terça-feira, 30 de setembro de 2008

Vendem votos nessa loja?

Salatiel, esse texto foi encaminhado ao meio jornalístico local, onde a política está prestes a passar para as mãos de empresários e aproveito para dividir as opiniões com vocês. Abraços eleitorais.

Duas vias caminham paralelamente na produção de bens e serviços, a via pública e a área privada, sendo esta última responsável pelas relações de troca autônoma, onde empregados e empregadores se baseiam no lucro próprio de cada parte. Na área pública a relação de troca se dá de maneira diversa, tanto empregados quanto empregadores estão voltados à prestação de serviço de atendimento e produção de bens à nação, sendo o indivíduo um usuário destes serviços e bens, não um cliente. Um usuário é quase um sócio, um dono também. Cliente é aquele que compra, só isso, e podem oferecer chazinho e flores que são somente compradores(ou eleitores). Mas essa distinção torna-se mais evidente se observarmos pelos resultados que cada área busca atingir: a pública, mais e melhores condições oferecidas à população; na rede privada, a expansão nos negócios.
O comércio independente apresenta-se como mola mestra do mundo, na verdade ele é apenas o nivelador das diferenças pelo acesso ao possível a uns e ao impossível a outros. E vem amealhando adeptos até precoces dessa modalidade desenfreada do ser-que-compra, ser-que-paga, ser-consumo. Votos então são até mais negociáveis. A modernidade representa um balcão de mercadorias sob esta ótica, sim, da arte também. Verificamos que as duas vias paralelas criam pontes para atuarem juntas, resultando nestes casos no beneficiamento final da área privada, que sem benefícios polpudos não se submete à vontade do Estado, empresas que apesar dos altos índices econômicos em todos os setores - um crescimento "nunca visto antes neste país", como diz o Presidente Lula - ainda não deram a sua contra-partida social devida. Os preços não baixam, sequer estabilizam temporariamente, sempre à frente dos que não conseguirão acompanhar. O Estado, por sua vez, abre os cofres públicos para promover o bem comum das populações em atraso, impostos bem gastos é preciso reconhecer, cuidados, direitos e facilitações hoje alcançadas por jovens, idosos, mulheres, crianças, pobres, negros e...até ricos.
Sobretudo os ricos, o grande mercado empresarial tem lucrado bastante, as oligarquias, a área privada beneficiadíssima que agora observamos ganhando a simpatia de muitos nestas eleições 2008. As preferências políticas tem flutuado numa tendência ao delírio, inadvertidas a respeito do perigo em elevar ao patamar de político os homem de negócios. A carreira política é uma escola que começa com um ideal de convicção, mas às vezes, justamente em época de eleição, aparecem vários produtos do oportunismo midiático. Vereadores de toda sorte de intenções, é só escolher. Prefeitos que surgiram do nada pra lugar nenhum e podem encher as repartições públicas de donas de butique, micro-empresários e seus asseclas em cargos comissionados nas prefeituras pelos próximos quatro anos. A via privada no poder público, arriscado.
Os funcionários públicos depois de 5 de outubro terão um novo chefe, um empresário ou um político, e o Presidente está aí para nos ensinar o que é ação política que transforma e dá lição em tantos políticos mais velhos que misturados a empresas pensaram a grandeza de uma região sem a perspectiva do progresso para além dos seus currais. Mas fizeram muito bem aos seus próximos. E ainda operam milagres e removem montanhas, se deixarem. Quem decide estas urnas é o maior número de seus beneficiados...durante o período eleitoral, porque a grande maioria nestes últimos anos não viu a riqueza produzida chegar-lhe à porta da casa, do barraco de Mazé, do sítio de Seu Coelhin, coitado...E me chegou a informação da suntuosa residência erguendo-se em Recife de propriedade de um político-empresário daqui da região - um Coelhão -, tem destes espertos que para eles comércio e política são uma coisa só e fazem negociatas o tempo todo em benefício próprio com seus caixa-dois a tiracolo. Como disse, as urnas serão decididas pelo maior numero de seus beneficiados...durante o período eleitoral, porque campanha bem feita até eu tiro o chapéu. E piso em cima...dos votos comprados.

domingo, 28 de setembro de 2008

ZÉ, ESTE OURO SE ENCONTRA NA RAIZ DE TEU OUTRO NOME

Um século mais novo que eu, mas certamente um irmão sanguíneo no sentido literal. Um irmão mais novo que, no meu carinho arrevesado de nordestino, tanta provocação fiz. Era um miudinho bom de mexer. Por tudo ficava zangado (antigamente minha gente), o meu filho mais novo já em fase de muda, também era igual. Melhor situando. Nasci um sanduíche entre duas mulheres uma mais velha e outra mais nova, só oito anos depois é que tive um irmão. Naqueles idos Zé Flávio, Almirzinho, Nivaldo e Joaquim Pinheiro (estes dois moram em Recife) eram meus verdadeiros irmãos. Com cada um deles tive contatos próprios. Zé Flávio, numa certa época era bem constante, pois além da mãe ser sobrinha da minha, os nossos pais eram sócios.

E agora José? Como seremos Vikings na Lagoa do Gravatá? Lutando as lutas mais ferozes que dois artistas hollywoodiano poderiam lutar? Atravessando fiordes descomunais, através de labirintos indecifráveis formados pela vegetação aquática. Nas ações perigosas em que os barcos emborcavam (um cocho imprestável para a finalidade devida, mas um bom flutuante). Conquistando as mulheres mais lindas de Hollywood e beijando-as com tanto fervor que pequenas manchas chupadas ficavam nos antebraços.

Zé e a aquela dieta de Semana Santa no inverno do Gravatá. Dona Maria, Seu Valdemar e o velho Oscar. E Maria? Aquele lindo rosto de índia com a memória da raça branca e artefatos dos negros. As chuvas que se casavam com o solo pedregoso do sertão e nele fertilizava uma variedade sazonal de legumes para os sertões: maxixe, jerimum, milho e feijão verde. O queijo de coalho soando como borracha à mastigação de um baião de dois, quente e acalentador na friagem das chuvas. O clarear da madrugada sobre a cerca do curral, um copo com o fundo coberto de açúcar para em seguida encher-se de leite mugido. Mais um pouco o café, leite quente e cuscuz de milho novo.

A manhã começava com as trilhas em busca do gado no pasto. Em que área pastavam? Subir a trilha do serrote, ladear as locas de pedras, uma semicaverna, cercada de imbés e cactos. A flor da coro-de-frade. A mais exótica flor que conheço. Plumosa, redonda e inchada feito um bolo no forno. Os coxins da cangalha eram preenchidos por tal pluma e todos os sertões assim eram transportados. Mais uma distância na trilha da caatinga e chegávamos à Lagoa da Besta, no alto do serrote, cercada de lajedos, com as margens preenchidas por variada nascença de cactos: xique-xique, rabo-de-raposa, coroa-de-frade, entre outros. A manhã satisfeita, os bezerros achados e sem bicheiras e voltávamos para a casa. Em seguida ao açude.

Raras vezes se tem a oportunidade de tamanha proximidade com os pais. Manoel Vieira, Zé do Vale, entre um visitante ou um morador tomávamos banho como se fôssemos todos iguais. Os adultos brincavam feito crianças em fantasia de trabalho e as crianças trabalhavam feito adultos em fantasia de brincadeira. Desafios de mergulho, de nado, de pular. E as gozações consequentes dos erros e acertos propostos. Quando a manhã terminava o almoço se tornava rara iguaria na cozinha da casa do vaqueiro. Na estação pós prandial, as redes que os adultos mergulhavam no sono e as crianças se aquietavam até se juntar com mais alguém e se aventurar nos arredores.

Brincar sob a copa da cajaraneira ou dos pés de umbu. Seguir até a loca da pedra na encosta do serrote e de lá avistar todo a planura do revelo sertanejo. Imaginamos que nos limites da visão chegávamos a enxergar as vertentes da chapada do Araripe. Foi nesta loca de pedra que o Velho Antonio Dão se escondeu com um rifle carregado para atirar em inimigos do cangaço. Naqueles idos nas locas de pedra a mais curiosa das coisas seria observar a destreza dos cabritos e bodes aos saltos, numa beirada de abismo, com tanta naturalidade que parecia parte móvel daquele granito sertanejo. Lá pelas 16 horas catar no mato gravetos de galhos secos e juntar no terreiro da casa para a fogueira da noite.

Mais um banho de açude. O jantar e a roda em torno da fogueira. Cadeiras comuns e algumas espreguiçadeiras faziam o grande evento da noite. Mas também uma roda em que estivesse Manoel Vieira e Zé do Vale se assemelhava a algo da era de ouro da Grécia, através das ruidosas ruas da Roma Imperial e na confluência entre o Império Bizantino e a Roma dos Papas. Isso tudo misturado com dois sábios que tinham raízes profundas na vida sertaneja, na rudeza cruenta do couro de animal e das pontas das varas no canto da cerca. Os vizinhos de alguns quilômetros se aproximavam, os moradores e a conversa se expandiam no maior teatro que jamais haverá outro igual. A não ser o próprio.

O teatro se dividia em duas partes. Uma plana formando a base, menor que a outra, abobada e envolvente. Nesta base plana, embora na redução da capacidade do olho humano, sentia-se pela linha do horizonte que muito mais distância havia que nossa pouca imaginação. Nesta base ocorria todo o horizonte de eventos da terra e suas manifestações. Inclusive nós. Já na abóbada, vez por outra singrava a luz direcionada dos primeiros momentos dos satélites artificiais, por lá eventos da crosta já fugiam para o teto universal e tão intensamente cheio de planetas e estrelas que o rebaixamento da imaginação desconhece. Literalmente, a não ser por nossa velha confiança na força de gravidade, estávamos a um passo de flutuar no universo real e infinitamente maior que o cotidiano urbano.

Agora Zé, façamos a contabilidade daquelas noites: a exata dimensão do sertão; somada das histórias locais; adicionadas da cultura ocidental; do teatro universal e das telecomunicações com o estrangeiro. Dos demais já falei, resta esta telecomunicação. Um rádio transglobe, com aquelas faixas que giravam com um botão, sintonizando a rádio de Moscou, a Voz da América, a BBC de Londres, alguma estação escandinava com música clássica, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. O saldo destas noites vale toda uma vida. Até a vontade de amanhecer e entardecer tantas vezes mais quanto possível.

Pois é Zé Flávio Pinheiro Vieira, não há um minuto que não valha um século de reflexão e um século que não valha uma noite estrelada com aqueles companheiros de então.

Invisibilidade


Água com açúcar ,
e um final feliz.
Discordando do destino ,
escorregaram de mim ...
"Chuvas de verão " ,
o que desejei "Por toda minha Vida " ?
Não morri ... nunca morremos
Apenas sofremos ...
Eu , você , e o mundo inteiro !
Separação ...
É o desmoronamento de uma construção.
Implosão e explosão ...
Bomba , no coração !
Rosas no início... rosas no fim
O amor nasce e morre tantas vezes ...
Agora cismou de chegar com outra capa ...
- A capa da invisibilidade !
Tremem as palavras , quando ele aporta ...
Tremem , se aquietam e partem ...
Depois , voltam !

Ranking dos 10 países mais honestos do mundo

Ranking dos 10 países mais honestos do mundo
ou se preferir: Ranking dos 10 países menos corruptos no mundo

(vou mexer outra vez no vespeiro. Mas é bom que venham as contestações. Isso é democracia. Em tempo: a nota foi publicada na imprensa portuguesa neste domingo - Fonte: Organização TI (Transparência Internacional), 2008).28 09 2008As notas vão de 0 (corrupção máxima) a 10 (Ausência de corrupção).Posição País Nota Forma de Governo1 Dinamarca 9,3 Monarquia2 Suécia 9,3 Monarquia3 Nova Zelândia 9,3 Monarquia4 Cingapura 9,2 República parlamentar5 Finlândia 9,0 República parlamentar6 Suíça 9,0 República parlamentar7 Islândia 8,9 República parlamentar8 Holanda 8,9 Monarquia9 Austrália 8,7 Monarquia10 Canadá 8,7 MonarquiaQuantas monarquias há no mundo? Apenas: 44 - 21% dos paísesQuantas repúblicas há no mundo? 164 - 79% dos paísesApesar disso, 60% do Ranking dos 10 menos corruptos são monarquias.Observe que as demais repúblicas menos corruptas adotam o parlamentarismo como sistema de governo. Esse sistema é originário das monarquias e funciona nelas como complemento natural.Nenhum país presidencialista está entre os 10 menos corruptos, inclusive os Estados Unidos que se encontra na 18º posição com a nota 7,3. O Brasil está na 80º Posição com a nota 3,5. Ele caiu 8 posições em relação ao ano passado. Lembramos que a nota mínima é zero.Notas inferiores a 5 indicam grave problema com corrupçãoFonte: Organização TI (Transparência Internacional), 2008.

Entre tantos "Toms"

Tom Zé

Composição: (Tom Zé)

Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Desperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminado
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar

Nova semana a todos, Marta.

FALA AO DIHELSON

Peço desculpa por ter de postar o que seria uma resposta ao comentário do Dihelson numa matéria sobre Itiberê da Cunha. Acontece que o post já ficou para baixo no tempo e provavelmente o Dihelsono e eventuais interessados nem se dêm conta da resposta. Que segue.

Ô Dihelson: deixa de ser fominha. Põe tua obra na Rádio Chapada do Araripe. Quem estiver no Blog a ouvirá e isso já é muito. Agora, falando sério.

Quem quiser escutar que escute, quem quiser ver que veja, quem quiser ler que leia, não é esta a questão da arte. Ampliando o raciocínio. A arte não existe no artista, ela apenas será arte quando houver uma interação com um terceiro. No momento que o terceiro reagir, o artista pode dizer que fez arte. Ou pode até não estar presente para ele próprio reconhecer, mas a sua arte dirá por ele. Assim a arte como coisa do mundo e ao mesmo tempo social é uma materialidade entre duas pessoas (mesmo que seja entre uma pessoa e uma multidão).

Quero apenas dizer que a arte é uma obrigação do artista de torná-la coletiva. Os artistas incompreendidos, mesmo assim sem público ou "sucesso" (aliás, esse não é um padrão estético, é apenas de consumo) fazem sua obrigação de artista que é mostrar sua arte. Não adianta "engavetar" a arte mesmo que pelo motivo mais justo. Mesmo sob intenso regime de censura os artistas conseguiam "contrabandear" sua arte para outros cantos.

Mesmo sendo a arte fruto de um tempo realizado, este tempo será frio se não se prolongar além da composição para os tempos posteriores, em outras pessoas e outros lugares. A arte popular, vamos olhar para os "famosos" irmãos Anicete. Eles não dependiam da ordem urbana do Crato para acontecer e encontrar o outro. Tocavam nas procissões populares, nas festas de terreiro no bairro do Recreio onde moravam. Todos eram camponeses e viviam de plantar, conheci - os, pois plantavam na vizinhança e jamais tiveram apoio espontâneo de nada. Até vendiam seus pífanos na feira para sobreviver, mas só com a valoração do folclórico pelos idos dos anos 60 e 70 é que vieram para a cultura oficial.

Enfim, precisamos dos Noturnos, Prelúdios e Valsas do Dihelson na Rádio Chapada do Araripe.

Quaje me lasco em banda


Pois é , amigos, casa de cozinheiro, panela de barro. “O automóve na ladeira se quebrou/ o zabumba se furou/ mas o Gonzaga não morreu”. Cá estou eu aqui vivinho da silva e ressuscitei no sétimo dia. Para o gáudio de tantos amigos e familiares e para o torcimento de rabo de uns pouquíssimos desafetos. O susto , ao menos, teve lá suas vantagens, tive que procurar seguir os conselhos que eu mesmo dava aos outros nestes mais de trinta anos de profissão. Falava , falava e nem percebia que nada tinha de imortal, sou feito da mesma substância perecível de todos e ficava por aí todo fiota talvez confiando que panela de barro não cai de girau: cai sim, senhor e é caco para tudo quanto é de lado. Pois bem, juntamos os estilhaços, colamos o que sobrou com goma arábica e aparentemente está tudo bem. Um furo aqui, um marejo ali, mas ainda dá para cozinhar um anguzinho esperto. Sim, tem lá outra vantagem nisso tudo, nunca pensei que fosse tão querido pelo povo da minha terra. O telefone não parou na minha casa e nas do meus amigos e familiares, soube de roda de orações, de promessas com quase toda a corte celestial e um incréu do meu quilate jamais poderia imaginar que toda essa corrente positiva teria tanto efeito terapêutico. E foi justamente a preocupação dos mais simples e humildes que mais me comoveu, estou , hoje, plenamente convencido que após terminar a faculdade e a.residência e voltar para minha terra, estava fazendo o gesto mais importante de toda minha vida. Nenhum acúmulo de bens neste mundo compensa a alegria de me sentir amado, querido e quase que insubstituível por minha gente, aquela a quem dediquei anos a fio de cuidados e preocupação ( e pretendo assim continuar fazendo) com os parcos recursos científicos, técnicos e humanos que a natureza e a vida me proporcionaram. Sempre de pé à beira do leito dos hospitais, de repente me vi deitado e necessitando da ajuda e do desvelo de tantos e tantos colegas de profissão. Via no rosto deles além do empenho técnico , uma preocupação que extrapolava o científico e esbarrava no humano Sinto-me engrandecido por ter tido, pela primeira vez, a visão plena da outra dimensão do sofrimento, da dor, da angústia.Toca-me, de cátedra, a certeza da imensa fragilidade humana. Meras estrelas cadentes somos no firmamento da existência. Um fúlgido brilho no céu, que encanta poucos olhos atentos e, de repente, o universo volta à imutabilidade de sempre. E os vestígios que podemos deixar sobre a terra são simplesmente um pouco daquele resplendor que riscou a noite, tocando a retina de alguns e que pode apenas ter maior ou menor intensidade. Mas perfeitamente similares na sua fugacidade.Como sempre, correram notícias as mais dispersas. Um mundo midiático como o nosso se alimenta de manchetes. Nossas vidas comezinhas e tão insignificantes necessitam ao menos do furor de algumas histórias mais sensacionalistas. Pois ainda não foi desta vez. Pretendo ainda fazer raiva a muita gente, escrever um mundão de potocas e continuar servindo àqueles que me procuram. Acredito que valerá a pena ficar por aqui enquanto contar com a amizade e o desvelo de tantos e possa me sentir perfeitamente útil a todos a quem dediquei minha vida pessoal e profissional. Ainda não foi desta vez que precisei voltar definitivamente para Matozinho.
José Flávio Vieira.

Boa Notícia


Uso de cartões corporativos cai 56,6%

Os cartões corporativos tiveram uma queda de 56,6% no uso, no período de janeiro a agosto deste ano

Brasília. O uso de cartões corporativos, que no início do ano causou a saída da ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, caiu 56,6% de janeiro a agosto deste ano em comparação com o mesmo período de 2007, informou a Controladoria-Geral da União (CGU). Ainda assim, os gastos feitos com o cartão de pagamento do governo federal representaram despesas de R$ 27,29 milhões, sendo que R$ 3,69 milhões foram gastos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e outros R$ 4,08 mil pela Polícia Federal. Em ambos os casos, a população não tem acesso ao detalhamento das despesas, que estão protegidas por sigilo.

(fonte:Diário do Nordeste, 28-09-2008)

sábado, 27 de setembro de 2008

LAMENTO


Além, muito além das fronteiras da alma
Sonho eu com este ar de liberde.
Levado pelo minuano e pelas maresias açoitadas
Por este mar de poesia nos fins de tarde.

Além, bem posterior a realidade
Faço eu fronteira entre as utopias
Pestanejo sobre este territótio do medo
Sobre este perigo que corrompe as almas...

Pelo visto, é disto que somos feito.
A sedução do sonho e o grilhão medonho do medo,
E a mania da densa mediocridade.

Pois muito além do próprio sonho, estou eu.
Aboiando com o berrante da poesia parte minha que se projeta,
E lamentando a que por medo ficou sentada vendo o fim da tarde.

OS FILÓSOFOS DA BATATEIRA E O DÓLAR

Os filósofos da Batateira elaboram numa escala tão alta que não ouso falar deles no raio além dos limites do Crato. Eles poderiam sofrer capturas por parte dos pragmáticos de sempre, daqueles que só enxergam metas e objetivos pela frente. Vêm apenas os pontos de chegada, nunca se abeberam das margens naturais de sua jornada. Por isso me reserva muito descrever suas reuniões, como mais esta sob a ponte do Rio Batateira para a qual a convocação não constava de uma pauta.

Naquele princípio de conversa, sem um tema para discutir as conversas surgem espontaneamente. Como uma piada, muito inocente para o gosto humorístico atual, desenvolvida por Mitonho:
- Um casal estava apaixonado. Arriados os quatro pneus e mais o de suporte. Aí o rapaz questiona a moça "como vamos casar sem dinheiro?". Ela no desejo imediato responde "meu bem me basta olhar para você que a fome passa". Casamento consumado, vem a fome e a esposa se queixa. O rapaz estranha "mas você não disse que bastava me ver para que a fome passasse?". Ao que ela responde: "mas não estou nem te vendo?".

Chico Preto, o líder dos filósofos, aproveita a história de Mitonho para iniciar a conversa:
- É isso aí. Nós somos, talvez, o único animal com maior capacidade de elaboração interior. Somo animal de inteligência, temos estratégias para defender a vida, temos manhas, seduções, mentiras e verdades, temos filosofia e história. Temos técnicas para manipular o planeta e até o espaço interplanetário. Mas continuamos dependendo da matéria do planeta para chegar nos próximos minutos.

- Chico, peraí! – Chambaril levantou uma questão - E a nossa alma? Temos um espírito! Algo que supera esta matéria do mundo. Chico tem uma virtude: não é arrogante nem no olhar e nem na postura e argumenta com Chambaril:
- Até hoje só a morte supera a matéria. Mas a morte não é uma entidade, uma essência, a morte é tão somente um fato, uma ocorrência que até funciona como um marco de passagem, mas não um conteúdo independente do mundo. Ela é totalmente dependente que o fato se antecipe de nascimento. Então quando digo que a vida material das pessoas é muito significativa é porque se algum de nós deixar de trocar o ar do pulmão por mais de cinco minutos, já se encontra ameaçado. E cinco minutos não é nada na nossa vida.

Zé de Dona Maria levanta uma questão de condução da reunião:
- Mas qualé o assunto mesmo da reunião? Chico ajusta sua postura na fala e se responde: É a crise americana. Biô aproveita para dar umas estocadas na arrogância americana. Chico Breca diz que nada de ruim pode acontecer com o Brasil. Fan põe o indicador puxando a pálpebra inferior do olho e diz: não afeta? Olha aqui ó!" Na verdade muitas outras visões pessimistas e outras tantas de fé no sempre forte EUA surgiram pela voz de Placa Branca, de João Barros e até pela boca do pouco falador Pinga. Chegara a hora de um encaminhamento do assunto. Tantas visões, muitas em choque não levariam a nada.

Chico retomou a palavra:
- Na busca pelo atendimento das necessidades da vida material nós compramos e vendemos estes recursos. Isso já com dinheiro arrumando a conversa e uma bem dosada regra de convencimento chamada de preço. O valor em moeda do que tenho para comprar e alguém tem para vender. Depois o mundo ficou mais esperto. As pessoas envelhecem, se aposentam, adoecem, ficam inabilitadas para o trabalho e então como a moeda é a garantia de que pode operar no mundo material, a pessoa faz poupança para os tempos ruins. E aí surge mais outra coisa.

João de Barros passa a mão sobre a pança lustrosa e brinca: aí parou. Não tem mais o que se dizer. A poupança é o fim da linha. Chico ri, pois sabe que o João deu ênfase para que a próxima explicação ficasse didaticamente mais fácil: Não. Não é o fim da linha. Aí as pessoas que querem uma coisa, mas não tem todo o dinheiro, pega emprestado de quem tem poupança e devolve aquele dinheiro com juros para compensar e estimular o poupador a emprestar. Mas aí.....

- Égua ainda tem outro aí! – Com certa irritação Bacurim exclama. Chico explica: Tem. Como o poupador pode juntar muito dinheiro, ele não tem meios para saber se quem está pedindo emprestado tem ou não condição de pagar-lhe. O que ele faz? Entrega esta atividade para um Banco. Com isso o Banco passa a ser na verdade o grande analista da capacidade do solicitante de dívida e com isso o Banco vira o maior emissor de dívida do mundo material.

- Eita ferro! É os americanos escritim. Tudo é no banco. Quem tá quebrando são os bancos. – Grita Mitonho, mas Chambaril logo rebate: Uma ova. Quem vai quebrar são as pessoas que têm poupança. Quem é devedor é caloteiro, mas o poupador é o perdedor. Chico Breca dar uma paulada final: Como não existe uma categoria separada de poupador e tomador de empréstimo, a mesma pessoa é um e outro ao mesmo tempo, todo mundo tá fodido. E Chico completa: o pior de tudo é que pelos próximos anos o mundo vai funcionar assim como um queima de estoque para balanço. Vai ficar todo mundo tonto para saber o real valor das coisas. Vai ser assim como casal se separando, cada um querendo levar vantagem sobre outro, briga de todo tamanho, pois afinal aquele céu arrumado pelo dólar é quem está em crise.

- E é assim? Desta monstruosidade? – Pinga se preocupa e Chico explica: "É isso mesmo. Como é que o mundo vai funcionar com uma regra que está toda lascada? Ninguém olha mais para o dólar sabendo do que se trata. O Brasil, podem contar aí, vai passar por um pedaço muito ruim. Não adianta achar que o dia amanheceu igual, pois hoje ele é outra coisa.

Nisso passa uma ambulância do socorro de emergência com buzina a todo grito na direção do bairro. A reunião não tem mais quem segure. Filósofo é ingrato como todo ser humano. Surge uma novidade e todo mundo corre para saber do que se trata. Não tem nem ritual de encerramento. Cada um queria seguir à frente dos outros para se antecipar nas explicações. Os filósofos da Batateira estão ficando um tanto parecido com o meio acadêmico.



Brasil

O MINISTRO DA MORDAÇA
Tarso Genro tenta restringir a liberdade de imprensa,com projeto que pune quem divulga grampos

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Fábio Portela
CALA A BOCA
Para o ministro da Justiça, a solução para notícia ruim é silenciar os jornalistas

O ministro da Justiça, Tarso Genro, é daqueles homens públicos que adoram a imprensa – desde que ela lhe seja servil e bajuladora. Quando uma notícia lhe desagrada, seu humor azeda. Genro padece da velha doença esquerdista de confundir o mensageiro com a mensagem. Foi o que ocorreu no início do mês, quando VEJA revelou que a maior autoridade do Poder Judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, fora grampeado ilegalmente por espiões da Agência Brasileira de Inteligência, uma repartição da Presidência da República. Diante de um fato tão grave, que ofende os princípios democráticos, esperava-se que o ministro da Justiça agisse para conter a grampolândia criada no interior do governo. Genro tomou outro caminho. Com aval do Planalto, urdiu um plano para amordaçar a imprensa. Enviou ao Congresso um projeto de lei que, sob a justificativa de combater escutas clandestinas, pune com quatro anos de prisão quem ousar divulgar o conteúdo de grampos – ou seja, os jornalistas. Os arapongas, autores das escutas no Supremo, foram deixados em paz.
Para Genro, a democracia jamais será boa o suficiente sem uma pitada de ditadura. "Uma sociedade humanizada só será realizada na sua plenitude quando o engenho humano unificar democracia e socialismo", escreveu ele em março, em artigo destinado a rever o "legado de Lenin", o tirano bolchevique, teórico e prático do terror como um braço do estado. Que um entusiasta da ditadura do proletariado tente calar a imprensa é esperado. É de seu DNA. Surpreende é que o desatino tenha ecoado positivamente. Em depoimento no Congresso, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, esqueceu a Constituição que ajudou a escrever como deputado e que jurou defender como ex-ministro do Supremo – ele atacou o sigilo de fonte jornalística, um princípio da Carta, e defendeu a imposição de pena aos jornalistas, a quem chamou de "vazadores de informação".
O presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas, Jairo Mendes Leal, criticou a medida: "Os projetos apresentados pelo Poder Executivo são mais uma tentativa de obstaculizar o exercício jornalístico e a liberdade de imprensa e devem ser repudiados por toda a sociedade". Não é a primeira vez que o governo petista tenta encabrestar a imprensa. Em 2004, gestou-se um monstrengo chamado Conselho Federal de Jornalismo, que, nos sonhos petistas, teria poderes para "orientar, disciplinar e fiscalizar" os jornalistas. O projeto foi engavetado graças à reação vigorosa da sociedade. Só há dois tipos de imprensa: a que é livre e a que não é. Relativizar esse conceito é trapaça intelectual. Quando a imprensa é livre, ela permite ao cidadão monitorar e julgar o trabalho dos governantes. Se é refém, deixa de ter serventia à sociedade. Sob tutela, torna-se mero instrumento do poder. Essa última versão é a que faz suspirar o ministro Tarso Genro.

Picolé de Chuchu perde até no seu terreiro...

27/09/2008 - 03h51

Kassab abre vantagem de quatro pontos sobre Alckmin, diz Datafolha



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da Folha Online

O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), abriu vantagem de quatro pontos percentuais sobre o adversário Geraldo Alckmin (PSDB) e está com 24% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado na Folha (reportagem disponível apenas para assinantes do jornal e do UOL).

A candidata Marta Suplicy (PT) lidera a disputa com 37% das intenções de voto. Alckmin está com 20%. O candidato Paulo Maluf (PP) está com 6%, seguido por Soninha Francine (PPS), com 4%.

O Datafolha ouviu 1.658 eleitores ontem e anteontem. A pesquisa foi registrada no TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo sob o número 03000108-SPPE. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

Basílio Itiberê da Cunha






Taí... Nem conhecia !
Um presente de José do Vale Feitosa para os amantes da música.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

UM NOTURNO COM PROMESSA DE PLENITUDE

O mundo, dizem, é uma explosão. Uma expansão. A fuga. Aqui neste espaço em que respiro, portanto vivo, sou o próprio universo. Nada existe intra ou extra entre nós, somos um só. Apesar dos ruídos da destemperada cidade, o universo que somos, ele e eu, tem uma função auditiva serena. Não é lento e nem rápido, exuberante ou sereno, é, sobretudo a fala em que todos se entendem. De um tempo e um território, mas é uma fala que especialmente me atinge.

O Noturno de Brasílio Itiberê da Cunha. Grande músico brasileiro autor de mais de 37 obras. Obras variadas, noturnos, valsas, mazurkas, romances, marchas, barcarolas, estudos entre outros estilos. Prisioneiro deste noturno sou informado que a mais conhecida obra deste brasileiro é A Sertaneja, uma fantasia sobre base folclórica. Nascido em 1846 na cidade de Paranaguá, Itiberê da Cunha foi um dos primeiros músicos a trazer a base cultural brasileira para a elaboração musical erudita. Como vemos seguindo os passos dos românticos que foram em buscas de suas raízes fundadoras no que, então, era a novidade estética da humanidade, especialmente da Europa. O momento das fundações da nacionalidade.

Artur Moreira Lima e Arnaldo Estrela gravaram discos com obras de Itiberê Camargo. Este que escuto foi gravado pela FUNARTE com a pianista Ana Cândida que, aliás, tem uma belíssima interpretação da música. Este compositor inaugura a pesquisa sobre a própria realidade folclórica da jovem nação, assim como depois a genialidade de Villa Lobos a torna universal.

Itiberê formou-se em direito pela Faculdade de São Paulo e muito jovem, com 24 anos de idade foi nomeado embaixador do Império na Europa por Dom Pedro II. Brasílio estudou piano e em sua própria casa e na essência foi um autodidata. O pai era um músico amador e não apenas o estimulou no piano como ao outro filho João Itiberê da Cunha. João foi levado para terminar os estudos na Bélgica por seu irmão Brasilio e lá terminou direito na Universidade de Bruxelas, fez parte do movimento simbolista belga e escreveu no Le Figaro de Paris.

Brasílio morreu em Berlim no ano de 1903, aos 57 anos de idade. Passou a maior parte de sua vida fora do Brasil. Foi amigo do pianista Anton Rubinstein para quem escreveu Estudo de Concerto, de Sgambatti e Liszt.

Boa notícia


Economia

Arrecadação federal bate outro recorde

25 de Setembro de 2008 17:53-->
A Receita Federal anunciou nesta quinta-feira que a arrecadação de tributos e contribuições federais em agosto somou 53,930 bilhões de reais – o maior resultado para o mês na série histórica. Segundo os dados, o valor representa alta de 4,27% em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a agosto, a quantia recolhida pelo governo federal também bateu o recorde histórico e chegou à marca de 443,56 bilhões, 10,33% acima do registrado no mesmo período de 2007.
Um dos principais responsáveis pela arrecadação recorde foi o Imposto de Renda, com arrecadação de 129,3 bilhões de reais, sendo 61 bilhões de reais somente das empresas.
O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) teve arrecadação maior, compensando o fim da CPMF. No acumulado do ano, o IOF arrecadou 13,44 bilhões de reais, contra 5,34 bilhões de reais em igual período do ano passado. Fora isso, o governo também aumentou a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) paga pelas instituições financeiras.
Fonte: site da revista VEJA
Comentário:

Lembremos de outra Notícia, esta divulgada em 27-10-2007:

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje a prorrogação da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira–CPMF. A PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que prorroga a cobrança da CPMF até 2011 está no Senado, onde enfrenta a resistência da oposição para ser aprovada. Lula acrescentou: “"Todo brasileiro de bom senso sabe perfeitamente bem que não há país ou empresa no mundo que possa prescindir de um imposto que lhe garanta R$ 40 bilhões no orçamento sem criar outro imposto. Até porque eles (os senadores oposicionistas) sabem que se não aprovar, quem vai perder é o povo brasileiro e o povo que se beneficia das políticas públicas que estão previstas nos investimentos do governo".

Redemoinho



Parece uma carta do tarot
Arcano XII ?
- Sacrifício voluntário ,
iluminação ...
Signo do meu dia !
Crístico , judaico
Passaporte pro céu ...
Duvido !
Consciente momento
A partir do caos ,
tudo se organiza ...
Arcano VXI ?
Perdas
Expurgos necessários !
Rasgo tudo
Faço doações
Crio espaços
Realoco a vida
Faxino sentimentos
Os que ficam ...
Todos brilham !

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

MPB (Mais Poesia Brasileira)


Ave Noturna
(Cacá Diegues e Fagner)


Nenhuma ave noturna
Tão triste não pode ser
Eu sou igual ao deserto
Onde ninguém quer viver
Eu sou a pedra de ponta
Areia quente nos dedos
Eu sou chocalho de cobra
Incêndio no arvoredo
Eu sou vereda de espinhos
Seca flor do juazeiro
Fogueira do meio dia
Eu sou o tiro certeiro

Nenhuma ave deserta
Noturna não pode ser
Eu sou igual ao tão triste
Onde ninguém quer viver...

Ara , coração !








Quando ando pelas ruas do Crato
olho e vivo em dois planos.
"A mesma praça , o mesmo banco ..."
E nas minhas fotografias ,
o passado é conta - corrente;
o presente é contra-corrente ...
e o futuro está num trecho comum...
ali perto do Colégio Diocesano , certamente !
Talvez não fique por lá ...
Talvez antecipe o São João ,
e me desfaça em cinzas ,
como na manhã do dia 25.
O tempo é misturado
O coração é limpo ...
Os desejos são tão simples ,
que eu arrisco o querer...
Quero tudo de belo ,enquanto existo !
"Agora só falta você"...
A Sé do meu coração tem um sino que chama...
Tem a chama !

"O doce é traça da diabetes "
E o sal ?
Vivo nos limites do doce e do sal ...
parcimônia total !
Mas volte , "Totonho" !
Algo de bom sempre fica ...
Existem árvores e vinhos ,
que se prevalecem do tempo ...
E o coração ?
Aprende a amar com paciência ...
Os velhos são ternos...
Mais ternos do que irritados
São lagrimosos , e apertados de saudades ...
São lentos e delicados ...
São arfantes e sonolentos ...
Amam com elasticidade ...
Amam doce , e sabiamente !


Vovó , meu nome é Sofia !

Estou quase pronta

Já recolhi as asas

Já me encaixei

no ventre da minha mãe

Só vou chegar em novembro

Ainda restará

o colorido de um ipê

pra me receber ?



Aurora

Todos os dias , ela me acorda ...
Perfume da manhã , inconfundível ...
Vento brando , som de passarinhos
Frescor de flor , se entreabrindo
Depois vem o sino ...
passos de gente na calçada
acordes de um violão vadio
assobio do boêmio ...
Pawvarotti , Ave - Maria !
E eu entrego a Deus mais este dia
que reine a paz ...
Mosteiro coração !


A palma da mão

Livres , tocáveis
Nada guardam
Recebem e doam
Mãos que tecem ,
mãos que teclam ,
provocam , curam
Mãos unidas ...
conquistam !
Mãos calejadas ,
suaves ...
Mãos molhadas ou
ressequidas pela idade ...
Mãos dos enamorados ,
entrelaçadas
Mãos do encarcerados ,
acorrentadas ...
Mãos que furtam ,
mãos que matam ...
Mãos de fadas ,
mãos inquietas , lascivas ...
Mãos que afagam ,
mãos que apedrejam ...
Mãos de crianças no berço ...
Mãos no terço ...
Mãos que imploram ,
que dançam ,
gesticulam ,
acenam ...
dizem adeus ...
Mãos de Deus !
Milagre e martírio em Juazeiro
Lucho Torres Bedoya

Amanhã (26) e nos dias seguintes, 27 e 28, realizar-se-á, em Fortaleza, o Seminário Estadual em Ciências da Religião intitulado: Milagre, Martírio e Protagonismo da Tradição Religiosa Popular de Juazeiro: Pe. Cícero, Beata Maria de Araújo, Romeiros/as e Romarias. O evento é promovido pelo Instituto de Ciências Religiosas - Icre. O assunto, que continua a despertar interesse, suscitando reações e posicionamentos diversos, será abordado em intensa programação que consistirá de conferências, seminários temáticos, oficinas, mesa redonda e atividades artístico-culturais (sala de exposição, teatro, repentes, e apresentação musical), oferecidos por pesquisadores qualificados da área e por conhecidos mestres da cultura.

O evento possibilitará a divulgação dos resultados da pesquisa recente a respeito do peculiar fenômeno cultural, social, religioso acontecido em Juazeiro em torno de Pe. Cícero, Beata Maria de Araújo e o movimento das romarias. Propiciará, também, o encontro de pesquisadores, professores e estudantes em Ciências da Religião do Estado na perspectiva de lançar o Fórum Estadual em Estudos sobre Religião. O Seminário pretende resgatar para o Ceará este rico patrimônio cultural-religioso que lhe pertence. Para além de discussões religiosas confessionais, este fenômeno precisa ser melhor compreendido à luz da contribuição das Ciências da Religião. O evento vai mobilizar um público diversificado: ligado, principalmente, à comunidade acadêmica dos centros de ensino superior do estado, e aberto ao público em geral. O fato de realizar-se no antigo Seminário da Prainha, da Arquidiocese de Fortaleza, confere ao evento um significado especial, por ser esse o local onde Pe. Cícero fez seus estudos em Teologia.

Lucho Torres Bedoya - Coordenador do Seminário Estadual em Ciências da Religião

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

FIQUE POR AÍ MESMO!

Totonho, meu nêgo véi. Fique por aí mesmo. O mundo mudou todo. O que era uma coisa agora é o contrário. O sim virou não, o alto ficou baixo, o açude hoje é fornalha, o passarinho morre no ninho. Fique por aí mesmo. Não peça esta reencarnação para ser você pelo avesso. Eu sei de tua retidão, o jeito único de ser. Se por aqui tu voltares o braço esquerdo virá no direito, as costas na frente e o gênero se flexionará no feminino.

Tu lembras da doçura? Do agrado que o gosto trazia? Lembras-te quando o riso de Abigail te derretia todo, deixando o mundo inteiro nas cores douradas do mel de abelha italiana? Quando a paz dos sonhos te remetia para as encostas floridas do alto dos cochos e por ela rolavam toda agudeza adocicada do cajá? Pois então, nêgo véi!

O doce é a traça da diabete. A palidez vertiginosa da hipoglicemia e a sudorese igual aos tempos finais que advém da glicose alta. Ao invés dos sumos, agora o caruncho perfurante dos membros inferiores como a dizer, você aos pedaços se vai. A doçura se tornou uma ameaça médica, crônica e definitiva.

Sabe meu nego? O sal da terra. Aquele do qual a vida emergia pelo sopro divino e então o batismo introduzia o recém nato ao novelo do futuro?

A agora o sal é hipertensão. A dilatação descomunal das câmaras do coração. A ameaça contínua de infarto agudo do miocárdio ou um acidente vascular cerebral. Ao invés da herança do tempo, herdarás a eterna fisioterapia de partes que antes do todo já perderam os movimentos.

E tudo aquilo que era da tua natureza se tornou a abundância da escassez. Ou melhor dizendo, a ocorrência da exceção. As carnes colesterol, o arroz calorias, o feijão excesso, o macarrão ameaça italiana. A dança se tornou marcha, a alegria uma química externa, a narrativa o tédio, a poesia uma peça intimista, a música um fonograma. Tudo é mais difícil, cheio de regras e de ameaças ao menor descuido. Fique por aí mesmo nêgo véi.

Brioso terminou a reza e levantou-se. Saiu na calçada e foi atropelado por uma bike em alta velocidade. Agora vou visitá-lo na emergência com a tíbia e o perônio fraturados e pior de tudo é que hoje tenho uma reunião e esta merda me atrasará.

CLIENTELISMO - Prática Desgraçada da Zona Rural

A Grande Arma Nessas Eleições: O Telefone Celular que FILMA:



No nosso papo sobre política de hoje, falaremos sobre um tema muito comum nas pequenas cidades e interiores, sobretudo na zona Rural, o famigerado CLIENTELISMO.

Entende-se por Clientelismo a prática política de troca de favores, na qual os eleitores são tidos como “clientes”. O político pauta seus projetos e funções de acordo com interesses de indivíduos ou grupos, com os quais cultiva uma relação de proximidade pessoal. Em troca, o político recebe votos. Desta forma, clientelismo diz respeito a trocas individuais de bens privados entre atores desiguais, chamados de patrões e clientes. A origem dessas relações é vinculada à sociedade rural “tradicional”, aos laços entre latifundiários e camponeses, fundados na reciprocidade, confiança e lealdade.

Na cidade do Crato, principalmente na zona rural, essa prática é muito comum, e certos políticos possuem diversas famílias como seus reféns de muitas eleições. É a famosa troca de favores, em que o político durante a sua administração arruma um trator, uma máquina, um servicinho para determinada localidade ou família e em troca, toda aquela família vota naquele político. Também conhecido por apadrinhamento. Também existe o clientelismo devido aos empregos fornecidos em compromissos de campanha. Muitos políticos entopem as prefeituras de pessoas com cargos mixurucos, transformando a mesma em CABIDE DE EMPREGOS, quando o certo seria fazer o enxugamento da folha de pagamento, despedindo todos os vagabundos que ficam pendurados, pesando no orçamento do município e colocando pessoas que realmente fazem alguma coisa pela cidade. Desta e de muitas outras formas, muitos políticos tradicionais do Brasil, conseguiram construir seus CURRAIS, seus redutos de votos, tendo muitos votos na zona rural por conta do clientelismo.

Voltando-se à nossa região, é preciso que nesta eleição, a população mais esclarecida esteja bastante atenta ao fenômeno da compra de votos, e ao clientelismo, e uma das maiores armas é a denúncia fundamentada. Eu aconselho que cada pessoa às vésperas da eleição saia de casa com o se fora um repórter, com seu telefone celular, ou câmera fotográfica e ao presenciar alguma cena de compra de votos, doação de objetos em troca de votos e favores, denuncie aquele candidato às autoridades competentes imediatamente. Assim, estaremos trabalhando para uma eleição limpa, sem compra de votos e sem clientelismo.

Cidadania e Responsabilidade.
Voto não tem preço, tem consequências!

Abraços,

Dihelson Mendonça
.

VOCÊ A BANDA E A PRAÇA

Ali pela metade dos anos 60 fomos enxotados da nossa terra. Os pingos de luzes que só raramente desciam como estrelas cadentes deixamos para trás. O silêncio pleno de sussurros, grilos, vozes das noites foi superado pelo ranger das máquinas de aço. Todo o milenar mistério das sombras e dos ermos da escuridão foram iluminados pelos filamentos de tungstênio em brasa. As maiores arvores, de tamanhos gigantes desde nossa estatura ao rés do chão foram abandonadas ao corte do machado. As brechas de iluminação traspassando a folhagem quase teto da floresta foram esquecidas. As histórias fantásticas na calçada de noites enluaradas se calaram. O encontro de corpos no esconderijo que a liberdade a dois aventava um pecado venial, não mortal, pois que da mesma natureza dos céus em alegria. O canto da seriema, o grito do pavão, o mugido da vaca pelo seu bezerro, as galinhas no poleiro, o capote avisando da postura, as vozes que perderam a compreensão entre válvulas, depois transistores e agora chips.

E quando ainda na marcha expulsa todos se deram conta do que se perdia, explodiu nos rádios a música das perdas. Sem que se compreendesse o salão se inundava de casais tão logo as tocassem. As rádios repetiram-na desesperadas, no amanhecer, na metade da manhã, ao meio-dia, na tarde e á noite como um inegável desejo de se agarrar àquilo tudo que se perdia. E para vocês que se tornaram sacis da modernidade urbana, leiam as letras de duas pernas, uma no Brasil rural, vilarinho e bucólico e a outra na metrópole industrial. Sintam como de repente tudo se torna vívido, alegre e transformador da vida. Com vocês, na voz de Francisco Buarque de Hollanda:

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor...

E como o povo todo cantou, a indústria cultural compreendeu que um sentimento de saudade permeava toda a vida brasileira. E foi assim que Carlos Imperial, num ímpeto oportunista como ele só, na voz de Ronnie Von deixou mais este registro no ano 1967para as lembranças dos vivos de então :

Hoje eu acordei com saudades de você
Beijei aquela foto que você me ofertou.
Sentei naquele banco da pracinha só porque,
foi lá que começou o nosso amor!!!

Senti que os passarinhos todos me reconheceram
e eles entenderam toda a minha solidão,
Ficaram tão tristonhos e até emudeceram,
aí então eu fiz esta canção...

A mesma praça
o mesmo banco,
as mesmas flores,
o mesmo jardim.

Tudo é igual
mas estou triste,
porque não tenho
você perto de mim.

Beijei aquela árvore tão linda onde eu,
com o meu canivete um coração eu desenhei,
escrevi no coração meu nome junto ao seu.
ser seu grande amor então jurei.

O guarda ainda é mesmo que um dia me pegou,
roubando uma rosa amarela pra você,
ainda tem balanço, tem gangorra meu amor,
crianças que não param de correr.

A mesma praça
o mesmo banco,
as mesmas flores,
o mesmo jardim.

Tudo é igual
mas estou triste,
porque não tenho
você perto de mim.

Aquele bom velhinho pipoqueiro foi quem viu,
quando envergonhado de namoro eu lhe falei,
ainda é o mesmo sorveteiro que assistiu,
ao primeiro beijo que eu lhe dei.

A gente vai crescendo, vai crescendo e o tempo passa,
E nunca esquece a felicidade que encontrou,
sempre eu vou lembrar do nosso banco lá praça,
foi lá que começou o nosso amor.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Amparado pelo Desconhecido

Quando meus verdugos pensam
que o poço é profundo e o abismo infernal
abrem-se janelas lá no horizonte girassóis.

Tenho bem mais carne no coração.
Bem mais cutícula na unha encravada.

Quando os ombros pesam
e o cérebro ameaça despencar
calço a velha sandália azul.

Tenho muita sede.
Muito mais odres vazios.

Quando as escuras nuvens se abraçam
e o céu treme
olho para cima e confesso minha inutilidade.

Caiam então calafrios sobre minha nuca.
Meus dedões têm vida própria.
Descansam.

De boca vermelha - Marta Feitosa



Mulheres não tem duas bocas
há as que falam por uma boca só
há as que abrem escuros, de lanterna
e buracos profundos saem das bocas fechadas
aberturas variantes, um bocado de entradas,
mulheres e tomadas elétricas
de pés no chão dá choque, melhor flutuar...
para invadir uma mulher...
especial todas se acham,
abrir o buraco dos sentidos,
das duas orelhas, dos dois indivíduos
no play/stop alternado...e baixo
mulher machista não tira do macho
a primazia da conquista,
mulher artista é assediada pelas feministas
fêmeas saem de si mesmas,
homens não, e daí?
estas, em hipnose, vão onde os erros ficaram
resgatá-los para ensinar a outros
quer dar ao mundo o que não tem
só porque dá à luz
e rebola pelas calçadas, que pode,
ora bolasas elas são éter inebriantes
eu fascínio é fumaça de índio
quem lê sinais de fogo nas montanhas
põe o pé atrás de lenha, não do índio
e faz uma fogueira telegráfica,
intuitivamente insinuante
as sereias devem ser virgens
não abrem as pernas, não procriam
seus parceiros seriam cavalos-marinhos?
peixe nenhum tem perna...de homem
mulheres de coxas, colunas de amparar cansados,
escorrer nascidos, prender os desavisados,
e as que avisam,
é pela boca do juízo, mas dizem
que juízo de mulher é não sei onde...

MOLHO DOADO

Naquele dia não havia Papel higiênico,
Nenhum guardanapo...
Pano de prato aparou o molho
Que por educação, não caía
No chão do quarto
- Camisinha, então.
- Outro dia, outro dia.
Joguei o pano na pia
E hoje serve à cozinha
Não lembro qual deles
Embrulhou os genes
Lavado tá novo, literalmente
E sei de valores mais essenciais
Que um pouco de higiene
A necessidade é um deles
Não será atrevido
Ignorar o despreparo
Para receber um rei
Com quem se deita
Ora, os reis se deleitam
Acolhidos nos braços
Das criadas escolhidas
Ironia sadi-lúdica da vida
- Mas há reis e reis...
- E há rainhas e vadias.
E tantas espécies em evolução.

A crônica de Pedro Esmeraldo


O Futebol Cratense – De ontem e de hoje

Pedro Esmeraldo

Na década de 1950 subia o morro do Seminário a fim de assistir uma partida futebolística do Crato enfrentando o município do Juazeiro do Norte. Uma multidão frenética aglomerou-se num pequeno estádio improvisado, cercado de arame farpado a fim de impedir a penetração de inclusos as margens do campo.
Era uma partida especial já que o Crato almejava conquistar o campeonato do Certame Interiorano promovido pela APCDEC, Associação Profissional dos Cronistas Desportivo de Ceará.
O Crato tinha bons craques capacitados, com muita garra e técnica podendo enfrentar qualquer equipe sem sofrer alvoroço, por certo e não decepcionariam as qualidades técnicas dessa época.
Por sua vez, o time adversário, também tinha bons valores que faziam todo o torcedor tremer de medo de cair numa amargura com uma derrota indesejada.
Com tudo isso, a torcida vibrava entusiasticamente, ajudando os craques a desempenharem com afinco e partirem em direção às traves adversárias. Lembramos que os Cratenses conquistaram com vibração os loiros da vitória. Citamos por exemplo, esses verdadeiros craques, sem desmerecer os demais, visto que participaram com muito arrojo o desenrolar da partida.
Para se ter uma idéia, nunca se deve esquecer das jogadas clássicas dos jogadores como Enock, Senhor, Mundinho, Antônio da Pensão, Peixe e outro, se não falha a memória foram os baluartes da vitória do Crato.
O time Cratense foi escalado com os seguintes jogadores: Zé Albanito, Senhor, Arrais, Kleber, Mundinho e Brás; Jeremias, Peixe, Antônio da Pensão, Enock e Marcelo. Esse time vibrava entusiasticamente a torcida, comemorando em fogos, pulos e abraços, a cada gol que cometia no time adversário, pois toda a população desceu com velocidade, num só fôlego , o morro do Seminário em direção a cidade.
A partida foi duríssima, vez que o adversário era constituído de bons valores que pode citar alguns, em virtude que não lembrar o nome dos outros, visto que não me interessava a memorizar a presença deles, mas lembro bem dos craques perigosos na arte futibolística: como Piaba, Patu e o Afro-descendente Quixaba. Só que este útimo consideravam o jogador mais perigoso da partida. Em certo momento esse homem arrancou do meio do campo, em alta velocidade e marchou em direção ao gol, deixando toda a torcida esmorecida. Felizmente Deus nos abençoou, enviando a bola em direção às traves, que deixou o Cratense aliviado.
Antes porem, desejo recordar as figuras consagradas com craque de alto relevo, ou seja: Enock, Mundinho, Senhor, Peixe e Antonio da Pensão. Esses verdadeiros craques não faziam vergonha se disputassem partidas em qualquer lugar do Brasil.
Hoje em dia, não se vê craque da mesma estirpe do passado. Vem então a horda de desocupados, querendo assumir o comando desportivo, sem nenhuma capacitação técnica, a maioria mercenária para enfrentar o desafio esportivo da temporada. Antigamente, o Crato não tinha estádio, mas possuía craque; Hoje é o contrário, o Crato tem estádio mas não tem craque o que seria uma vergonha para essa juventude inconseqüente.
É preciso que os políticos, esses que dizem lutadores pelo Crato, devem convencer a juventude, com interesse e entusiasmo, volte a praticar esporte, visto que o desenvolvimento de uma cidade está inserido no desenvolvimento físico da juventude. Senhores políticos: pensem bem, lutem pela sua cidade, tragam mais equilíbrio emocional no desempenho de suas funções.

Crato – Ce, 22 de setembro de 2008

Saiu na "Folha de S.Paulo", 23-09-2008.


23/09/2008 - 05h29
Combate à corrupção "estanca" no Brasil, diz Transparência Internacional
da BBC Brasil
O combate à corrupção "parece ter estancado" no Brasil nos últimos anos, segundo o relatório anual da organização Transparência Internacional (TI), divulgado nesta terça-feira.
O índice de percepção de corrupção --que reflete como cidadãos em diversos países vêem o combate a este mal-- calculado para o Brasil permaneceu em 3,5 pontos, intocado em relação ao ano passado, em uma escala que varia de 0 a 10.
Segundo a ONG, a situação do Brasil é ilustrativa da regional: 22 dos 32 países da região incluídos no levantamento ficaram abaixo dos 5 pontos, o que indica problemas sérios de corrupção. Destes, 11 sequer passaram dos 3 pontos, marco indicativo de corrupção desenfreada.
Em sua análise para as Américas, a TI qualificou os resultados como "tendência infeliz para a região nos últimos anos".
"Os esforços anticorrupção parecem ter estancado, o que é particularmente perturbador à luz dos programas de reformas de muitos governos", afirma o comunicado da ONG.
Judiciário
A pontuação foi obtida pela análise de diversos indicadores --no caso brasileiro, sete foram utilizados como fonte.
As pesquisas mostraram que a América Latina tem o pior nível de confiança no seu Judiciário: quase três em cada quatro latino-americanos entrevistados em dez países da região declararam acreditar que existe corrupção nesta esfera de poder, afirmou a TI.
Além disso, 54% dos entrevistados em uma pesquisa no ano passado disseram esperar que a corrupção aumente nos próximos três anos --uma proporção que era de 43% há quatro anos.
"Esses elementos comuns parecem ser fatores determinantes no perpétuo sentimento de impasse na luta contra a corrupção na América Latina e no Caribe", afirmou o documento.
"A região avançou significativamente na adoção de convenções e instrumentos legais contra a corrupção, mas está claro que muitos países ainda carecem da aplicação efetiva da lei."
O professor Johann Graf Lambsdorff, da Universidade de Passau, que elabora o Índice para a TI, diz que há evidências de que melhorar um ponto no índice de percepção da corrupção aumenta as receitas de um país em até 4%, e a afluência de capital em até 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
"Desastre humanitário"
No mundo, a lista dos países com melhores e piores índices foi pouco alterada em relação ao ano passado.
Melhores
Dinamarca e Suécia lideram o ranking, desta vez ao lado da Nova Zelândia --o antigo terceiro lugar, a Noruega, ficou em 14º e foi uma queda marcante no relatório deste ano, notou a ONG.
Piores
Já a Somália, Mianmar, Iraque e Haiti registraram os piores índices.
A Transparência Internacional procurou destacar o que chamou de "relação fatal" entre pobreza, instituições decadentes e corrupção.
O mal adicionará US$ 50 bilhões --cerca de metade do volume de ajuda econômica anual global-- ao custo de alcançar os Objetivos do Milênio em acesso a água e saneamento básico, estimou a ONG.
"Nos países mais pobres, os níveis de corrupção podem ser a diferença entre a vida e a morte quando está em jogo o dinheiro que vai para hospitais ou para água potável", disse a presidente da TI, Huguette Labelle.
"Os altos e persistentes níveis de corrupção e pobreza que assolam muitas das sociedades mundiais são o equivalente a um desastre humanitário e não podem ser tolerados."
Ela notou que mesmo nos países ricos o problema é preocupante, normalmente por falta de uma legislação que fiscalize a atuação das grandes companhias em outros países.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

RIO DE PONTA-A-PONTA JANEIRO

cartão-postal,
próprio para o gozo do olhar,
guardar espiadelas no futuro,
desejar um momento de paz,
emoções em quartos solitários,
voltar à paisagem visitante.

o Rio de Janeiro,
não é verdadeiro postá-lo,
ser ele apenas um cartão.
Um cartão fixo, morto,
descolorando-se nos guardados.

a pauta das praias, divisões dodecafônicas,
e jamais um minuto depois a mesma frase,
entre a noite e o dia, entre as luas, se te afastas,
ao retornares uma nova narrativa de enseadas,
ilhas, restingas, pontas, a baía da Guanabara.

tantos morros que uma vida só é pouco,
as luzes de maio, o pino do sol em verão,
as manchas tonais, quebra-luzes nubilosos,
quanto verde, expressionismo tropical,
mas cada fóton é vida impressionada.

ontem e amanhã, da enseada de Botafogo,
a unidade da Urca e do Pão de Açúcar,
sabemos nós que toda a humanidade o vê,
mas que unidade é essa que se multiplica,
cada retorno é uma borbulha de novidade.

nada mais transcendente que a São Clemente,
entre velhos casarões do século XIX,
os zigurates dos anos XX,
numa linha o Corcovado, na ponta o Redentor,
na outra, o Pão de Açúcar, no nada o Bonde.

quando toda fotografia for revelada,
mesmo que no instante digital,
uma cidade, o Rio de Janeiro,
jamais será fótons em quadros,
mesmo a ilusão do cinema a mover-se,

O Rio é a vida e suas complexidades,
mas é, também, magma intrusivo,
que se levanta ante nossa timidez recolhida.

Reminiscência

Minhas andorinhas ainda vivem
debruçadas nos galhos secos das oiticicas?
Sempre fui alvo dos vôos rasantes e dos mísseis pastosos.
Nódoas brancas. Amareladas.
Havia sempre aquelas brincalhonas que mandavam merda e gargalhavam.
Crepúsculo. Praça da Sé. Bostinha querida de andorinhas sensíveis.

A essa tal de VEJA...

VIÚVA DE PAULO FREIRE ESCREVE CARTA DE REPÚDIO À REVISTA VEJA
16/09/2008 - Na edição de 20 de agosto a revista Veja publicou a reportagem O que estão ensinando a ele? De autoria de Mônica Weinberg e Camila Pereira, ela foi baseada em pesquisa sobre qualidade do ensino no Brasil. Lá pelas tantas há o seguinte trecho:

'Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado'.

Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigo publicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera. Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática de agredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina.

Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:


'Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.


Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.


A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do 'filósofo' e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido - na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.


Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu 'Norte' e 'Bíblia', esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.


Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!


São Paulo, 11 de setembro de 2008

Ana Maria Araújo Freire'.

A ARTE COMO DISCURSO POLÍTICO

Na semana passada Frei Betto publicou no Globo um texto com o título de "O Presente Infindável". A seguir vem um resumo do artigo. "São muitas nostalgias e poucas utopias. O novo conceito de tempo é o da arte cinematográfica, não mais linear, histórico. No filme predomina a simultaneidade. Suprimem-se a barreira entre tempo e espaço. O tempo adquire caráter espacial e o espaço tempo. O tempo dar saltos, do passado para o presente e deste para o futuro. Não há continuidade ininterrupta. A única âncora é o aqui-e-agora do espectador. Não há durabilidade e nem direção irreversível. A pessoa está morta e nas telas continua um personagem jovem e ativo. Aos poucos o horizonte histórico se apaga e a utopia sai de cena. Não há, como no Ecleisastes, tempo para construir e tempo para destruir; tempo para amar e tempo para odiar; tempo para fazer a guerra e tempo para restabelecer a paz. O tempo é agora, um tempo sobreposto de construção e destruição, amor e ódio, guerra e paz. A felicidade deixa de ser um projeto temporal, reduzindo-se a apenas um mero prazer instantâneo, epidérmico, derivado da dilatação do ego (poder, riqueza, fama etc.). A utopia é privatizada. É apenas o êxito pessoal. A vida não se move por ideais e nem se justifica pela nobreza das causas abraçadas. Basta ter acesso ao consumo que propicia valor e conforto. O Céu na terra – prometem a publicidade, o turismo, o novo equipamento eletrônico, o banco, o cartão de crédito etc. Nem a fé escapa à subtração da temporalidade. O Reino de Deus deixa de ser esperado lá na frente para ser esperado "lá em cima". A fé reduz-se à esperança de salvação individual. Uma mesma pessoa vive diferentes experiências sem se perguntar por princípios éticos, políticos ou ideológicos. Finalmente ele termina o texto com algo positivo sobre esta simultaneidade, que seria a busca da interioridade. Do tempo místico, do tempo absoluto. Tempo síntese/supressão de todos os tempos. Eis que irrompe a eternidade – eterna idade. Onde a vida é terna. Nas artes, a música e a poesia se aproximam desta simultaneidade que volatiliza o tempo, imprimindo-lhe caráter atemporal. Na música, nossos ouvidos captam apenas a articulação de umas poucas notas. No entanto, perdura na emoção a lembrança de todas as notas que já soaram antes. Em si, a melodia é inatingível, assim como o poema, uma sucessão rítmica de sílabas e palavras sutis. O que existe é a ressonância da nota e da palavra em nossa subjetividade. A seqüência se instala em nós. Não é o tempo fatiado em passado, presente e futuro. É o presente infindável. O tempo infinito. Como no amor, em que o cotidiano é apenas a marcação ordinária de uma inspiração extraordinária."

O texto de Frei Betto deve tocar fundo os corações de muitas pessoas que sente profundamente a evolução dos tempos presentes. Por isso mesmo é preciso contemplar que a arte cinematográfica não é a causa disso tudo. Apenas reflete um ordenamento da vida social e econômica que tem por eixo exatamente esta simultaneidade de vida. Em última análise uma conformação intelectual e sensitiva com uma realidade efetivamente imposta, histórica, pois terá fim, fruto de movimentos sociais e políticos. Enfim, toda esta volúpia de poder e riqueza é a regra do ordenamento geral. Afinal o cinema é uma mera narrativa da "ideologia" desta ordem, pode ser um pouco mais, se apresentar como crítica a ela, mas convenhamos que neste quase século e meio de sua existência ele é pouco demais para o tempo da história.

O outro dado a se considerar é o papel da música e da poesia com o qual Frei Betto explicita uma verdadeira experiência mística. Neste sentido a alma do frade se encontra num estágio por demais contemplativo para que ele se dê conta da força de sua argumentação na primeira parte do artigo. Seria como se diante de tanto desalento frente ao quadro geral da humanidade, nele encontrasse uma pepita brilhante com a qual pudesse finalizar de modo positivo o seu pessimismo introdutório. Mas também isso não é possível. Afinal a música e a poesia não se colocam em "categoria" distinta do cinema. Aliás, todos são partes dos mesmos recursos culturais dos tempos atuais. O próprio Nietzsche em suas diatribes contra Wagner, quase que na escala do dissabor pessoal, já alertava isso em relação à música. É que a música e a poesia são "discursos" humanos, históricos, providos de toda carga de tempo, assim como o cinema, portanto de ideologia, com intenções de se tornarem politicamente dominantes. No meu entender, por mais que gostasse de navegar na utopia de Frei Betto, não pude deixar de pegar na maçaneta da porta do tempo em que estes ficam para trás e um novo tempo se abre como uma utopia datada, mas certamente no território da humanidade.

O custo das Monarquias


Rogério da Silva Tjader (*)

Anos atrás, a revista Time publicou um artigo sob o título “A Magia da Monarquia Continua”, no qual constava textualmente:
“Uma das principais críticas à Monarquia consiste em dizer que ela é demasiadamente dispendiosa. Mas os Presidentes de Repúblicas também gastam e não estão aptos a governar com reis e rainhas que para isso foram educados. E os Presidentes nem sempre são tão honestos como eles, desde os europeus até os asiáticos.”

Por ocasião da independência da Noruega, quando o Parlamento votava a forma de governo a ser adotada, a Monarquia foi escolhida por 100 votos contra 4 a favor do regime republicano. Nansen – o Presidente do Parlamento – justificou o resultado dizendo:
“Optamos pela Monarquia por 3 razões básicas: é muito mais barata, concede mais liberdade, além de ter mais autoridade para defender os interesses nacionais”.

(*) Rogério da Silva Tjader é professor de História, titular em várias Faculdades, no Estado do Rio de Janeiro.

Duas cenas na vida do Padre Cícero


CENA 1

A família chegou ao Juazeiro, num carro de boi, depois de longos dias de caminhada pelo sertão poeirento do Nordeste. Pai, mãe, dois filhos e duas filhas conduziam um terceiro jovem, também filho do casal, possuído por maus espíritos, a fim de que o Padre Cícero lhe tirasse “o cão do couro”, expressão utilizada naquele tempo e correspondente hoje à palavra exorcismo. Colocado na sala de visita da casa do sacerdote, o rapaz, todo amarrado, espumava e urrava feito bicho bruto, querendo se ver livre das fortes cordas que o imobilizavam. Nisso, entra o Padre Cícero com um vidro de água benta na mão direita. Espargiu o líquido sobre toda a sala e em seguida ordenou: “tirem as cordas do rapaz”. Apesar das ponderações da mãe do moço, alertando que se ficasse livre das amarras o filho agrediria a todos, o Padre Cícero insistiu: “soltem o rapaz”. E começou a rezar em latim, jogando água benta no moço, que foi se acalmando até ficar totalmente sereno. A calmaria voltou ao ambiente. Padre Cícero recomenda dar uma xícara de líquido ao jovem, na parte da tarde, e leva-lo para descansar. Dias depois, os membros da família voltam à casa do Padre Cícero. Vieram agradecer ao sacerdote por ter livrado o filho dos maus espíritos. E retornaram, em seguida, para as paragens de origem.

CENA 2

A mesa de refeição da casa do Padre Cícero era sempre farta, embora ele próprio se alimentasse frugalmente. Diversas pessoas procuravam diariamente sua casa, nas horas das refeições, numa verdadeira exploração a conhecida hospitalidade do sacerdote. Por outro lado, todos os dias uma pequena multidão se formava, defronte a sua residência, buscando ter acesso ao velho padre. Ele recebia a todos indistintamente. Ricos e pobres. Moradores do Juazeiro ou visitantes vindos de diversos rincões do Nordeste. Nos últimos tempos, é bem verdade, a beata Mocinha fazia uma triagem dos visitantes a serem introduzidos ao sacerdote, pois era impossível o Padre atender a todos. Ele ouvia pacientemente todos os visitantes. Certo dia, uma mulher conduzindo nos braços uma criança furou a fila das pessoas a serem recebidas pelo Padre Cícero e, em alta voz, de forma impertinente, disse que uma parte da casa dela tinha ruído. Disse mais: cachorros e porcos invadiam o que restava da sua morada e ela não tinha condições de continuar mais lá. Pediu ao Padre Cícero uma ajuda. O velho sacerdote havia recebido, pouco antes, um donativo em dinheiro, e tinha colocado no bolso da batina a importância sem conferir. Pelo volume era uma boa quantia. Naquela mesma hora, Padre Cícero pegou aquele dinheiro e repassou toda importância para a mulher. Esta saiu demonstrando muito contentamento, pois, provavelmente, em toda sua vida, nunca tinha colocado tantos réis nas mãos...

Nota: as cenas acima foram relatadas por Maria Assunção Gonçalves, que conviveu com o Padre Cícero, ao autor destas linhas, e gravadas em julho de 2004.

Armando Lopes Rafael