Na Cova

Tiro os tênis,
as meias -

alargo a alma
nas pontas dos dedos
nas fendas dos dentes.

Boa a batalha,
matei homens maus.

Mas teimam em viver os mortos.
Os tolos.

Engraçado são todos gigantes
de olho infernal e uma língua labareda.

Maus esses homens -
não cometem nunca suicídio
e jamais sentem dor de cabeça.

Altivos, cruéis, cínicos.
Todos bobos, tolos, tão tolos.

Maus esses sóbrios homens -
embriagados não enlouquecem.

Atiram melhor, mentem melhor.

Boa a batalha,
matei muitos desses homens maus.

Escapei por pouco -
minha camarada sombra
sabe com dar voltas em torno da luz.

LANTERNA AZUL (Em: Fuga pela Claraboia, de Francisco de Freitas Leite)


LANTERNA AZUL

Mas se o maquinista fosse daltônico
a locomotiva teria parado.
(Felipe de Oliveira, 1891 – 1933)

O frio da noite densa
abria o escuro com pedacinhos de água...

Alguns meninos
distraídos do mundo
e brincando com lanterninhas
pousaram luzes detrás dos flocos de neve...

Talvez míope, talvez encantado,
o maquinista deteve o trem
e creu ver vaga-lumes azuis
ou era nova lanterna de estranho semáforo...

E, na estação adiante,
passageiros reclamavam o insólito atraso.

(Para Geraldo Urano)

Visões

Ao longo do jardim apenas o olhar
Sobre as flores e ao fundo a mata
O lance do olhar sobre o vôo da borboleta a dançar no ar
Chapada ameaçar o céu, guerra eterna no fim de tarde
Onde o céu ferido sagra rubro-róseo,
Pavor das fadas e gozo dos anjos caídos
No bojo dos fins de tarde, aqui onde chamamos terra
Deu hora de sangue, deu hora cinza, deu hora de sono
Descendo nova cortina, novos atores num palco negro
Onde brada um luzir de homens e mulheres
Que uma vez na terra se fizeram sangrar,
Para que suas sendas de luz nos pudessem chegar
Ao longo do céu, este outro jardim, apenas o olhar
O seio que teme o escuro que anseia o novo
Dança na roda de desejos.
Dúvida cruel:Viver na eternidade, eu floresta imensa dentro de mim
Ou a rosa singular, vivendo para o povo.
Ao longo do céu, guerra eterna no fim de tarde
Arde uma batalha de rosas, pouso do vôo de abelhas
E em mim as centelhas das cores em minha retina
E as sensações que em meu peito ardem

Foto: Beatrix Krüger

Sobre a mídia e a cobertura da tragédia filipina


Manila, 30 de setembro de 2009

Queridos amigos e compatriotas, estou enviando essa mensagem a jornalistas, líderes de organizações e formadores de opinião em geral
É um questionamento e um apelo.
Por que a mídia mundial não está dando a devida atenção a tragédia filipina até então?
Lembro-me que por ocasião do furacão Katrina, toda a mídia voltou seus olhos para um desolado país, diante da tragédia que abateu os Estados Unidos, no entanto agora, essa mesma mídia se cala diante do desastre que ocorreu nas Filipinas. Gostaria de esclarecer que o tufão Ondoy, conhecido nternacionalmente como Ketsana foi imensamente mais destrutivo que o Katrina. Temos até agora quase 300 pessoas mortas e milhares de desaparecidos. Os desabrigados somam quase 500 mil e os afetados pelo desastre chegam a um milhão.
A fúria da natureza devastou a capital Manila e toda sua região metropolitana. Falta comida, água e remédios.
Estima-se que o impacto ambiental e de saúde pública será tremendo, já que grande parte da região segue imersa nas águas da chuva.
O furacão que acometeu esse país foi considerado o pior em 40 anos. No entanto eu abro os jornais, ligo a TV e busco na Internet e não consigo achar mais que pequenos relatos, insípidas matérias.
A comunidade internacional se moveu para ajudar as vítimas do Katrina , pessoas de todo mundo sensibilzaram-se com o tsunami que abateu a Indonesia, Thailandia e outros países próximos, no entanto, sem a devida ajuda Internacional, a situação nas Filipina tende a se agravar, até porque estamos aguardando uma nova tempestade para amanhã.
A Cruz Vermelha está fazendo um trabalho seríssimo mas nós voluntários estamos exaustos.
Pra orgulho nosso, a comunidade brasileira está (como sempre) dando um banho de solidariedade. Atuando na coleta de materias e alimentos, colaborando na logistica de distribuição e até mesmo auxiliando no resgate as vítimas. De donas de casa, religiosos, modelos e jornalistas a funcionarios de embaixadas, todos estão numa grande corrente de solidariedade.
Onde estão os jornais e emissoras do Brasil para cobrir esse testemunho lindo do nosso povo?
Sei que o mundo vive uma crise de valores que afeta inclusive os meios de comunicação, mas como jornalista e ativista eu não poderia deixar de dar esse recado: Colegas! Olhem além das agências internacionais!! Busquem as notícias por si próprios, não percam a visão crítica.
O que acontece nas Filipinas hoje merece a atenção da imprensa. Não deixem de falar a respeito!
Não se calem! Nós somos a voz dos que não tem voz, ou ao menos acreditávamos nisso em nossos tempos de Faculdade.

Abraços Solidários do lado de cá do planeta
ps se precisarem de fotos, contatos, informações, não hesitem e me contatar
Fabiana Mesquita
jornalista e arte-educadora

________

PS.: Posto aqui com o intuito de ajudar a Fabi na divulgação do que anda ocorrendo "do lado de lá".

Denúncia publicada no jornal O POVO


Paleontologia
Geopark Araripe ameaçado de perder selo da Unesco
Integrante da Rede Global de Geoparks, projeto da Unesco,
o Geopark Araripe passa por uma auditoria no ano que vem.
Se não mostrar os resultados esperados, pode perder o
reconhecimento internacional, único no País

Larissa Lima
enviada ao Cariri
larissalima@opovo.com.br

[30 Setembro 02h10min 2009]
A porção da Bacia do Araripe no Cariri cearense é reconhecida internacionalmente como uma herança geológica da Terra. Se pudesse falar, seria uma baita contadora das histórias do Planeta. Porém, sem voz própria, precisa ser interpretada e vivenciada pela ação humana. E é justamente essa última que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) faz uma nova avaliação, quatro anos após a visita que resultou na criação do Geopark Araripe. A auditoria põe em jogo a manutenção da unidade cearense como integrante da Rede Global de Geoparks.

Pelo menos aos cientistas, o lugar já conseguiu narrar muitos contos. Descreveu enormes seres voadores, lembrou como as plantas tiveram a ideia de pôr flores e até disse que, um dia, há muitos e muitos anos, a América e África eram vizinhas.

As paisagens que, do verde, passam a criar tons de marrom nesta época do ano, foram apresentadas pela Universidade Regional do Cariri (Urca) à Unesco num projeto que pretendia aproveitar os conhecimentos científicos sobre a relevância geológica e paleontológica da região numa estratégia de desenvolvimento local.

O credenciamento na rede internacional como o primeiro Geopark das Américas e, até o momento, único do Brasil, veio em 2006. No ano seguinte, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), concedeu ao projeto um prêmio na categoria Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico. Mas a chancela internacional, importante para atrair investimentos públicos e privados, não é definitiva e pode ser perdida caso a equipe de técnicos da Unesco avalie negativamente o desenvolvimento dos trabalhos na região.

``A cada período, o programa é auditado por especialistas para verificar o cumprimento das questões propostas na época do seu credenciamento``, explica André Herzog, reitor da Urca na época da fundação do parque e um dos idealizadores do projeto. Apesar de não manter mais contato com o Geopark Araripe, ele foi conselheiro científico da Unesco na última Conferência Global de Geoparks, na Malásia. ``A coisa mais importante do Geopark são atividades. São as visitas guiadas, as iniciativas educacionais, científicas, a troca de informações com outros Geoparks``, aponta. Segundo o gerente do Geopark, Idalécio Feitosa, as visitas guiadas e os projetos educacionais, nas escolas, continuam acontecendo normalmente. O POVO apurou, no entanto, que as atividades que antes dependiam do Museu de Paleontologia da Urca, fechado há um ano para reforma e ampliação, estão desarticuladas. E o desenvolvimento regional, ainda não passa de expectativa.

Apesar de permanecer oficialmente sob a tutela da Urca, o Geopark agora é encarado como um projeto de Governo e deve receber mais de R$ 12 milhões em investimentos em projetos executados nos próximos cinco anos, segundo Emanuela Rangel Monteiro, da Secretaria das Cidades.

As ações planejadas contemplam áreas de educação ambiental, preservação e desenvolvimento econômico sustentável, ao gosto da Unesco. No entanto, ela admite que o resultado da auditoria ``é sempre uma incógnita``.


SAIBA MAIS

> Um Geopark é uma área nacionalmente protegida contendo um número de locais de determinada importância, raridade ou aparência estética. Esses locais deverão ser parte, segundo as recomendações da Unesco, de uma estratégia de desenvolvimento econômico sustentável das regiões onde está localizado. Um Geopark atinge o seu objetivo por meio de uma abordagem em três eixos: preservação, educação e geoturismo.

> Atualmente, existem 58 geoparks nacionais em 18 países fazendo parte da Rede Global de Geoparks da Unesco.

> O Geopark Araripe é estruturado em nove sítios escolhidos de acordo com a relevância geológica e paleontológica. Eles são chamados de ``geotopes`` ou ``geosítios`` e são representantes das camadas da Terra que chegam a ter 150 milhões de anos. São eles: Exu, Arajara, Santana, Ipubi, Nova Olinda, Batateiras, Missão Velha, Devoniano e Granito. Exu, Arajara, Santana e Devoniano também são unidades de conservação ambiental estadual.

> O Geopark Araripe tem área de mais de 5 mil quilômetros quadrados e abrange pelo menos seis municípios da região do Cariri: Nova Olinda, Santana do Cariri, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha e Barbalha.

LEIA AMANHÃ
> O Museu de Paleontologia em Santana do Cariri está fechado há mais de um ano para reforma e ampliação. No local, O POVO encontrou mobiliário, equipamentos de informática e até fósseis dividindo espaço e poeira com o material de construção.


Alemão ressalta diversidade

30 Set 2009 - 02h10min
O pesquisador alemão Gero Hillmer, do Instituto de Geologia e Paleontologia da Universidade de Hamburgo, conheceu os fósseis de Santana do Cariri ainda quando era estudante, nas ilustrações dos livros. ``Há 40 anos, eu soube dos fósseis de Santana e muitos, muitos pesquisadores na Europa sabem também. Você encontra os fósseis de Santana em qualquer Museu de História Natural`` ressaltou.

Conhecer de perto mesmo os tais fósseis, ele só foi em 2000, com uma equipe de pesquisadores. Alguns anos depois, foi um dos idealizadores do Geopark Araripe.
Na bacia sedimentar no Cariri, encontrou provas importantes da teoria da deriva continental,do alemão Alfred Lothar Wegener, em 1912, de que todos os continentes formavam um só bloco. A teoria foi firmada depois de amostras de que seres semelhantes viviam nos dois continentes.

``Vocês têm aqui pequenos peixes, que ainda pode encontrar nas rochas sedimentadas do Crato, com 120 milhões de anos de idade. Esse peixe, você também encontra na mesma formação (geológica), na costa-oeste da África``, explica Hillmer.

Ele também afirma que o estado de preservação e a diversidade dos fósseis, são excepcionais. Além de peixes e plantas, a área é reconhecida pelo registro fóssil de animais invertebrados, anfíbios, lagartos, crocodilos, dinossauros e pteurossauros. Em Santana, foi encontrada a maior parte dos fósseis de pteurossauros já descritos.`` (LL)

"Pau Brasil" revela maturidade do cinema baiano


O cinema baiano alcança, com Pau Brasil, de Fernando Belens, a sua maturidade. Um amadurecimento que se cristaliza em suas imagens não apenas pela qualidade técnica que possui, mas, sobretudo, pela maneira com que o realizador aborda o tema, cujo tratamento revela um olhar original sobre a vida de homens e mulheres que vivem no sertão. O ponto de vista adotado por Belens na descrição de suas existências não é condescendente com elas. Foge, por exemplo, da maneira pela qual os sertanejos são sempre tratados pelo cinema brasileiro, e, nesta sua visão insólita e nada complacente, sem piedade, poder-se-ia dizer, acha-se, durante o desenvolvimento da narrativa, uma espécie de borbulhar que a permeia para a explosão exorcística final.

Pau Brasil é baseado no livro homônimo de Dinorah do Valle, que recebeu, em Havana, o prêmio Casa de las Americas. A autora participou também da gestação do roteiro, mas não pôde vê-lo concretizado porque morreu antes das filmagens. Pode-se observar uma afinidade eletiva entre a escrita de Dinorah do Valle e o pensamento belensiano sobre a vida.

Impressiona a qualidade técnica de Pau Brasil, sua montagem exata, o sentido de duração preciso das tomadas. Não seria exagero dizer que, em Pau Brasil, há uma contenção quase bressoniana na exposição das chagas sociais e existenciais. O cinema baiano, força dizer, nunca tinha alcançado, em sua luminosa trajetória, o grau de maturidade temática e estilística que se pode encontrar no filme de Fernando Belens. Em Pau Brasil, a técnica (perfeita) se encontra com a linguagem para fazer emergir uma estética.

O sentido da duração das tomadas, vale repetir, conjuga-se com o sentido dos enquadramentos para que o filme se estruture narrativamente em consonância com o que se quer dizer. O que está dito, portanto, nas imagens de Pau Brasil, está dito de uma maneira escritural que permite a associação equilibrada, como todo bom filme que se preze, entre a narrativa e a fábula.

Autor, porque se vista a sua filmografia há, nela, constantes temáticas e estilísticas, Fernando Belens, desde os seus experimentos insólitos em Super 8, já demonstrava uma visão particular do mundo que o cerca, um olhar arguto, anárquico por vezes, não destituído, no entanto, de originalidade na representação do que se chama real.

As imagens de Experiência I (e as outras, transformadas), de Anil, de Europa, França e Bahia, de Heteros, a comédia, de Pixaim, entre outros, estão inseridas no corpus de Pau Brasil. O que significa dizer que Belens é um autor, um realizador que tem, como queria François Truffaut, uma visão de cinema e uma visão de mundo. Neste particular, faz um cinema dilacerante, cortante, que não admite a compaixão, mas que luta pela emergência da perplexidade diante das contradições da realidade.

Uma compaixão que, por exemplo, não existe em relação aos personagens miseráveis do filme. Inclusive Belens coloca a intolerância, o preconceito, a hipocrisia, dentro do contexto da história, que trata da rivalidade entre duas famílias pobres que sobrevivem num ambiente hostil. A intolerância, para Belens, não é uma questão de classe, como a é para muitos, mas uma questão da necessidade de o homem se transformar, uma questão da natureza humana.

Duas famílias vivem em casas rudes, toscas, uma em frente da outra. Numa delas, um homem (Bertrand Duarte - sempre inexcedível) mora com uma mulher e a deixa amar qualquer tipo que chegue à sua porta, principalmente caminhoneiros, que são seduzidos pela sua maneira fogosa de ser. Mas o personagem não se importa e é feliz e carinhoso e, ainda, abriga no seu seio familiar um outro homem que aparece numa noite a pedir asilo em sua casa. O casal tem um filho, maltratado pela coletividade, que se tranca em si mesmo. Uma espécie assim de As duas faces da felicidade (Le bonheur, 1966), de Agnes Varda, às avessas. Mas o homem interpretado por Bertrand guarda um segredo, que se revela no final.

Do outro lado da rua, um outro homem (Oswaldo Mil), casado, com duas filhas, vive a discursar da porta de sua casa sobre a promiscuidade existente na casa vizinha. Suas duas filhas adolescentes vivem sob o regime do chicote, e a mulher, sempre calada, sujeita-se à sua condição, As duas meninas, porém, não possuem a mesma perspectiva de vida. Uma pretende o gozo da vida, a plenitude carnal, enquanto a outra prefere o celibato e acaba por entrar no claustro de um convento.

Como fio condutor, a exemplo de um personagem de tragédia grega, uma mulher negra, desgrenhada, é o alter ego da coletividade. O filme começa com o garoto, filho do casal da residência dita promíscua, que anda por uma paisagem arenosa. As primeiras imagens de Pau Brasil mostram em seguida uma árvore imensa, o título do filme, e a negra que profere palavras premonitórias, assim como no final, quando caminha solitária por uma estrada que parece não ter fim.

A exposição dos personagens e das situações dá lugar, a partir de certo momento, a uma explosão de conflitos entre as duas famílias. E é neste conflito que se dá o exorcismo, a revelação, e o desfecho exasperante de Pau Brasil. Belens, neste retrato pungente, mostra com argúcia de bom cineasta que a condição humana é contraditória e complexa.

Ponto máximo para a fotografia de Hamilton Oliveira, para a montagem de André Bendocchi Alves, elementos que proporcionam o estabelecimento de uma mise-en-scène dotada de eficiência dramática e de um ritmo que cativa pela conjugação harmoniosa dos elementos da fabulação.

PAU BRASIL Brasil / Alemanha. 2009. Produção e Direção: Fernando Belens. Roteiro: Fernando Belens e Dinorah do Valle. Montagem: André Bendocchi-Alves. Som: Nicolas Hallet. Fotografia: Hamilton Oliveira. Trilha Sonora: Bira Reis. Direção de Arte: Moacyr Gramacho. Produção Executiva: Luciano Floquet e Sylvia Abreu. Produção: Sylvia Abreu e Pola Ribeiro. Elenco: Bertrand Duarte, Oswaldo Mil, Fernanda Paquelet, Arany Santana, Fernanda Belling, Milena Flick, Edlo Mendes, Rita Brandi. Filme realizado com recurso de edital patrocinado pelo Governo do Estado da Bahia. O filme é Baseado em livro homônimo de Dinorah do Valle, premiado em concurso cubano da Casa de las Américas.

Já sabemos quem deve governar o Brasil depois de Lula: a Revista Veja!

"Chanceler e diplomatas de carreira deveriam todos bater ponto no modernoso prédio da Marginal do rio Pinheiros, em São Paulo, ou mais precisamente, para quem não conhece, na sede da Editora Abril, responsável pela publicação de Veja. Sim, porque a matéria de capa desta semana – reproduzida abaixo e que levou o inspirado título "O imperialismo megalonanico", um trocadalho horroroso perpetrado pelo jornalista Reinaldo Azevedo, blogueiro da revista – é uma das coisas mais arrogantes já publicadas na imprensa brasileira.
A julgar pela reportagem de capa da revista, a turma de Veja deveria assumir imediatamente o comando do Itamaraty ou, se isto for pouco, tomar conta logo do Palácio do Planalto, que é onde as coisas são decididas. O tema da matéria, como o leitor já deve imaginar, é a participação brasileira na crise em Honduras, onde o presidente legitimamente eleito está refugiado na embaixada brasileira enquanto o governo golpista tenta negociar alguma saída que evite a volta de Manuel Zelaya ao cargo que lhe é de direito.
Para os editores de Veja, porém, a situação é bem diversa. Ponto um: a política de relações exteriores do governo federal está errada e o Itamaraty se submeteu à lógica do presidente venezuelano Hugo Chávez. Ponto dois: o golpe de Estado em Honduras foi uma "medida justificável". Para ninguém dizer que se trata de uma interpretação deste observador, cabe reproduzir o que foi escrito na revista:

"Houve um golpe de estado? Sim. País pequeno e pobre, Honduras foi transformada num caso exemplar do repúdio da comunidade internacional aos golpes de estado. Foi castigada com sanções econômicas e congelamento nas relações diplomáticas. Exceto por isso, o problema não era tão grande. A medida de força foi, até certo ponto, justificável pelas leis do país. Até o momento do golpe, o maior perigo para a democracia era o presidente Manuel Zelaya."

Pode parecer incrível, mas é isto mesmo que está escrito. Veja decidiu que o golpe não era um "problema tão grande", que a medida de força foi "até certo ponto justificável pelas leis do país" e ainda que o perigo maior era o presidente constitucionalmente eleito Manuel Zelaya, cujo grande pecado teria sido propor uma consulta ao povo do seu país para que, junto com a eleição presidencial, decidisse se quer ou não convocar uma Assembleia Constituinte para rever as leis hondurenhas. Ao contrário do que se tem escrito por aí, esta é a verdade pura e simples: Zelaya não queria um novo mandato, o plebiscito não tinha esta intenção, mas tão somente convocar a Constituinte, se o povo assim decidisse. Não é o propósito aqui de debater o episódio em si, o que interessa é a cobertura da revista que pretende dar profundas lições aos diplomatas e também ao presidente Lula. Veja mostra que sabe governar melhor do que ninguém e se apresenta capaz de elaborar perfis muito profundos da alma das pessoas, mesmo sem entrevistá-las. É precisamente este o caso de Zelaya, que mereceu um parágrafo especialmente afetuoso, digamos assim, na reportagem do semanário da Abril:

"Não se deve descartar a hipótese de que o homem seja um lunático. Como sugere sua queixa, na semana passada, de que `um grupo de mercenários israelenses´ estava perturbando seu cérebro com `radiações de alta frequência´. A paranoia dos raios mentais é um sintoma clássico de esquizofrenia. O certo é que Zelaya não cabe no figurino de um mártir da democracia."

É deveras espetacular o nível de aprofundamento e a percepção certeira da revista ao elaborar o "perfil humano" do presidente hondurenho. Além do que, os leitores foram brindados com uma aula de psicanálise ao serem informados de que os raios mentais são sintomas clássicos de esquizofrenia – seria interessante saber quantos psicólogos e psiquiatras Veja consultou para chegar a esta conclusão tão peremptória. Mais ainda, a revista sabe com toda a certeza que "Zelaya não cabe no figurino de um mártir da democracia", afirmação que simplesmente dispensou qualquer argumento adicional. Pois é, o homem parece ser o próprio coisa-ruim, veste chapéu, usa guayabera, tem mais de dois metros de altura, então só pode ser o coisa-ruim mesmo. E assim sendo, não pode gostar de democracia, conclui a revista...
Aos leitores que acompanham este observador nas análises que faz para este Observatório do material produzido pela redação de Veja, pode parecer até um tanto repetitivo, mas é preciso sempre voltar ao âmago da questão: o semanário da Editora Abril há muito tempo não é um veículo noticioso, mas um panfleto político com objetivos e ideologia bastante claros. O que se lê na Veja não é jornalismo, mas proselitismo político. A revista tem lado e faz questão de mostrar, em todas as edições, os ideais que defende. Em algumas, até consegue disfarçar um pouco e apresentar como jornalismo o contrabando editorial que quase todas as suas matérias trazem. Em casos como o da edição corrente, a redação deixa o pudor de lado e vai direto ao ponto, abordando o leitor de maneira grotesca e impondo sua visão de mundo na forma de reportagem.
Para o público mais desatento, a coisa pode até passar por jornalismo; para os mais politizados, deve soar como uma espécie de humor nonsense; mas, na soma geral, é apenas propaganda disfarçada de algo remotamente próximo ao jornalismo."

Por Luiz Eduardo Magalhães, no Observatório da Imprensa.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Nada Não

O fogo não cessa,
o pavio não treme.

Minha tosse salva
apenas meus pulmões.

Teimo em queimar papel
na boca do fogão.

Chego a encostar a tocha
na mangueirinha do gás.

Digo a mim mesmo
que é brincadeira -
ninguém sairá ferido.

E o vento consome as fagulhas -
azuis, vermelhas e uma alma perdida.

Suspenso Silêncio

Não turves teus olhos
sob a claridade do dia.
É na hora do punhal
que se vê atentamente
o corajoso olhar do cordeiro.
Dá-me aquela antiga perninha de barata.
Dá-me de volta minha língua de inseto.
Já quase morto espero
que esse perfume passe
que meu fardo pese
me curve os ombros
me cause feridas
e esse moribundo
morra de fato.

domingo, 27 de setembro de 2009

A Imprensa Golpista no Brasil e na América Latina - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Pelo menos duas organizações de mídia brasileira se associaram ao instituto do Golpe de Estado: a Globo e a Veja. As outras duas, Folha e Estado, foram um pouco mais comedidas, mas não deixaram de dar uma mãozinha à tese. Alexandre Garcia e Miriam Leitão no Bom Dia Brasil da última segunda feira se tornaram porta vozes dos golpistas de Honduras.

Alguém tem dúvidas que em Honduras houve um Golpe de Estado? Igual aquele que tentou derrubar Hugo Chávez? Alguém desconhece que os militares brasileiros, sob a batuta de lideranças civis, deram um Golpe de Estado em João Goulart e implantaram uma Ditadura de mais de vinte anos? Quem não percebe que conservadores e autoritários vestidos em roupas de democratas apregoam e defende um golpe de Estado? Eles começam deste modo e tentam a hegemonia até que qualquer desculpa é desculpa para um golpe.

Os “democratas” de Veja e Globo que tanta histeria tiveram com um suposto terceiro mandato para Lula, debateram igualmente o terceiro mandato para Uribe na Colômbia? Quando é Hugo Chávez as “raposas em pele de cordeiro” se tornam democratas da meia noite. É a velha prática do Stalinismo e não é incomum tais “democratas” denunciando o regime ditatorial que trucidou vidas. E aí pensamos nesta contradição: se usam as práticas stalinistas qual a razão de denunciar seu regime. É que ao fazê-lo não pretendem negar a ditadura, mas subjetivamente nos ameaçar com ela.

A questão de Honduras é clara. Deram um Golpe de Estado e querem dar sucesso ao golpe com eleições em novembro. Assim fica fácil para os “democratas” defenderem este tipo de democracia: toda vez que alguém nos contrariar vamos lá, damos um golpe de estado e depois prometemos eleições. No Brasil foi deste modo, até que em 1965 acabaram por cassar inclusive os civis que lideraram o golpe (Lacerda e Juscelino) e ficamos sem eleições por muitos anos. Sim tivemos eleições, lembram do “duplipensar” do livro 1984 de George Orwell, eram “eleições” indiretas. O “duplipensar” ou a “duplimensagem” do livro 1984 era a denúncia da prática Stalinista.

Em Honduras estão todos os elementos de um golpe de Estado conforme o consagrado conceito do Dicionário Político de Noberto Bobbio. Como o pensador italiano bem caracterizou o golpe de Estado evoluiu historicamente, mas manteve a sua natureza principal. O traço de união das várias modalidades ao longo de tempo é: “o Golpe de Estado é um ato realizado por órgãos do próprio Estado.” Portanto quando os militares brasileiros tentaram justificar o Golpe como um revolução, estavam aplicando a técnica do “duplipensar” e as famosas passeatas com Deus Pela Liberdade era a encenação para isso (aliás um ex-bispo do Crato ainda padre num tom de brincadeira usava o verbo pelar no lugar de “pela”). As mesmas manifestações a favor dos golpistas em Honduras.

Bobbio responde a duas questões do conceito para caracterizar o que é um Golpe de Estado. Quem o faz? “O soberano, em segundo lugar titulares do poder do Estado e em terceiro funcionários do Estado” (militares). Em Honduras estão o segundo e o terceiro atores. Como se faz? Se faz pela mobilização dos recursos do Estado pois ele é feito por dentro do aparelho de Estado. Prenderam o presidente e sua família enquanto dormiam e os seqüestraram para o exterior.Tomaram os principais recursos modernos: aparelho de comunicações, aeroportos, centrais de telefonia etc. Aí o clássico “infiltração dentro de um setor limitado, mas crítico, do aparelho estatal e na utilização dela para privar o Governo dos demais setores.”

As organizações de comunicação brasileira, sob controle de seis famílias, finalmente mostraram a verdadeira face golpista. Apóiam um golpe clássico e atacam quem denuncia o golpe. Aliás, é um desafio impossível para quem queira demonstrar que estas organizações não estiveram a serviço do Golpe de 1964 e em apoio à Ditadura Militar. Enfim, talvez pela natureza oligárquica, a única instituição brasileira que não evoluiu democraticamente foi a grande mídia nacional.

Só para referência de todos nós: vocês viram alguma note de quem quer que seja ABERT ou outra farsa igual em defesa de alguns órgãos de Imprensa de Honduras que estão sob ataque dos golpistas. Pois tem, dão descargas elétricas nos equipamentos das emissoras que não apóiam os golpistas, provocam ruído nas transmissões entre outras ameaças, inclusive a jornalista.
Enfim: usar Hugo Chávez para defender os golpista é uma bela técnica no “duplipensar”.

A coerência da Globo.

Que as Organizações Globo são coerentes com sua história, com suas origens, ninguém pode negar. Sob controle da família Marinho, sempre tomou partido nos momentos decisivos da história do Brasil e também do mundo. Segundo Luiz Carlos Azenha:

"O bicho pode mudar de pele, mas não perde vícios de origem. É importante relembrar qual é o DNA das Organizações Globo para entender as posições que ela assume de forma escancarada, através de seus porta-vozes, no caso de Honduras.Defender a elite hondurenha que está por trás do golpe de estado naquele país é o equivalente a defender o regime dos afrikâners na África do Sul. Basta substituir os "negros" sul africanos pelos indígenas hondurenhos, cuja mão-de-obra barata é oferecida de graça como forma de atrair "maquiladoras" estrangeiras, que se dão bem explorando trabalho semi-escravo.Que a elite brasileira, do Leblon à barra da Tijuca, se junte aos afrikâners centro-americanos diz muito mais sobre nós do que sobre a crise em Honduras. Mas, se a gente relembrar a História, entende:

Editorial de "O Globo", em 02/04/1964

"Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.
Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo."

Elogio e censura

"CUIDADO Com Aqueles Rápidos Em Elogiar/ Pois Eles Precisam De LOUVOR Em Retorno/"

"CUIDADO Com Aqueles Rápidos Em Censurar:/ Eles Temem O Que Desconhecem/"

Charles Bukowski

Lula obedece Chávez e prejudica Honduras

À vontade
Zelaya dorme na embaixada brasileira em Tegucigalpa: ele se diz torturado por "mercenários de Israel" com "radiação de alta frequência"


Lula tem na política o instinto matador que caracteriza os grandes artilheiros do futebol tão admirados por ele. Na semana passada, essa habilidade abandonou o presidente da República. Ele esteve em Nova York para discursar na abertura da 64ª Assembleia Geral da ONU, palco privilegiado para fazer o que ele mais gosta e faz como poucos, enaltecer o Brasil aos olhos do mundo. Em sua fala Lula assinalou os avanços no uso de energias limpas no Brasil e mesmerizou os burocratas internacionais com ataques à caricatura do mercado onipotente. Ficou nisso. A maior parte do tempo passado sob os holofotes foi dedicada por Lula a falar de um país estrangeiro, Honduras, uma nação paupérrima sem nenhuma relação especial com o Brasil.

Politicamente instável, Honduras vem de ejetar do posto e exilar um presidente, Manuel Zelaya, pela tentativa de desrespeitar a Constituição e, por meio da convocação de um plebiscito, perpetuar-se no poder.Caso típico da contaminação ideológica patrocinada pelo venezuelano Hugo Chávez, Zelaya vendeu a Caracas seu pouco valorizado passado de latifundiário direitista. De repente passou a se pautar pela cartilha populista chavista de miséria moral e material, supressão de liberdades individuais, desrespeito às leis, aos costumes civilizados, associação com o narcotráfico e, claro, eternização no poder - receita que estranhamente passou a ser chamada de esquerda na América Latina.

Em uma operação comandada por Chávez, Zelaya foi conduzido de volta a Honduras e se materializou com numerosa comitiva na casa onde funciona a embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Esse hóspede incômodo, de aparência bizarra e com sinais evidentes de distúrbios mentais - se diz vítima de ataques por ondas eletromagnéticas e gases tóxicos que só ele percebe - foi o grande assunto de Lula em Nova York. O Brasil pode esperar outra oportunidade. Zelaya é um problema dos hondurenhos que encurtaram seu mandato antes que ele o espichasse indefinidamente. É um problema também de Chávez que não se conforma em perder o investimento feito na conversão dele ao seu credo. É um problema dos Estados Unidos pela proximidade geográfica por estar na sua esfera de influência histórica. Pois a semana acabou com Zelaya sendo um problema e constrangimento para o Brasil.

Golpe de mestre de Chávez que evitou alojar Zelaya na embaixada da Venezuela, ordenando a seus amigos na para-diplomacia brasileira chefiada por Marco Aurélio Garcia que o acolhessem na representação brasileira. "Hoje o Brasil tem um problema em Honduras e Chávez, que o produziu, não tem nenhum", diz Maristella Basso, professora de direito internacional a Universidade de São Paulo. Chávez age como o líder do subcontinente americano. Ataca Barack Obama, presidente americano, e ignora Lula. Com as eleições marcadas para o próximo dia 29 de novembro, o governo interino que derrubou Zelaya se preparava para reconduzir o país à normalidade democrática. O candidato ligado a Manuel Zelaya aparecia até bem colocado nas pesquisas de intenção de voto. Seria uma saída rápida e democrática para um golpe, coisa inédita na América Latina. Seria.

Agora o desfecho da crise é imprevisível. O mais lógico seria deixar o retornado sob os cuidados dos amigos brasileiros até depois das eleições que, se legítimas, convenceriam a comunidade internacional das intenções democráticas dos golpistas. Mas é preciso combinar com os apoiadores e detratores de Zelaya nas ruas e elas costumam ter sua própria e volátil dinâmica. O Brasil, que poderia ser parte da solução da crise de Honduras, tornou-se, graças a Chávez, o problema. A embaixada brasileira agora tem um hóspede que ouve vozes e uma para-diplomacia que ouve ditadores estrangeiros.

Qualquer regime minimamente antiamericano conta com o apoio tático do governo brasileiro - ainda que esteja envolvido em genocídio, como o do Sudão, ou tratado como pária mundial, como o Irã. As estripulias dos governantes de esquerda da região - mesmo que eles estejam agindo contra os interesses brasileiros - são toleradas em silêncio pelo presidente Lula. "Por causa desta política externa, estamos sempre a reboque dos acontecimentos", disse a VEJA Rubens Barbosa, que foi embaixador brasileiro em Washington no governo de Fernando Henrique.

O Brasil poderia ser protagonista de uma solução pacífica em Honduras, cujo formato foi definido por Oscar Arias, Prêmio Nobel da Paz e ex-presidente da Costa Rica, com o apoio dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos. Chávez foi mais convincente. Na Assembleia Geral da ONU, em rompante, Lula chegou a dar ultimato ao governo de Honduras. Vai mandar os Fuzileiros Navais? Seria a suprema vitória de Chávez na armadilha que armou para Lula.
(Fonte:VEJA)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dores de amor

Ouço em uma leitura dramática na Rádio Teatro da UFBA uma personagem gemer:"Te amo , te amo tanto que chega a doer". Mas Camões, na voz de Renato Russo, não disse que o amor é ferida que dói e não se sente? E a saudosa Amelinha não cantava que mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor? Entre Camões e Amelinha meu cu balança. Mas não cai.

Uma política educacional - visão de José Serra.


Nesse vídeo José Serra explica porque saiu da prefeitura e foi ser candidato a governador. Seria uma forma de ajudar mais o estado dele e manter a parceria com a prefeitura. Explica também que São Paulo tem 25% da população do Brasil e 40% da população carcerária. Isso porque a polícia de lá nos governos do PSDB, prendeu mais bandidos. Segundo ele, a segurança melhorou bastante lá em São Paulo.
Se disse um homem de determinação, que enfrentou multinacionais, países na questão dos remédios, laboratórios, a indústria do cigarro.
Sobre o ensino no estado de São Paulo, ao ser questionado dos resultados obtidos pelos estudantes de lá nos exames nacionais, assim se pronunciou o então candidato José Serra:

"Tem que entender o seguinte, diferentemente dos estados do sul, que são os que tem melhor situação, São Paulo tem muita migração, né? Muita gente que continua chegando, tal, esse é um problema. E houve uma expansão quantitativa muito grande do ensino. Eu acho que agora a gente tem que olhar para a frente e enfatizar a qualidade . O que que eu fiz na Prefeitura que vou fazer no Estado? Botar duas professoras por sala de aula no primeiro ano do ensino fundamental. Isto é crucial para que as crianças aprendam. Eu não quero nenhuma criança passando de ano sem aprender aquilo que tem que aprender naquele ano".
Afirmou também que como prefeito deu aula toda a semana, pois é professor, a vida inteira foi professor.

PT castiga quem defende a vida - por Vanderlúcio Souza


(Publicado no jornal O POVO, edição de 25-09-2009)

O Partido dos Trabalhadores (PT) puniu na noite do último dia 16 dois de seus filiados partidários por serem a favor da vida, contra o aborto. Luiz Bassuma (BA) e Henrique Afonso (AC) foram castigados com suspensão dos direitos partidários nos períodos de 1 ano e 90 dias , respectivamente.

A decisão foi tomada por unanimidade e ficou clara mais um ponto essencial do partido, a defesa do aborto em qualquer fase da gestação. E quem tiver pensamento contrário à legenda já sabe em que pena pode incorrer.

O partido que se diz lutar pelos direitos dos trabalhadores, entre eles a liberdade de expressão torna-se uma mordaça para dois de seus sequazes proibindo-lhes de se pronunciar em nome da sigla.

A descriminalização do aborto para o PT é coisa muita séria. Quem se lembra do plano de governo do presidente em exercício, na última campanha, recorda como era um ponto presente em diversas propostas a serem implementadas.

Quem é petista de coração entendeu o recado, ou é a favor do aborto ou está aquém da ideologia partidária. Para os defensores da cultura de morte a decisão emitida é só mais um reforço ideológico, não acrescenta nada às suas convicções.

No entanto, para quem se posiciona em defesa da vida sente-se impelido a continuar sua luta na apologia daqueles que nem ao menos podem se defender, os milhares de nascituros já marcados para morrer antes mesmo de vir à luz deste mundo.

Acompanhemos e vejamos quem serão os próximos a receber exortação do Partido dos Trabalhadores por não concordarem com seus interesses. E pelo visto o entalo é no tema defesa da vida, pois existe deputado petista que milita, por exemplo, a favor do plantio da maconha para usuários e nada de repreensão para ele.

Quem defende a vida mais do que nunca nada contra a maré.

Vanderlúcio Souza - Bacharel em Filosofia

Cinema francês

Fui assistir "Paris". Um típico filme francês: chato, palavroso e pretensioso. Os franceses e seus draminhas existenciais me dão gastura. No filme até o verdureiro tem uma frase lapidar pra expor seu processo de autoanálise. É por isso que o século passado foi totalmente americano. O Brasil vive dividido entre seu lado americano e seu lado francês. Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ONDE TEM MENINO E CACHORRO,ADULTO NÃO PEIDA É OBRA DE DEUS?WIlson Bernardo.

A inocência das espécies se faz poemas de Traquinagens...
ENTERRAR O QUE SE COME!
O gato enterra sabedorias
Os cães desenterram sinceridades.

Deus confidência as mazelas
de que o milagre dos pães
nunca foi diferente das trinta moedas.

O gato enterra sinceridades
Os cães desenterram sabedorias.

TODOS OS PROVÉRBIOS SÃO SIMILARES.
Um provérbio Chinês não é superior
a uma sina sertaneja.
Beijing!
Arrozais no alagadiço humano.
Sertão!
Clemencia dos estercos retirância.
Fome
Sede
Morte contempladas pela incerteza.
Wilson Bernardo(Poemas & Fotografias)

Visões de Porcelana

Agora é fria a asa da xícara
e o perfume do cafezinho
perdeu-se na saliva.

Dentro do meu corpo
uma alma saciada.

Contente com o que bebeu,
achando graça do objeto sobre a mesa.

Arraes, Lula e a pernada no complexo de Vira Latas - por José do Vale Pinheiro Feitosa

O Ex-Governador de Pernambuco, Miguel Arraes, sempre fez parte do meu universo afetivo. No entanto até chegar à vida adulta não me lembrava de ter conversado com ele. Fruto do Golpe Militar e do exílio do político. Em 1981 ou 82, estive pela primeira vez, numa conversa reservada com ele e mais um primo.

Lembro de duas impressões da conversa. Numa eu comentava a militarização do governo contra a população favelada aqui no Rio de Janeiro. Eu era médico numa favela e pelo menos duas vezes por mês a Polícia Militar invadia a favela, tomava o lar das pessoas sem mandato judicial, prendia pais de família diante dos filhos e depois soltava, pois não havia motivo para a prisão. Aquilo me parecia uma ação de “terror de Estado” com fins de humilhar e arrasar qualquer desejo de progresso daquela população.

Isso é um horror. Mas existe, já vi, por exemplo, Ali Kamel, expoente do jornalismo da Rede Globo, defendendo um decreto que proibia políticas de melhoria nas favelas. Este decreto caiu em desuso através do Brizola quando Governador. Era a célebre ganância de empreiteiras por terrenos. Por isso a questão da favela é territorial e não de um segmento da sociedade que precisa de progresso material e qualidade urbana. Eles querem os terrenos. Vejam as encostas do Jardim Botânico e do Morro dos Cabritos como se enchem de empreendimentos e de mansões. E são áreas urbanas privatizadas, com cancelas e milícias armadas para reprimir o direito de ir e vir.

Sobre este assunto, uma vez conversando com um Coronel da PM do Rio, meu colega num curso de especialização, ele me dizia: se os ricos têm milícias as comunidades pobres também querem. Aliás, é bem típico de toda sociedade hierarquizada, uma parte tenta imita os “vencedores” através de uma farsa maior ainda (os vencedores são igualmente farsantes). Os pobres querem escolas privadas, planos de saúde, vans piratas e milícias privadas. Se tiver um carrinho fuçado também deseja. Um shopping para usar as “grifes”.

Outro assunto com o governador eu até mesmo me achei um tanto ufanista. Comentava com ele a enorme capacidade deste povo que veio da zona rural, analfabeto, sem qualquer referência urbana e estiveram no cimento da industrialização brasileira. Todos operários do chão de fábrica, que atuam com máquinas sofisticadas, em processos de trabalho sistemático, nem bem uma década passada eram pobres camponeses. Ele ponderou sobre os acidentes e as doenças profissionais. Mas ponderei que o processo era mais importante para tais acidentes do que a inabilidade das pessoas.

Agora ao cerne da questão. O que mudou mesmo no Brasil? Tudo! Mudou e muito. Mudou de tal forma que muita gente não percebeu e pelo número de FDP chamando Lula de FDP até acho que os velhos conservadores já deram conta. Acontece que Lula é um presidente do cerne das duas questões com Miguel Arraes. Até por que o político nordestino é a matriz de toda esta nova geração. Sem as bandeiras dos anos sessenta o Brasil não teria chegado ao que chegou.

Por isso Lula fala do Brasil como um país que tem dignidade, se dar ao respeito e que “ninguém respeita ninguém que não respeita a si mesmo.” É o que esta gente que vivia presa a uma estrutura arcaica no campo, veio para cidade construir. Construir uma base de respeito e se fazer respeitada.

Quando escuto o discurso de certos conservadores tenho a sensação de que eles também irão progredir. Deixarão o complexo de vira lata e terão orgulho do seu povo e do seu país. Continuarão querendo o melhor só para eles, mas aí ninguém é perfeito. Nem poderíamos pensar que individualistas queiram o bem o comum.

S(C)em palavas, apenas com pontos.

Eu grito, pois minha voz já muito
No exílio esteve.
E assim tive dias de fome,
E noites infinitas de sede.

Onde meus verbos, quase todos alvejados,
Mesmo que tão famintos,
Na altivez do próprio instinto
Sangravam rosa nos prados.

Eu brado, pois, até minhas vírgulas
Quase imóveis, cheias de feridas,
Choravam, e em cada partícula
Do seu pranto nasciam margaridas.

E mesmo na altivez da teimosa,
Exclamação!
Cede com cautela a sua vez,
Ao ponto de interrogação. (?)

Foto: Fotografamador
Fonte: http://olhares.aeiou.pt/palavras_e_mais_palavras_foto730799.html

AOS MAIS OU MENOS PRECONCEITUOSOS

Felicito Carlos Rafael pela postagem - Coisas que todos querem saber, mas tem vergonha de perguntar - Sua idéia é genial, pois nos estimula a pesquisar, a pensar. Infelizmente na sua primeira indagação, depareime com colocações no mínimo infelizes e arraigadas de preconceitos, fiquei triste pois as colocações preconceituosas vieram de pessoas que jamais pensei que pensassem assim. Temos que nos livrarmos de ódios pessoais ou partidários e respeitarmos a trajetória de lideres por mais impossível que isso possa ser.
Luis Inácio Lula da Silva, acima de tudo é um cidadão, um brasileiro sofrido que conseguiu se projetar em cima de sua luta. A dignidade das pessoas não está marcada por ter este ou aquele grau de conhecimento escolar. Alegar que o Lula é analfabeto, no mínimo é ser PRECONCEITUOSO(A). Lula é aquilo que é por méritos próprios, não se pode crêr que o nivel escolar seja sobrepujado pelas experiências da vida, até porque o conhecimento escolar não nos faz mais ou menos importantes. A maior parte dos brasileiros, com formações superiores em níveis de Mestrado e Doutorado, não possuem minimamente o conhecimento que Lula tem da vida, da miséria, da fome, do Brasil, das lutas sindicais, etc... Portanto querer medir conhecimento somente com títulos acadêmicos é ser preconceituoso(A) e racista. Acreditar que quem não possui formação escolar é superior a este ou aquele com formação é tentar separar as classes, de forma preconceituosa. Lula é o que é por que é. Brasileiro acima de tudo, preparado para dirigir o País, que está saindo de um atoleiro, não por culpa da formação cultural do FHC, mas sim pelas alianças que o Mesmo firmou com o capital estrangeiro.
E o PRECONCEITO é alimentado de quem você menos espera!

Saudações Geográficas!
João Ludgero

Alfinetada - por Pedro Esmeraldo


Olhe nós aqui novamente, dando alfinetadas em alguns políticos acomodados e conformados. Não podemos aceitar esse tipo de comportamento compassivo referente ao desenvolvimento desta cidade.
Cremos que o Crato cresce, mas de maneira lenta e desordenada. Ao nosso ver, não temos um crescimento acelerado. Não pensamos em trazer infra-estrutura urbana e rural. A cidade atualmente está parada, não há movimentação para aumentar os níveis de emprego. Tudo anda na estaca zero, sem estabelecer um crescimento econômico equilibrado. Isso é de estarrecer.
A agricultura está quase parada, ou melhor, está realmente parada. Não se concebe como em pleno século XXI, não procuramos estabelecer regras para desenvolver estruturalmente uma agricultura moderna, acompanhando o desenvolvimento com equilíbrio, sem deixar cair numa quebra desairosa de produção agrícola.
Não possuímos estradas que satisfaçam ao desenvolvimento. Atualmente, essas péssimas estradas carroçáveis são “raspadas” apenas no mês de setembro, pois as máquinas além de serem insuficientes para o trabalho, são alugadas a terceiros, havendo muito dispêndio que prejudica o bom andamento do progresso agrícola. Por isso pedimos que os nossos gestores façam força para adquirirem máquinas modernas a serem utilizadas nos trabalhos da prefeitura. Há muito tempo sofremos esse descaso, já que impede a expansão agrícola e nos deixa decadentes diante dessas dificuldades.
Crato precisa de renovação do seu quadro político, infelizmente, os nossos políticos não se atualizam, nem deixam sucessores para assumirem o comando administrativo desta cidade.
Precisamos de jovens que sejam competentes, que possuam graduação de educação superior a fim de organizarem planejamentos que venham avançar o desenvolvimento desta cidade.
Termos um jovem, graduado, empresário que poderia exercer a contento o comando político desta cidade: trata-se do senhor Justo Júnior, trabalhador competente, que ao nosso ver seria uma boa escolha para se candidatar a cargo do poder executivo. Cremos que esse senhor será bem aceito, basta ter coragem e disposição para competir com outras pessoas menos aperfeiçoadas nessa área. Esse senhor será bem acolhido com toda certeza, e que satisfará aos anseios da população.
Além disso, há outros jovens que merecem ser contemplados dentro do quadro político da cidade. São jovens capacitados que com toda certeza desempenharão muito bem os trabalhos políticos de nossa terra. São eles: André Barreto Esmeraldo, ex-vereador, pessoa honesta e que tem amor à terra; Raimundo Bezerra Filho, que teve por pai o grande líder cratense, Dr. Raimundo Bezerra; Adriano Parente, que mostrou arrojo e trabalho honesto na direção do seu hospital. Ainda há outros que deixamos de citar nomes por exigüidade de espaço.
Também não devemos esquecer o advogado Pedro Felício Cavalcanti, neto do professor e ex-prefeito do Crato, Pedro Felício Cavalcanti, homem de grande moral inabalada, poderá ser seu seguidor na esfera política.
Já está na hora de mudar esse quadro político acomodado e inoperante.
Um dia, um senhor de idade nos informou que o mal do Crato são os políticos não comparecerem aos eventos sociais, pois afastam-se desses eventos enviando representantes que não tomam contato com a presença do povo. Por isso somos esquecidos pela falta de compreensão mútua.
Com toda certeza esperamos que venham pessoas mais sociáveis que correspondam aos anseios do povo.


Texto:Pedro Esmeraldo

Cuca Cariri realiza encontro no Centro Cultural do BNB

O Centro/Circuito Universitário de Cultura e Arte - CUCA da UNE no Cariri realizará na próxima quarta-feira, dia 30, a partir das 15 horas, no auditório do Centro Cultural do Banco do Nordeste em Juazeiro do Norte, o ENCUCA Encontro do CUCA. O evento visa apresentar a trajetória da organização a nível nacional através de mostra de audiovisual dos vídeos produzidos pela TV CUCA, além discutir e criar uma rede de contatos com artistas, produtores e artistas para pensar ações nas universidades e faculdades da região.

O Encontro será aberto para estudantes, pesquisadores, artistas, brincantes e produtores culturais. Para o coordenador do Cuca Cariri, o músico Jean Alex, o evento é importante momento para ampliar a atuação da entidade na região que luta pela conquista de um espaço pra funcionar como ponto de apoio. O Cuca aguarda uma resposta da Universidade Regional do Cariri, tendo em vista, que a instituição foi indicada para sediar o Centro na Região. Jean Alex enfatiza que o CUCA espera contar com a participação de artistas e estudantes das várias universidades e faculdades do Cariri.

Ele comenta que o CUCA funciona como uma rede aberta para colaboradores que tenham interesse em contribuir com a discussão e atividades sobre arte e cultura dentro e fora das instituições de ensino superior.

Serviço:
CUCA Cariri
http://www.cucacariri.blogpost.com/

Programa Cariri Encantado com Marcos Leonel

Marcos Leonel é um dos maiores poetas do Cariri. Autor do livro Depois da Capela tem um Abismo, publicado pela Kabalah Editorial (Recife, 2007), que traz um longo poema, escrito em meados dos anos 80, dividido em doze cantos, cada um com oito estrofes, cada uma com oito versos, com imagens e impressões de um andarilho que sobe a serra do Horto, a caminho do Santo Sepulcro, depois da estátua do padre.

Marcos Leonel, graduado em Letras e Linguística pela Universidade Regional do Cariri, também é um conceituado professor de literatura, tanto de colégios de ensino médio como de cursinho pré-vestibulares, mas, também, é atração do programa Multimídia, apresentado semanalmente na TV Verde Vale, onde comenta os últimos e concorridos lançamentos literários.

Marcos Leonel, por fim, é músico e compositor, guitarrista da banda Nacacunda, uma das pioneiras da cena roqueira do Cariri cearense.

No programa Cariri Encantado desta sexta-feira, 25, das 14 às 15 horas, na Rádio Educadora AM 1020, Marcos Leonel será o entrevistado e suas composições serão tocadas (músicas da banda Nacacunda e parcerias suas com Pachelly Jamacaru e Bá Freire).

O programa Cariri Encantado é apresentado por Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael Dias e tem o apoio do Centro Cultural BNB Cariri.

Abidoral Jamacaru no Centro Cultural BNB

Estou indo a Fortaleza, deixo vocês com a imagem do mano que fará Show hoje, dia 24, no CCNBN em Juazeiro do Norte, as 18.30h, pontualmente. Na ocasião, Abidoral estará lançando o CD Bárbará e apresentará músicas inéditas do seu repertório. Prestigiem!



Foto: Pachelly Jamacaru

Coisas que todos querem saber, mas tem vergonha de perguntar


Ganhará um brinde-surpresa quem responder corretamente a pergunta abaixo:

Por que é um representante do Brasil o primeiro a discursar na Assembleia Anual da ONU?

Nelson Cavaquinho amanhã em Compositores do Brasil


Por Zé Nilton

É difícil ou senão impossível não se comover, não se ficar tocado após ouvir qualquer música de Nelson Cavaquinho. Para quem gosta de música – da boa música – logo se enternece com a sensibilidade musical, harmônica e melódica das composições de Nelson Cavaquinho. Foi um mestre na arte de compor e de reinventar a realidade falando de coisas simples, duras, misteriosas da vida e da morte, com estilo e com profunda delicadeza. O mais carrancudo dos críticos, com seu nacionalismo e, acima de tudo, seu regionalismo ligeiramente exacerbado, esse irmão siamês das idéias em termos artísticos e musicais do famoso Ariano Suassuna – José Roberto Tinhorão – certa vez disse de Nelson Cavaquinho:

“Tome o homem seu violão, cante ele pelas ruas como um antigo trovador da Idade Média a beleza das flores, a efemeridade da vida e a angústia metafísica da morte, e esse será o retrato de Nelson Cavaquinho. Com sua cabeleira branca, seu permanente ar de dignidade e a sua voz enrouquecida por muitos anos de cervejas geladas, o que Nelson Cavaquinho canta (fazendo percutir, mais que dedilhando, as cordas do seu violão) é a saga de um homem que vive em estado de poesia. E cuja obra, por isso mesmo, não morrerá.”

Pura verdade sacada da inteligência desse minucioso historiador da Música Popular Brasileira, o Tinhorão. Nelson Antonio da Silva – Nelson Cavaquinho, que fazia verdadeiros malabarismos nas seis cordas do violão, foi mestre em destrinchar acordes simples e complexos, usando preferencialmente o polegar e o indicador e, segundo Paulinho da Viola, para seu grande espanto e admiração, terminando a música na segunda do tom. Permaneceu pobre e morando nas periferias do Rio de Janeiro, apesar da grande visibilidade que ganhou na década de 1970, ao ter inúmeras músicas gravadas por intérpretes de sucesso como: Paulinho da Viola (Duas Horas da Manhã), Chico Buarque (Cuidado com a outra), Clara Nunes (Minha festa), Beth Carvalho (Quero Alegria), além de Elizeth Cardoso, o saxofonista Paulo Moura e outros. Sempre teve presente na sua música e na suas conversas a idéia da dor, da solidão, da morte. Talvez devido ao seu estado de permanente embriaguês.

Lembro de um documentário realizado na década de 1960, sobre Nelson Cavaquinho, pelo cineasta Leon Leon Hirszman, em branco e preto, onde ele aparece em todas as cenas empunhando seus mais fervorosos companheiros: o violão e a bebida. Como disse, sua verve e sua imaginação colocavam por sobre o realismo exato da vida o lirismo e a mais terna poesia. Quem não se encanta com esta: “Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor” ? (A flor e o espinho).

E esta: “Quando eu passo perto das flores, quase elas dizem assim: vai, que amanhã enfeitaremos o seu fim (Eu e as flores). O nosso Patativa do Assaré tem uma poesia em que ele pede para que as homenagens a lhe serem rendidas sejam feitas em vida. Assim também o disse Nelson Cavaquinho, na música “Quando eu me chamar saudade”:

Sei que amanhã quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora
Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga
Para aliviar meus aís
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais.


Nelson Cavaquinho – será o nosso homenageado de amanhã no Programa COMPOSITORES DO BRASIL a partir das 14 horas, na Rádio Educadora, através da parceria Rádio Educadora/Centro Cultural Banco do Nordeste.

Vamos falar e tocar:

1. A flor e o espinho
2. Rugas
3. Folhas secas
4. Luz negra
5. Lágrimas sem jura
6. Eu e as flores
7. Palhaço
8. Quando eu me chamar saudade
9. Degraus da vida
10. Notícia
11. Juízo final
11. Cuidado com a outra
11. Pot-pourri, de Nelson Cavaquinho, com Noite Ilustrada

Quem ouvir, verá !

Fonte: Nova História da Música Brasileira, Editora Abril, 1974.

Oficina: "Elementos de apreciação cinematográfica"


A Oficina de Cinema, Elementos de Apreciação Cinematográfica, ministrada por André Setaro, objetiva, através de oito aulas e de oito filmes essenciais, oferecer os elementos para que se possa entender que o cinema tem uma linguagem, uma sintaxe própria. Na plenitude de sua expressão, o cinema certamente se utiliza de elementos de outras artes, porém o filme constitui um todo original e indivisível, que existe independentemente da própria espécie desses elementos.

A oficina tem início na quarta, dia 21 de outubro, e termina a 9 de dezembro. Para a inscrição, enviar um e-mail para setaro@gmail.com ou telefonar para 88067572 ou 32472290. As aulas serão ministradas no bairro do Rio Vermelho. Taxa de inscrição: 250,00 (à vista). Um certificado será conferido ao término do oficina.

1.) PONTO DE PARTIDA DO CINEMA CONTEMPORÂNEO.
Morfologia e sintaxe da linguagem cinematográfica. Narrativa e fábula. O elo semântico e o elo sintático. Kane e a reviravolta na estrutura narrativa. A profundidade de campo. Os realizadores cerebrais e os figurativos.
CIDADÃO KANE (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles.

2.) NEO-REALISMO E NOVA ESTÉTICA
Técnica, linguagem e estética. A importância do neo-realismo italiano e a sua influência marcante para o cinema contemporâneo. Postulados. Rossellini e a abertura para um novo cinema e uma nova estética.
ROMA, CIDADE ABERTA (Roma, città aperta, 1945), de Roberto Rossellini.

3.) DA ORALIDADE EM ALAIN RESNAIS
O recitativo como poética da imagem. A palavra, como valor de criação dentro da criação artística, passa a ser um fim e não mais um meio do conduto da idéia. E o silêncio como continuação da palavra. A contradição dialética entre a efemeridade e a permanência.Filme que fez evoluir a linguagem cinematográfica.
HIROSHIMA, MEU AMOR (Hirsohima, mon amour, 1959), de Alain Resnais

4.) A DESMISTIFICAÇÃO DO ESPETÁCULO
O estilo godardiano e a inclusão da metalinguagem. A comédia romântica vista pelos olhos da nouvelle vague. A narração que se insinua em função da transparência. O importante não é o que está dito, mas como se diz.
UMA MULHER É UMA MULHER (Une femme est une femme, 1961), de Jean-Luc Godard.

5.) O CINEMA COMO VEÍCULO DO PENSAMENTO
Visão de mundo e visão de cinema. O cinema de autor na sua mais exata tradução em torno de uma troca de identidade entre uma atriz e a enfermeira que cuida dela. A incomunicabilidade, tema caro ao cineasta, dá lugar, aqui, à permeabilidade.
PERSONA (Suécia, 1966), de Ingmar Bergman

6.) A DESDRAMATIZAÇÃO E O DOMÍNIO DA ANTINARRATIVA
A "desdramatização" do filme e a opção pela quebra da progressão dramática em função da antinarrativa. A procura da comunicação numa sociedade decadente e as incertezas do instante que passa, tema recorrente do autor. Fotógrafo de moda, fazendo ao acaso fotos de uma mulher, percebe, ao ampliá-las (blow-up), que testemunhou um assassinato, talvez imaginário.
BLOW UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO (Blow up, 1966), de Michelangelo Antonioni.

7) A RENOVAÇÃO DA COMÉDIA CINEMATOGRÁFICA
Comédia premiada e que renova o gênero na década de 70 e que se destaca pela articulação inteligente dos elementos da linguagem cinematográfica e pela visão do mundo de seu autor: Woody Allen.
NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (Annie Hall, 1977), de Woody Allen.

8.) O CINEMA DO ESSENCIAL
Ilustração ficcional das teses do biólogo Henri Laborit sobre o comportamento humano pelo realizador mais cinematográfico do cinema dos tempos presentes: Alain Resnais, que possui pleno domínio formal sobre a arte da mise-en-scène.
MEU TIO DA AMÉRICA (Mon oncle d'Amérique, 1980), de Alain Resnais.