18h30 – Trio de Câmara Brasileiro Igreja de São Francisco


19h – Toninho Horta Igreja do Seminário (Olinda)


20h30 – Orquestra Sinfônica de Barra Mansa e Luiz de Moura Castro
Igreja da Sé (Olinda)

Filmes



18h – Nós Somos um Poema Igreja do Seminário (Olinda)


18h30 – Música é Perfume Pátio da Igreja da Sé (Olinda)



SÁBADO, 5/9



Concertos


17h – St. Petersburg String Quartet e Luiz de Moura Castro Basílica do Carmo (Recife)


18h – Sopro Brasil Igreja do Rosário dos Homens Pretos (Olinda)


19h – Antonio Nóbrega e Orquestra Retratos do Nordeste Igreja do Seminário (Olinda)


21h30 – Buena Vista Social Club Stars Praça do Carmo (Olinda)


Filmes


18h – Raphael Rabello Igreja do Seminário (Olinda)


18h30 – Um Homem de Moral Pátio da Igreja da Sé (Olinda)



DOMINGO, 6/9



Concertos


11h30 – Orquestra MIMO Igreja da Sé (Olinda)


16h – Encontros (apresentações livres) Coreto da Praça do Carmo (Olinda)


17h – Orquestra Sinfônica do Recife e Isaac Karabtchevsky Basílica do Carmo (Recife)


18h30 – Joana Boechat Igreja de São Francisco (Olinda)


19h – Jam da Silva Igreja do Seminário (Olinda)


20h30 – Gonzalo Rubalcaba, David Linx e Sérgio Krakowski Igreja da Sé (Olinda)


Filmes


18h – No Tempo de Miltinho Igreja do Seminário (Olinda)


18h30 – Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei Pátio da Igreja da Sé (Olinda)



SEGUNDA, 7/9



Concertos


11h30 – OSBM – Encerramento do Curso de Regência Igreja da Sé (Olinda)


16h – Grande Cia. Brasileira da Mystérios e Novidades Praça do Carmo (Olinda)


18h – Quarteto Radamés Gnattali Igreja de São Pedro (Olinda)


19h – Cesar Camargo Mariano Igreja do Seminário (Olinda)


20h30 – Hermeto Pascoal e Grupo Igreja da SéFilmes18h – Quebrando Tudo Igreja do Seminário (Olinda)


Filme


18h30 – Palavra (En)cantada Pátio da Igreja da Sé (Olinda)

Tratado sobre o olhar em chamas (descrentes e altivos)


Os filhos da puta do mundo reinventam o evangelho. E curtem lombras homéricas em lanchas de nem sei quantos pés. Os caras da lei me apalpam os culhões, enquanto me mostram que são eles que mandam – e meu rosto refletido nas lentes de um falso Rayban tem um quê de desespero silencioso, uma raiva crescente, eu e os outros do mesmo coletivo de merda.

O mundo é um lugar bacana pros que tem garra e sangue no olho. Pros que destroem o céu para poder curtir com uma ou duas putas de trezentos paus a hora. Pra eles, as ruas são mais largas e o ar não tem o mesmo chumbo que respiro – chumbo grosso, calibre 12; fim de madrugada; dióxido de carbono e outdoors mentirosos em meu caminho de retorno pra casa, o mesmo silêncio brutal das horas mortas, a janta e a sopa.

Poesia serve pra quê quando sacamos que nossos filhos estão metidos em enrascadas próprias. Pequenas dores para esses pequenos seres. Cedo demais para isso, pergunto. E o carrilhão de velhas lembranças fodidas vem à tona. E me mostra que preciso ter um pouco da raiva dos comuns. Que a poesia não salvará nossas almas quando rolar o tal juízo final. O dilúvio ácido. A bomba atômica. Que irá tornar nosso último dia vermelho, e manterá os prédios e fábricas intactos, varrendo a inutilidade dos homens com suas nóias sem explicação freudiana. Ele e seus charutos fálicos que deviam estar socados em outro lugar.

É preciso um pouco de sangue na retina. Coagulada e fervente. Uma raiva para permanecer à tona, para manter o olhar acima da multidão de tontos engravatados, de professores peidões, de garotas siliconadas. O mundo é cão “mai frend”. Já dizia um antigo chef meu. E ele tava certo.

QUASE TODOS OS POBREmas SE ARESOVE NA CAMA...

LULA TEM REMELA NOS OLHOS...


APENAS UMA TEORIA!
O que Freud complica
uma foda
explica.
Wilson Bernardo(poema & Fotoescultura)

PARA REFLEXÃO


Por diversas vezes, via e-mail, recebi de amigos o texto que segue. Foi escrito pelo baiano João Ubaldo Ribeiro em 2005 e continua valendo para os dias atuais de turbulência política que o país experimenta, ao mesmo tempo o autor nos convida para uma reflexão pessoal sobre o nosso exercício diário de cidadania.


"Precisa-se de Matéria Prima para construir um País"

João Ubaldo Ribeiro


A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada.. Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula. O problema está em nós. Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA" é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal... E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO. Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos ...e para eles mesmos. Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros. Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica. Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e beneficiar só a alguns. Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não! Não! Não! Já basta!!. Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA" congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte... Me entristeço. Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem serve Lula, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente sacaneados!!! É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda... Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias. Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro... Somos nós os que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo: desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. E você, o que pensa?.. MEDITE!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

POEMAS DA VISÃO - Por Emerson Monteiro

As oceânicas vastidões destes olhares escorrem suaves por sobre rochas adormecidas de mundos siderais em longos vôos, histórias abissais e plumas de nuvens brancas, mistérios quiçá intransponíveis na vida de todos os lugares. Belas frações de um tempo depositado no bloco de tantas agonias e incontáveis eras, cores que se revestem de cobre, na sombra granítica dos Andes altaneiros, sinal de um vigor que fala no Poder sem limites. Exatos traços de solitários pousos. Despenhadeiros. Fronteiras. Luzes. Muralhas. E, lá adiante, a Luz esplendorosa, nas asas incomuns de pássaros avermelhados em volteios constantes no espelho das águas no rumo do Sol. Figuras que falam, desenhos que silenciam, nas formas retorcidas da Terra na superfície. Em meio aos fiapos de nuvens tênues, os reflexos de uma cidade recolhida, jeito manso de ruínas, dentro de entranhas e montes. Povos e campanhas de instantes reais. Pequenos seres, criativas visões imaginárias, fiéis e laboriosas, no passo ritmado da pulsação dos corações. Terraços, vestes, tons festivos e rugas, alma de raça sobranceira. Gravação doce de luz na fotografia e nos disparos certeiros do artista, contornos resistentes de espécies a passear no jardim da transcendência – flagrante das bênçãos definitivas.
Além, bem perto, na lente, os desenhos magnânimos da civilização no traçado das ruas de cidade iluminada, pastar indiferente de exóticos animais e as pedras do reino antigo, que apenas repousa de glorioso fausto, passado distante de sorrisos infantis.
São os recortes humanos que permanecem através desse fluir de calendário, lendas e rituais, soma total de chão, homens e marcas, na busca da Infinitude. Olho que se alonga, pois, nos rios horizontais da vista. Lagos. Mares. Pedras. Muralhas. Vastidões. A Lua sempre bela. Tempo depositado nos vôos linheiros da câmera e dos pousos solitários, no instante ausente e presente dos poemas da visão. Figuras que dizem o que a alma silencia. Fiapos de nuvens. Cordilheiras. Frio intenso. Povos e campanhas. Terraços. Vestes coloridas. A doce gravação dos sentimentos no plasma fotográfico, milagre da invenção, e alternâncias, caminhos e solo dadivoso, transformações que acontecem no colo materno da santa Natureza.

Offícios

No interior deste Brasilzão de meu Deus existem profissões as mais esdrúxulas. Interpretador de sonho e indicador de pule, por exemplo. Já imaginaram atividade mais complexa? O sujeito especializou-se, como Freud, em encontrar num bicho disperso como um sonho, sinais premonitórios do resultado jogo do bicho, do dia seguinte. Sonhou com uma briga em que caiam pelo chão muitas promissórias? O adivinhador grita de lá : jogue na borboleta ! Se brigaram os homens estavam “Brabos” e promissória a gente não chama de letra? Então? Brabo-letra ! E o marcador de cacimba, meu amigo? Nem o pessoal da Petrobrás, com sua equipe do pré-sal, se atrevem em determinar o local certo de cavar o poço. Pois bem, o matuto vem de lá com um cambito verdinho na mão, segura nas duas extremidades e anda para lá e para cá, de repente a extremidade solta começa a dar pulo. Pronto! É aqui, pode cavar que é batata, tem água bem pertinho! Agora vá você tentar fazer, sem a ciência , para vê se dá certo? É capaz de se chegar ao Japão sem a água minar. Outra atividade especializadíssima: feitor de chocalho. É coisa para ser exercida por luthier, meu amigo! Existe toda uma técnica de tamanho da saia do chocalho, de extensão do badalo. Se neguinho se meter a fazer, sem conhecimento, a boiada termina literalmente no brejo. E mais, cada chocalho , como um instrumento musical, tem uma tonalidade que faz com que o vaqueiro identifique o boi à distância, só pelo toque do badalo. Poderia falar de um sem número de outras atividades interioranas que inclusive hoje estão em franco processo de extinção: seleiro, funileiro, amolador de tesoura, soldador de panela, mestre de cachimbo, raizeiro, fabricante de pião, mestre de casa de farinha, cacheador de rapadura, doceiro de pirulito , quebra-queixo, passa-raiva e cavaco chinês, mestre de espingarda soca-soca, consertador de talabardão de cangalha.Todas estas profissões tiveram lá seu apogeu e vão sendo pouco a pouco engolidas no mastigar das horas do relojão da praça da matriz.
Cada um destes ofícios dá um tratado e inclusive sobrepassam o parco conhecimento de um escrevinhadorzinho de fim de semana. Vou me deter em dois meios de vida que me parecem muito interessantes, para um sábado que tem cara de rede na varanda e água de coco na quartinha. Curiosamente as duas histórias vêm de um dos lugares mais mágicos deste Cariri Encantado : São José de Lavras, docemente apelidado de São José de Mãe Velha. De suas águas beberam artistas gigantescos : Nonato Luiz, Bruno Pedrosa, Batista de Lima , Moreira Campos. Pois é, apresento a vocês João Luiz, sua profissão me pareceu estranhíssima : esgotador de peito de mulher parida . Que diabo de meio de vida é este? Sei que vocês estão perplexos como eu fiquei. Pois bem, o homem é contratado freqüentemente para uma atividade ímpar. Mulheres de resguardo, que por alguma causa não estão amamentando, ficam com as mamas cheias de leite, com dor, podendo causar inflamações locais e abscessos. O João é especialista em esvaziar estas mamas repletas, aliviando, assim, as mães do terrível incômodo. Ele mama no lugar do bebê. E faz isso profissionalmente, com todo respeito que se exige de um profissional de uma área tão melindrosa. Não seguisse à risca sua conduta , se quisesse se passar por um Abdelmassih , já estaria enterrado há muito tempo que São José não é São Paulo não, meus amigos.
Bem, a outra profissão é a de consolador de moribundo. Geralmente é feita por uma beata, que em visita à pessoa gravemente enferma, busca confortá-la, lembrando que irá para um lugar melhor, que encontrará o Criador e viverá brevemente entre os anjos. Uma espécie de pré-unção dos enfermos. Geralmente a idéia não é bem aceita, por mais carola que o paciente seja, a maioria das vezes prefere esse mundo aqui de sofrimento à paz celestial sempre plena de interrogações e mistérios.
Aqui em Crato, nos anos 60, uma consoladora foi levar conforto a um velhinho que estava nas últimas . Os últimos anos da vida dele tinham sido amargos por conta de uma chaga. A esposa o havia trocado por um comerciante chamado Deusimar. No meio das palavras de conforto, a beata introduziu uma frase perigosa:
--- Este mundo aqui é só uma passagem, o senhor agora vai para o céu, para a felicidade eterna. Lembre-se de Deus e Maria !
O velho, nos últimos suspiros, sussurrou :
--- O quê ? Deusimar foi minha desgraça, Deusimar foi minha desgraça...
Talvez por isso mesmo, seu Félix Cândido, uma das figuras mais irreverentes e gozadoras de São José de Lavras, quando estava às últimas, ouvindo o conforto da consoladora: “Tenha fé em Deus, o mundo é sofrimento, lá é muito melhor, seu Félix” , respondeu com aquela voz meio fanhosa conhecida de todos:
--- Muito bom seu conselhim, viu? Muito bom, mas quem vai morrer aqui é Felim, viu ? Felim !

J. Flávio Vieira