O Rio de Janeiro amanheceu claro. Com uma azul de inverno no céu. O Corcovado muito acima de minha janela está com suas reentrâncias detalhadas. Uma manhã para turistas se extasiarem com uma das mais belas cidades do mundo. Vou até esta paisagem e o quê vejo?
Uma coisa e duas interpretações. A primeira breve: uma nuvem, muito branca, condensa-se bem no topo do corcovado, atrapalhando a visão dos turistas. São nuvens que surgem da umidade que sobe da floresta com o calor do sol da manhã. Esta forma uma ilha quase prateada de tantas luzes e sofre o efeito veloz dos ventos dispersivos no topo do corcovado.
Disso surge a segunda interpretação. A nuvem tem movimento! É um momento histórico desta manhã azul. Aquela formação única por sobre o universo igual. Ela aparenta se manter fixa no ponto em que se encontra. Talvez os vapores estejam subindo rapidamente no fronte quente do paredão do corcovado e, como um jato, jogando continuamente naquele ponto a condensação. Por isso entre a chegada de novos elementos e a fuga de outros, a nuvem se move como uma dança no mesmo lugar.
A singularidade desta nuvem na manhã viva do Rio de Janeiro revela muito do que nos passa na cabeça, os conceitos, as filosofias entre outras formações pré-existentes à nuvem. É desta ajuntada de mundos elaborados, que os meus olhos compreendem os fatos daquela nuvem. Condensada sobre a mais alta formação rochosa desse horizonte. Em movimento, única no azul.
Enquanto um corpo próprio, não se vê de onde vem a matéria que a forma, embora até já tenha especulado sobre tal. Pelo fato de que na superfície superior daquela nuvem jatos velozes, afilados como lanças, se dissipam no azul. E muitos são os elementos da nuvem que ora se dissipam. Portanto, dado que ela ainda se mostra a mesma, é necessário que do azul inferior, junto ao paredão, cheguem iguais quantidades de corpos condensados.
A partir de um certo tempo, o tempo histórico da nuvem, as quantidades dos corpos que aderem parecem diminuir. Por que assim se compreende? É que, paulatinamente, o corpo da nuvem se reduz de tamanho, a dissipação no azul continua célere e os ventos daquelas alturas mudam a nuvem de local. A nuvem agora parece se deslocar do ponto que a alimentava de novos adeptos.
Naquele momento, a nuvem começa a desaparecer e, assim, prossegue até que a vista dos turistas se encontra completamente desimpedida. Os vapores se dissiparam no azul geral desta manhã azul do Rio de Janeiro. Sei que ainda lá eles se encontram, não mais os vejo, apenas são anônimas partículas no universo da minha retina.
3 comentários:
Mas que coisa interessante, Zé!
Fiquei aqui a imaginar todo esse processo fisico-químico. Obrigado por nos proporcionar essa aula de física em pleno Blog. Deveríamos criar um setor para essas e outras curiosidades.
Um grande abraço,
Dihelson Mendonça
Enquanto você olhava uma nuvem , no céu do Rio, eu olhava outra nuvem , na Chapada do Araripe.
O céu é único !
Pensei nos universos solitários , e construi pontes imaginárias com galhos dos pequizeiros e dos carnaubais. A nuvem que impedia a visão holística , como mágica se desfez !
Adoro esse inconsciente coletivo , que agrega pensamentos ,por olhares convergentes ...Sintonizados , se inteiram !
Esse espaço está virando um grande olhar !
O Rio tem um peito verde ... A cruz é o bico !
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