TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 30 de novembro de 2025

LEMBRANÇA “IMORREDOURA” E AGRADABILÍSSIMA – José Nílton Mariano Saraiva

 

Um dos grandes sucessos do cantor-brega Odair José é, ainda hoje, a antiga canção "EU VOU TIRAR VOCÊ DESSE LUGAR", ainda hoje teimosamente presente nos mais diversos ambientes, onde grandes amores são lembrados.

  

E, como "recordar é viver", à época colocamos no papel o que foi o nosso encontro com uma dessas “mulheres da vida” numa das "zonas/puteiros/cabarés" da vida, e pela qual "arriamos" os quatro pneus, literalmente.

 

A lamentar, não termos tido a oportunidade de cumprir o que a ela prometemos com toda a sinceridade e convicção: "EU VOU TIRAR VOCÊ DESSE LUGAR" (chegamos mesmo a pensar em assumi-la, para o bem ou para o mal).

 

Ficou a saudade imorredoura (ou seria a famosa "dor de corno" ???) que, surpreendentemente, o Facebook vem de nos lembrar, agora.

 

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EU VOU TIRAR VOCE DESSE LUGAR (Odair José)

 

Olha, a primeira vez que eu estive aqui

Foi só pra me distrair

Eu vim em busca do amor

 

Olha, foi então que eu lhe conheci

Naquela noite fria, em seus braços

Meus problemas esqueci

 

Olha, a segunda vez que eu estive aqui

Já não foi pra distrair

Eu senti saudades de você

 

Olha, eu precisei do seu carinho

Pois eu me sentia tão sozinho

E já não podia mais lhe esquecer

 

Eu vou tirar você desse lugar

Eu vou levar você pra ficar comigo

E não me interessa o que os outros vão pensar

 

Eu sei que você tem medo de não dar certo

Pensa que o passado vai estar sempre perto

E que um dia eu posso me arrepender

 

Eu quero que você não pense em nada triste

Pois quando o amor existe

Não existe tempo pra sofrer

 

Eu vou tirar você desse lugar

Eu vou levar você pra ficar comigo

E não me interessa o que os outros vão pensar

 

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"ONDE ANDA VOCÊ, MARIA DE FÁTIMA ??? - José Nilton Mariano Saraiva 

Em Fortaleza, num desses ambientes onde se reúnem mulheres a serem cortejadas, ela era unanimidade e, compreensivelmente, para ela convergiam os olhares, as fantasias e os apressados corações daqueles alegres e falantes marmanjos, todos já “encharcados” de álcool até o gogó. 

 

Assim, presumindo que com o nosso estilo discreto e reflexivo dificilmente conseguiríamos algo ante tantas feras de porte atlético privilegiado e verborragia (teoricamente) envolvente, preferimos ficar na nossa, observando o ambiente, curtindo o som e “deglutindo” uma geladinha. 

De repente, às nossas costas, aquele toque suave e quase imperceptível no ombro; e, ao virarmos pra conferir, deparamo-nos com o mais belo (embora discreto) sorriso que alguém possa imaginar, seguido da sussurrada, calorosa e inolvidável indagação: “E você, não quer ficar comigo ???”. 

Foi assim que conhecemos a meiga Maria de Fátima.


Altura mediana, clara, cabelos castanhos, olhos discretamente ao estilo japonês, nariz perfeito, dentes impecavelmente alvos, lábios carnudos e... “cheinha” (ao contrário das magrelas ossudas, de hoje).

Já no quarto, ao desnudar-se, uma arrebatadora e deslumbrante visão, digna de ser retratada por um desses pintores clássicos e posta num pedestal pra ser admirada por gregos e troianos: seios medianos e rijos, cintura fina, bunda belíssima, coxas firmes e pra lá de torneadas. Enfim, tudo no lugar. Uma deusa da perfeição. Carinhosa, fala mansa e envolvente, conversa aprumada, de pronto bateu aquela sinergia entre nós. A ponto de, ainda na cama, lhe indagarmos (com sinceridade d’alma) a “razão” ou o “por que” de uma mulher tão bela e educada frequentar um local daqueles; de onde ela era; de qual família e por aí vai. Surpresa, ela afirmou que era a primeira vez que alguém fazia tais tipos de perguntas pra ela, que nunca alguém procurara saber da sua intimidade, que, enfim, encontrara alguém “diferente” (e a prova disso é que não aceitou receber nada, ao final, como era praxe naqueles idos tempos).  

 

Pra encurtar a conversa: na segunda vez que a procuramos ela simplesmente largou tudo, sob protestos da cafetina, e fomos curtir a vida em pleno dia, terminando por encontrar abrigo em nosso apartamento de solteiro (onde ela aprendeu, a partir de então e durante meses, a dormir “empacotada” em nossas camisas de seda, de mangas longas, que achava... ”gostosas”). 

Em represália, fomos proibidos pela "alcoviteira" de adentrar o tal ambiente, já que os “seguranças” tinham ordem expressa de “baixar a cacete”, se se tornasse necessário; então, conjuntamente, arquitetamos que bastariam dois toques na buzina pra que ela “se mandasse” dali. E assim foi feito, a partir de então.


Foram meses de felicidade plena, durante os quais frequentávamos, de mãos dadas e sorriso no rosto, qualquer lugar que “desse na telha”, sem nenhum constrangimento de encontrar algum desses barões que com ela houvesse se relacionado naquele ambiente ("seleto" e frequentado por “barões”, homens de realce da sociedade).
 

Mas...


De repente, a meiga Maria de Fátima sumiu, evaporou-se, tomou Doril, escafedeu-se, literalmente deixando-nos na mais completa, sofrida e dolorosa orfandade (deve ter havido algo de sério e grave, que jamais saberemos).

 

Hoje, apesar de casado (em processo de separação) e com dois belos filhos já adultos, tal qual os William Bonner da vida não cansamos de (mentalmente) perguntar: onde anda você, Maria de Fátima ???


Quantas saudades...

domingo, 23 de novembro de 2025

 “SÚCIA” DE MAFIOSOS – José Nílton Mariano Saraiva

Bolsonaros, tai um exemplo perfeito e acabado de “família unida”.

Tanto que, com o pai já condenado e usando tornozeleira eletrônica em razão das tenebrosas atrocidades cometidas quando no exercício da Presidência da República (e atualmente em prisão domiciliar enquanto não saí o decreto de prisão definitiva), agora, naturalmente que de comum acordo, resolveram num primeiro momento “violar/quebrar/destruir” a tal tornozeleira eletrônica, objetivando uma fuga na calada da noite (tal operação se deu exatamente logo após a virada da madrugada, ou aos 08 minutos após a meia noite; de sexta feira para o sábado).

Para tanto, um dos filhos, Flávio “rachadinha” Bolsonaro (por incrível que pareça um Senador da República), organizaria uma fajuta vigília dos apoiadores do pai, em frente ao condomínio onde mora, para que, durante a algazarra, de alguma forma o pai escapulisse (quem sabe, até vestido de mulher, ou metido no porta-malas de algum carro, de alguém já previamente escalado para tal mister).

Mas aí, a “inteligência” da Polícia Federal foi mais expedita e frustrou a tentativa, decretando sua prisão preventiva e transferindo-o de imediato da prisão domiciliar para as dependências da própria PF (aqui, o interessante é que o próprio Bolsonaro, em conversa gravada pela Polícia Federal, a posteriori, assentiu que realmente tentara tal ação, o que agrava sobremaneira sua situação).

Claro que tal plano contou com a participação efetiva do “filho fujão” e traidor da pátria, que se encontra nos Estados Unidos, Eduardo “bananinha” Bolsonaro (por incrível que pareça um Deputado Federal eleito por São Paulo, embora com domicílio no Rio de Janeiro) que a essa hora deve tá lambendo as feridas após o presidente americano Donald Trump desmoralizá-lo publicamente (e para todo o mundo), ao “zerar” as draconianas taxas que impusera ao governo brasileiro e que, segundo o “bananinha”, foram impostas devido a informações por ele fornecidas ao governo americano.

Convencido que teria mesmo influência para tanto, garantiu que só haveria reversão das tarifas se o Poder Judiciário brasileiro concedesse uma anistia ampla, geral e irrestrita ao pai e demais participantes da tentativa de Golpe de Estado de 08 de janeiro e após ele, E SOMENTE ELE, informar ao governo americano sobre.

Coincidentemente, nesse mesmo dia vaza a notícia que o Deputado Federal e ex-presidente da ABIN do governo Bolsonaro, Alexandre Ramagem, foi visto e filmado  em Miami, Estados Unidos, passeando tranquilamente pelas ruas (muito embora condenado pela Justiça Brasileira e, consequentemente, proibido de ausentar-se do país); ou seja, tal qual Eduardo “bananinha” Bolsonaro, evadiu-se do país antes de ser preso (tudo indica que teria embarcado no distante e inóspito aeroporto de Roraima, onde a fiscalização é ineficiente).

Alfim, duas providências que carecem ser tomadas: 01) que a Interpol seja acionada pelo governo brasileiro, de pronto, tendo em vista que lugar de bandido é na cadeia. Sem maiores tergiversações; e 02) que a omissa Câmara dos Deputados suspenda os vencimentos dos respectivos, já que abandonaram o emprego.          

 

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Quebra-queixo, caldo de cana e ipê

 




Alexandre Lucas

Atreparam-se para colher sementes de ipê-rosa. Suas vagens caíram, as sementes se espalharam, cataram uma por uma. Os ipês são árvores de encanto: os rosas guardam uma beleza calma, já os amarelos parecem que estão com os dentes para fora sem parar de rir.

Sementes de ipê guardadas em sacos de papel, prontas para o plantio. Plantar e colher exige delicadeza e dedicação.

Teve naquele dia ipês no meio do caminho. Nem só de pedras se compõem as estradas. Quebra-queixo, caldo de cana, sol para cada um, beijos sem quatro paredes e olhos de margarina na quentura do meio-dia pareciam afagos com algodão e nuvens.

Atrepados na ponta da língua e dos sonhos, o ipê floresce. Poderia falar de todas as pedras do caminho e do desespero do poeta, mas contenho-me por um instante no quebra-queixo, no caldo de cana e nas doces flores que se espalham sobre o horizonte.

Escritor

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

A florzinha de acerola



Alexandre Lucas


Manhã, café para fazer. O Chupa-Manga visitava a varanda; pequenino, se escondia entre as folhas. A poeta das plantas colhia acerolas. Chegou orgulhosa da sua colheita: maduras, doces e vermelhas brilhantes. Foi logo fotografar, experimentou composições e provou cada fruto delicadamente.


Café da manhã pronto. Há dias atípicos, em que o relógio é esquecido, porque o único compromisso está posto à mesa e no desejo de celebrar a delicadeza. Melancia, morango, suco de acerola, uvas, café, cuscuz, ovos e queijo. Do lado esquerdo estava a poeta das plantas, comendo e dividindo conversas. Lembrava que uma hora demorou quase um dia; promessa difícil é passar pouco tempo. A gente não faz contabilidade das horas, quando vai ver: já é outro dia.


Antes do meio-dia, a poeta das flores oferta uma pequenina flor de acerola do tamanho do mundo. O mundo tem o tamanho das nossas vontades. A flor, segurada na ponta dos dedos, trazia a poesia da aurora e a pronúncia do “eu te amo”, cantada pelos lábios da poeta.


A poeta se despediu, deixando a flor de acerola florindo a casa da varanda e dois jarrinhos nos olhos, andando pelo mundo.


Escritor

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Agricultores de Estrela

 


Alexandre Lucas

Vontade de pichar os céus só para dizer o quanto sinto. Nossos manifestos de amor são escritos sobre os olhos, arados na terra, debaixo dos lençóis, pelas manhãs com café e cafuné, na simplicidade de lavar a louça, na rega das plantas, na oferta da batata doce, na pimenta e no chocolate. Falta respiração; a velocidade dos acontecimentos nos faz dançar. São versos costurados no mistério e no segredo. Cabe o céu e a terra no poema sonhar.

Hoje fiquei na dúvida, na verdade sem respostas. Não sabia direito o que escrever ou oferecer. Teria um trabalho imenso para enumerar a intensidade, as trocas, o sorriso fácil, os olhos brilhantes, a comida dividida entre o verde e a varanda. O sanhaço  se equilibrando no fio, bicando banana logo cedo. Não saberia por onde começar, se por um chá ou pelas entregas de ofícios. Afinal, não existe uma linha reta que borde uma poesia.

Escreveria todas as cartas de amor de novo e te reenviaria, porque hoje é primavera. Ontem ainda era, e amanhã talvez não possa ser. Um dia elas acabam, mas hoje quero viver, mesmo sabendo que a liberdade e o sonho têm seus limites. É quase um ponto final, porque nada se acaba; a vida é sempre uma reviravolta.

Pichei na epiderme da alma, onde só nós podemos enxergar o tamanho do abrigo e o gosto do beijo escancarado de doçura. O amor, de vez em quando, é um quartinho cheio do mundo, que não dá vontade de sair.

Hoje poderia ser feriado para nos embrulharmos de nós. Faria café encorpado, dividiria morangos, uvas e as flores dos olhos, e te convidaria para construir uma torre de sorrisos, uma fábrica de nuvens e fazer a aquisição de um triturador de pesos, já que o mundo é pesado.

Escritor