segunda-feira, 31 de março de 2008

Meu caminhar é solitário
Que adianta voltar
pra buscar o que não ficou ?

Nem gente , nem pacote,
atrasam as minhas idas , sem voltas

Volto só no pensamento ,
quando o tempo é escravo

No presente ele é Senhor
Acelera ou adormece um desejo animado

Já disse tantos adeuses
Já fiquei de mãos vazias, embargada de saudades
Já tentei reconduzir algum caso terminado

É só uma questão de tempo ...
Tudo acaba numa pia ...
Resto de café , farelos de pão,
flores despetaladas , noite que virou manhã

Não gosto de despedidas ...
Mas elas estão sempre ,
na pauta dos meus dias !

domingo, 30 de março de 2008

Instituto Cultural do Cariri, posse do poeta Everardo Norões de Arraes

Em solenidade realizada neste sábado no ICC, o poeta Everardo Norões de Arraes assumiu a cadeira que tinha como patrono o ex Prefeito Alexandre Arraes, numa solenidade em que estiveram presente intelectuais e personalidades da sociedade cratense.
Natural de Crato, Everardo Norões Arraes, foi exilado político e morou na França, Argélia, e Moçambique. Atualmente reside em Recife/Pernambuco. Publicou vários livros de poemas, dentre eles, A Rua do Padre Inglês. Traduziu importantes livros de escritores latinos americanos e antologia poética do Mexicano Carlos Pellicer. Escreveu peça de teatro com Ronaldo Brito, enfim, um homem culto com uma vasta bagagem cultural.


É de sua autoria:

TRISTÃO
As palavras no alforje. E o rosário,
A escorrer das penas e dos dias.
O azul da barba lembra uma paisagem
Onde campeiam cabras. E ramagens
Desata-se em sombras nas janelas.
A morrinha dos bichos. O mormaço,
Trazendo o desespero, em vez de março:
Um luto atravancando as taramelas.
A sela desapeada. E na garupa do cavalo,
A sentença das esporas.
Pendentes dos estribos estão às horas,
Relampejo de facas. E o sono da jurema.
O braço descarnado, O giz dos dentes,
E olho além do corpo do poema.
No chão do meu degredo, sempre chão,
Setes frases do ofício e um bordão.

Foto: Pachelly Jamacaru

NORMANDO - O DALÍ DO SERTÃO


Por Joilson Kariry Rodrigues

Inicio dos anos 80 - O caldeirão da cultura fervia um caldo de arte e anarquia nas trempes do Cariri, cada um adicionando uma pitada de tempero a seu gosto. O homem do sertão, Normando, apimentou o guisado. Ressuscitou Antonio Conselheiro, tomou-lhe o cajado e a língua ferina, fez-se do mesmo barro que modelou Gonzagão e Patativa, dessa argila desidratada que assoalha o sertão. Deu-se para a caatinga, recolhendo ossos e o sal do torrão, fez arte, destemperou o caldo. Usava a grife Salvador Dalí: fartos bigodes, costelas salientadas, e a genialidade de igual a igual, pau a pau como se diz hoje. Conheci Normando na aridez desses tempos, anos 80. O Crato era de açúcar e fel, ora se afogando nos descontroles das nuvens, ora se esturricando sob a impiedade de Helios, o deus sol. Era refugio dos donos das artes, dos loucos que aprendi a amar, dos anarquistas, era casa da mãe Joana. Normando me apresentou o Crato levando-me a dá o meu primeiro passeio de elevador. Fingiu não rir da minha cara abobalhada, do meu extasio de menino que descobre o mundo para além das ribeiras do Cariús; e deu-me de presente essa cidade, os loucos, os artistas e os anarquistas. Lembro-me do desenho de giz na calçada da Sé, um sertanejo crucificado num cabo de enxada, riscado numa madrugada de insônia. Nesse dia dividimos o último cigarro, a abstinência de um gole de cachaça, as risadas que acordaram padre Bosco. Ele me convencia a engajar nos movimentos liderados por Leonel Araripe e Carlos Rafael, como se eu tivesse importância pro movimento. As sobras do giz viraram uma escultura de sereia nua em suas mãos gigantescas, talhada e esculpida por uma tampa de caneta Bic, para depois ser atirada nas águas do canal, e foi, boiando, para as águas do oceano que eu ainda não conhecia, encantar marinheiros distraídos. Esperamos os derradeiros suspiros da lua nos batentes da catedral. E quando o sol veio cumprir sua sina de alumiar o sertão já estávamos na porta de Carlos Rafael, como dois remanescentes da boemia que se negam aceitar o fim da noite, vampiros à luz do dia. Senti ali que o sertão me regurgitava de suas entranhas, o mundo não era só ali e Normando me disse isso no dia que me descobriu num esquete de escola em Farias Brito. Era difícil acreditar que eu tivesse algum talento diante das mil faces artísticas dele, mas ele achou que eu tinha. Normando Rodrigues era Pintor, Desenhista, Escritor, Poeta, Escultor, Artesão, Ceramista, Gravurista, Xilógrafo, entre outras atividades que exerceu. A figura mais fantástica que eu já conheci. Um gênio.

sábado, 29 de março de 2008

Imagine*



Imagine não existir o paraíso
É fácil se você tentar
mas também nada abaixo de nós
E sobre a gente apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo simplesmente o agora
Imagine não existir fronteiras
Não é difícil imaginar
Nada porque morrer ou matar
Nenhum dogma também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Imagine nenhuma propriedade
Seria demais conseguir
Nenhuma necessidade de lucro
Muito menos a miséria do prejuízo
(Melhor seria uma irmandade de irmãos)
Imagine todos dividindo a riqueza deste mundo
Podem dizer que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Existem milhões iguais
E eu espero que algum dia você se junte a nós
E o mundo será o nosso lar


* Tradução livre

Amanhecida



Amanheceu molhado
O sol precisa de nuvens , quando o tempo estia ?
De onde saem os gatos , que passeiam nos telhados ?
Borboletas , pardais , e o verde matizado ...
Fauna e flora doméstica , me aquieta e alucina !
Perco o sono , e desfilo no silêncio das escadas ...
O passado é misto de sonhos e pesadelos ...
A paixão pela vida , ainda sobrevive !

quinta-feira, 27 de março de 2008

Pelas lentes de Fellini: 1964

Eu tinha doze anos em 31 de março de 1964. As lembranças que tanto marcaram minha geração não possuem o romantismo de Casimiro de Abreu. Para mim, são imagens aleatórias como as do filme Amarcord, de Federico Fellini. Tanto na cidadezinha italiana de Rimini, como no Crato, dois meninos assistiram ao espetáculo do fascismo, sem compreender o que se passava. Em Rimini, os sinos da igreja tocavam pela chegada da primavera e pela visita de Mussolini. Na minha cidade, mandaram tocar os sinos em louvor ao golpe militar, que bania o perigo do comunismo ateu. E mais tarde, Igreja e Prefeitura ofereceram um banquete das arábias na visita de Castelo Branco, o cearense ditador.

No dia 13 de março, meu pai ouvira o comício da Central do Brasil, num velho rádio Philips que antes funcionava a bateria. Lembro os discursos de Arraes, Brizola e João Goulart, pois o rádio ficava junto de minha rede, e eu não conseguia dormir com o barulho. Achei a voz de Brizola parecida com a dos profetas de Juazeiro do Padrinho Cícero. Os personagens da cena política brasileira não significavam quase nada para mim, mais ocupado com os banhos nas nascentes do Cariri, o cinema e as revistas em quadrinho. Minha mãe sempre temerosa de tudo acendia velas para Nossa Senhora Aparecida, uma santa de porcelana que ganhei de uma tia, quando fiz a primeira comunhão.

Meu pai, um udenista fervoroso, votara em Jânio Quadros para presidente, e durante a campanha política usava uma vassourinha dourada, presa ao bolso da camisa. Tomou um porre no dia em que saiu o resultado da eleição. Foi a primeira vez que eu o vi embriagado. Minha mãe, como todas as esposas da época, votava com o marido e estava mais preocupada com a administração da casa, de sete filhos, um irmão solteiro, dois sobrinhos e três empregadas, todos sustentados por meu pai.

Prenderam nosso vizinho Dedé Alencar. Ele botou na vitrola um disco da campanha de Miguel Arraes e deixou que tocasse o dia inteiro. Falaram que era comunista, mas nunca foi. Vivia ocupado com o comércio de farinha de mandioca, num armazém perto da estação do trem. Foi solto no começo da noite. A mesma sorte não teve um bancário de nossa rua. Levaram o rapaz de manhãzinha, quando passávamos pro colégio. A esposa perguntava aos curiosos se nunca tinham visto um homem sendo preso.

Havia muito alvoroço em torno da casa de D. Benigna, mãe de Miguel Arraes, uma casa sertaneja de portas sempre abertas, onde todos eram bem recebidos, proseavam e enchiam a barriga. As irmãs do governador de Pernambuco cantavam no coro da igreja de São Vicente, onde eu assistia missa. Dona Anilda, a mais velha, foi minha professora de francês e um dia me passou uma reprimenda porque falei que o hino do Brasil era mais bonito que a Marselhesa.

Pairava sobre as pessoas mais interessantes do Crato a suspeita de serem comunistas. Ninguém falava com elas, pois era perigoso. Igualzinho ao tempo da epidemia de peste bubônica na cidade. Prendiam os suspeitos da doença, levavam para um hospital e de lá eles nunca retornavam. Nem sei que fim levou os jogadores de gamão e seus copos de conhaque. E o revendedor de cigarros, o dono da sapataria com um palito entre os dentes, duas professoras gaúchas e um padre que ensinava história?

Nós meninos, para quem as notícias tardavam nos jornais do cinema, compreendíamos vagamente a revolução. Havia as novelas de rádio, doutrinárias contra o comunismo; havia a "Aliança para o Progresso", que mandava alimentos e roupas usadas dos americanos para os pobres; e havia a sonhada visita ao Brasil de John Kennedy e sua esposa Jacqueline.

Só em 1968 pude enxergar de perto o lado truculento de 64. As lentes da câmera se modificaram e fotografei estudantes sendo trucidados e jogados dentro de camburões, em Fortaleza. Em 1970, quando estudava medicina no Recife, nosso professor de anatomia ameaçou-nos com o Quarto Exército. Tentava nos manter submissos com o terror. Mas essas já são outras lembranças, bem pouco fellinianas.


Ronaldo Correia de Brito é médico e escritor. Escreveu Faca e Livro dos Homens.

Fale com Ronaldo Correia de Brito: ronaldo_correia@terra.com.br

Deixem Lula falar com a patuléia

LULA CONSEGUIU construir sua agenda e ninguém conseguirá tirá-lo do trilho. É um cestão com progresso (5,4%) e aumento do consumo das famílias (13,4%). Há mais carne no prato e menos mês no fim do salário.
Nosso Guia impôs sua agenda falando diretamente à patuléia. É injusto querer limitar seus movimentos. Em 2002, quando FFHH recebeu seu 18º título de doutor honoris causa na Universidade de Oxford, vivia sua campanha, no mundo encantado que tanto aprecia. Pulando de palanque em palanque e torturando a gramática, Lula faz campanha em outro mundo, o de seus encantos.
Assim como a estabilidade da moeda saiu da agenda de FFHH , impondo-se a Lula e ao PT, o cestão de Nosso Guia haverá de demarcar os rumos da política brasileira por um bom tempo. Seria aquilo que o governador Aécio Neves chama de "Pós-Lula".
O "Pós-Lula" já começou. É um quadro no qual não adianta xingar os programas sociais. O coração dessas iniciativas, como a leis trabalhistas de Getúlio Vargas, o fundo de garantia de Castello Branco, o Funrural de Emílio Médici, tornaram-se parte da sociedade brasileira. Podem mudar, mas não acabam. Pelo contrário, acabará quem propuser que acabem.
No bojo desse êxito está o desafio do "Pós-Lula". Já não há cartões para distribuir ao andar de baixo. O baú da transferência de renda esvaziou-se, ajudando a criar um Brasil diferente. Não se trata mais de pensar na família que está na miséria, mas de milhões de pessoas que saíram dela, ou que viajaram no "elevador social".
Coisas que hoje parecem idéias de jerico poderão entrar na agenda. Por exemplo: a universalização de um plano de saúde básico. É desnecessário lembrar que esse é um dos principais assuntos da campanha eleitoral americana. Seria necessário misturar o SUS com as operadoras de serviços privados. Coisa dificílima, mas, quando se trata de tungar a Viúva, é matéria fácil. Até hoje ela não conseguiu receber regularmente o dinheiro que gasta com o atendimento, na rede pública, de segurados de empresas privadas.
Por que São Paulo, como Nova York, Londres e Paris, têm bilhete único de transporte público, e o Rio de Janeiro não tem? Teria, segundo o governador Sérgio Cabral, no final deste ano, mas a promessa ficou para maio de 2009 e há um forte cheiro de empulhação no palavrório disponível. Por que o programa de regularização de lotes urbanos só é um êxito em Manaus?
No "Pós-Lula" será necessário mudar a qualidade da discussão de assuntos desse tipo. Em geral, os burocratas sacralizam um obstáculo e esterilizam as propostas. Assim, o ressarcimento do SUS não anda porque as operadoras vão à Justiça. Lorota. O jogo virará no dia em que o ministro da Saúde mostrar ao país o caso de um magano que paga ao plano de saúde e, tendo batido com o carro, foi para um pronto-socorro onde seu tratamento custou uma fortuna, mas o SUS levou um beiço.
No dia em que governadores e prefeitos botarem a boca no mundo, virarão o jogo dos transportes públicos em todas as cidades dominadas por cartéis semelhantes ao do Rio de Janeiro.
Na área da educação e da segurança pública, há dezenas de temas semelhantes. Cada um terá sua trava, mas nenhuma dessas travas resiste à exposição pública. Talvez a principal novidade do "Pós-Lula" seja que a patuléia veio para ficar.

Élio Gaspari
Folha de São Paulo

A Descendência de Caim



“ Que fizeste ! Eis que a voz do sangue
do teu irmão clama por mim desde a terra. De ora
em diante , serás maldito e expulso da terra, que abriu
sua boca para beber de tua mão o sangue do teu irmão.
.......................................................................................
Caim retirou-se da presença do Senhor , e foi habitar
na região de Nod, ao oriente do Éden”
Gênesis 4.10-4.16


A violência tem se tornado uma irmã siamesa da sociedade moderna. Mal se abrem as folhas do jornal ou comprime-se o botão do remoto, imediatamente salta à nossa frente a rubra tinta com que é escrita, hoje, -- mais que nunca-- a história da nossa humanidade. O leitor há de lembrar não ter sido nos últimos anos o desencadeamento da luta fratricida. Desde as cavernas , até o Shopping Center , o homem tem uma terrível trajetória. À medida que a Ciência avançava, avassaladoramente, em busca do conhecimento e das descobertas que poderiam curar moléstias , minorar o sofrimento, proporcionar o conforto ia, por outro lado, criando as guerras, alimentando as diferenças, acendendo as fogueiras, forjando os grilhões. Ao descer das árvores nosso irmão primata trouxe consigo a inteligência criadora numa mão, mas na outra teimou em carregar ainda os rapaces instintos da floresta que havia acabado de abandonar. O homem é esta mescla de lobo e cordeiro , de anjo e demônio.
O que mudou, enfim, nos últimos anos ? Por que a violência tem se tornado cada vez mais presente e insuportável para nós ? Claro que com o boom dos meios de comunicação, começamos a ter olhos espalhados por todo planeta. O massacre dos monges budistas do Tibet nos entra de porta adentro, como se estivesse acontecendo na nossa calçada. E aí salta, de repente, a pergunta na nossa frente : até que ponto presenciar tanta chacina , tanto sangue escorrendo rua abaixo, até que ponto isto termina por nos embotar a vista e fazer com que toda violência se banhe num enganador molho de normalidade ? E ainda, qual a influência destas notícias em despertar o demônio dormente nas cotidianas testemunhas oculares dos crimes da humanidade ? Estas questões são polêmicas e aqui ficam para reflexão. Alguma coisa, no entanto mudou nos tempos modernos: a crescente capacidade destruidora humana com a fabricação de armas de destruição em massa. Bons tempos aqueles em que o homem dizia-se lobo do homem, hoje o homem é a alcatéia do seu semelhante.
Esta semana , aqui em Crato, todos se espantaram com a notícia do assassinato de um jovem e promissor advogado, aparentemente contratado pela própria esposa e o amante dela. O pretenso motivo, o mais antigo da história deste mundo : dinheiro que deveria vir de um seguro de vida. O grosso da população comentou em todos os cantos e lugares, aparentando uma consternação distante e mal disfarçando aquele ar sádico que permeia a maior parte das nossas relações sociais. No fundo, todos estavam, de alguma maneira, felizes com a notícia que haveria de alimentar as línguas nos próximos quinze dias, até ser substituída por uma outra, de preferência, igualmente cabeluda. Pouco se ativeram à tragédia terrível que tinham pela frente: um jovem advogado que teve a vida ceifada impiedosamente; uma adolescente plena de conflitos da própria idade e que tem a vida definitivamente arruinada e seu filho órfão de pai e mãe e que terá que crescer carregando consigo o peso de muitos cadáveres às costas. Antes dos nossos juízes de plantão, nas praças, clubes, mesas de bar, declararem as suas sentenças , lembremos que ninguém tem consigo os autos do sentimento, das emoções, das fragilidades pessoais para ter condições de fazer juízo de valor sobre o caso. As famílias envolvidas já carregam consigo tanta dor, tanto sofrimento que ninguém tem o direito de torturá-las mais ainda. Deixemos que a justiça siga seus passos , investigue e julgue imparcialmente . A vida, por outro lado, haverá de sorrateiramente fazer a sua parte, ninguém mexe no equilíbrio do universo impunemente.
E não se engane não, caro leitor, qualquer homem nesta terra é capaz da mais inimaginável atrocidade. Os maiores crimes da humanidade foram cometidos por pessoas perfeitamente normais aos olhos do povo, meros burocratas, a maior parte das vezes cumprindo ordens. Todos nós, queiramos ou não, fazemos parte da descendência de Caim. Se puros, perfeitos e imaculados estaríamos no Éden. Imperfeitos como somos, um dia tivemos de arrumar os trapos e nos mudamos para as frias terras de Nod.


J. Flávio Vieira

A Bíblia de Gutenberg


Estranho paradoxo: enquanto a CNBB pressiona contra as pesquisas com células-tronco, a PUC-RS valoriza estudos que procuram verificar a existência de "cérebros criminosos". Se a vida é dom divino, a violência pode estar inscrita nos genes? Reflexões sobre o papel a que a igreja renuncia

No filme O Dia Depois de Amanhã, dirigido por Roland Emmerich, especula-se sobre os efeitos climáticos provocados pelo aquecimento global. Nele, o climatologista Jack Hall (Dennis Quaid) vê seu filho de 17 anos, Sam, (Jake Gyllenhaal) preso em Nova York, onde tem de enfrentar as fortes inundações e o declínio dramático das temperaturas. Refugiado em uma biblioteca pública, Sam tem a companhia de sua namorada e amigos, além dos bibliotecários. Para se manterem aquecidos e vivos, eles decidem queimar os livros na lareira, até então desativada.

Em dado momento do filme, um dos bibliotecários agarra decididamente uma das 180 versões impressas da Bíblia de Gutenberg. Não por fé em Deus: ele se declara ateu. Decide defender da fogueira um dos símbolos da era da razão: a invenção da imprensa, por Johann Gutenberg (em 1450), que ajudou a deixar para trás as sombras da Idade Média.

Foram necessários mais alguns séculos para que, em meados do século 18, a ciência moderna, saída da revolução científica do século 16 pelas mãos de Copérnico, Galileu e Newton, começasse a deixar os cálculos esotéricos dos seus cultores, para se transformar no fermento de uma transformação técnica e social sem precedentes na história da humanidade.

Fala-se da vida como algo subjetivo, intencional e natural de Deus, reduzindo a ciência a uma ameaça — quando, na realidade, é a vida que deveria justificar as pesquisas humanas
Essa foi uma fase de transição. Deixava perplexos os espíritos mais atentos e os fazia refletir sobre os fundamentos da sociedade em que viviam e os possíveis impactos positivos da ordem científica então emergente. Mais de 200 anos depois, somos todos protagonistas e produtos dessa nova ordem — testemunhos vivos das transformações que ela produziu.

Se Gutemberg precisou inventar uma prensa de tipos móveis e levou aproximadamente cinco anos para imprimir 1282 páginas da Bíblia, vivemos hoje em tempos “reais”, onde acontecimentos em qualquer parte do planeta invadem nosso presente do aqui e agora. Não falamos mais de tipos móveis, mas de nanotecnologia, que foi expressa em 1972 (ou seja, há 35 anos) como algo distante e ficcional. Hoje, está presente nas roupas que usamos diariamente, nas chuteiras das fabricantes milionárias de material esportivo e na produção de alimentos, para não nos estendermos a outros ramos da produção.

No Brasil, o dilema das pesquisas sobre as células-tronco coloca em xeque sentimentos e dogmas religiosos, relacionados à Igreja Católica. Fala-se da vida como algo subjetivo, intencional e natural de Deus, reduzindo a ciência e as pesquisas a uma ameaça — quando, na realidade, é a vida que deveria justificar as pesquisas humanas.

* * *
Em 1975, o diretor Milos Forman, baseado no livro de Ken Kesey, dirigiu o polêmico filme “Um estranho no ninho” (One Flew Over the Cuckoo’s Nest), uma crítica e denúncia do sistema dos manicômios. Nele, Randle Patrick McMurphy (Jack Nicholson), um prisioneiro, simula estar insano para não trabalhar, e vai parar numa instituição para doentes mentais. Lá, ele estimula os internos a se revoltarem contra as rígidas normas impostas pela enfermeira-chefe Ratched (Louise Fletcher). Mas não tem idéia do preço que irá pagar por desafiar uma clínica "especializada". Ao final, tem um lobo de seu cérebro extirpado por uma cirurgia, como solução e controle.

No mesmo momento em que a CNBB condena as pesquisas com células-tronco, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) está iniciando, em Porto Alegre, estudos que parecem inspirados pelas mesmas teorias que recomendam a lobotomia. O Programa Fantástico de 27 de janeiro revelou seu sentido: “O que leva uma pessoa a cometer um assassinato?". Os pesquisadores explicaram que estudarão os cérebros de jovens envolvidos em crimes bárbaros, para buscar a resposta.

Cerca de 50 jovens, entre 15 e 21 anos, de um total de 680 internos da Febem gaúcha, serão “cobaias”. Eles terão o cérebro examinado em uma máquina de ressonância magnética funcional, que mostra o cérebro em funcionamento. "O cérebro do delinqüente, sofreu, mudou, é diferente? Vamos investigar", diz Mirna Portuguez, neuropsicóloga da PUC/RS.

Os neurocientistas esperam comprovar uma suspeita: a de que os homicidas têm partes do cérebro atrofiadas, reduzidas de tamanho. A mais importante delas é o lobo-frontal, que controla os impulsos dos seres humanos. Segundo as idéias que parecem orientar os pesquisadores, uma causa essencial da violência humana é atrofia do lobo frontal do cérebro. As pessoas com esta característica teriam mais dificuldade para conter seus instintos -– um traço que seria típico do comportamento assassino.

Pesquisas como as da PUC-RS suscitam dois tipos de protesto. O primeiro é ético. "Estamos tratando de adolescentes. Não são cães, nem macacos. São pessoas”, acusa Ana Luiza de Souza Castro, psicóloga do juizado de menores do Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, parte das próprias pesquisas com animais tem sido contestada, por crueldade e futilidade.

Do ponto de vista científico, tais estudos ecoam a tentativa de naturalizar, ou biologizar distúrbios e conflitos sociais. Remetem, por exemplo, ao I Congresso de Antropologia Criminal, realizado em Roma, em 1885, no qual as teses e propostas de Cesare Lombroso [1] obtiveram grande sucesso e reconhecimento.

Entre muitas outras obras escritas deste então, o livro Crime e loucura, de Sérgio Luís Carrara oferece uma alternativa à idéia do crime-doença. Ao juntar as monomanias (delirantes, raciocinantes e instintivas), ele aponta a existência de uma "culpa sem razão" ou de uma "razão sem culpa". Somos culturalmente determinados por heranças sociais, que se manifestam em nosso corpo biológico — não o contrário, como insistem os sociobiologicistas de laboratório, acostumados a hamsters e cadáveres.

A igreja poderia jogar papel muito positivo. Para tanto, seria preciso superar uma velha disputa entre ciência e religião — e refletir sobre a propriedade do conhecimento
Não me recordo de polêmica proposta pelo Vaticano ou CNBB para se contrapor ao tipo de "estudo" pretendido pela PUC-RS e alardeado pelo Fantástico. Ao voltar-se, em vez disso, contra as pesquisas com células-tronco, a igreja católica desperdiça uma enorme possibilidade. Sua ação poderia ser de grande relevância para ajudar a fazer contraponto ao uso das descobertas científicas em favor de objetivos pouco éticos: a devastação da natureza, a ampliação das desigualdades, a emergência de grupos sociais ou nações capazes de exercer dominação sobre outros. É algo que tem ocorrido invariavelmente, nos últimos 200 anos.

Para tanto, seria preciso superar uma velha disputa entre ciência e religião — e refletir sobre a propriedade do conhecimento. Adorno, Benjamim e a chamada Escola de Frankfurt cunharam o conceito de indústria cultural, para criticar a transformação do lazer e entretenimento em objetos de consumo e de uso político e ideológico. Hoje, há uma indústria da vida sendo desenhada — desde as pesquisas realizadas pela Alemanha nazista e os EUA, durante a Segunda Guerra e Guerra Fria. No combate a esta tendência, todas as religiões seriam muito bem-vindas.

Mais de 500 anos depois de os povos da África serem escravizados pelos europeus, o Papa João Paulo II, talvez como um ato de grandiosidade humana à beira da extrema-unção, pediu perdão pelos crimes de omissão e participação da Igreja Católica. Não sem tempo, as contradições da Igreja continuam.


Alexandre Machado Rosa
"Le Monde Diplomatique"

Uma Semana Santa que não seja de mentira


Passei a Semana Santa no Crato, uma cidade do Ceará próxima a Juazeiro do Norte, que ainda celebra os rituais da Paixão e Ressurreição de Cristo, como se estivéssemos na Idade Média. O Crato possui bispado e já foi a mais importante cidade cearense. Há algum tempo perdeu o prestígio para a vizinha Juazeiro, que ganhou fama e prosperidade por causa do Padre Cícero Romão Batista, o Padrinho Ciço.

Numa pesquisa realizada durante a primeira visita do Papa João Paulo II, ao Brasil, descobriu-se que o Ceará era o estado com maior número percentual de católicos praticantes. A julgar pelo que vi agora, a pesquisa não errou. A Via Sacra e a procissão do Senhor Morto foram acompanhadas por milhares de fiéis, que nem cabiam na Igreja Matriz do Crato. Ninguém se queixava nem arredava pé das cerimônias litúrgicas que duravam até mais de cinco horas. E no Juazeiro do Norte, chegavam centenas de carros cheios de romeiros, que vinham celebrar o Padrinho e a Mãe das Dores, com louvores populares e simples.

A Igreja continua apostando na força do teatro que encena. E na tirania do pecado e da culpa com que ameaça os fiéis. Nas cidades cearenses de Barbalha, Missão Velha e Várzea Alegre ainda se encontram grupos de penitentes vestidos de opas negras e capuzes cobrindo os rostos, que se fustigam com lâminas cortantes, até sangrar. Mas os penitentes já não se cortam tanto, não escondem a identidade como no passado e gostam de ser filmados pelas câmeras de televisão. Praticam o costume da penitência muito mais por um hábito cultural estimulado por prefeituras e instituições folclóricas, do que por fé religiosa. Embora afirmem o contrário, na frente dos microfones.

Os padres e bispos da Igreja do Crato rechearam os sermões da Semana Santa com pedidos pelos marginalizados, crianças abandonadas, doentes e explorados. No papado de João XXIII surgiu a Teologia da Libertação e a opção pelos mais pobres, que aproximou um segmento da Igreja Católica da política de esquerda. Com João Paulo II, o clero liberal foi para escanteio, e Bento XVI reafirmou uma Igreja mais preocupada com as questões da alma. O novo papa condenou com mais veemência o controle da natalidade, o aborto, as pesquisas genéticas e os casamentos entre homossexuais.

No Ceará, são alarmantes os índices de prostituição infantil e de adolescentes. Fortaleza é um dos principais endereços do turismo sexual. Também é altíssimo o número de menores gestantes, usuários de álcool e drogas. A maioria das cidades sertanejas tem baixo IDH e baixa escolaridade. Mas a Igreja Católica ataca os métodos anticoncepcionais - o uso de preservativos, de pílulas e dispositivos intra-uterinos - como se fossem pecados infernais. Finge ignorar que um dos maiores dramas da pobreza são os filhos indesejados. Em nome do direito à vida, deixa que proliferem vidas miseráveis.

O hino mais cantado na Via Sacra tinha o seguinte refrão: "Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente". O "eu vim" se refere a Jesus Cristo. Não sei a que plenitude a Igreja se refere. À do espírito? É possível a plenitude do espírito pela simples representação do cerimonial? Os escândalos com padres pedófilos apontam para uma ausência de plenitude amorosa dos sacerdotes. Atacando o casamento homossexual a Igreja Católica faz vista grossa aos padres gays. Para que todos tenham vida plena, é preciso acabar com o celibato, celebrar casamentos heterossexuais e homossexuais. Talvez, assim, os rituais se tornem menos teatro e mais vida.


Ronaldo Correia de Brito é médico e escritor. Escreveu Faca e Livro dos Homens.Colunista do Site Terra Magazine

ronaldo_correia@terra.com.br

SHOW DE LANÇAMENTO DO CD DA BANDA HERDEIROS DO REI


O show de lançamento do primeiro CD da banda Herdeiros do Rei será neste próximo dia 5 de abril (sábado), às 21 horas, no Café Estação, localizado no Centro de Referência Cultural do Araripe, antiga Estação da Reffsa, em Crato.
A banda Herdeiros do Rei, integrada por músicos radicados em Crato, é especializada na interpretação de legítimos gêneros e ritmos musicais nordestinos, como baião, xote, coco, embolada, xaxado e forró pé-de-serra.
O CD de estréia traz 17 músicas de autoria do próprio grupo, com destaque para as letras que homenageiam Luiz Gonzaga, maior referência do grupo, Padre Cícero e o Beato José Lourenço. Nas suas composições, o grupo trata também de questões sociais, como a transposição do Rio São Francisco.
O show de lançamento contará com a participação especial da banda de reggae cratense Liberdade e Raiz.
O acesso é gratuito.

Apoio: Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, através da Lei de Incentivo à cultura nº 12.464.

Que lição tirar disso

Emerson Monteiro

Perante o grave problema em que, nos tempos atuais, se transformou a droga, o assunto impõe, sem sombra de dúvidas, considerações diversas a respeito e representa o maior dos desafios jamais impostos à civilização. Tipo de fera destruidora da saúde moral, abalo do equilíbrio mental e fonte de desânimo das sociedades, por mais que se proponham, não existem meios suficientes de combater à altura esse mal, que já avassala, sobremodo, os jovens, numa cobrança dolorosa, de prejuízos incalculáveis.

Variadas hipóteses, contudo, querem a encontrar a cura de tamanha destruição de personalidades, da família, do idealismo coletivo e da inocência original, somados aos danos genéticos que ferem, de comum, as futuras gerações. Uns avisam que maior educação corrigiria o rumo da escalada viciosa. Outros indicam a eliminação do mal através das ações de extermínio do cultivo das plantas, nos locais de produção. Outros, também, optam pela coerção e uso intensivo das forças militares na eliminação do vício.

A história deixa elementos a mostrar que, nos tempos antigos, o uso de tais substâncias alucinantes cresceu em face dos critérios materialistas das guerras, impondo com seu uso, a cidadãos pacíficos, propostas cruéis no trato dos semelhantes, por ocasião de confrontos nos campos da luta. Hoje, ao relacionar a vulgarização da violência das páginas policiais com a droga, o analista apenas percorre, em sentido contrário, o que aconteceu no passado. Se agora os itens criminosos aumentam juntos do uso de álcool e demais substâncias tóxicas, conforme as estatísticas, desde séculos que os exércitos usam bebidas alcoólicas e outras substâncias, a prejudicar o cérebro, no objetivo de transformar pessoas cordiais em máquinas de combate, andróides esses alimentados de atitudes sanguinárias para o ímpeto das batalhas.

Com o girar dos dias, porém, somadas as guerras de rapina e a instalação dos Estados nacionais indiferentes à paz reclamada pelos seres humanos, o materialismo de mercado nutriu seus parasitas, desenvolvendo os meliantes e líderes marginais da ordem moderna.

Assim, ao querer só alegar vitimação generalizada, os dirigentes no comando, livres de exceção, participam das mesmas contradições, pouco importando a direção dos destinos entre si relacionados. Mocinhos e bandidos, fãs e ídolos, amargam, em igual proporção, o pesadelo da droga e suas destruições e conseqüências, na insegurança e drama das histórias e ruas. Ao embalo de raves e baladas cotidianas, pais e filhos amargam, sob o teto da angústia, a perspectiva de um futuro sombrio.

As normas de preservar aparências reclamam, pois, conclusões realistas e abalizadas. Dessa lição corrosiva, depois do padrão típico do desespero e do medo, nada encobrirá as razões que exigem solidariedade, necessária à superação do problema. E por isso, na medida em que a verdade nasce e desanuvia a crise verificada, a espécie humana se contorce, no parto de suas limitações e buscas, diante da aventura de viver e superar os obstáculos da própria sobrevivência.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Interblogs

américa tua cintura me faz sonhar

Geraldo Urano



carnaúba
cana cuba trem
foguete meu trenó
sou ingênuo engenhoso
a lua na maison de agosto
eu tenho gosto
trem pra cuba pelo ar
doce do mar
américa tua cintura
me faz sonhar
gravo a tua voz no disco solar
de amsterdã pra la paz
é uma ladeira danada
mamãe eu quero eu quero eu quero
eu quero jogar
nessas areias de açúcar queimado
de raios tropicais


Obs.: Este é o último post (no sentido de "mais recente") do blogvagalumes.blogspot.com, um site dedicado ao poeta-maior deste cariri cósmico.

terça-feira, 25 de março de 2008

Sinal

Um vistoso galo na testa,
eis minha recompensa ao entardecer.
Bom Combate o meu:
devorador de larvas.
Ora rasteiras serenas ao pé do ralo,
ora cínicas serpenteando na caixa-d'água.
Subo ao ápice,
munido de WDG e fé.
Trágico seria se me tivesse atingido o cano no olho.
Uma testa caluda ao crepúsculo
não me estragará a noite.
Lá na cabana,
minhas formigas caseiras me esperam.
Oferecem-me devaneios.

Janela das águas


Lá fora o mundo é mar ...

Dentro de casa e de mim ,
portas e janelas ...

Meu olhar pula

Avisto tudo de forma turva

Faço conta dos anos
cumpridos e não vividos ...

Faço contas na tarde comprida

É vermelho o meu saldo de agonias

É azul o mistério dos meus dias !

segunda-feira, 24 de março de 2008

Destaque Nacional no Palco MP3!

Oi pessoal! Esses dias nosso trabalho é destaque na pagina principal do Palco MP3!
www.palcomp3.com.br

Abraços!

sábado, 22 de março de 2008

JORNAL NACIONAL DO AMOR


Ali nas primeiras horas da noite, bate aquela necessidade física inadiável de contar como foi o dia. Contar e ao mesmo tempo receber notícias tuas. Seja um épico, um feito memorável, seja uma coisa à toa, um carro na poça que quase te molha todinha, um chato que te pegou para Cristo, um chefe maluco, os comentários sobre o tempo, ainda bem que choveu, meu bem, a noite está ótima para uns tragos, para dizer aquelas coisas que não se dizem assim para qualquer uma.
Sobe a vinheta, sonoplasta picareta, é o Jornal Nacional do Amor que começa agora, uma dos momentos nobres de ter alguém na vida, conta lá que eu conto cá, e haja narrativas.
Ter alguém para dizer seu dia é melhor que sexo, melhor que costelinha de porco, melhor que lamber os beiços com o galetinho-gloss da tevê de cachorro, melhor que doce de leite, melhor que sarapatel, é tão bom que empata com todos os caprinos e feijoadas completas.
Contar para um amigo é diferente, contar para um irmão é outra história, contar para a vizinha é roubada, contar só serve, amigo, se for à boquinha da noite, e se for para a mulher que habita, sem pagar prestações, sem aluguel ou fiança, a Cohab, o BNH, o conjunto do Mirandão no Crato, o Alfredo Bandeira no Recife ou a quitinete metropolitana dos nossos pobres corazones.
O Jornal Nacional do Amor não tem mentiras de graça, somente mentiras sinceras, aquelas que melhoram as coisas, que levantam a bola, que restauram a lua de mel no auge de Canoa Quebrada, com aquele céu de Bilac, ora direis, aquela cachaça, sustança, e os lençóis de cambraia bordados, letras barrocas, “até que a morte nos separem”.
Na alegria ou na tristeza, contar o dia é a melhor das artes de estar juntos.
Do amor e suas leseiras incríveis, suas breguices, porque todo amor é brega assim como todas as cartas amorosas são ridículas; só os metidos não amam, não aprenderam nem mesmo com os brutos de Shane e de outros belos faroestes.
Do amor, seu Sthendal, nós nunca enchemos a barriga.
Eita fome de viver da gota, eita Jequitinhonha da existência.
“Ai, amor, estou tão cansada, meio enjoada, acho que vou menstruar”, ela diz, bem linda, ainda na rua, “você me agüenta mesmo assim?”, ela completa.
No que o mancebo responde com um lindo plágio: “Você me conta como foi seu dia/ E a gente diz um p'ro outro:/ - Estou com sono, vamos dormir!”
Contar sempre, porque até nossos silêncios dentro de casa deixam ecos que viram legendas para sonhos e manhãs amanteigados.


Escrito por xico sá às 11h32 (com a permissão do cratense Xico Sá, publico crônica, tirada do seu blog)

Matéria da revista VEJA que começa a circular neste domingo

Brian Soko/The New York Time


Soldados chineses defendem-se de pedras jogadas por tibetanos, em Lhasa, e monge ferido no Os tibetanos não se rendem facilmente.

Internacional


A prova dos monges
Para o Tibete, a Olimpíada de Pequim já começou e seu esporte é a pedrada


Há duas décadas, a China alicia o Tibete com todo tipo de agrado econômico. Construiu ferrovias, aeroportos, estradas, escolas e prédios públicos em uma província que, na primeira metade do século passado, ainda tinha padrão de vida medieval. Pouco adiantou. Nos últimos dez dias, os tibetanos foram às ruas para dizer que sua identidade não está à venda.

No aniversário de 49 anos do maior levante contra a invasão chinesa, ocorrida em 1950, cerca de 300 monges budistas fizeram uma passeata pacífica pedindo o retorno do Dalai-Lama, o líder espiritual máximo do budismo tibetano, exilado na Índia. A manifestação foi reprimida com violência pela polícia e dezenas de monges foram presos. Nos dias que se seguiram, tibetanos de outras províncias e de países vizinhos se rebelaram. Lojas de chineses, carros e agências do Banco da China foram destruídos. Nos conflitos, quase 100 pessoas morreram. Em Lhasa, a capital do Tibete, mais de 900 foram presas.

Para o mundo não testemunhar a brutalidade, isolou-se completamente a região. Barricadas foram montadas nas estradas e jornalistas estrangeiros, expulsos. Para o regime chinês, é uma questão de segurança nacional. A China considera que o Tibete sempre lhe pertenceu e teme que a independência da região leve ao esfacelamento de seu território. A verdade é que, antes de ser invadido, em 1950, o Tibete era um país independente com status reconhecido por outras nações. Do exílio, o Dalai-Lama disse que não almeja a independência, apenas mais autonomia.

Os tibetanos querem ensinar a própria língua nas escolas e adorar os seus líderes religiosos. Desde setembro do ano passado, uma lei chinesa estabelece que um religioso precisa do aval do Partido Comunista Chinês para ser considerado reencarnação de Buda. Em um mundo em que até os albaneses da Sérvia se viram, no mês passado, no direito de ter um estado independente, o Kosovo, fica difícil negar o mesmo ao Tibete
E a proximidade da Olimpíada de Pequim torna mais visível a luta dos tibetanos.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Declaração de amor

Não te inquietes
por mais uns quilinhos:
meu coração é frouxo,
cabe-te mais gordinha.

Molambo

Muito mais triste
que coração ressacado:
as vozes cristalinas
de vizinhos enamorados.

Um homem sem amor
merece a loucura do vinho:
coração frio e gordurento
exposto na folha de papel almaço.

Mestiça

Tu perdeste um seio,
eu o juízo.
Adoecemos por caprichos.
A mais leve brisa
lâmina cortante.
Tu tiveste tétano,
eu sífilis.
Quanta fúria despertamos
entre invejosas andorinhas.
A cada crepúsculo
lampejos de mau-agouro.
Tu perdeste cabelo,
eu acabei viciado:
álcool, fumo, versos.

Mestiça

O patrimônio arquitetônico do Cariri continua sendo destruído...


Na foto o Engenho Tupinambá, próximo à Barbalha, símbolo maior do ciclo da cana de açúçar na Região do Cariri. A cada dia que passa as instações do engenho ficam mais deterioradas. Tívessemos administradores sensíveis, o Engenho Tupinambá já teria sido desapropriado e ali instalado o Museu de Rapadura do Cariri.
Trecho de um capítulo ("O Tupinambá") do livro de Alberto Callou Torres: "Zé Major, meu avô":
"...santa saudade para quem vai com o coração a buscar reminiscência da sua infancia" - Camilo Castelo Branco
"Ao tempo de Seu Tonho, o lucro líquido (do Engenho Tupinambá) era dividido ao meio, como se observa no balanço do ano de 1922: "resulta para José Pereira Pinto Callou (Zé Major) a importância de 50% do lucro"(...)
( No meu tempoo de menino), no engenho, eu não poderia demorar muito. Aliás, não era nem para estar lá, por causa dos perigos: a fornalha quente com tachos fumegantes, a caldeira em sí, perigo constante, embora mais remoto...Para mim tudo era novidade, e grande. Pois o que eu via?Uma casa enorme, comportando burros carregados, tangidos por homens, carros de bois, máquinas e acessórios(...)Outro detalhe que me chamava a atenção era a levada de água cristalina, correndo entre o arrozal. Deslumbrava´me com ela...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Faleceu Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares

"Deus é Amor; aquele que está no amor habita em Deus e Deus nele”. Estas palavras da primeira carta de São João exprimem com clareza o centro da fé cristã: “Cremos no amor de Deus”. Desse modo o cristão pode expressar a escolha fundamental da sua vida.O início da vida cristã não se constitui numa decisão ética ou numa grande idéia, mas num acontecimento, um encontro com uma Pessoa, que abre à vida um novo horizonte, um rumo decisivo.
Bento XVI
É exatamente a descoberta de Deus Amor que abre um novo horizonte e um rumo decisivo não só na vida de Chiara Lubich, mas de milhões de pessoas.Diálogo inter-religioso. Diante dos desafios da sociedade cada vez mais multi-cultural e multi-religiosa, se evidenciam os frutos de paz gerados pelo diálogo com seguidores das diversas religiões, iniciado nos anos 70. Chiara e o Movimento Folcolare mantêm contatos não só com personalidades ou seguidores de diversas religiões, mas também com movimentos.
Budistas – Em Tóquio, em 1981, diante de 10 mil budistas, Chiara Lubich é a primeira mulher cristã a expor a sua experiência espiritual num templo budista; e em 1997, na Tailândia, a monjas e monges budistas.
Muçulmanos – alguns meses depois, ela fala na histórica Mesquita ‘Malcolm X’, do Harlem, em Nova York, diante de 3 mil muçulmanos afro-americanos;
Judeus – No mesmo ano, em Buenos Aires é recebida por organizações judaicas.
Hindus - Em 2001, na Índia, abre-se uma nova página no diálogo do Movimento com o mundo hindu.
Em 1994, Chiara Lubich é nomeada presidente honorária da Conferência Mundial das Religiões pela Paz (WCRP).
No campo civil

da solidão e seus códices


Cleilson Ribeiro

I

Um blues inaugura o som de um realejo

Que se dissipa nas plumas da tarde. Nos muros enferrujam

As palavras de protesto, semeadas pela força metálica

de outras claridades já extintas. Não há como esmigalhar

a cor do colostro esvaído das bocas famintas das

Crianças . Os homens golpearam a alma das praças

Com o slogan das cápsulas radioativas do silêncio.

E agora, discutem seus sonhos mortos amolando as farpas

Exauridas das ampolas de morfina.

Fantasmas encapuzados fumam

Os cigarros de ópio e de ódio nas esquinas das igrejas.

II

Os computadores aprenderam o signo da ilusão,

E alardeiam em downloads insólitos que não há

mais tempo para a palavra amor.Um blues empoeirado mastiga a carniça de nosso trabalho extraviado.Nos ventos que chegam do oriente médio,

O genoma de Osama Bin Laden,

se grava nas pestanas de antigos cães enluarados. Restou-nos o indigesto gosto das lágrimas.

O inconcebido assopro da estiagem arrupiando as dobradiças das plantações.

Os jornais já não nos dão notícias de nenhum herói. Por aqui, cada um deles, irriga lavouras estorricadas.

III

Não se volta da revoltas nem das guerras cotidianas, para se exibir medalhas,

cicatrizes ou mutilações.Ninguém escuta as buzinas dos automóveis festejando a morte no trânsito. Não se diz em segredo os motivos de um sonho antigo. Não se deflagra na carne do dia

o compromisso inadiável com a esperança. Estamos vivos simplesmente.

A poesia já não compraz nossas limitações.

Não conseguimos mudar o gosto das coisas.

Fabricamos milhões de espermatozóides

para semear multidões de vidas desoladas.

A casca da solidão, diviniza nosso grito absurto.

IV

¿ Será que algum poeta, do antigo Egito à Favela da Rocinha,

Suporia, que as plantações de urânio de agora,

Aboiarim a migração dos amidos expulsos das palavras,

enquanto o sumo da morte é emacotado á vacuo

nos escritórios de Wall street ?



Cleílson Ribeiro, é poeta comparado aos melhores que conheço. È parceiro musical de Abidoral e troca figurinhas com Wilson Bernardo. Me mandou alguns poemas que devo publicá-los de vez em quando. No próximo, acrescentarei outras informações sobre seu perfil poético.

Lançamento de livro - 28 de março de 2008

Será na sexta-feira dia 28 de março do corrente,na sede do Instituto Cultural do Cariri - ICC, na Praça Filemon Teles, em frente ao Parque de Exposições, em Crato, o lançamento do livro RÉSTIAS DO TEMPO, de Geraldo Ananias Pinheiro, caririense radicado em Brasília. A apresentação do livro é de Emerson Monteiro.

Réstias do Tempo
Geraldo Ananias Pinheiro
Geraldo Ananias empreende este feliz retorno aos mesmos páramos que lhe inspiraram na formação de sua personalidade agradável, vitoriosa, de pai dedicado, profissional competente, homem precursor de idéias e gestos partilhados. É possível que o tabuleiro que aqui põe em movimento nem exista mais no mundo tangível, vez que as existências passam constantes, no estágio atual das vidas. Contudo reconstitui o caleidoscópio que conhece e guarda nos refolhos mais íntimos, e, de acréscimo, transmite em moldes suficientes para cativar os que leiam. Vamos, pois, adentrar o circo animado das histórias de Geraldo Ananias com a certeza de boas reflexões e momentos profícuos, tangidos pela mão de escritor que sabe do mérito de democratizar a legenda de sua vida pronta a ser conhecida pelos demais.Editado por THESAURUS, 2008, 1a. edição, 245 páginas, ISBN 9788570627117.

quarta-feira, 19 de março de 2008

NOITADA CULTURAL NA ALIANÇA FRANCESA RECIFE

Comunicação Aliança Francesa - PE18/03/2008 - 16:10

Público encanta-se com manifestações em torno do lançamento de Pernambucana

Raquel do Monte

Música, teatro e artes plásticas convergiram e dialogaram com a literatura na noite da última sexta-feira no Café Culturel da Aliança Francesa do Recife. Na ocasião, foi lançado o livro Pernambucana de Geovania Freitas. A noite multicultural teve início com a fala do diretor da Aliança Jean-Victor Martin que destacou entre outras coisas as raízes pesqueirenses da autora, sublinhando que a região agrestina é um pólo de escritores e intelectuais. Em seguida, o crítico literário e professor da Aliança Lourival Holanda teceu algumas observações sobre a escrita de Geovania, destacando o desejo de voltar às raízes como uma forma de resistência ao processo de apagamento cultural promovido pela globalização. "Essa tentativa de consciência de si, concretizada através do retorno ao espaço da infância e das raízes culturais simboliza um dos eixos resistência possibilitado pela ficção", afirma o doutor em Literatura. Na segunda parte da noite houve a apresentação do violonista Calazans Callou e do baixista Eduardo Simões que trouxeram dois poemas de Geovania musicados por Callou. Dando continuação a programação da noite houve a apresentação teatral de um trecho de Pernambucana que foi encenado por um grupo de jovens atores coordenados por Socorro Raposo.Visivelmente emocionada Geovania finalizou a noite agradecendo a participação de todos e convocando o público para apreciar a exposição de telas de Fernando Alves.

GÊTSEMANI

Não, não transparecia cansaço nem fastio, embora a cena se repetisse há tantos e tantos anos. Apenas uma leve asa de indignação ruflava ao seu derredor. Como um moderno Prometeu acorrentado, fazia-se eterno pasto à águia do cristianismo. Parece até que ganhara a maldição da imortalidade. Ressuscitavam-no todo ano, em meio às velas, ao vinho e ao roxo da Semana Santa. No seu curto e sub-reptício reinado, fazia-se, rapidamente, senhor de uma quinta , ganhava roupas esfarrapadas, mas modernas, metia-se a cavaleiro. Metamorfoseava-se de uma personalidade qualquer escolhida entre os sempre novos e fartos Judas da humanidade e partia, no Domingo da Ressurreição, para o seu calvário particular.Até um testamento lhe seria providenciado, ele que não deixara sobre a terra nenhum legado que fosse além da pura e cristalina infâmia. Até os 30 dinheiros, levara ao santuário antes do pêndulo do corpo e do final balanço da corda.
Suas memórias, se escritas, seriam um farto material para o estudo do inconsciente coletivo. Havia, com certeza, algo de sanguinário, de sádico e tribal naquela malhação.A simples encenação daquela selvageria, no fundo, contradizia-se frontalmente com as lições de amor, de solidariedade e compreensão que terminaram por permear todo o Novo Testamento. A primeira pedra que ninguém ousara lançar sobre Madalena , agora fariseus multiplicados aos montes atiravam nele com sanha animalesca, sem nenhum remorso, sem nenhum pejo.
Neste ano, ali estava novamente no cadafalso, aguardando o desenlace tão previsível. Enquanto observava a faísca zigzagueante do estopim, teve , por fim uma clara visão do mundo que um dia abandonara pensando em se livrar dos seus demônios e fantasmas. Na verdade a turba não malhava ao Judas, mas tentava destruir as imperfeições pessoais que via nele refletidas. É como se diante do espelho, o quebrassem, por temerem a imagem horrorosa mas verdadeira que se revelaria na superfície cristalina. Nada mudara em tantos anos! Bastava fitar a multidão para ver claramente presente e cristalizado em todos os corações o veneno um dia inoculado no Gêtsemani: a indecisão de Pilatos, a tríplice negação de Pedro, a parcialidade de julgamento de Caifás, a eterna opção dos eleitores por Barrabás. Parecia claro para ele agora que não foram os filhos do Pai que povoaram o mundo, mas sim a raça de Judas. Sim, seus filhos tinham prosperado como nunca sobre a face da terra . Estavam muitos ali familiarmente reunidos, com suas fraquezas, suas indecisões e seus vícios bem à mostra : lábios preparados para o beijo fatídico, mãos entreabertas esperando, sofregamente, os trinta dinheiros...


J. Flávio Vieira

Réquiem pelos mortos do Tibete

Bandeira do Tibete livre


Depois do recente massacre em Lhasa, - capital do Tibete que foi invadido por Mao Tse-tung e anexado à China comunista em 1950 -, um grupo de intelectuais e artistas está propondo o boicote aos jogos Olímpicos de Pequim. Os jogos estão marcados para o período entre 8 e 24 de agosto próximo, ou seja, faltam cinco meses para começar o maior espetáculo esportivo do planeta.




Os protestos no Tibete começaram como uma reação à notícia de que monges budistas teriam sido presos depois de realizar uma passeata para marcar os 49 anos de um levante tibetano contra o domínio do regime comunista chinês. Centenas de monges tomaram então as ruas, e os protestos ganharam força nos últimos dias, com a adesão dos tibetanos.


A China comunista alegaz que o Tibete faz parte de seu território desde meados do século 13 e deverá ficar sob o comando de Pequim. Muitos tibetanos, no entanto, têm uma outra visão da história. Eles afirmam que a região do Himalaia ficou independente durante vários séculos e que o domínio chinês nem sempre foi uma constante.



Entre 1911 e 1950, por exemplo, o Tibete manteve o status de país independente, até que Mao Tsé-tung invadiu e anexou o Tibete. Em 1963, ganhou status de Região Autônoma, e hoje conta com um governo apoiado pelo regime comunista chinês. Em 1989, a causa da independência do Tibete ficou conhecida no Ocidente após o massacre de manifestantes pelo Exército chinês na praça da Paz Celestial. Muitos tibetanos querem a independência de volta, e daí os protestos.

Os protestos de agora no Tibete têm sido apontados como os maiores e mais violentos dos últimos 20 anos. Entidades que defendem diferentes causas - do fim da pena de morte ao combate do genocídio em Darfur, no Sudão - vêem uma oportunidade no momento atual para pressionar o governo comunista de Pequim a mudar sua posição em relação à questão de direitos humanos. Se depender deles, a pressão vai aumentar à medida que os Jogos Olímpicos se aproximem.

As recentes manifestações começaram no dia 10 de março, exatamente 49 anos depois que os tibetanos encenaram um levante contra o poder comunista chinês. Hou
ve demonstrações em vários países e monges do monastério de Drepung, nas cercanias da capital Lhasa, também aderiram ao movimento. Os protestos logo ganharam a adesão dos tibetanos.

Fatores econômicos também desempenham um papel importante. Muitos tibetanos dizem que um número crescente de imigrantes chineses da etnia majoritária han chegam à região e conseguem os melhores empregos. Eles acreditam estar excluídos dos benefícios dos avanços econômicos desfrutados por outras províncias costeiras da China e dizem sofrer com os efeitos da crescente inflação no país.

O governo chinês mantém pouco diálogo com o governo tibetano no exílio, com base na Índia. As negociações nunca avançaram e provavelmente não devem avançar no futuro - o abismo entre as duas partes é imenso. A China diz que os tibetanos no exílio, liderados pelo Dalai Lama, só estão interessados em separar o Tibete da terra mãe. O Dalai Lama diz querer nada mais do que a autonomia da região.

O domínio chinês sobre a província de Xinjiang, no oeste do país, é tão controverso quanto o do Tibete, mas não conta com a mesma notoriedade. Talvez uma das razões pelas quais os ocidentais saibam sobre os problemas do Tibete é por causa do Dalai Lama. Desde que fugiu do Tibete depois do fracasso do levante, em 1959, o líder espiritual dos tibetanos viajou o mundo para advogar por mais autonomia para sua terra natal, sempre enfatizando que não defendia a violência. Ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1989.

Os governantes chineses certamente não querem nenhum derramamento de sangue a apenas cinco meses do início dos Jogos Olímpicos, e vão tentar evitar qualquer situação que lembre o que aconteceu em Mianmar em 2007. Por outro lado, eles não querem dar espaço aos monges e a outros manifestantes por medo de que isso seja interpretado como um sinal de fraqueza e acabe levando a mais protestos.

SEMANA SANTA COM REFLEXÃO...

ENTRETENIMENTO: Reformulando a pergunta: Como pensaria e se comportaria Jesus se em 2008 estivesse no auge de sua maturidade? Quem ou o que seria o seu Judas? Teria sido um homem histórico? Dêem asas a imaginação com respostas criativas!


Fotos; Pachelly Jamacaru
"Direitos reservados"

terça-feira, 18 de março de 2008

Nosso irmão o jumento

Emerson Monteiro

Por causa de uma matéria publicada no Diário do Nordeste em dias do mês de fevereiro, voltou à tona assunto que se repete de tempos em tempos: o jumento e seu abandono nos círculos ambientais desta época automobilista. É que Departamento Estadual de Rodagens estaria recolhendo, em campos de concentração no município de Santa Quitéria, os animais vadios e não ofereceria o alimento necessário à sua sobrevivência, razão pela qual, registrava a reportagem, crise fatal os submetia a sofrimentos e desesperança.

Logo veio ao pensamento a imagem do Padre Antônio Vieira, o escritor cearense que se elegeu advogado dessa espécie de alimária que auxiliara sobremaneira o desenvolvimento do sertão, carregando barro, tijolos, telhas, na construção de açudes, barreiros, estradas, residências, indiferentes ao açoite e aos achincalhes a que se viam submetidos, retribuição da grosseria característica dos rudes e selvagens.

A justificativa infeliz argumenta que ele, o jegue manso dos pecados ocidentais, nada possui no sangue que o engrandeça e credencie como filhote da biologia latino-americana, porquanto veio nas caravelas dos colonizadores para exploração territorial, caminhadas de conquista, extermínio de índios e extração das riquezas originais.

Veio correndo o progresso do petróleo. As velhas e poeirentas sopas das rodovias do passado cederam lugar aos reluzentes automóveis e forçudos caminhões. Nisso, o lombo dos jumentos caiu no desuso. O próprio matuto esqueceu as dificuldades iniciais e cresceu pernas em cima das camionetes de linha.

Tudo indicava que chegaria o sonhado aposento dos muares, que saiam vagando pelas mangas e estradas, jogados ao léu da sorte, desocupados, comendo o que achassem e alheios aos vôos da tecnologia dos asfaltos.

Quem alimentou os avanços dos outros virou só entulho. E de quebra pôs em risco a segurança dos usuários de transportes, em razão da velocidade das máquinas e do abandono a que foi relegado após o ostracismo em que caiu...

De história modesta e sem graça, ainda que detidos para averiguações, os jegues terminam sua longa jornada, que começou no Oriente suntuoso, de jeito melancólico.
De certeza, dos campos em que passeia na eternidade, o Padre Vieira se indigna outra vez perante mais este crime contra o jumento, o qual incluiu na família dos humanos. Antes, se levantou com tamanho furor na sua defesa que conseguiu suspender o morticínio da sanha perversa dos matadouros. Agora, há pouca chance de outros defensores tão dedicados produzirem resultados equivalentes.

Essa espécie dócil, servidora, inofensiva, torna-se, desse modo, símbolo da mesma ingratidão que sofreu o operário fiel da gleba, pau para toda obra e pretexto das soluções apetitosas na boca feudal dos fartos coronéis de barriga cheia.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Herdeiros de um sonho!




























Sr.Jefferson da Franca Alencar sonhava e nos compartilhava os seus sonhos. Dentre eles queria o Sítio Fundão preservado. O Sonho vira realidade quando se sonha junto. Agora o Sitio Fundão se encaminha para ser área de preservação ambiental do estado do Ceará. Resta-nos cuidar urgentemente para que o rio Batateiras retome as suas águas e se complete o sonho. É o próximo passo!
Veja algumas fotos do ato que comemorou o decreto assinado pelo governador Cid Gomes no dia 08 de fevereiro. As fotos foram feitas por mim e o Ernesto(EcoBike) na última sexta-feira, dia 14, defronte a casa de taipa do "velho" Jefferson. Autoridades, ambientalistas, jornalista e a família descendente do Sr. Jefferson se confraternizaram.

domingo, 16 de março de 2008

Quem ousa encontrá-Lo?



Acompanhando as últimas reflexões de Dihelson e Émerson, deixo, dentre os aforismos inspirados de Mário Quintana, um que recupera o diálogo essencial:


"Os dogmas assustam como trovões. E que medo de errar a seqüência dos ritos! Em compensação, Deus é mais simples do que as religiões". (Mário Quintana)


Algo a propósito do Espiritismo

Emerson Monteiro

Dado ser espírita e haver lido, há poucos dias, nos “blogs” Cariri Cult e Blog do Crato, nos quais colaboro, um texto de Dihelson Mendonça a propósito do Espiritismo, me vejo na condição de emitir alguns conceitos a propósito deste assunto.

Antes de maiores considerações, vale argüir o direito à liberdade de culto, apanágio das conquistas democráticas da nossa Constituição, o que significa, em leves toques, se respeitar que cada cidadão disponha de liberdade para escolher o credo que melhor lhe responda às questões básicas filosóficas (De onde se vem? Para onde se está indo? E o que estamos fazendo na Terra?). Portanto, trata-se de questão soberana rumo ao despertar de Si mesmo, das outras liberdades e da felicidade, motivo de toda organização geral da vida social.

Tema por demais íntimo, a religiosidade humana chegou, no andar da civilização e da cultura, aos sistemas religiosos que existem, de variadas formas, ao alvedrio das pessoas que a eles se submete, ao nível das tantas compreensões.

Longe de pretender esgotar tão volumoso caldo de cultura, importa dizer que o mito religioso acompanha os seres humanos desde seus primórdios, analisados através dos primeiros registros pictóricos de caverna detectados e pesquisados.

Caso houvesse, pois, uma resposta definitiva, a saber: um diagnóstico absoluto quanto às escolhas verificadas, se inválidas ou válidas, e nem aqui chegaria a estas teclas. Assim, ao modo como ainda se acham os humanos e sua busca da Verdade, ninguém possui a solução conclusiva, portanto.

Por outro lado, há que se conhecer melhor o Espiritismo de que fala o texto citado.
De início, a palavra Espiritismo passou a existir apenas com a publicação de “O livro dos espíritos”, texto publicado em 18 de abril de 1857, em Paris, França, de autoria do professor Hipollite Leon Denizard Rivail, assinando com o pseudônimo de Allan Kardec. Nesse trabalho, estariam “respondidas todas as perguntas que qualquer cientista de sã consciência faria sobre a vida após a morte”, no dizer dos membros da Sociedade de Ciências de Paris, à ocasião do seu lançamento.

Até essa publicação, inexistiam as palavras Espiritismo e Espírita (havia, sim, Espiritualismo e Espiritualista). Elas foram, só então, criadas pelo Prof. Rivail. Este aspecto demonstra a impropriedade de algumas traduções bíblicas ao afirmar que Moisés condenara o Espiritismo. Tratava-se, isto sim, do mediunismo, função biológica outra, adiante estudada sob o nome de "histerismo" por Sigmund Freud e outros pesquisadores da psiquê.

Depois vieram outras obras de Allan Kardec, quais “O livro dos médiuns” (um tratado clássico da Parapsicologia), “O Evangelho segundo o Espiritismo” (Comentários das máximas morais de Jesus), “A gênese”, “O céu e o inferno”, “O Espiritismo em sua expressão mais simples”, etc., de igual autoria.

Quero informar, a título deste comentário, que o Espiritismo, de passo com a exigência do Positivismo, que permeou o pensamento da segunda metade do século XIX, propõe reunir na sua estrutura doutrinária três abordagens conjuntas: Filosofia, Ciência e Religião. Segundo Allan Kardec, “Fé verdadeira é aquela que pode encarar a Razão face a face em qualquer época da humanidade”. Sua disposição, por isso, é unir a Ciência com a Religião, através do aprofundamento de conceitos e avaliações.
No entanto, com o decorrer da história, não vem tarefa das mais fáceis organizar a informação e que evitar que outras manifestações religiosas utilizem os mesmos termos originais da doutrina para preencher lacunas de denominação que por ventura reclamem palavras correspondentes. Daí, os equívocos que se confundir Espiritismo Cristão, a doutrina kardecista, com outras religiões medianímicas, com ênfase na cultura do Brasil.

Deste modo, em rápidas e despretensiosas pinceladas, amplio o leque de abordagens no que diz respeito a matéria tão vasta, na intenção simples de abrir espaço a uma visão consciente ao se reivindicar um conforto das coisas misteriosas da dor no âmbito da Natureza.

O princípio de tudo isto bem indica a sabedoria e as oportunidades infinitas do vasto universo de perfeição em que nós desenvolvemos o Ser, em cada pessoa por si.