sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Tudofel: Colégio Diocesano do Crato
Tudofel: Colégio Diocesano do Crato: O Colégio Diocesano era uma referência em educação básica do interior nordestino. Meio secular, tinha recentemente comemorado o marc...
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Mordendo pelas beiradas
Passadas as eleições municipais aqui em Crato, desencadeamos,
imediatamente as especulações quanto aos cargos de primeiro e segundo escalão
na administração da prefeitura cratense.
De um lado, há o depressivo “arruma a mala aí”, do outro a euforia do “prepare
a mala lá”. À medida que se foram divulgando os nomes do futuro secretariado ,
encetou-se, nas redes sociais ,um grande movimento com o fito de apontar nomes
para cargos ainda vacantes como Meio Ambiente, Cultura e Saúde ( alguns desses
nomes, diga-se de passagem, de competência indiscutível). Alguns grupos, inclusive, se reuniram no
sentido de promover seminários com alguns especialistas, escolhidos por eles,
pensando na perspectiva de contribuir com idéias e programas para a nova gestão
municipal. Como sempre, nessa massa heterogênea, há muitos bem intencionados e
alguns aproveitadores que ficaram em cima do muro no processo eleitoral,
esperando para que lado penderia o fiel da balança e que agora, de repente,
aparecem como salvadores da pátria, querendo mostrar serviço e ( quem sabe?)
morder a beiradinha de um ou outro cargo que por ventura apareça.
Ora,
amigos, qualquer uma das iniciativas me parece totalmente despropositada. É de
se imaginar que os eleitores , acompanhando atentamente os programas dos
candidatos e suas propostas no processo eleitoral, escolheram seu prefeito ,cuidadosamente
, antenados com o Programa de Governo que apresentaram para o Crato. Nego-me a
acreditar que possam ter votado nesse ou naquele por conta da sua simpatia, do
parentesco ou porque lhe prometeu um emprego ou lhe deu um dinheirinho. Se foi por uma dessas razões, então não tem o que cobrar, é botar a
violinha no saco e esperar calado o kit que será ofertado. Se, por acaso, votou
no Programa, também não há o que espernear. O momento exato de discutir e
modificar esse programa de governo era antes da eleição. Engajar-se, mostrar a
cara e discutir com todos o melhor para o Crato e levar as propostas ao partido
e ao candidato preferido. Passada a eleição, amigos, já não há nada a fazer,
assinamos um cheque em branco e , agora, temos que confiar que será preenchido
de maneira adequada e com a quantia esperada.
Precisamos
compreender o processo democrático. O candidato vencedor tem um programa de
governo a cumprir e, mais, um sem número de compromissos eleitorais de que
precisará se desvencilhar. Não
existirão, certamente, nomes perfeitos e adequados para sua assessoria , divorciados
das suas afinidades políticas e dos rumos e metas que traçou. Imaginem se o forçamos
escolher um secretário capacitadíssimo mas com quem politicamente não se afina!
Será o secretário fritado , não terá espaço na gestão e sairá queimado e
desacreditado. Seminários agora são perfeitamente
inócuos, não têm qualquer serventia. Deixemos o futuro prefeito à vontade para
escolher os seus assessores e executar o plano de governo previsto. Se
necessitar da opinião de qualquer um de nós, terá , com certeza, a desenvoltura
de nos solicitar.
O
Crato escolheu, em outubro último, com votação recorde, seu prefeito. A cidade
entendeu, pois, (expresso esse entendimento na maioria dos seus votantes), que
Ronaldo Gomes de Matos é o mais capacitado para administrar nosso município nos
próximos quatro anos. Pois bem, ele tem todo direito legal e moral para
fazê-lo. Cabe a ele e tão-somente a ele a responsabilidade de escolher os
melhores e mais qualificados assessores para acompanhá-lo nesta árdua
empreitada. Não votei nele, mas torço de coração para que consiga alavancar a
cidade de Frei Carlos e tirá-la do marasmo histórico em que se encontra.
J. Flávio Vieira
AS GRANDES DECISÕES NO TEATRO DOS GRANDES FARSANTES - José do Vale Pinheiro Feitosa
O modo otimista de ver o julgamento do mensalão é de que
todos são iguais perante a lei e que mesmo o partido no governo pega prisão, ou
seja, punição. A mídia de modo geral comemorou assim e todo o conteúdo
apresentado por ela afirma isso: mesmo tendo indicado os ministros do STF,
mesmo tendo a Presidência da República, a Presidência da Câmara dos Deputados e
aliado na Presidência do Senado: o PT vai sendo punido exemplarmente.
Todos pensam assim? Somos iguais e protegidos pela lei?
Menos de quinze dias após a mídia pulou alto, a maior parte dos deputados
pularam mais ainda, o relatório da CPI do Cachoeira iria indiciar jornalistas e
o Procurador Geral da República. Mas o relatório não condena, apenas indica um
reforço na investigação e na abertura de processo legal contra os indiciados.
Afinal o relatório da CPI é fruto da própria investigação policial.
O relator, agora a finalidade de negociar a aprovação do
relatório diz que a citação dos personagens é secundária, o principal deve ser
preservado no relatório. Agora a dúplilingua ou o duplipensar do 1984 do Orwell
faz anotações: secundária, quer dizer intocável. Ninguém pode tocar no
Procurador Geral e nem em repórteres. A negociação do PT parece acovardamento,
as justificativas de alguns deputados do partido como Dr. Rosinha falando em
falta de condições políticas são piores ainda. Desse modo para quem pretende
firmar uma política de longo prazo, efetivamente tem um grave problema no
espaço a ser conquistado: sem coluna
vertebral não se move.
Essa farsa histórica é a mesma que ocorre no Oriente Médio
tendo à frente os EUA e Israel em relação ao povo Palestino que acaba de conquistar
na ONU o status de observador. Igual ao Vaticano. A mais recente decisão de
Israel é que os palestinos que trabalham em Israel e moram em seus territórios,
não possam mais pegar os mesmos ônibus frequentados pelos israelenses dos
assentamos tomados ao território palestino. Se é preciso recriar o Apartheid
para garantir a segurança de Israel, é claro que algo de podre há nesta
política tal qual havia na África do Sul.
Outra grande farsa é a postura dos países altamente
industrializados em relação às emissões de gases de efeito estufa. O Protocolo
de Kioto está para findar-se e não existe nada no horizonte que faça evoluir a
questão do clima ou seja, o aquecimento
global. As evidências de que efeitos climáticos tipo o Sandy em Nova York
atingem cada vez mais o hemisfério norte. O degelo do Ártico no ano de 2012 foi
um dos maiores em desde 2007 e correspondeu a 12 milhões de quilômetros
quadrados de derretimento de gelo. Neste ano se teve as temperaturas mais altas
desde 1850.
Esse problema avança para um nível de saturação de gases
atmosféricos de natureza catastrófica. Catastrófica porque de repente todo o
processo se acelera uma vez que se estima que a camada de gelo que cobre o
ártico aprisione 1,7 gigatoneladas de carbono que uma vez liberados pelo degelo
ampliarão ainda mais o efeito estufa.
Estamos numa época de grandes decisões num teatro de grandes
farsantes.
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Tudofel: Soy loco por ti, Bananeiras!
Tudofel: Soy loco por ti, Bananeiras!: A minha cidade do coração é Craterdam. Só que Cratedam não é uma cidade real. Ela é ideal. Das cidades reais, o Crato, minha cidade...
terça-feira, 27 de novembro de 2012
O PAPEL POLÍTICO DOS CAPACHOS IMPERIAIS - José do Vale Pinheiro Feitosa
Por incrível que pareça não tem muito mais de ano e meio que
pelo menos dois blogs do Crato publicaram o documento de um militar brasileiro,
em momento de reforma do serviço ativo, dizendo que O Golpe de 64 foi um ato heroico
dos golpistas para livrar o país da anarquia e do comunismo. Os dois blogs
bebiam na fonte da atual administração da cidade e publicavam o panfleto por
afinidade ideológica com a extrema direita brasileira e muito provavelmente
para provocar seus desafetos no campo político.
Ainda hoje anciões do Clube Militar
guardam um ódio visceral contra políticas progressistas e sustentam esta
energia a partir do borralho ideológico ainda dos anos de ditadura e dos
embates das Reformas de Base intensamente mobilizadas pelo povo brasileiro no
Governo João Goulart. As Reformas de Base reuniam um conjunto de medidas que
abrangiam a reforma bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e
universitária. Incluía-se entre as medidas o direito de voto aos analfabetos e
às patentes subalternas das forças armadas. O carro chefe era a Reforma Agrária
onde se reuniu um dos focos de maior conflito na política interna do país. No
entanto foi no campo externo, especialmente em relação aos Estados Unidos da
América e outras nações capitalistas dominantes onde a luta foi maior: eram
medidas nacionalistas com maior intervenção do Estado na vida econômica,
controle do investimento estrangeiro especialmente sobre a remessa de lucros
para o exterior, além da nacionalização de empresas estratégicas como dos
setores de energia e comunicações.
O que liga personagens relativamente nascidos após o golpe
de 64 que pontuavam na política do Crato até agora a essa herança conservadora
e extremista? Penso que vestem uma capa envelhecida para esconderem o
verdadeiro sentido dos seus corpos ideológicos. Uma capa costurada com retalhos
da luta anticomunista, de segmentos reacionários da igreja católica, de uma noção
de família e patrimônio há muito ultrapassada pelo próprio desenvolvimento
capitalista. Mas o sentido de ser na vida é um esdrúxulo senso de superioridade
de classe subalterna ao modelo superior de outros povos, no caso os EUA. Esses
personagens do outro lado da margem dos comunistas, repetem a mesma inação ou
ação sob comando de outros povos, igual aos comunistas com a União Soviética.
Tomei por exemplo este chorume da história para nos lembrar
que o Golpe Militar de 64 era uma fachada ideológica a serviço dos interesses
dos Estados Unidos da América. Claro que refletiam o conflito interno, a forte
reação de latifundiários e os próprios erros do Governo Goulart, mas jamais
teriam a desenvoltura finalista que tiveram se não fosse o financiamento americano
do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) e do IBAD (Instituto
Brasileiro de Ação Democrática) que financiavam armas, textos, campanhas
eleitorais e deputados no parlamento. Sem os mecanismos de sabotagem do
abastecimento, além de programas de invasão da CIA e outros setores de
inteligência americana dentro do Programa Aliança para o Progresso e com o que
chamava Voluntários da Paz. Nos idos dos anos 63 a 67 só no bairro da Batateira
moravam dois americanos sem papel religioso, vivendo numa casa precária e colhendo
informações.
Porém o mais importante foi o deslocamento de uma frota de
navios para dividir o país em cinco partes e assim promover o fatiamento da
unidade nacional. Com armas, armadas, infiltração social, financiamento de
setores militares, políticos, da mídia, religiosos e intelectuais, os EUA foram o
móvel essencial do golpe. Até mesmo a violência com a tortura e humilhação
sofrida por militantes adversários fez parte da política americana que além de
ampliar a capacidade de torturar apoiava todas as práticas já em curso nos
porões da polícia brasileira, sem contar os horrores já praticados durante a
ditadura do Estado Novo.
Os EUA não apenas foram o móvel do Golpe, como auferiram
logo em seguida todas as vantagens econômicas advindas dele: remessas de
lucros, fim da estabilidade do emprego, arrocho econômico, perseguição dos
trabalhadores e a criação de multinacionais que dirigem até hoje a economia
nacional. Foi efetivamente um Projeto Imperial que levou o povo brasileiro a um
atraso imenso em seu progresso e desenvolvimento, atingindo todos os campos: a
posse da terra, a urbanização justa, a educação, a saúde pública, a
infraestrutura produtiva e, principalmente, a autonomia para um projeto de
desenvolvimento nacional.
Isso tudo não pode ser mais objeto das dúvidas daquele
militar de pijama do início do texto: isso é um farto material pesquisado e
para ser ainda mais aprofundado do papel dos EUA no Golpe Militar de 64. Não é
questão de crença ideológica, é a luz dos documentos e registros da época.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Bateia
Acabo de me reunir , aqui no
Recife, com os colegas de Medicina, comemorando os trinta e cinco anos de
formatura. Como sempre acontece, há companheiros mais próximos e aqueles que
tínhamos visto pela última vez na colação de grau. Há sempre alguns com quem
sempre tivemos uma maior empatia e outros que privaram menos da nossa afeição.
A vida louca e breve nos dispersou pelo mundo, cada um em busca do seu sonho e
das suas realizações pessoais. Passados os anos, pomo-nos a perceber que a
história é mais importante que a geografia e vemo-nos imantados pela imperiosa
necessidade de buscar testemunhas de uma época áurea da nossa existência, onde
o sol brilhava mais intensamente, onde a felicidade colhia-se nos galhos mais
baixos das árvores, onde a longa estrada à frente impelia-nos a colher os
muitos frutos pendentes e à aventura chapeuzinhovermelhiana de buscar o caminho
da floresta ao invés das pacíficas veredas do rio. Muitas e muitas luas depois,
embora enveredando por trilhas diversas, terminamos por perceber que , à frente
, as aparentes paralelas novamente se cruzam e que, sem que tivéssemos
nos dado conta, percorríamos todos, um mesmo trajeto. Ei-nos , pois,
sobreviventes de muitas guerras, contabilizando os poucos espólios de tantas
batalhas, descobrindo ,atônitos, que o Shangri-lá não existe como fim, apenas
como meio. E mais : que o pote de ouro a que todos almejávamos não estava abaixo do arco-íris,
mas nas retinas de cada um dos caçadores de esmeraldas e que era tão-sòmente
a indefectível beleza multicolorida do próprio arco-íris.
O
tempo, este ourives incansável, lapidou as brutas rochas que tinha às mãos. A bateia
dos anos peneirou o cascalho dos ressentimentos, a ganga bruta das frustrações,
os seixos imprestáveis das paixões
menores. Até os sulcos inevitáveis das nossas feridas de guerra parecem ter
ganho uma luminescência especial, como um fogo fátuo dos nossos muitos sepultamentos
interiores. O inventário final do
garimpo : uma pepita brilhante e imaecível : A vida vivida e a ser vivida !
Folheando
o antigo livro de chamadas, bate-nos o amargo gosto da impermanência: contatamos que já muitos não respondem com o
seu : Presente ! Os que continuam na caminhada descobrem uma nova
responsabilidade: necessitam viver para si mesmos e por aqueles que acabaram, prematuramente,
caindo à margem do caminho. Fechado o balanço de tantos sonhos percebemos que a
memória de todo este milagre indefinível depende das testemunhares oculares
deste sonho : nossos colegas de travessia. Sem os muitos viandantes, a estrada não
existiria: a única prova material da magia da minha existência está na lembrança dos meus companheiros. Sem
eles minha vida não existiria; sem a minha memória, a existência de todos eles teria sido um mero
efeito especial de um filme b.
Celebrar
a intersecção das muitas retas que um
dia pareciam paralelas remete-nos aos insondáveis mistérios da nossa geometria
existencial. Parodiando Carl Sagan não parece ter sido mera coincidência que
diante da incomensurável dimensão do universo, da vastidão impalpável do tempo,
todos nós tenhamos divido juntos a mesma época, o mesmo chão e os mesmos
sonhos.
J. Flávio Vieira
Tudofel: A passagem do médico-revolucionário Hass Sobrinho ...
Tudofel: A passagem do médico-revolucionário Hass Sobrinho ...: Em novembro de 2008, juntamente com meu irmão Armando e meu cunhado Zé Bento, fiz uma viagem ao sudoeste do Maranhão e à Araguaína, no T...
A BATATEIRA E A FAIXA DE GAZA - José do Vale Pinheiro Feitosa
Para se tomar uma referência em relação à Faixa da Gaza, com
1,5 milhões de habitantes e recentemente bombardeada pelo Exército Israelense
(não Judeu que é um povo e uma religião, embora cada vez mais ortodoxos
prefiram confundir a temporalidade de um Estado com a atemporalidade religiosa):
a região metropolitana de Fortaleza possui 3,7 milhões e a região Cariri 574
mil habitantes. E por que falar em Faixa de Gaza?
Para observar o significativo da injustiça social, do
genocídio e da perseguição aos pobres em todo o sistema de produção, circulação
e distribuição das riquezas no mundo atual. Ali naquela faixa estão todas as
formas de ódio, de ressentimento, de humilhação, de apreensão constante do que
um dos importantes Judeus do ocidente, Noam Chomsky, considera como “a maior
prisão a céu aberto do mundo”. Diz
Chomsky, evidenciando os propósitos das políticas de dominação de nações
detentoras dos avanços tecnológicas e controladoras de grandes riquezas: “cujo
propósito não é senão humilhar e rebaixar a população palestina e ulteriormente
garantir tanto o esmagamento das esperanças de um futuro decente quanto a
nulidade do vasto apoio internacional para um acordo diplomático que sancione
os direitos a essas esperanças.”
Não por culpa dos Judeus, mas por um mistura do Estado de
Israel com o projeto Imperial dos Estados Unidos, especialmente na região mais
promissora em Petróleo ao fim da Segunda Guerra Mundial, praticamente tornando
Israel em mais uma Unidade dos EUA. Assim como foi o Havaí tão distante. A
situação hoje de Israel e seu Exército tornando prisioneiros aos palestinos,
matando-os e destruindo seus prédios, tem um dor cruel: o mesmo valor insensível
e odioso dos genocidas dos judeus na Alemanha Nazista.
Mas copiando Caetano o Gil volto-me para as nossas faixas de
gaza, pois estas estão aqui mesmo em nossa cidade. Se formos passear nas mentes
assustadas e cheias de ódio que praticamente surtam diante de eventuais “crimes”
contra o patrimônio feito por algum morador de nossos bairros populares como a
Batateira, por exemplo. Ao invés de se observar o crime, suas razões agravantes
e atenuantes, o amplo direito de defesa e o poder de punir da justiça, toma-se
de uma cultura punitiva contra todo um bairro. A Batateira se torna,
especialmente na mídia “escandalosa”, nas rodas “familiares” que advogam um
individualismo exacerbado e consumista e, por isso mesmo, na voz de políticos
oportunistas, numa “faixa de gaza” a ser atacada.
O bairro da Batateira como um equivalente à Faixa de Gaza
funciona no imaginário punitivo de setores da nossa cidade com o mesmo valor extremado
de ampla maioria no Estado de Israel. A cegueira de injustiça, justaposta à luz
da Justiça é o que mais temos para refletir sobre qual a cultura urbana e social
que o nosso país deseja. É certo que há uma ampla força trabalhando para
reproduzir “ad nauseam” as faixas de gaza, mas certamente temos que nos
organizar para construir a contradição a isso para em seguida extrair a síntese
de uma sociedade democrática.
domingo, 25 de novembro de 2012
O ódio (singular absoluto) a Lula
Lula é um político brasileiro com defeitos e virtudes. Se você não conseguir ver uma coisa ou outra é porque, certamente, a cegueira da paixão ou do ódio está tomando o seu corpo como um câncer.
O que se percebe no caso de Lula é que o ódio intenso tenta, sobremaneira, vencer o amor intenso. É uma luta. A luta entre o amor e o ódio a esse personagem da história brasileira.
Outros já experimentaram do mesmo fel. Mas não sei se há concorrentes para Lula. Talvez nem Getúlio.
Quantitativamente, Lula está em vantagem. Mas os odiadores acreditam que seu ódio seria de melhor qualidade, uma espécie de crème de la crème do ódio - um ódio insuperável por qualquer amor de multidões.
É um ódio cultivado com gotas de ira diárias nas páginas dos jornais. E de revistas. Cultivado com olhos de sangue, faca entre os dentes, espinhos nas pontas dos dedos.
Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.
A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.
Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.
Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.
Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.
Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...
Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.
Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
O que se percebe no caso de Lula é que o ódio intenso tenta, sobremaneira, vencer o amor intenso. É uma luta. A luta entre o amor e o ódio a esse personagem da história brasileira.
Outros já experimentaram do mesmo fel. Mas não sei se há concorrentes para Lula. Talvez nem Getúlio.
Quantitativamente, Lula está em vantagem. Mas os odiadores acreditam que seu ódio seria de melhor qualidade, uma espécie de crème de la crème do ódio - um ódio insuperável por qualquer amor de multidões.
É um ódio cultivado com gotas de ira diárias nas páginas dos jornais. E de revistas. Cultivado com olhos de sangue, faca entre os dentes, espinhos nas pontas dos dedos.
Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.
A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.
Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.
Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.
Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.
Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...
Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.
Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
(Transcrito o site do Luis Nassif)
Por todas as vezes de Vieira, Cabral e Parente - José do Vale Pinheiro Feitosa
Por todas as vezes que a facilidade de tê-lo como uma
extensão do conteúdo natural, por isso mesmo equalizado e deste modo reduzido
os altos do que era, simultaneamente, o mais agudo ou grave de sua
personalidade. Quando somos parte da vida de um personagem assim só algum tempo
depois, mas nem sempre, percebemos as verdadeiras dimensões daquele ser em
plenitude. Falo do Padre Antonio Vieira, irmão de Manoel Baptista Vieira e tio
do José Flávio.
Se soubesse o que sei agora, seria mais substancial tê-lo
tão próximo e daí tecendo a vida ao invés de deixar simplesmente o tempo
correr.
Por todas as vezes que brincava com a sua locução apressada,
suprimindo sílabas, e desse modo fazendo o que toda cidade do interior
costumava fazer ao criar personagens nas quais se reflete. E, no entanto,
apesar de ser uma locução que fugia a todos os parâmetros daqueles tempos de
impostação, não fora somente ali que sua substancial contribuição se dera. Foi
no conteúdo informativo, na base constitutiva da uma história. Foi no
tratamento incansável desse conteúdo, sem jamais aposentar-se do que considera
o processo de viver. Falo de Huberto Cabral, irmão de Bernadete e Sara, pai de
Germana a discreta e substantiva jornalista entre aqueles que pontuam no
jornalismo cearense.
Se soubesse naquele tempo o mundo que Huberto Cabral
transporta no curso do tempo em nome do Crato, não teria perdido tantos dias e
noites a compreender o tempo que ele, pelo tanto que passou, outro que acontece
já formulando o futuro consegue limpar no cascalho do esquecimento.
Por todas as vezes que não o considerava maior do que o anonimato,
apesar do seu talento musical, simultaneamente surgindo e sendo posto como
detalhe de um nome solar da Música Popular Brasileira. Por verdade que a posição
de um emprego estável e de boa referência social o tenha relativamente
acomodado enquanto Luiz Gonzaga vivia o remanso de seu caudal de sucesso num semiexílio
em sua Nova Exu. De qualquer modo Hildelito Parente, no seu mundo particular,
sem ter sido um músico profissional, é a força da música nordestina no que ela
tem de muito verdadeira.
Se soubesse como já naquele tempo Hildelito Parente tinha a
força que tinha, por certo que não o veria como um personagem da vida social na
AABB ou na praça em conversa amena. Hildelito representa a ousadia que ultrapassa
todas as maneiras de classificar as pessoas: é apenas aparente aquela timidez
quase humilde, ele tem uma Chapada inteira a expressar sobre o tempo e o
espaço.
Mas sabemos que os personagens não maiores pelo que são em
igualdade sincera ao que tentamos ser e somos verdadeiramente.
sábado, 24 de novembro de 2012
Rebento querido - José Nilton Mariano Saraiva
Filho de ex-ministro é levado para delegacia após acidente de trânsito
Ciro Saboya Ferreira Gomes, 27, foi preso na manhã deste sábado, por volta das sete da manhã, após se envolver em um acidente de carro no cruzamento das ruas Ildefonso Albano com Costa Barros, no bairro Aldeota. Chamados ao local, policiais militares deram voz de prisão a Ciro, acusando-o inicialmente de desacato e de ter se recusado a fazer o teste do bafômetro.
Ao ser detido, Ciro foi levado para o 2º Distrito Policial, no bairro Meireles. Logo que soube da ocorrência, o pai de Ciro, o ex-ministro Ciro Ferreira Gomes, também foi acompanhá-lo na delegacia. O delegado geral da Polícia Civil, Luís Carlos Dantas, esteve no 2º DP. Por volta das 11h30min, após prestar depoimento, o jovem foi liberado.
Ciro dirigia um Honda Fit preto quando colidiu com um Fox prata. Havia duas pessoas no outro veículo e pelo menos uma delas saiu ferida. Policiais informaram à imprensa que o jovem apresentava sinais de embriaguez. O carro de Ciro foi apreendido porque estava com licenciamento atrasado.
Ao ser detido, Ciro foi levado para o 2º Distrito Policial, no bairro Meireles. Logo que soube da ocorrência, o pai de Ciro, o ex-ministro Ciro Ferreira Gomes, também foi acompanhá-lo na delegacia. O delegado geral da Polícia Civil, Luís Carlos Dantas, esteve no 2º DP. Por volta das 11h30min, após prestar depoimento, o jovem foi liberado.
Ciro dirigia um Honda Fit preto quando colidiu com um Fox prata. Havia duas pessoas no outro veículo e pelo menos uma delas saiu ferida. Policiais informaram à imprensa que o jovem apresentava sinais de embriaguez. O carro de Ciro foi apreendido porque estava com licenciamento atrasado.
OBS:
Na nota acima, publicada no site do jornal O POVO, faltou um “pequeno detalhe”: segundo divulgado pela televisão Verdes Mares, a Polícia teria encontrado certa quantidade de maconha no interior do veículo. Aliás, não é a primeira vez que referida figura se mete em encrenca (e sempre reage com arrogância e desrespeitando a autoridade competente).
Tudofel: Menina real
Tudofel: Menina real: O dia estava mais quente ainda. Teresina, afinal. 1994. Maternidade Evangelina Rosa. Portanto duas rosas a receberam na luz deste...
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Tudofel: As 'pérolas' da Rolling Stone
Tudofel: As 'pérolas' da Rolling Stone: Somente agora tive acesso à revista Rolling Stone de outubro, edição especial de seis anos de aniversário da versão em português. Cap...
Jefferson de Albuquerque Junior – O mundo é seu lugar
Um andarilho do cinema com trabalhos desenvolvidos nos mais diversos
estados brasileiros e com uma preocupação política nos seus trabalhos, em especial
pela questão ambiental Jefferson de
Albuquerque Junior vem desenvolvendo o seu trabalho de cinema e educação cinematográfica
no Brasil. “Mesmo não sendo panfletária a arte é o reflexo de
uma época, e direta ou indiretamente reflete o momento político...arte tem que
ser participativa, engajada...mas sem perder a beleza, a estética... ressalta o
cineasta.
Alexandre
Lucas - Quem é Jefferson de Albuquerque Junior?
Jefferson
de Albuquerque Junior -
Modado
nos tempos
nos tempos
Passado
re-moendo ando no
espaço.
Mudando vida
caminhando canto
pelas ruas
passo e ando
chego lá!
Sou um caririense apaixonado pelo mundo, pela vida...Tenho raízes...mas não sou árvore, o mundo é meu lugar...tanto faz Crato, como o Rio, como Bahia, com Vitória, Itaúnas, Brasilia, Lima, Buenos Aires, Lisboa, Paris...me sinto bem em qualquer lugar e participo sempre ativamente das atividades artísticas e culturais no local onde me encontro...sou participativo...ativo no processo de criação...na lutas pela preservação ambiental de todo um planeta...sou Latino Americano nascido no Crato...sou um “Caririoca”!
Alexandre
Lucas – Quando se deu os
seus primeiros contatos com as artes?
Jefferson
de Albuquerque Junior - No Instituto São Vicente Ferrer, no Crato, das
irmãs Anilda e Alda Arraes, quando faziamos nosso teatrinho...assistindo os filmes
do Cine Cassino, Moderno, Educadora...Depois na Bahia, vivendo na efervescência
do Teatro Vila Velha, vendo a turma da Bahia nascer para a música...estudando
Cinema com Guido Araújo e Walter da Silveira, na UFBA...a seguir em Brasilia,
na UnB, no curso de arquitetura...
Alexandre
Lucas - O que foi fazer cinema no Cariri
no tempo que você inicio sua carreira?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Comecei a fazer cinema em Brasília, depois vim
para o Cariri, fizemos uns dois super 8, um ficção com Pedro Ernesto Alencar e
Rosemberg Cariry, entre outros (Múcio,Célia teles, Zulene e Socorro Sidrim,
Jackson Bantim...)o outro sobre os Penitentes das Cabeceiras, em Barbalha, com
Cristina Prata e Pii (Maria do Carmo Buarque de Holanda)...não era tão fácil
como hoje...não tínhamos equipamento...o Pedro Ernesto, como era o rico da
turma ganhou uma Câmera de Super 8.... a Cristina trouxe de São Paulo...éramos
pioneiros...
Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória
Jefferson
de Albuquerque Junior - Depois disto veio a produção do longa "Padre
Cicero", do Helder Martins, onde fui cenógrafo e ator...fui embora
com a equipe para o Rio me profissionalizar. A equipe deste filme era das
melhores, Zé Medeiros como fotografo, Walter Carvalho e Antonio Luiz como assistente
de câmera, Cacá Diniz como
produtor...Jofre Soares, Dirce Migliaço, Cristina Aché, Heliana
Menezes, Ana Maria Miranda no elenco...Depois Marcos Matraga e Hermano
Penna vieram fazer um Globo Repórter "Juazeiro do Padim Cicero', fiz
cenografia e assistente de produção...No Rio logo consegui trabalhar em
"Lúcio Flávio- O Passageiro da Agonia de Hector Babenco, com Reginaldo
Farias, Grande Otelo, Ana Maria Magalhães, Pereio, Lady Francisco...daí um
filme puxava outro, eu como cenógrafo (na época não chamavam direção de
arte...trabalhei a seguir em A Rainha do Rádio, de Luiz Fernando Goulart, com
Nelson Xavier, Paulo Guarniere, Ana Miranda..."Amantes da Chuva" de
Roberto Santos, "Eles Não usam Black-Tie" de Leon Hirzman, com
Guarniere, Fenanda Montenegro, Bete Mendes ....Também ressalto
"Asa branca- Um Sonho Brasileiro" de Djalma Batista, que lançou Edson
Celulari....Depois destes ainda participei de vários outros longas com
diretores paulistas, brasilienses, mineiros e cariocas, até ajudar como
produtor executivo, cenografo e diretor de produção de filmes cearenses como
"Tigipió" e "O Calor da Pele" de Pedro Jorge de
Castro, "O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto", "O Guerreir Alumioso"
e "Corisco e dadá" de Rosemberg Cariry, e Diretor assistente de
"Luzia Homem" de Fábio Barreto, com Claudia Ohana, Zé de Abreu,
Thales Pan Chacon entre outros do elenco cearense, como Antonieta
Noronha e Ari Sherlock ...Dos curtas metragens cearenses na mesma
função fiz "Cotidiano Perdido no Tempo" e O Ultimo Dia de Sol,
de Nirton Venâncio; O Pau Brasil, de Francis Valle. Como roteirista e diretor
fiz "Dona Ciça do Barro Cru' em 1980, um premio da FUNARTE, 'Músicos
Camponeses", "Patativa do Assaré- Um Poeta do Povo" em parceria
com Rosemberg, todos estes também premiados no CONCINE e prêmios em festivais
da Bahia, Brasília e Gramado. "Ana Mulata" foi uma ficção
baseada em conto do meu avô materno Jose Alves de Figueiredo ...além de
"Arrais taí" e "Um Artista Chamado Zé"....Mais
recentemente, com o meu retorno ao Cariri, fiz os três médias metragens sobre a
Chapada do Araripe 'Chapada do Araripe- A Questão dos Fósseis",
"Chapada do Araripe-Uma questão Ambiental" e "Chapada do Araripe-Uma
visão do Futuro". Por fim com prêmio da SECULT-CE adaptei um conto do José
Flávio Vieira, "O Cinematógrafo Herege", uma comédia com elenco
caririense e agora com outro edital da SECULT, estamos lançando "UMA
HISTÓRIA DA TERRA", documentário sobre a ocupação do Caldeirão pelo MST em
1991 e hoje, 21 anos depois. Entre estas atividades no Cariri, orientei 40
curta metragens ambientais no estado do Espírito Santo,no MOVA CAPARAÓ
ITINERANTE, na região do Caparaó e do Rio Itaúnas, além de dirigir um curta e
um média..."Mosaico Capixaba", ficção e "Parque Estadual de
Itaúnas e a Mata Atlântica"....Com estes trabalhos recebi o título
de Cidadão Espírito Santense. Na TV Globo fiz os cenários da mine série 'O
Pagador de Promessas' de Dias Gomes, com direção da minha amiga Tizuca Yamazaki
e cenário de uma edição especial de "A Grande Família"...
Alexandre
Lucas – Quais as influências do seu trabalho?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Uma grande influência foi uma mistura de Cinema
Novo e Chanchadas brasileiras, além da estrangeira na Novelle Vouge, realismo
italiano, também os filmes de Igmar Bergman...estes filmes passavam no Crato,
no Cine Cassino e Cine Moderno e depois nos cinemas de Salvador. Um dos diretores
que mais me influenciaram no Brasil foi Walter Lima Jr., além de Leon Hiczman e
Roberto Santos, e o nosso Hermano Penna, com quem fiz "Fronteiras das
Almas" e agora recentemente "Os Ventos que Virão"...
Alexandre
Lucas – Como você analisa a produção cinematográfica brasileira?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Venho de uma geração logo pós cinema novo, geração
da EMBRAFILME e vejo com bastante alegria um período fértil de produções descentralizadas
do eixo Rio x São Paulo, com destaque para o polo de Pernambuco e também muitas
produções cearenses. Nesta fase do cinema digital, mais democrático, agora
produzir um filme digital esta sendo possível para todas as classes sociais... antes
apenas uma elite produzia, hoje não...mesmo tendo uma grande dificuldade na
distribuição, apenas as produções globais conseguem uma fatia grande do
mercado..mas temos a internet para divulgar, os cine clubes... A distribuição
ainda é o grande gargalo do nosso cinema....se produz muito, mas se distribui
pouco, poucos assistem o que esta sendo produzido...A esperança agora é a nova
lei de mercado para as TVs por assinatura...
Alexandre
Lucas – Como você analisa a relação entre arte e política?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Uma é consequência da outra..Não consigo divorciar
arte de política...Mesmo não sendo panfletária a arte é o reflexo de uma época,
e direta ou indiretamente reflete o momento político...
arte tem que ser participativa,
engajada...mas sem perder a beleza, a estética...
Alexandre
Lucas – Você acredita que o cinema é um instrumento político e educativo?
Jefferson
de Albuquerque Junior - O modo de viver capitalista e o socialista
tem no cinema o grande divulgador...cinema é também comunicação, as
grandes idéias, as ideologias políticas estão transparentes no cinema, na
TV...Na educação o cinema é uma grande arma, instrumento, muito embora poucas
escolas na pratica o adotem, é tão fundamental assim como os livros...
Alexandre
Lucas - Quais os trabalhos que você atualmente está desenvolvendo?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Atualmente estou, com muitas dificuldades,
desenvolvendo o Projeto Audiovisual de Educação Ambiental da Chapada do
Araripe, com o projeto piloto no municipio de Barbalha e nas
ONgs Juriti e Zaila Lavor de Juazeiro do Norte e da comunidade do
Carrapato, no Crato. Trabalhamos com a noção de pertencimento da região da
Chapada do Araripe, com exibição dos filmes bases d projeto, discussões e
oficinas de realizaçaõ audiovisual...no final os alunos produzem filmes
ambientais sobre as suas relações com a Chapada do Araripe, em ficção ou
documentário. Também independente do projeto, participando dos editais da
SECULT...e produzindo filmes com nossa temática, com a história fo nosso
povo...
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Daqui a pouco, no Cariri Encantado- Sonoridades! (porque é quarta-feira) a gente vai conversar com o Ernesto "Ecobike" Saraiva, um dos mais ativos ambientalistas que conheço. Você pode sintonizar o programa pelas ondas sonoras da Rádio Educadora do Cariri, 1020 Khz ou pela internet no link:
www.radioeducadora1020.com.br. Começa por volta das 14 horas!
PÃES DA VIDA - José do Vale Pinheiro Feitosa
Do Posto 4 em Copacabana, saindo da Constante Ramos,
seguindo por Ipanema até a Afrânio de Mello Franco logo após o Jardim de Alá.
Daí até a Lagoa Rodrigo de Freitas e passando pela sede de Remo do Flamengo,
até um pouco além da sede de Remo do Vasco e entrando na Rua Maria Angélica no
Jardim Botânico.
No varejo, no solado do pé, encontra-se a poupança da fama
da cidade. Ainda em Copacabana o Márcio Braga, ex-presidente do Flamengo, Deputado
Federal e dono de Cartório, teima em andar na ciclovia quando tem o calçadão
inteiro para dividir com outros. Mais à frente o Nilo Batista, criminalista,
ex-Governador do Estado com sua companheira Vera Malagutti. Adiante é o próprio
Cangaceiro, alto, rosto fechado e passo certeiro, passou o Zé Ramalho. O Ruy
Castro arredondou-se e formatou-se como um farto barril de Chopp. Bom a
poupança da fama é vasta, mas não é nos calçadões de Copacabana, Ipanema e
Leblon que minha narrativa ficará.
Logo na chegada à Lagoa, em frente ao Flamengo, avisto
adiante todo o círculo da minha atenção. Uma mulher de estatura mediana, mais
para magra, muito branca e com cabelos louros, quase prata. Veste uma bermuda
creme claro, blusa branca com listras azuis marinho em sentido horizontal, como
estampas de prisioneiros. Os tênis roubam as minhas pupilas: um róseo intenso,
diria que solferino. A cabeça coberta com um chapéu branco, de tecido de modo
que as abas deitam e balançam ao caminhar.
Ela segue num ritmo apressado de modo que é quase impossível
acompanhá-la. Mas tento não perder o contato e sigo com curiosidade. Ela dobra
na ciclovia e passa junto à montagem da Árvore de Natal da Lagoa já muito
próxima de ser iluminada num sábado festivo. Minha atenção continua com a
mulher e por isso percebo que ela se afasta da pista e vai até a beira da água
e joga algo nela. É como se tivesse brincando de jogar pedras.
E vou ao encalço de sua movimentação. O caminhar dela excede
à mediocridade: é um andar vivo, agitado, balançando de um lado para outro e os
ombros com movimentos laterais e verticais. A cabeça pendula independente do
tronco e seu rosto se desvia constantemente aos limites da paisagem, mas
centra-se na margem da Lagoa. E preciso esforçar-me para acompanha-la.
Logo após o Clube Piraquê ela desaparece, mas logo a avisto na
beira da Lagoa jogando algo novamente. Então percebo do que se trata: ela joga
pedaços de pão para as aves que vivem na e da vegetação peri-lagunar: como o
socozinho, o savacu, várias garças e inclusive o biguá. Mesmo com estas breves saídas
eu não consigo chegar perto a ponto e examinar seu rosto. Ela segue na mesma
marcha apressada.
E passo a notar outras características do seu caminhar: o
braço direito normalmente é fixo com a mão segurando o canto anteroinferior de
uma grande bolsa de pano branco onde ela carrega os pães para alimentar as
aves. O braço esquerdo agita-se para frente e para trás e por vezes ao lado se
afastando do seu corpo. Ela é um todo agitado e sai mais uma vez para, igual a
Maria do João e Maria da história de fadas, deitar as migalhas de pão ao chão.
Foi aí que percebi a história. Aquilo tudo tinha um
significado narrativo. Os socozinhos logo que a viram correram em direção a ela
para então receber o alimento. Aí toda aquela observação passou a ter um
sentido. As aves as reconhecem independente de antes ter sido lançado o pedaço
de pão. Elas correm tão logo percebem a aproximação daquela mulher entre
milhares de pessoas que circulam diariamente pela beira da Lagoa. E a
curiosidade atormentou-me ainda mais.
Apressei o passo a ponto de que numa dessas saídas dela pude
ver-lhe o rosto. Uma mulher nas vizinhanças entre a segunda metade dos
cinquenta ou a primeira metade dos sessenta anos. Óculos escuros, rosto de
nariz muito afilado, boca de lábios finos e queixo levemente pontudo, embora a
face fosse mais arredondada do que cumprida, embora magra. Aí fiquei entre a conveniência
ou não de perguntar-lhe se de fato as aves a reconheciam. Mas a estranheza das
ruas é tamanha que é preciso ousadia para não encontrar um dissabor.
Estava naquela curiosidade endividada quando novamente ela
vem apressada e passa ao meu lado e pergunto: eu percebi que as aves correram
assim que ti viram. Elas te reconhecem?
Sim. Logo que me aproximo.
Você faz isso há muitos anos?
Muitos. Mas é preciso usar sempre esse chapéu. Se for outro
elas não reconhecem.
E seguiu no passo apressado dela jogando pão para as aves da
Lagoa. Eu fui maneirando o ritmo, estava chegando a hora de entrar na Rua Maria
Angélica.
Como a Lagoa é circular, igual a um socozinho, espero
encontrar o retorno daqueles pães da vida no próximo dia.
Tudofel: Janinha ou Joplin?
Tudofel: Janinha ou Joplin?: Geraldo Urano, poeta maior, escreveu um verso, em um poema em prosa intitulado Craterdã (foi a primeira vez que ele citou esse ne...
Tudofel: A Turma do Parque
Tudofel: A Turma do Parque: 1983, como diz um chavão, foi um ano de graça. Foi quando lançamos o jornal Folha de Piqui e retomamos o Salão de Outubro. Foi quan...
terça-feira, 20 de novembro de 2012
A Guerra Vem Aí? - José do Vale Pinheiro Feitosa
As interpretações geopolíticas do violento ataque de Israel
à Faixa de Gaza dão conta de uma ação conjunta Americano-Israelense que
interessam às eleições de Netanyahu, à futura campanha de Hillary Clinton para
substituir Obama, a testes de mísseis Israelenses e a treinamento para um
futuro ataque ao Irã. O ataque israelense começou com um chefe militar do Hamas,
matando-o com uma ação pontual de um míssil enquanto este era um negociador da
paz.
No meio da fumaça e do sangue palestino, inclusive de
crianças, quem sumiu do noticiário foi a Síria. A Líbia já não existe mais do
ponto de vista da mídia ocidental. Surge o Egito como protagonista num jogo de
balanço que não tem um toque militar, mas serve de protagonismo para Israel
cessar os ataques por algumas horas. Quando parecia haver uma coincidência
entre Israel e a Turquia em relação a mísseis lançados em direção à fronteira
da Síria, eis que Erdogan critica Netanyahu.
O que se tem disso tudo? É que uma zona rica em recursos
estratégicos para as economias em crise está aparecendo continuamente em
matéria de conflito e morte. Isso parece um ensaio para as portas de um “body-trip”
como evocavam os viajantes psicodélicos. Estará o mundo a eviscerar o
verdadeiro sentido da atual crise do capitalismo? Aquelas mesmas crises que
redundaram numa grande guerra distribuída em dois estágios: primeiro e segundo.
Faltaria o elemento geográfico da guerra? Afinal os atuais
atores para um grande conflitos são intercontinentais, não se configuram apenas
no território de um continente como foi inicialmente a Europa e só depois o
Japão com o Eixo. Mas aí é que vem a questão do Oriente Médio. É o ponto onde o
enredo intercontinental tenebroso se desencadeará envolvendo todo o sudeste
Asiático, novamente o Japão e aí os rugidos maiores: a China e os EUA.
Nós aqui na América Latina somos parte desse conflito que
como deve ser ressaltado não é meramente militar. O aspecto militar e o terror
das mortes é uma superestrutura daquilo que a crise da estrutura econômica do
capitalismo passa. Num grande conflito, todas as operações financeiras e
comerciais se desarranjam e isso significa desabastecimento, redução da
produção, enorme impacto ambiental e uma depressão simultânea a grandes
conflitos sociais até nos bairros onde vivemos.
Haverá um dia seguinte ao conflito? É da natureza da
esperança humana, mas isso é desconhecido: pela primeira vez o desespero pode
andar junto com bombas atômicas e outras estratégias de destruição em massa,
além de grandes desarranjos físicos nas estruturas de reservas de água, de
fontes de energia e assim por diante. Basta recordarmos a primeira guerra do
golfo com as imagens dos pássaros afogados em petróleo para termos um símbolo
do impacto ambiental.
Um cenário desse é um desespero dado que recente relatório
da ONU aponta com clareza o efeito do aquecimento global e já associa claramente
as recentes tempestades na América Central e Norte a esse processo. Os
relatórios já apontam as áreas costeiras sujeitas a impactos mais próximos no
tempo do que se imaginou. Com uma guerra de grandes proporções isso tudo pode
tornar o “lar humano” numa esquife à memória, mas sem testemunhas a relembrar. Restarão
apenas as teias de aranha entre uma tumba e outra.
Nossos blogs andam tão desanimados em comentários que peço
se você conseguiu ler até aqui, pelo menos manifeste que o leu.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
José Mendes de Sá Roriz um Cratense Tortura do Morto - José do Vale Pinheiro Feitosa
Uma coisa interessante na história do Ceará é a participação
de sua gente nos grandes eventos históricos do país. Não vou citar amplamente
quadros da literatura, pintura, heróis, historiadores, fundadores de religião e
assim por diante. Vou lembrar a contribuição de cearenses para as fileiras do
Partido Comunista Brasileiro e por este engajamento viveram grandes perigos em
sua vida.
O Médico Isnard Teixeira foi uma referência importantíssima,
tendo vivido na Bahia e aqui no Rio orientou muita gente, entre elas Carlos
Marighella. Quadros importantes do PCB eram cearenses, mas vou destacar uma
pessoa muito especial: José Mendes de Sá Roriz.
Nasceu no Crato em 1927, filho de Belarmino de Sá Roriz e
Leonina Mendes de Sá Roriz. Lutou na segunda guerra mundial, recebeu inúmeras
condecorações e ali perdeu um olho. Durante um ataque na Itália Sá Roriz com
risco de morte salvou a vida do General Cordeiro de Farias.
Reformado como 2º Sargento foi morar no Rio de Janeiro onde
entrou para o PCB. Participou em movimentos sindicais, foi candidato a deputado
federal e membro do Grupo do 11 fundado por Brizola.
Com o golpe de 64 foi preso, torturado e em 1965 foi exilado
para o México. Lá ficou até 69 quando resolveu retornar ao Brasil pois um dos
filhos estava com uma grave doença. Retornou clandestino.
A família de Sá Roriz vivia sendo presa para forçar o
encontro dele. Em 28 de março de 1973 quadros da repressão invadiram sua casa,
prenderam e torturaram seu filho mais novo de 17 e toda a família ameaçada até
que Sá Roriz se apresentasse. Sá Roriz apresentou-se ao Marechal Cordeiro de
Farias a quem salvara a vida, o filho foi libertado e Sá Roriz ficou 17 dias no
DOI-CODI/RJ onde foi morto.
Esta história é para lembrar-nos que o ser humano se
encontra sempre em primeiro lugar. Por isso mesmo práticas políticas violentas
podem ser até justificadas na história, mas quando um país é tomado por um
grupo político que “terceiriza” a violência para grupos a política é ferida e a
corrupção humana mais perversa prevalece.
Espero que os gritos contra a corrupção não se tomem de
espírito apenas pelos cofres públicos, mas tomem de horror igual e ao mesmo tempo
pelo acúmulo de riquezas e pelos assassinos de alugueis e por aquele s que
usurpam o poder popular para lhes perseguir.
Pio
A s cidades, talvez por serem do
sexo feminino, guardam no closet um sem número de vestidos que os vai
escolhendo, propiciamente, conforme a ocasião. Há as roupas de gala para os ensejos festivos, os uniformes mais
recatados para os dias de labuta, as fardas para os momentos mais tensos , os
hobbies para os instantes mais caseiros. À noite, quando passeiam pela
periferia, as cidades, em feitio de baile carnavalesco, gostam de envergar
fantasias e máscaras e se esbaldam, na surdina, que afinal ninguém é de ferro!
E são em geral os poetas, os boêmios, os sátiros que ajudam as cidades a se
travestirem para o corso, quando os
olhos oficiais da vila já ressonam. As fotografias registram as cidades com as
vestes mais chiques e burocráticas, os trapos do bloco de sujos, em geral, passam despercebidos das câmeras, dos flashes
e da história.
O
Crato sempre foi muito afeito às fantasias de carnaval e trajou-as, sempre, com
quase igual freqüência com que portou os vestidos longos e seus
penduricalhos. E aqui tivemos estilistas carnavalescos do mais fino jaez :
Chico Soares, Melito, Zé de Matos, Zé Gato, Abidoral Jamacaru, Zé Ribeiro,
Chico Piancó , Júlio Saraiva, isso para falar apenas de alguns nomes mais
icônicos. Pois bem, hoje , vou relembrar uma das mais irreverentes figuras do
Cariri . Chamava-se Pio Carvalho e nasceu em terras de Frei Carlos em 1877. Fez
a última viagem, já velhinho, em 1963. Foi poeta , chegou a escrever um livrinho que
ainda vi na biblioteca do meu avô materno, onde mesclava poemas e histórias bem
humoradas.
No primeiro quartel do século passado ,
espírito aventureiro, saiu mundo afora com outro personagem presepeiro da
cidade, Teófilo Siqueira, que era
Boticário aqui, na Rua do Fogo. Pio receitava e Teófilo, que já levava os
remédios acondicionados na carga de um
burro, aviava as receitas, mato adentro. Rápido no gatilho, Pio tinha um
finíssimo senso de humor. Pena que a maior parte das suas tiradas tenham se
perdido, possivelmente, por conta do alto teor de pimenta que carregavam. Vou
lembrar algumas neste artigo que me chegaram de língua em língua , deixo-as
aqui registradas , antes que a fuligem do tempo as soterre.
Na
famosa viagem empreendida por Pio e Teófilo, como bandeirantes, levando uma medicina
rudimentar para o interior do Nordeste, consta que , um dia, pediram guarida na
casa de um matuto. À noite, sabe-se Deus como, Teófilo saiu sorrateiramente e
terminou bolinando uma das filhas do hóspede que dormia numa rede , num quarto
próximo. Houve uma gritaria danada e Teófilo, descoberto, fingiu que era
sonâmbulo. No outro dia, já novamente na estrada, Pio que não engoliu a versão,
quis saber a verdade. O boticário desconversou e disse que estava com sede e
tinha ido procurar a quartinha, na cozinha e errara o caminho. Pio , incrédulo,
retrucou:
---
Conversa fiada, Teófilo ! Gargalo de quartinha não tem cabelo, não !
Rapazinho Pio Carvalho tinha um retrato oficial para
ofertar às namoradas que se sucediam. Escrevia atrás, apaixonadamente : “
Fulana, receba este retratinho como prova do meu amor por ti!” Quando o romance
terminava, Pio colava um papel atrás da fotografia e esperava um novo amor.
Encetado novo namoro, repetia, agora já no papel novo, a mesma frase, trocando,
claro, o nome da antiga amada, pela nova conquista. Passados os meses, papel
após papel colado e sobreposto atrás da foto, a fotografia começou a aumentar
muito o volume. Tanto que um dia, Pio já escreveu :
--“Querida
Eufrázia, receba este tijolinho, como prova do meu amor por ti. Do Teu, Pio” .
Do
livro de Carvalho, que ainda folheei, lembro-me de uma história bastante
interessante. Chegara um circo novo numa pequena cidade do interior, quem sabe,
Matozinho ? Como sempre, os artistas saíram em cortejo fazendo propaganda do
espetáculo. Visitaram a casa de autoridades e , depois, foram até à igreja
visitar o padre e pedir a bênção, uma vez que iam instalar o circo ali na Praça
da Matriz e temiam algum protesto da igreja que não gosta de concorrência.
Entraram dois malabaristas, no templo, plantando bananeira e foram, assim,
falar com o vigário, artisticamente, levando-lhe alguns ingressos de cortesia
para abrandar-lhe o coração. Nisso ,
entraram duas beatas na igreja, que não sabiam da novidade e se achegavam para
a confissão da tarde. Ao verem os dois homens de ponta cabeça , uma se assustou
e avisou à outra :
---
Comadre, vamos voltar já ! A penitência do
padre hoje tá prá lascar e , com um calor danado desses, nós num viemos
prevenidas , não !
J. Flávio Vieira