quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A PALAVRA DO PROMOTOR


Aliás, nesta ditosa “República de Curitiba”, de prodígios imensuráveis, nada há que não nos espante.
 
Nos lugares solitários, onde toda a vaidade humana se apaga, pendurados nos locais de costume, encontram-se em fartura e esplendor papéis higiênicos ilustrados com o Artigo 5º da Constituição da moribunda República Brasileira.

O papel assim estampado, prestimoso amigos das horas aflitas, está ali à disposição e limpeza das intocáveis e impolutas nádegas dos notáveis juristas desta excepcional jurisdição”.


Fuad Faraj (Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná).




A PALAVRA DO PROMOTOR

"ALIÁS, NESTA DITOSA REPÚBLICA DE CURITIBA, DE PRODÍGIOS IMENSURÁVEIS, NADA HÁ QUE NÃO NOS ESPANTE.
NOS LUGARES SOLITÁRIOS, ONDE TODA A VAIDADE HUMANA SE APAGA, PENDURADOS NOS LOCAIS DE COSTUME, ENCONTRAM-SE EM FARTURA E ESPLENDOR PAPÉIS HIGIÊNICOS ILUSTRADOS COM O ARTIGO 5º DA CONSTITUIÇÃO DA MORIBUNDA REPÚBLICA BRASILEIRA.
O PAPEL ASSIM ESTAMPADO, PRESTIMOSO AMIGO DAS HORAS MAIS AFLITAS, ESTÁ ALI À DISPOSIÇÃO E LIMPEZA DAS INTOCÁVEIS E IMPOLUTAS NÁDEGAS DOS NOTÁVEIS JURISTAS DESTA EXCEPCIONAL JURISDIÇÃO".


FUAD FARAJ (PROMOTOR DE JUSTIÇA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ).

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O MINISTRO E OS DONOS DO DINHEIRO – José Nílton Mariano Saraiva

Aécio Neves, Daniel Dantas, Roger Abdelmassih, Jacob Barata, Ike Batista, José Riva, Anthony Garotinho, Adriana Ancelmo, Beto Richa e Benedito Lira, dentre muitos outros (a lista seria infindável), têm alguma coisa em comum: 01) trafegaram na ilegalidade por anos e anos e, portanto, são comprovadamente marginais; 02) têm muito dinheiro; 03) depois de roubarem estratosféricas somas de dinheiro foram liberados da prisão por decisão monocrática do excelentíssimo senhor ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

E como na lista do Gilmar Mendes não figura um só pobre, sequer um remediado da classe média, o que metade do mundo e a outra banda pode pressupor é que, por caminhos que o mortal comum desconhece, o tal ministro deve receber, sim, algo em troca. Não no Brasil, mas, provavelmente, lá fora. O quê, fica a critério de cada um emitir algum juízo de valor.

Fato é que, embora já houvesse um certo ar de “desconfiômetro” da população em razão da postura ousada do ministro, agora temos uma outra grave denúncia pública de um juiz federal com atuação na cidade de Campos, no Rio de Janeiro, tratando da liberação do Anthony Garotinho por Gilmar Mendes, a saber:

Em um vídeo estarrecedor, o juiz Glaucenir Oliveira, que prendeu de forma extremamente polêmica – e, para muitos juristas, ilegal – o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, decidiu atacar o ministro Gilmar Mendes, que determinou a libertação do político nesta semana; na mensagem, o magistrado acusa Gilmar Mendes de ter recebido dinheiro em troca de decisão favorável: “a mala foi grande”, afirmou. Gilmar soltou Garotinho, apontando que não havia qualquer elemento que justificasse a prisão preventiva; procurado pela reportagem, o juiz Glaucenir ainda não se manifestou.” (ipsis litteris).

Arrogante, sarcástico e prepotente, Gilmar Mendes já humilhou advogados em sessões do Supremo Tribunal Federal, assim como “peitou” os colegas daquela Corte (em mais de uma oportunidade), por “ousarem” questionar suas bravatas (lembremo-nos que em um embate duríssimo, no recinto do STF, o ex-ministro Joaquim Barbosa o acusou de “coronel” e de destruir o Judiciário brasileiro).

Não esquecer, também, que nos dias atuais Gilmar Mendes funciona como principal “conselheiro-orientador” do ilegítimo presidente, e que, coincidentemente, sua esposa (do ministro) foi aquinhoada com uma polpuda remuneração (fala-se em mais de R$ 30.000,00) para funcionar como membro efetivo de um dos Conselhos da Itaipu Binacional.

Pode até não ter nada a ver, mas tudo isso nos faz lembrar o grande e sempre atual Nelson Rodrigues, ao afirmar que: “Se os homens de bem tivessem a ousadia dos canalhas, o mundo estaria salvo.”



sábado, 23 de dezembro de 2017

NOS TEMPOS DA “BRILHANTINA” - José Nílton Mariano Saraiva

Localizada ao oeste do estado do Rio Grande do Norte, quase que na fronteira com o Ceará, Pau dos Ferros era (à época) uma dessas agradabilíssimas minúsculas cidades interioranas (mudou bastante e hoje é uma espécie de “cidade-pólo”, maior que o Crato em todos os aspectos), em razão, principalmente, da índole receptiva do seu povo e de um detalhe não tão comum em cidades interioranas: a “beleza brejeira” e ao mesmo tempo esfuziante das suas mulheres, aliada ao extremo bom gosto e requinte com que se vestiam. Até parece que os famosos estilistas de moda, antes de lançarem suas revolucionárias coleções em Paris, Roma ou Milão, faziam de Pau dos Ferros uma espécie de “passarela-laboratório-experimental” às suas criações (como luxavam aquelas jovens e belas mulheres pau-ferrenses).

Vivenciamos tudo isso em meados da década de 70, quando para lá nos deslocamos a fim de cumprir adição de 90 dias no Banco do Nordeste do Brasil S/A (BNB), então a única agência bancária da cidade; e, embora realmente o trabalho fosse intenso (a ponto de se trabalhar de 10 a 12 horas por dia), a “diária” que se recebia compensava plenamente, além do que havia uma espécie de “cumplicidade” entre os que compunham a equipe beenebeana e a população da cidade.

O dia-a-dia.

Ao final da diária jornada de trabalho, a parada obrigatória era a “Sorveteria do Sales” (próspero comerciante local), onde sorvíamos uma “geladérrima”, ao tempo em que as paqueras se sucediam, furtivas ou abertamente, num clima leve e sadio. Os fins-de-semana, então, eram literalmente uma festa: num deles, por exemplo, tínhamos a escolha da “miss olhos” (obviamente uma amistosa disputa entre aquelas moçoilas adolescentes maravilhosas, para se avaliar quem tinha os “olhos” mais bonitos); na outra semana, a escolha do casal que melhor dançava; na outra, a escolha daquela que melhor desfilava, e por aí vai. Era uma festa permanente. E tudo dentro da mais pura inocência e simplicidade. O certo é que a “coisa” era tão legal e gostosa que, não mais que de repente, o tempo voou, os 90 dias exauriram-se e tivemos que voltar para Fortaleza (houve uma tentativa de prorrogação da adição, infrutífera).

Antes da volta, entretanto, foi firmado um compromisso, uma profissão de fé, um autêntico pacto de boêmios: sempre que houvesse uma festa que compensasse, seríamos acionados, tempestivamente. E assim, todos nós (mesmo os casados), que por lá passamos na condição de “adidos” (uns seis colegas, não necessariamente no mesmo período), findamos por voltar várias vezes.

Os ônibus que faziam o percurso Fortaleza-Pau dos Ferros eram os famosos “pinga-pinga” que, além de terrivelmente desconfortáveis, eram desprovidos de banheiro. Pois foi numa dessas viagens que o “inusitado” pintou no pedaço.

Já saímos da rodoviária de Fortaleza um tanto quanto “melado” (muita “birita” para – vejam só que desculpa mais esfarrapada - poder ter coragem de enfrentar a buraqueira, já que parte da estrada era de piçarra). Na chegada a Pau dos Ferros, seis da manhã, os notívagos “recepcionistas” (colegas do Banco) já estavam a nos esperar, à porta do ônibus, com um churrasquinho no ponto e aquela cervejota “fumacenta de gelada” (é que a “agência do ônibus” ficava estrategicamente localizada frente a um bar, que aos finais de semana funcionava 24 horas por dia, ao som maravilhoso de um Paulo Sérgio, Jerry Adriane, Carlos Gonzaga, Reginaldo Rossi, Valdik Soriano e por aí vai).

Os “trabalhos”, então, se iniciavam ali mesmo, sem nem escovar os dentes. De lá e durante todo o dia de sábado, os encontros, reencontros e novas amizades, na Sorveteria do Sales, na Churrascaria do Anísio e/ou no meio da rua, com aquelas mulheres monumentais.

À noite, após uma passada na “república” a fim de tomar um banho caprichado, vestir a “CAMISA VOLTA AO MUNDO” e a “CALÇA DE TERGAL”, passar uma “BRILHANTINA” no cabelo e colocar o perfume “LANCASTER”, o objeto de desejo: a esperada festa no único clube da cidade, que se prolongava até o sol raiar. Dali, depois do famoso “caldo de misericórdia” servido num posto de gasolina, volta à república pra mudar de roupa e todo mundo se mandava pra “barragem” (na verdade, o açude que abastecia a cidade e onde existia uma palhoça que servia “o melhor tucunaré de água doce do mundo”); e tome “mé”. Aí, já na base do famoso “cuba-libre” – mistura tanto saborosa como explosiva de Ron Montila e Coca-Cola.

Naquela tarde de domingo, Rivelino, famoso jogador que houvera se destacado no Corinthians, faria sua estreia no time do Fluminense (no Maracanã), jogando contra o… Corinthians. E, mesmo diante de uma televisão preto-e-branco com uma imagem pra lá de sofrível, na sala da casa do prefeito da cidade (tricolor roxo) formamos uma grande torcida do Fluminense (pra agradar o homem, é claro). E tome “Ron Montila”, acompanhado de uma miscelânea de tira-gostos: panelada, buchada, tucunaré, torresmo, churrasco, o escambau (era comida que dava no meio da canela). O certo é que o tempo, de novo, voou, e de repente chegou a “hora indesejada” do retorno.

E aí a velha história repetiu-se: já chegamos na “parada do ônibus” mais pra lá do que pra cá, “puto de raiva” por ter que voltar no melhor da festa e lá encontramos a colega do BNB Julieta, que fora adida e também houvera ido passar o final de semana. Após cumprimentá-la sentamos na poltrona (???) e… apagamos.

Lá pras tantas (entre duas e três horas da madrugada) após uma parada abrupta do coletivo a fim de desembarcar algumas pessoas que moravam na zona rural ao lado da estrada, “ressuscitamos” e, pior, com uma necessidade imperiosa e descomunal, de “descarregar”, “arriar a massa” (lembremo-nos que o ônibus não dispunha do famoso toilette). Falamos com o motorista e o trocador (existia um, sim, encarregado de recolher o dinheiro das passagens) e eles sugeriram que descêssemos o barranco e fizéssemos o “serviço”, enquanto eles procuravam e entregavam a bagagem do pessoal rural.

E só deu tempo mesmo de descer o barranco às pressas, arriar a bermuda e... tome merda, muita merda, merda em profusão, em pleno estado líquido e em “chicotadas” monumentais, brabíssimas (o “inusitado” dera o ar de sua graça e o Ron Montila e apetitosos tira-gostos finalmente cobravam seu preço).

Até hoje não conseguimos lembrar é se nos deixamos absorver pelo esplendor da belíssima lua no céu (em pleno meio da caatinga), se dormimos de cócoras ou, simplesmente, se sentamos em cima do produto; o certo é que, de repente, milagrosamente conseguimos “captar” a zoada de um carro acelerando. Ao olhar, desesperado, pra cima, rumo à estrada, divisamos o ônibus se afastando, lentamente. Não houve tempo para raciocinar: num átimo, nos despojamos da bermuda e da cueca, pegamos essa última e passamos de forma apressada no traseiro, a jogamos fora, vestimos novamente a bermuda e subimos a ribanceira feito um louco.

Contando com a providencial solidariedade do pessoal que havia descido (umas oito pessoas) que se puseram a “urrar” em plena duas horas da manhã, o ônibus parou mais à frente. Resfolegando, com os bofes saindo pela boca, suando em bicas por todos os poros, alcançamo-lo e, evidentemente, reclamamos do motorista e cobrador; eles alegaram que haviam “esquecido” e pediram desculpas.

Quando sentamos na poltrona (???), uma réstia da luz da Lua que refletia pela janela nos permitiu observar que a colega Julieta (ainda dormindo) imediatamente virou o rosto para o outro lado. Deixamos pra lá. Sentamos e... apagamos (de novo). Viagem que segue...

Oito horas da manhã, rodoviária de Fortaleza, sol a pino. A muito custo e após nos sacolejar bastante, a “dupla-sertaneja” (motorista e cobrador), consegue finalmente nos “trazer de volta”. De mau humor, com um terrível gosto de “cabo-de-guarda-chuva” na boca, doido pra chegar em casa, não ligamos para a cara feia dos dois, pegamos nossa sacola que estava na parte de cima e saímos.

E foi aí, ao tentar nos despedir da colega Julieta, que vimos a “merda” (literalmente) que tínhamos armado: é que ela (e demais passageiros), não só se recusava a aceitar o nosso cumprimento, como, também, olhava(m) fixamente para nossa mão estendida. Uma “palhinha” de sobriedade pintou de repente e, já acometido de um certo receio, um pressentimento estranho, um friozinho a nos percorrer a espinha, acompanhamos o mortífero olhar da Julieta e, só então, entendemos a dimensão da coisa: não só nossa mão, mas partes do antebraço, coalhadas estavam de fezes, em transição do estado líquido para o sólido. É que, na imensidão e solidão da caatinga iluminada por aquela lua belíssima, ao passarmos a cueca apressadamente no traseiro, ela não dera conta do recado e o “produto” houvera vazado, em profusão, para a mão e adjacências.

Nunca antes havíamos passado por algo semelhante, por situação tão constrangedora e vexatória. Na verdade, naquele momento a vontade era de morrer, sumir, meter-se em algum buraco, desaparecer do mapa, escafeder-se, se autotransportar para o Japão, China, um lugar qualquer longe, bem longe dali, do outro lado do mundo. Uma tragédia. Humilhação pra você nunca mais esquecer.

Pra completar, quando tentamos dá um passo à frente, agora, sim, sentimos a bermuda um tanto quanto apertada, muito presa ao corpo, obstando estranhamente nossa locomoção; é que ela simplesmente houvera “pregado” no traseiro, tal a quantidade de merda e a extensão da área em que se propagara.

Resultado ??? A vergonha foi tão grande que ficamos “baratinados”, perdemos a noção do tempo, da razão, do espaço e do ridículo, e sequer conseguimos atinar que na Rodoviária tinha um banheiro onde poderíamos fazer uma “meia-sola” (mini-banho) para nos livrarmos “daquilo”.

E assim, como nenhum taxista compreensivelmente nos aceitou como passageiro, tivemos que fazer o razoável percurso do Bairro de Fátima até o apartamento, no Centro da cidade, no “pé-dois”, sol a pino, cantando amor febril e sob os olhares desdenhosos dos transeuntes, que cortavam caminho, tratavam de passar por longe daquele “lixo-humano” e sua estranha coreografia. É que nos debatíamos com moscas, um exército de dezenas de moscas, a nos perseguir insistentemente; a fedentina era tão grande, o odor à nossa volta tão insuportável, até para a mais das insensíveis narinas, que poderíamos e merecíamos ser cognominados como uma “fossa ambulante”.

Quanto à colega Julieta, passou um certo tempo amuada, cabreira, chateada, sem querer papo nenhum, intrigada mesmo, pelo que era considerou falta de respeito e consideração. Hoje, casada, mãe de filhos, reside em Mossoró. Nas suas raras incursões à cidade de Fortaleza, nas vezes em que a encontramos, nos saúda efusiva e festivamente, embora um tanto quanto sui generis, diferente, inusual, esquisito até: “Diga lá... seu cagão”. E haja risadas, muitas risadas.

Coisas da vida...

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

MALUF E O VELHO PADRE

O octogenário padre brasileiro, que durante anos a fio tinha trabalhado fielmente e com afinco junto ao povo africano na difusão da palavra do Senhor, voltara debilitado ao Brasil (contraíra o vírus ébola) e, agora, doente e moribundo, internado no Hospital Geral de Brasília, é a notícia e manchete midiática da hora.


Em estado terminal, já nos últimos suspiros ele faz um sinal à enfermeira, que se aproxima. - Sim, senhor padre, o que deseja ? - Eu queria ter a oportunidade de conversar com quatro proeminentes políticos brasileiros, antes de partir, sussurrou o velho Padre, ditando-lhe os nomes. - Acalme-se, verei o que posso fazer, respondeu a enfermeira. De imediato, a Direção do hospital entra em contacto com o Congresso Nacional e logo recebe a boa notícia: todos, na condição de católicos, embora não praticantes, faziam questão de cancelar os compromissos do dia, pois não poderiam perder a oportunidade de visitar o velho Padre, moribundo.

A caminho do hospital, na ampla limusine de um deles, Paulo Maluf confidencia pra Jader Barbalho, Renan Calheiros e José Agripino: - Eu não sei porque é que o velho Padre nos quer ver, mas certamente, dado o seu prestígio internacional e sua popularidade junto aos pobres deste país, isso vai ajudar, e muito, a melhorar a nossa imagem perante a Igreja e ao próprio povo, assim como repercutirá internacionalmente, o que é sempre muito bom. Todos concordaram: realmente, ali estava uma grande e rara oportunidade para eles aparecerem e, tanto é verdade, que até fora enviado um comunicado oficial urgente à imprensa, detalhando a hora e o local da visita.

Quando ao “quarto” os “quatro” chegaram, com toda a mídia presente (rádios, jornais, TV, Internet, etc) o velho Padre pediu-lhes para dele se acercarem e, pousando sua mão direita sobre as mãos de Jader Barbalho e Paulo Maluf, e a esquerda sobre as mãos de Renan Calheiros e José Agripíno, agradeceu-lhes aquele gesto magnânimo, caridoso e cristão.

Houve um respeitoso silêncio, enquanto câmaras foram estrategicamente direcionadas aos cinco, já que repórteres televisivos transmitiriam ao vivo e a cores, em horário nobre, para todo o país, aquele grave momento; para tanto, aproximaram seus sensíveis microfones para, quem sabe, captar aquelas que seriam as últimas palavras daquele santo homem, que estranhamente, apesar de muito debilitado, apresentava-se com um ar de pureza e serenidade no semblante.

Então, Paulo Maluf, na condição de porta-voz dos demais (fazendo pose para as câmaras e imprimindo a devida impostação à voz), perguntou-lhe, contrito: -Santo Padre, desculpe a curiosidade, mas porque é que fomos nós – eu, Jáder, Renan e Agripino - os escolhidos, entre tantas pessoas ilustres das que compõem o nosso glorioso Congresso Nacional, para estar ao seu lado, neste momento tão especial ?

O velho Padre, com um sorriso angelical no rosto, serenamente afirmou: -Meus filhos, como vocês são testemunhas, sempre, em toda a minha vida, procurei ter como modelo e seguir à risca, o "Pai Celestial", Nosso Senhor Jesus Cristo. -Amém, sussurraram, os quatro, em uníssono. E aí, o velho Padre fuzilou, contundentemente:

ENTÃO...COMO “ÊLE” MORREU ENTRE LADRÕES, EU QUERIA PRA MIM O MESMO”.

Ato seguinte, "bateu as botas"... sorrindo.

(Autor desconhecido)

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

"CALDO DE BILA" - José Nilton Mariano Saraiva

Independentemente da raça, cor, sexo, religião, ideologia, credo, preferência clubística ou política, os milhões de adeptos de uma “geladinha” (cerveja) ou da “marvada” (cachaça), detêm a exclusividade de uma certeza: dia seguinte à farra homérica, quando se excedem no consumo e acordam com aquele terrível gosto de “cabo de guarda-chuva” na boca, nada mais apropriado pra curar a “ressaca braba” (que às vezes dá vontade até de morrer), do que “forrar o estômago” com um revigorante e bendito caldo (de mocotó, carne moída ou costela de boi), no capricho e tinindo de quente, capaz não só de matar todos os vermes que “encontrar na descida”, como também “levantar ou por de pé até defunto”.

Mas... há que se ter cuidado com os “caldos da vida”. Sim, porque existem duas espécies de caldo: 1) o “caldo verdadeiro”, original, genuíno, que é aquele bem preparado, repleto de temperos e condimentos, capazes de lhe dar cheiro, sabor e “sustância”, e ainda operar o milagre de fazer seu usuário “renascer” das cinzas, a ponto de, sob o pretexto de “lavar o peritônio”, tirar o gosto ali mesmo com uma outra geladérrima, recomeçando a farra; e, 2) o “outro caldo”, o caldo falso, o caldo de araque, que é aquele que é só uma espécie de água morna, desprovido de temperos e condimentos, sem gosto, sem cheiro, sem poder revigorante e, enfim, sem nenhuma serventia, capaz até de “bater e voltar”, ou seja, de fazer com que o seu usuário “bote os bofes pra fora”, na hora. Esse, por suas características peculiares, findou sendo designado pelos biriteiros da vida com a alcunha de “caldo de bila” (portanto, quando você ouvir a expressão “caldo de bila”, lembre-se de que é algo fraco, inútil, sem serventia).

E a “expressão” pegou de uma maneira tal, foi tão bem assimilada por gregos e troianos, que quando queremos manifestar nosso descontentamento com algo ou alguém que não corresponde às nossas expectativas, em qualquer competição ou atividade, imediatamente professamos: é “mais fraco que caldo de bila”.

Tomemos como exemplo a Fórmula 1, um esporte por demais admirado no mundo todo e que, para nós brasileiros, num determinado momento da história, foi motivo de orgulho e respeito, quando tínhamos a nos representar nos mais diferentes autódromos dos quatro cantos do planeta os Emerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Ayrton Senna da vida.
Afinal, quem não lembra das manhãs de domingo em que renunciávamos à praia, clubes, açudes, cinemas ou um outro divertimento qualquer, só pra ficar por duas horas à frente da telinha, beliscando uma cervejota com tira-gosto de panelada e vibrando com o “pé-pesado” ou as ultrapassagens sensacionais dos nossos “homens voadores”, campeões mundiais em seguidas temporadas ??? Quem não lembra dos pegas fantásticos e espetaculares entre Fittapaldi X Jack Stuart, Piquet X Mansel, Senna X Prost, Senna X Piquet, dentre outros ???

Foi então que o destino nos pregou aquela peça terrível, aquele momento dantesco, nos levando prematuramente o Ayrton Senna, numa calma manhã de domingo, durante uma corrida aparentemente tranquila, na Itália, após a quebra da barra de direção de seu carro, a mais de 200 quilômetros por hora.

Imediatamente a TV Globo, em razão principalmente dos milhões de dólares propiciados pela exclusividade da transmissão de cada corrida, e temendo a perda dos exuberantes patrocínios, tratou de “fabricar” da noite pro dia um substituto para o Senna. E como não havia muitas opções naquele momento, literalmente foi “decretado” pela cúpula da Globo e nos imposto goela abaixo, que um jovem piloto paulista, novato na Fórmula 1, seria o novo “ídolo” da torcida brasileira. Foi assim que tomamos conhecimento da existência de Rubens Barrichello, logo batizado pelo chefão de esportes da emissora (Galvão Bueno) de “Rubinho” (certamente que numa tentativa de torná-lo mais “palatável” ante os aficionados da categoria).

Daí pra frente todos nós sabemos a história de cór e salteado: apesar do hercúleo esforço da Globo em alavancá-lo, do generoso espaço lhe disponibilizado, de lhe arranjarem inclusive um lugar na disputadíssima e então imbatível Ferrari (à época detentora dos mais possantes e velozes carros da categoria), o que se via nas pistas era um piloto atabalhoado, lento, medroso, excessivamente burocrático, sem qualquer pegada, além de potencial e exímio “quebrador” de carros, os quais não conseguia “ajustar” nunca (quantas vezes vimos o tal “Rubinho” em desabalada carreira durante as corridas - SÓ QUE A PÉ E NA CONTRAMÃO - em busca do carro reserva ???).

Sem carisma, desprovido de simpatia, sempre com uma desculpa esfarrapada para os recorrentes fracassos nas pistas, inventor de uma comemoração pra lá de ridícula (uma tal de “sambadinha”) quando ocasionalmente ganhava alguma corrida, Barrichello aos poucos foi se eclipsando, sumindo, escafedendo-se.

Na fase crepuscular da carreira, competindo por uma equipe de nível médio (Willians), Barrichello ainda assim conseguiu a proeza de fazer com que a Globo optasse por uma estranha e incrível “inversão de valores”: é que, à falta de resultados (quase sempre ficava lá na rabeira, quando não quebrava), o locutor global tratava de potencializar o fato de “Rubinho” às vezes ficar entre os 10 que obtiveram melhor classificação nos treinos, além de insistir e persistir em nos informar ser ele o piloto que disputou mais de trezentas (300) corridas de Fórmula 1 (olvidando, no entanto e propositadamente, de nos cientificar dos pífios resultados ou da relação entre o número de vitórias obtidas e os grandes prêmios disputados).

Por essa e outras é que poderíamos associar Rubens Barrichello ao nosso famoso “caldo de bila”: não fede, não cheira, não tem gosto, não propicia qualquer serventia ou bem-estar.

 

ALERTA


TOMEM MUITO CUIDADO. BRASÍLIA COMEÇA A SE 

ESVAZIAR. ESSA É A SEMANA DO INDULTO DE NATAL 

E TEREMOS MAIS DE 500 DEPUTADOS E 81 SENADORES

À SOLTA PELO PAÍS. NÃO SAIAM ÀS RUAS E 

TRANQUEM BEM SUAS PORTAS E JANELAS.


(COMPARTILHEM PARA QUE SE TODOS SE PROTEJAM)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

NO TEMPO

Todos os dias a Cascata do Rio Batateira, lá nas encostas da Chapada do Araripe, na parte mais alta além do Lameiro, a água era um forte jorro pareado em gotas peroladas ao sol. Perto havia uma mangueira, de farta sombra onde os boêmios secavam as ancoretas da produção dos engenhos e tinham, em conta, ser este o espaço do “cantor das multidões,” Orlando Silva.


É que mesmo tangido pelo vento do tempo, compreendo ser como a Cascata do Rio Batateira. Por vezes tenho coragem de pular em suas águas, apesar dos blocos de pedras, noutras a contemplação dissolve vontades pela invasão interior de todas as coisas circundantes: a estrada, as flores, as cercas, o canto dos pássaros, o alpendre do bar do “baião-de-dois-com-pequi”.

Ontem, já pelo final da tarde, estava novamente na Cascata, na margem do Rio Batateira, numa complexa alça de espaço e tempo, enquanto corpo na Barra da Tijuca. Abri o celular no facebook e uma “solicitação-de-amizade” (lá nos termos do aplicativo) fez pronunciar o mantra do “Om”, o som do cosmo, não o absoluto, mas aquele do movimento.

Da inseparável matriz do ser havia uma mensagem na distância. Era de Raimundo Feitosa. Um código de área, no Maranhão. Um código de tempo de cinquenta anos. Mais ainda um código de tempo por que Raimundo é um prolongamento secular, sob a forma do território dos Inhamuns, na cidade de Aiuaba e toda a ancestralidade comum. Entre nós.

Aquelas dormidas nas redes sobre a praça barulhenta porque às 4:30 horas éramos soldados e deveríamos estar acordados. Os exercícios de tiro e as pequenas prisões em grupo em face dos cochilos nas instruções ou os arroubos de quem não sabe conter o incontido.

Raimundo Feitosa era um no casarão familiar ali por volta dos anos 60, onde um coletivo de pura juventude se reunia em brincadeiras, violões, histórias e amores. Raimundo andou de cochichos e carinhos com uma das primas daquele coletivo.

Matar uma cobra com uma vara de limpar as telhas do alto casarão. Afinal quem ousaria chegar perto da peçonha que espirra nas presas afiadas feito agulhas de injeção. Raimundo, saibam todos era um homem de imensa coragem. 

Capaz de se arriscar ao limite carregando com ele toda a carga do medo. Coragem não se traduz em palavrório e versos de exaltação à mesma. Ela é o exercício daquele pulo com poucos metros entre a água e a pedra.


Raimundo Feitosa lá no Maranhão, num tempo que se localiza no dezembro de 1967, tem o jorro da cascata pareado em gotas peroladas de sol.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Vestígios da Itália em Missão Velha - Dr. Demóstenes Ribeiro


Na calçada em frente, suavemente ensolarada naquela manhã de maio, o Coronel dirigia-se ao barbeiro. Terno branco, chapéu e guarda-chuva fechado à mão direita, como se fosse bengala, ele lentamente caminhava. Baixinho e gordo, um ar feliz envolvia o semblante bonachão, realçado agora pelo domínio do alistamento nas frentes de serviço do DNOCS. Era a seca de 58, ele controlava o PTB local e seriam muitas as vantagens resultantes dessa missão.

A barbearia, parada obrigatória na cidade, local sempre descontraído e de informação. Todos a freqüentavam, exceto monsenhor Antonio Feitosa, ao qual o barbeiro atendia com orgulho uma vez por mês na casa paroquial. Semanalmente, o Coronel cortava o cabelo. Hipocondríaco, exigia esterilização prévia da tesoura e da navalha, com álcool, em chamas. Aliás, tamanho o seu temor de doença, no cinema sistematicamente levava o lenço ao nariz ao assistir cena de faroeste com muita poeira, por receio de ficar resfriado.
Sem a truculência de outros caciques, jamais se ouviu falar de violência da sua parte ou de seus comandados. Sua força política advinha da fidelidade extrema de uma família numerosa e de agregados, isolados em região serrana do município, parte mais alta e amena, onde o pai e antecedentes, imigrantes italianos, estabeleceram-se em meados do século dezenove. As urnas da Goianinha decidiam a eleição municipal.

Ao invés do sul do Brasil, por que esses italianos escolheram Missão Velha, confins do Ceará? Ao que se fala, emigraram de remota região da Itália, cheios de sonhos, fugindo de violência e miséria. Ao chegar a Recife, o patriarca, artesão, mestre na fundição do cobre, encheu-se de esperança ao saber dos engenhos de cana-de-açúcar no Cariri, espaço para o seu ofício e a sua arte.

Destinados à Goianinha, pouco a pouco, a língua, o sotaque, quase todos os hábitos e tradições foram sufocados pela cultura local. A pobreza nordestina foi mais forte. Diferente do sul do Brasil, a geografia e o clima pouco se assemelhavam à velha Itália. Entre outras coisas, sumiram a culinária mediterrânea e a tradição do vinho.
A família cresceu miscigenada, mas alguma coisa ficou. Cearenses a conservar modo de vida que lembra aldeias e cidadezinhas da Itália. Os laços familiares rígidos, o bom humor, o casamento entre primos, as residências próximas, as mulheres pequeninas, muitas de olhos azuis, discretas no vestir e no comportamento, apegadas à Igreja e quando viúvas, de preto e lamuriosas. Acima de tudo, cordialidade e alegria de viver contrastando com a agressividade local. Extroversão expressa em vários deles pelo amor ao jogo de cartas, à diversão, à bebida e à música popular.

Anos depois, em disputa com um sobrinho, o Coronel não conseguiu fazer do filho o prefeito da cidade. A luta pelo poder desagregou a família e ele partiu para a serra paraibana, local de outros familiares; quem sabe, inconscientemente atraído pelo clima vagamente parecido ao da Itália. Todavia, diferente do pai, era, no quase exílio, imigrante desesperançado, revolta e desilusão.

Envolvido em luta inglória contra a realidade cruel, findou os dias em um mundo imaginário, pleno de fantasia e recordação. Na rede, a mamma entoava uma canção de ninar ou era o irmão Horácio a lhe embalar o sono com uma ária napolitana de Caruso? Houve a alegria irreverente dos filhos no carnaval ou tudo não passou de uma velha história de Veneza, contada por uma tia idosa na infância? Voltaria ainda o prestígio dos anos atrás?

Muito tempo depois, o menino que vira o homem gordo e baixinho, dirigir-se à barbearia, naquela manhã de maio, observara um missãovelhense discretamente receber a comunhão na Igreja da Paz. Sequer herdara o sobrenome italiano, mas no comportamento cordial, reverente e cerimonioso, ele expressava traços do tio e, talvez, de algum familiar distante, perdido em aldeia remota da Sicília ou do Mediterrâneo. 


Demóstenes Ribeiro -,Médico Cardiologista



 










quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

GILMAR MENDES - por RICARDO BOECHAT

Temos um ministro do STF que não teme ser defensor explícito do crime organizado. Gilmar Mendes nem deveria ser impedido, deveria ser preso. Os laços de Gilmar e sua mulher com Jacob Barata são de amizade, comerciais e profissionais. O cunhado do Gilmar é sócio do Jacob. Jacob tinha o contato direto da mulher de Gilmar em seus contatos.

Esse senhor Barata, pelos crimes revelados por vários delatores, vem roubando diretamente da população mais pobre do RJ, comprando toda a cúpula e política fluminense e a fetranspor. O senhor Barata roubou, 10, 20 centavos por dia da população mais pobre do RJ, por anos a fio.

A suspeição de Gilmar Mendes teria o efeito de mostrar que ele nada a tem a ver com esses crimes, que a sociedade do cunhado e que a benção no casamento, foram coincidências. Mas como ele não se declarou suspeito, mesmo quando o “rabo abanou o cachorro” e com todas as manifestações do MP, demonstrando claramente que os elos são pessoais, comerciais e profissionais, a única opção a crer é que Gilmar tem muito a esconder tanto nessa relação como nas outras em que se posicionou de forma imoral.

Jacob Barata é um bandido violento. Provavelmente está roubando dos cariocas há 30 anos. É um milagre da Lava-Jato e adjacências que estejamos trazendo esse esquema à vista, à tona.

O Judiciário e o MP precisam tratar Jacob Barata de forma especial, com o peso expressivo da lei, pois ele vai entregar Gilmar Mendes. As últimas atuações do ministro são claras evidências de obstrução intencional da justiça, mandando às favas qualquer resquício de moralidade e racionalidade. Um acinte, um deboche.

Está muto claro que Gilmar é um infiltrado do “status quo” para explodir os esforços anticorrupção e redirecionar os entendimentos do STF para a frouxidão ética e moral, apenas com seus “afilhados e amigos”.

Derrubar Gilmar Mences é atravessar uma das últimas muralhas de proteção do sistema corrupto que moveu a política brasileira, nos últimos, pelo menos, 30 anos.

Os brasileiros podem até ser impotentes para derrubá-lo, mas a cada atuação do ministro, mais gente desacredita no país e faz questão de não apoiar qualquer movimento de recuperação econômica.

Gilmar Mendes é a certeza da impunidade, portanto é a incerteza econômica. Gilmar Mendes é uma ode à concorrência desleal, portanto é um inimigo da governança e da ética nos negócios. Gilmar Mendes é o Alien parasita no organismo brasileiro.

Ou é ele, ou é a nação. Jacob Barata não deve entregar Cabral, que é outro cadáver político, esse pelo menos não está fedendo em nossas salas. Tem que entregar Gilmar.

Acreditem. Gilmar Mendes convence os brasileiros a não lutar para tirar o Brasil dessa crise. Convence os brasileiros com mais capacidade, mais recursos e maior grau de empreendedorismo a cogitar seriamente sair do país. Gilmar Mendes é nosso ministro bolivariano.

Amigos, entendam a importância de combatê-lo. Não se enganem, é um elemento fundamental para a manutenção do status quo. Está entre nós e a esperança.

Assinem tudo, reverberam tudo, tudo que for contra o Gilmar. Esse cara quase torna a sonegação de impostos um imperativo ético. Ninguém merece pagar o salário desse imperador da imoralidade judiciária.

sábado, 2 de dezembro de 2017

HOUVE OU NÃO ??? - José Nílton Mariano Saraiva

No curso de Ciências Econômicas, e especificamente no estudo da disciplina “Estatística”, normalmente o próprio professor faz a analogia entre tal disciplina e o biquíni usado pela mulherada. É que, segundo se convencionou no recinto da própria Academia, tal qual o biquíni, a Estatística mostraria tudo, tudo, menos o “essencial”. O que é “essencial”, na Estatística e na mulher, fica a critério de cada um elucubrar.


Tal lembrança ocorreu quando tomamos conhecimento das manchetes estampadas na grande mídia, nos dias atuais, nos dando conta que o abusado e arrogante ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, pela terceira vez, em poucos dias, mandou soltar da cadeia o empresário Jacob Barata, incurso em sérias suspeitas de pagamento de propina à mafiosa classe politica do Rio de Janeiro, e por isso trancafiado repetidamente pela justiça daquele Estado.


No arrazoado divulgado pela mídia, inserto se acha que pesou em tal decisão o fato do ministro e esposa terem sido padrinhos de casamento da “Baratinha”, filha do meliante (o que demonstraria uma sólida amizade entre os dois), além do fato que o noivo seria sobrinho da mulher do ministro (o que justificaria tal privilégio).


Como, entretanto, foi a terceira vez em poucos dias que o ministro bate de frente com o Judiciário do Rio de Janeiro, com todo o desgaste que isso pode provocar, a mídia bem que poderia questionar não a amizade ou parentesco do casal com o empresário, mas, sim, se o ministro teria recebido “propina” para insistir e persistir na liberação do bandido.


Afinal, já restou comprovado, em diversas oportunidades, que no Judiciário brasileiro (principalmente no seu alto escalão) a corrupção corre solta e desenfreada, e, portanto, o “substantivo” a ser explorado por uma mídia séria e honesta seria: houve ou não pagamento ao ministro Gilmar Mendes ???

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

POBRES ANALFABETAS” - José Nilton Mariano Saraiva

Até certo tempo atrás, eram comuns “homenagens” aos ídolos do futebol, música e cinema, por parte de pais “torcedores fanáticos”, através da tributação, preferencialmente ao primogênito, do nome de algum deles. No entanto, um outro tipo de homenagem era muito comum entre genitores normalmente humildes e de parca cultura, e que merece ser lembrada: batizar o rebento com um nome estrangeiro, uma “sopinha de letras” de difícil pronúncia, capaz de “enrolar a língua” de qualquer um “metido a besta”. Não importava a origem do nome, quem o usava (se se tratava de algum marginal ou uma autoridade constituída). O que valia era a “boniteza” da grafia e, principalmente, a dificuldade que os “analfabetos” tinham de pronunciá-lo.

Pois foi estribado em tais “conceitos revolucionários” que o pai de um nosso colega de trabalho resolveu batizá-lo com o pomposo nome de Zwínglio (aos desavisados, a principal referência sobre, é o suíço Ulrich Zwínglio, teólogo e principal líder da reforma protestante naquele país; portanto, um nome de peso e com história, mas que o pai certamente não conhecia).

Fato é que, de tanta ouvir o pai se “gabar” com os amigos do nome estrambótico e difícil que tinha posto nele, nosso amigo assimilou “ipsis litteris” todo aquele arrazoado laudatório e, ele próprio, a partir de uma certa idade, passou a se vangloriar do nome e, tal qual o nosso rei Roberto Carlos, a se achar “o cara”. Ria às escancaras quando, ao fornecer informações para um cadastro qualquer nas lojas comerciais, observava a extrema dificuldades e a cara de espanto daquelas moçoilas/entrevistadoras que preenchem as fichas respectivas: “Por favor, senhor, “Zu...” o quê ???”, lhe inquiriam. E nessa oportunidade, como se fora um paciente professor catedrático, todo “cheio de razão”, fazia questão de citar, uma a uma, aquelas letras famosas, caprichando na dicção: Z – W – Í – N – G – L – I - O. E se punha a rir com a cara de espanto daquelas “pobres analfabetas”.

A adoração pelo próprio nome virou mais que mania, tornou-se uma verdadeira obsessão, tanto que, 200 anos antes de casar, ele já decidira que o primeiro filho receberia na pia batismal o mesmo nome do pai (afinal, era uma rara oportunidade de homenagear o avô (seu pai), que mesmo pouco letrado, tivera a ideia brilhante de arranjar-lhe um nome tão “porreta”).

Assim, constituiu-se uma tremenda surpresa o nascimento de uma robusta criança do sexo feminino e não um “homem”. E agora, o que fazer, se perguntava atarantado. Eis que, como num passe de mágica, absorveu o choque rapidamente através da adoção de uma solução simplérrima - “feminilizar” o próprio nome, trocando o “O” final pelo “A”, daí que a filha chamar-se-ia “ZWÍNGLIA”. Pronto, resolvida a questão, até mesmo porque... com ele ninguém podia. Era um gênio.

Anos após, evidentemente que quando começou a se entender por gente (ao adolescer), a filha criou verdadeira ojeriza, aversão azeda ao próprio nome, a ponto de ter vergonha de citá-lo em conversas particulares e, principalmente, em público. Quando absolutamente necessário pronunciava-o quase sussurrando. Virava uma “fera ferida” quando o pai, na ânsia de mostrar ao mundo o que era um nome bonito e charmoso, a chamava pelo nome exótico, em voz alta. Para ela, seu pai “tava doido varrido ou bêbado” quando decidiu batizá-la com aquela “praga de nome”. Pra encurtar a conversa e já que não tinha jeito, Zwínglia resolveu que a partir de então seria simplesmente “Zu”. E não admitia tergiversações. Se o pai não gostasse que fosse à PQP. Se possível, sem passagem de retorno.

Enquanto isso, na solidão da sua última morada, Ulrich Zwínglio ainda hoje deve estar se contorcendo e se questionando se merecia tal tipo de homenagem de um habitante da terra “brasilis”.


Post Scriptum:

Nos dias atuais, o pai certamente preferiria homenagear o jogador da seleção alemã BASTIAN SCHWEINSTEIGER (alguém aí sabe pronunciar ???).



quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A VEZ DA CENA CARIRI: ESPETÁCULOS DA 9ª GUERRILHA 2017

9ª GUERRILHA DO ATO DRAMÁTICO CARIRIENSE
Crato|Cariri|Ceará, de 8 a 17 de dezembro de 2017

LOCAL DOS ESPETÁCULOS: HOSTEL KARIRI
Av. Perimetral Dom Francisco, 1039,
São Miguel, Crato-CE (em frente à AABB)

 

ESPETÁCULOS SELECIONADOS E CONVIDADOS:

# A BELA E A FERA (Infantil, Cia. Tábua de Pirulito, Crato-CE)
# O RATO NO MURO (12 anos, Fernando Persatto, Barbalha-CE)
# TROPICALISMO (Infantil, Contação de histórias, Bete Pacheco, Juazeiro-CE)
# EU E MINHAS CABEÇAS AVESSAS (14 anos, Dança-Teatro, Coletivo Dama Vermelha, Juazeiro-CE)
# A BELA ADORMECIDA (Infantil, Cia. WSA do Teatro, Icó-CE)
# O QUE CABE EM MIM (Livre, Dança-Teatro, Cia. Alysson Amâncio, Juazeiro-CE)
# AME E DÊ VEXAME (18 anos, Dasdores Santos, Crato-CE)
# DIONÍSIO – A CELEBRAÇÃO (18 anos, Grupo Teatral Louco em Cena, Barbalha-CE)
# O CABARÉ DE DONA MARINALVA (14 anos, Grupo Cícera de Experimentos Cênicos, Juazeiro-CE)
# EPIFANIAS – OUTROS JEITOS DE USAR A BOCA (16 anos, Cia. Dakini de Dança-Teatro, Juazeiro-CE)
# A VELHA MOÇA (18 anos, Cia. Teatral Moreira Campos, Fortaleza-CE)
# MORTE ANUNCIADA (Livre, LATOR Produções, Fortaleza-CE)
# BUQUÊ DE SANGUE (14 anos, Cia. Arte e Cultura de Teatro, Crato-CE)
# A LAGARTA E A BORBOLETA (Infantil, Contação de histórias, Dasdores Santos, Crato-CE)
# SEPARACIÓN (14 anos,  Cia. Mandacaru de Artes e Eventos, Juazeiro-CE)
# A LENDA DO BEIJA-FLOR (Musical infantil, Grupo Retalhos e Fuxicos, Juazeiro-CE/UFCA)
# PEQUENO CIDADÃO DO MUNDO (Infantil, Fernando Cheflera / CICLOPIFE, Brasília-DF)
# TOQUE-ME (16 anos, Dança-Teatro, Coletivo Dama Vermelha, Juazeiro-CE)


OFICINAS:

# CINEMA (Cheyenne Alencar, 8 h/a)
# Dança-Teatro (Dakini Alencar, 4 h/a)

________
Realização:
Sociedade Cariri das Artes
Cia. Brasileira de Teatro Brincante



segunda-feira, 6 de novembro de 2017

VENTO, VIOLONCELO, CASARÃO... - Dr. Demóstenes Ribeiro (*)


Ninguém ressuscita um morto... Perda de tempo, doutor!”

Voz calma e segura, a transformação de Joaquim, desde a morte do professor Maciel, era o assunto predileto da cidade. No velório, ele de terno e gravata, a cabeça repentinamente branca, foi a surpresa geral. O último a se despedir, beijou demoradamente o morto, soluçando, sem se importar que lhe ouvissem, meu filho, meu querido, meu irmão... Desde então, segundo a acompanhante, não dormia, não se alimentava e nada lhe interessava mais.

É um morto a quem o senhor está atendendo agora... Eu tive uma vida sem graça, mesmo quando a Celeste ficou viúva e fui trabalhar no cartório. Ela era sem filhos e bem mais velha do que eu. Logo nos casamos e vivíamos a paz doméstica entre aulas de violoncelo, escrituras e certidões.

A cidade mudava lentamente. Os velhos partiam, as crianças ficavam jovens e um adolescente de olhos claros e cabelos encaracolados lembrava o Davi, de Michelangelo, a obra prima que o senhor conhece. Como tantos outros, ele foi embora, pois precisava estudar e trabalhar.

Quando um infarto levou a Celeste, a minha vida sofreu uma irrupção. Eu tinha quase sessenta anos e fui conhecer o Rio de Janeiro. Na rodoviária, muito educado, ele estava à minha espera. Agora, homem feito, não mais adolescente, parecia Marlon Brando em Sindicato de Ladrões.

E foi à noite, em Copacabana, entre vários chopes, que ele me contou das suas dificuldades iniciais. Morou na Lapa, comeu no Calabouço e sobreviveu à turbulência de sessenta e oito graças a um diplomata espanhol. A amizade profunda rendeu-lhe um emprego no consulado. Aprendeu línguas e boas maneiras. Não era mais um rude, falava francês e inglês, sabia de artes e encenação.

Então, fomos a Petrópolis, sorvetes no Corcovado, emoção no Pão de Açúcar e bicicletas em Paquetá. Mas, o Rio era outro e ele se sentia ameaçado. Mas, se eu ficasse ao seu lado, ele voltaria. Criaria na cidade a “Escola de Línguas e Artes Plásticas Professor Maciel.” Poderíamos reformar o velho casarão do pai da Celeste e, assim, a cultura chegaria à região.

Um mês depois, ele se mudou para minha casa. Certo amanhecer, lhe despertei com acordes de “In My Life” e a canção de Lennon e McCartney, no meu violoncelo, lhe causou uma profunda comoção.

Outro dia, empolgado e para que todos vissem, afixou uma placa em frente ao prédio: “Futuras Instalações – Escola de Línguas e Artes Plásticas Professor Maciel. Depois foi ao banco tratar do empréstimo para a reforma. No fusca, ao se chocar com um ônibus, somente ele morreu, somente ele... Esqueça o ressuscitar dos mortos e não perca tempo, Doutor!”

Preocupado, solicitei exames, prescrevi um antidepressivo, lembrei de “Morte em Veneza” e agendei um retorno muito em breve. Mas, Joaquim desapareceu e, dias depois, num amanhecer, foi encontrado enforcado. O corpo pendia da grande árvore que existia em frente ao casarão. Embora psiquiatra, eu nunca mais aceitei um paciente como aquele.

Até hoje, o casarão continua abandonado. E o povo conta que em noites de chuva, quando sopra o vento, suas portas batem, surge um gato preto e escapa lá de dentro, num misto de violoncelo e voz humana, meio grito, meio gemido: meu filho, meu querido, meu irmão...


(*) Médico-cardiologista 















sábado, 4 de novembro de 2017

...NÓS É QUE ESTARÍAMOS PRESOS”- José Nílton Mariano Saraiva


Metade do mundo e a outra banda sabem que a tal Operação Lava Jato, na perspectiva do seu arquiteto e executor, o deslumbrado juiz de primeira instância, Sérgio Moro, pretendia assemelhar-se e ser uma cópia fiel da Operação Mani Pulite (Mãos Limpas), levada a efeito na Itália em meados da década 90 e que, no entendimento do dito cujo, fora a redenção daquele país (na verdade, Mani Pulite quase destruiu a Itália).


Procuramos mostrar isso na postagem “O Catecismo do Moro”, de nossa lavra (quase dois anos atrás), onde destrinchamos, item por item, o trabalho de autoria do respectivo (“Considerações a respeito da Operação Mani Pulite”), onde Moro delineia, pari passu, o que pretendia executar depois do retumbante fracasso que houvera experimentado anos atrás quando da operação “Contas CC5” do Banestado, no Paraná (coincidentemente envolvendo o mesmo doleiro-bandido Alberto Yousseff, à época vergonhosamente absolvido por Sua Excelência).


Basicamente, a ideia era se valer de um tema de imenso apoio popular (no caso, o pretenso combate à “corrupção”) para, a partir daí, desencadear uma demolidora ofensiva contra partidos políticos e seus principais líderes, exterminando-os (só que, no caso, um só partido político (o PT) foi alvo, com o objetivo de impedir, por cima de pau e pedra, que o seu principal líder, Lula da Silva, retornasse ao poder, nos braços do povo).


Para tanto, pelo roteiro elaborado por Moro, a principal providência seria obter o necessário apoio das principais corporações midiáticas (claramente refratárias ao PT/Lula) como forma de convencer a população da necessidade de “passar por cima” da própria Carta Maior (Constituição Federal), a fim de atingir o objetivo colimado.


E aí, tivemos um verdadeiro “festival de abusos” de Moro e sua equipe, que, contando com o beneplácito e a inexplicável conivência dos frouxos e prolixos integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), desandaram a exorbitar das suas funções: prisões preventivas alongadas e sem necessidade de provas (objetivando forçar o detido a “dedurar” os demais), conduções coercitivas sem a antecipada notificação judicial, interceptações telefônicas ilegais (e a posterior criminosa divulgação do seu conteúdo para a grande mídia), censura dos processos aos defensores do acusado (impedindo-os de “advogarem”), e por aí vai.


A destacar, o encarceramento abusivo de "supostos" suspeitos e a posterior obtenção, a fórceps, das tais “delações premiadas” (que, por lei, deveriam ser voluntárias) principalmente envolvendo “portentos” da construção civil e outros “empresários bandidos” que se locupletavam com o dinheiro público, num ilusório aviso de que “dessa vez a coisa vai”. Só que “esqueceram” do efeito colateral daí resultante: que sem um prévio acordo de leniência, as grandes empresas nacionais envolvidas tenderiam a rapidamente “ir pra onde a vaca vai" (pro brejo). Por conta disso, desde então o desemprego campeia nas áreas atingidas, e está aí pra todos verem.


Fato é que, guindado à condição de pop-stars e de figurinhas-carimbadas das principais revistas, jornais e TVs, Sérgio Moro e seus procuradores, ao contrário do que recomendam os manuais, abandonaram de vez a discrição, recato e prudência necessárias e exigidas de um magistrado e passaram a pulular em eventos de qualquer natureza: sociais, políticos, midiáticos e por aí vai (holofotes e bajulação, não lhes faltam).


No mais recente (internacional), com Sérgio Moro e seus procuradores agora na plateia, eis que o inusitado se fez presente: o principal convidado, o italiano Gherardo Colombo, um dos magistrados que participaram da Operação Mani Pulite (Mãos Limpas) na Itália, inquirido a traçar um paralelismo das duas operações, contundentemente vociferou: “SE TIVÉSSEMOS FEITO O MESMO QUE A LAVA JATO, NÓS É QUE ESTARÍAMOS PRESOS” e, ainda, asseverando que “olhando retrospectivamente hoje, podemos entender que a corrupção na Itália não diminuiu, absolutamente”. Portanto, desmoralização pública e explícita do modus operandi adotado por Moro e cupinchas.


Assim, talvez a única certeza nisso tudo é que, se na Itália, por conta da Operação Mani Pulite, emergiu no cenário político o mafioso Sílvio Berlusconi, que acabou de destroçar com o país, no Brasil temos a temporária e perigosa ascensão do comprovadamente despreparado ultraconservador Jair Bolsonaro, que, na perspectiva da inviabilização da candidatura Lula da Silva (“objeto de desejo” de Sérgio Moro e seus procuradores), pode, sim, atingir o poder, conforme mostram as pesquisas.


E aí, que Lúcifer tenha pena do nosso Brasil.