O UNIVERSO PARALELO DE
FLÁVIO RENE KOTHE
Esse é um cientista da palavra que vai muito além das possibilidades da ciência. A visão crítica de Flávio R. Kothe é mais do que humanista tardia, ou mais do que existencialista imediatista. Ela extrapola o ambiente de gabinete das pesquisas amorfas e vai de encontro à própria força imperiosa e de promulgação da própria academia. Ela desvenda os mecanismos do cânone literário brasileiro com os olhos de um faminto que descobre vestígios de contrações em um naco de pão infectado.
Flávio R. Kothe é autor de mais de 200 livros editados no campo da teoria literária, da semiótica e hermenêutica. Além disso é um tradutor premiado. Já traduziu, entre outros, Walter Benjamim, Theodor Adorno, Karl Marx, Paul Celan e Patrick Süsskind. Mas a sua obra que mais me chama a atenção, e que, sem dúvidas nenhuma, é o seu grande empreendimento teórico é a trilogia (até agora): “O Cânone Colonial”, “O Cânone Imperial” e o “Cânone Republicano I”. Nesses livros o autor gaúcho e livre-docente em teoria literária e literatura comparada, faz a mais completa revisão crítica da historiografia da literatura brasileira.
O objetivo do autor é mostrar para o leitor comum, para o estudante e para o profissional das letras, o que é que está por trás das imposições modelares do ensino de literatura no Brasil. O objeto de estudo é a própria produção literária que é colocada como referência histórica pelo universo acadêmico e pela crítica oficializante. A quem interessa a imposição dos modelos literários, quais os benefícios e quem são os beneficiados pela canonização da literatura brasileira, são tópicos devidamente explicados e desconstruídos com maestria pelo o autor. Esses não são livros escritos pelo calor da crítica aleatória ou destrutiva, são livros escritos através de uma intensa pesquisa de anos e anos. Tudo o que é afirmado aqui é comprovado à luz de uma teoria firmemente fundamentada.
Há quem diga que o desmascaramento da originalidade ou até mesmo da composição de obras tidas como consagradas não interessa a ninguém. Mas é exatamente a quebra dessa barreira institucional que essa trilogia propõe. Saber realmente quem criou, quem copiou, quem roubou, quem diluiu o quê de quem, no cenário literário brasileiro é bem mais importante do que escolher uma obra para leitura apenas movido pelo gosto. Esse é um fator de reconstrução de um olhar sobre os nossos arquétipos intelectuais. Refutar ou não o que está feito é outra função, que não deixará de existir nunca, com ou sem consciência teórica.
Saber que existem inúmeros embustes na criação literária brasileira é profundamente importante para todo e qualquer professor de literatura no Brasil. É uma questão de capacitação, que vai muito além do puro e simples posicionamento cronológico das chamadas escolas literárias, que ultrapassa a comiseração infantilóide da aquiescência inconteste do fator tempo na construção de uma expressão literária brasileira. Aceitar a pobreza artística de incontáveis autores brasileiros, apenas pelo fato de que era o início de tudo e de que alguém deveria começar a estender o novelo no labirinto é tão pernicioso quanto é a intenção de vendagem absoluta das editoras nos tempos atuais.
Ter noção exata de qual é realmente a origem e os embustes de obras como “Canção do Exílio”, “Navio Negreiro”, “O Guarany”, “Dom Casmurro” e “Os Sertões”, entre tantas outras, é ter noção exata das relações de poder que envolvem o cânone acadêmico, seja ele qual for. Quando se tem a verdadeira noção do que é capaz a força de reificação do mundo acadêmico, com suas artimanhas, com suas titulações, e com sua empáfia do conhecimento absoluto, torna-se muito mais possível ser educador.
FLÁVIO RENE KOTHE
Esse é um cientista da palavra que vai muito além das possibilidades da ciência. A visão crítica de Flávio R. Kothe é mais do que humanista tardia, ou mais do que existencialista imediatista. Ela extrapola o ambiente de gabinete das pesquisas amorfas e vai de encontro à própria força imperiosa e de promulgação da própria academia. Ela desvenda os mecanismos do cânone literário brasileiro com os olhos de um faminto que descobre vestígios de contrações em um naco de pão infectado.
Flávio R. Kothe é autor de mais de 200 livros editados no campo da teoria literária, da semiótica e hermenêutica. Além disso é um tradutor premiado. Já traduziu, entre outros, Walter Benjamim, Theodor Adorno, Karl Marx, Paul Celan e Patrick Süsskind. Mas a sua obra que mais me chama a atenção, e que, sem dúvidas nenhuma, é o seu grande empreendimento teórico é a trilogia (até agora): “O Cânone Colonial”, “O Cânone Imperial” e o “Cânone Republicano I”. Nesses livros o autor gaúcho e livre-docente em teoria literária e literatura comparada, faz a mais completa revisão crítica da historiografia da literatura brasileira.
O objetivo do autor é mostrar para o leitor comum, para o estudante e para o profissional das letras, o que é que está por trás das imposições modelares do ensino de literatura no Brasil. O objeto de estudo é a própria produção literária que é colocada como referência histórica pelo universo acadêmico e pela crítica oficializante. A quem interessa a imposição dos modelos literários, quais os benefícios e quem são os beneficiados pela canonização da literatura brasileira, são tópicos devidamente explicados e desconstruídos com maestria pelo o autor. Esses não são livros escritos pelo calor da crítica aleatória ou destrutiva, são livros escritos através de uma intensa pesquisa de anos e anos. Tudo o que é afirmado aqui é comprovado à luz de uma teoria firmemente fundamentada.
Há quem diga que o desmascaramento da originalidade ou até mesmo da composição de obras tidas como consagradas não interessa a ninguém. Mas é exatamente a quebra dessa barreira institucional que essa trilogia propõe. Saber realmente quem criou, quem copiou, quem roubou, quem diluiu o quê de quem, no cenário literário brasileiro é bem mais importante do que escolher uma obra para leitura apenas movido pelo gosto. Esse é um fator de reconstrução de um olhar sobre os nossos arquétipos intelectuais. Refutar ou não o que está feito é outra função, que não deixará de existir nunca, com ou sem consciência teórica.
Saber que existem inúmeros embustes na criação literária brasileira é profundamente importante para todo e qualquer professor de literatura no Brasil. É uma questão de capacitação, que vai muito além do puro e simples posicionamento cronológico das chamadas escolas literárias, que ultrapassa a comiseração infantilóide da aquiescência inconteste do fator tempo na construção de uma expressão literária brasileira. Aceitar a pobreza artística de incontáveis autores brasileiros, apenas pelo fato de que era o início de tudo e de que alguém deveria começar a estender o novelo no labirinto é tão pernicioso quanto é a intenção de vendagem absoluta das editoras nos tempos atuais.
Ter noção exata de qual é realmente a origem e os embustes de obras como “Canção do Exílio”, “Navio Negreiro”, “O Guarany”, “Dom Casmurro” e “Os Sertões”, entre tantas outras, é ter noção exata das relações de poder que envolvem o cânone acadêmico, seja ele qual for. Quando se tem a verdadeira noção do que é capaz a força de reificação do mundo acadêmico, com suas artimanhas, com suas titulações, e com sua empáfia do conhecimento absoluto, torna-se muito mais possível ser educador.
Marcos Leonel
2 comentários:
Quem acabou de ler esta postagem do Leonel e sentir-se atropelado em sua tradição de leituras, páre um pouco antes de comentar. O lugar mais preciso da postagem são, como ele frisa, os cânones do ensino de literatura no Brasil. O importante disso tudo é que o mundo apenas se traduz num neologismo. Um neologismo em que as coisas são ao mesmo tempo simples e complexas. Qualquer esforço canônico, avaliativo, sistemático ou analítico tem o que seria este neologismo como referência: um simplexo.
Assim não cabe certas patriotadas, um sentimento difuso, mas que pode encobrir a realidade: o ufanismo. Como tudo leva a entender-se existe o texto e o texto não é nada sem o seu contexto. Assim é que para uma nação recém-inventada por uma corte em fuga européia, além do mais uma nação moderna e mercantilista, não seria possível sem uma literaruta que resolvesse um dos grandes paradoxos do nacionalismo: a modernidade objetiva das nações aos olhos dos historiadores versus sua antiguidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas (in Comunidades Imaginadas - Benedict Andersen).
O importante do véu que descobre a verdadeira face histórica e comparada da nossa literatura, inclusive sua imitação in extremis não é que assim o foi tão somente para o comércio, é que foi parte de todo o levante literário do século XIX e a exuberância das prensas gutembergianas. Além do mais do navio e do cabo interoceânico.
Se obervarmos o nascimento da nossa música popular (como igualmente a americana do norte, ou a caribenha etc.)não tem como extrair originidalidade. Afinal somos um continente essencialmente europeu nestes primeiros quinhentos anos. Inclusive o gosto formado, a aceitação e a identidade cultural com a nossa própria produção cultural tem coerência com a própria matriz desta cultura.
Afinal quando ouvimos o chorinho estamos falando da seqüência da modinha que não se sabe se européia ou americana. O famoso compositor Sinhô é tido como um copista de canções européias em larga escala. O nosso forró é pura dança de salão, expulsa para o terreiro na iluminação de candeeiro.
Não devemos sentir os nossos momentos culturais como momentos enganados. Apenas o ensino é que nos engana.
Perfeito, José do Vale!
O grande fracasso é do nosso ensino.
São inúmeros os papagios de porta de cozinha a se intitularem professores, sem ao menos ter a visibilidade que uma topeira tem.
Um abraço
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