TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 8 de junho de 2008

De volta aos festivais. Via passado ou futuro?

Por Carlos Rafael Dias



Na década de 1970, os Festivais Regionais da Canção, realizados na cidade do Crato, marcaram época e por isso a população tem cobrado insistentemente o seu retorno.

Não se trata de mero saudosismo, mas, notadamente, de um consenso geral da importância que se tem desse tipo de evento como um estratégico instrumento para o desenvolvimento da cultura regional.

Nesses festivais, despontou toda uma geração de músicos e compositores que ainda hoje é referência maior da produção artística e musical caririense, como Abdoral e Pachelly Jamacaru, Cleivan Paiva, Luiz Carlos Salatiel, José Flávio Vieira, Luís Fidélis, Stênio Diniz, Rosemberg Cariry, Jefferson Júnior, José Nilton de Figueiredo, Stênio Diniz, Geraldo Urano e tantos e muitos outros.

Por força de diversas frentes de pressões pela volta dos festivais, o governo do Crato finalmente cedeu ao apelo, e a promove sob uma fórmula que ainda não está muito nítida para a opinião pública em geral.

Sou sabedor, no entanto, de que através de consultas a alguns artistas, muito deles integrantes da geração dos festivais, foi elaborada uma proposta de retorno do festival a partir de uma nova roupagem, considerando as peculiaridades da atual conjuntura sócio-cultural da região e se adequando às novas possibilidades de incentivar e divulgar os novos talentos musicais.

Assim, salvo melhor juízo, o projeto de realização do Festival Cariri da Canção levou em consideração a memória dos antigos festivais realizados em Crato, desde os Festivais Regionais da Canção, acontecidos na década de 1970, até o CHAMA (Chapada Musical do Araripe), que marcou, igualmente, a década de 1990. Foram experiências vitoriosas que precisavam ser resgatadas enquanto modelos de eventos que deram significativo impulso à produção musical da região. Mas, por outro lado, o novo festival precisa trazer de fato algo novo e não somente repetir velhas fórmulas que, a despeito de terem sido exitosas, não mais atendem aos novos desafios.

Neste sentido, o Festival Cariri da Canção, terá, a curto prazo, o intento de desempenhar um papel efetivo na cena musical independente da região Sul do Estado do Ceará; projetando-a, paulatinamente, para toda a região Nordeste e, quiçá, para todo o país.

Do contrário, o festival será apenas um espectro, algo como uma tentativa de ressuscitar uma múmia por métodos tecnológicos modernos, porém ineficientes para empreitadas como esta.

Outro grande desafio será o de garantir a continuidade do evento, inserindo-o no calendário permanente de atrações turísticas e culturais de região do Cariri. Para tanto, além da participação do poder público, deve contemplar as iniciativas independentes provindas de grupos artísticos alternativos e de artistas isolados, visando o fortalecimento e a consolidação do Festival como um espaço propiciador de surgimento e divulgação de novos valores musicais.

Obs.: A foto que ilustra a matéria, de autor desconhecido, registra a apresentação de George Lucetti no Festival Regional da Canção, acontecido na década de 1970, em Crato; acompanhado por Osvaldo Rafael (Tobinha), na bateria, e Marcos Lucetti, na percussão.

6 comentários:

Calazans Callou disse...

Salutar matéria, vamos carregar as baterias com a enegia do passado, para ascender a luz do futuro musical cariense.

Océlio Teixeira de Souza disse...

Belíssimo texto. Digno de um grande artista e grande historiador. Parabéns Dias. E votos de que o novo Festival venha pra ficar. A Cidade da Cultura tem que fazer valer esse título.

socorro moreira disse...

Rafael , que notícia boa !

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu poeta!

Acho o seu ponto de vista o mais coerente de todos os que li e ouvi sobre esse evento. Muitas pessoas acreditam que devem tomar iniciativas e que essas são blindadas à críticas. Criou-se em nosso cenário, uma verdadeira aversão à crítica. Acho realmente que a iniciativa é boa, no entanto é impossível não considerar o que você apresentou no artigo. Aquela postura setentista dos festivais foi exitosa naquele período, agora a história é outra. O tempo exige uma rapidez midiática e metodológica que eu não vejo ainda solucionado em nossa região. A partir mesmo da abertura das inscrições e encerramento delas. Pouca gente tomou conhecimento, e justamente devido ao fato das gravações serem inéditas, um prazo maior seria o correto.

Grande texto poeta!
Valeu.

Calazans Callou disse...

É isso Lub, agora, sinto que muitas vezes o comodismo ainda é forte na nossa região do cariri. Estou a siscentos quilometros do cariri e muitas vezes quando entro em contato com algum caririense e pergunto pelas novidades, a resposta é contudente, "aqui não acontence nada". Aí eu pergunto, cara hoje tem show de fulaninho, você não vai, "iiiiii cara num tava nem sabendo", aí é F..., né.

Carlos Rafael Dias disse...

Amigos, grato pelos comentários.

Gostei, inclusive, do que disse Calazans por último: tem antena mais antenada há 600 km do que essas antenas com bombril que não captam nada, apesar de estarem embaixo de toda onda.

Vamos de volta aos festivais, com a lembraça do passado e o olho no presente; mas... com o pé no futuro.

"Estou montado no futuro indicativo
Já não temo mais perigo
Nada tenho a declarar.
Pelo de osso costurado a parafuso
Papagaio do Futuro..."
(Alceu Valença, 1974)

Nos veremos lá!