TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 3 de junho de 2008

A PAZ QUE TRAGO EM MEU PEITO


A paz que luta à sombra da vontade esmaecida,
é a mesma linha tênue dos sonhos contraditos de então...
Da juventude incerta e seus matagais fechados,
quando se imagina que a paz seja trilha e descampado,
abóbada estrelada, horizonte amplo, água abundante
a satisfação pançuda de um bom burguês.

E quando o tempo nos faz esse parasita deleitado,
e dp mundo vem um tranco de arrumação
derrubando todos os pertences.
A paz é movimento,
inquietação do novo,
conhecimento de mudança,
desconfiança,
outro arranjo.

Paz é consciência do desconhecimento,
certeza que tentou algo,
em acerto ou erro, de ambos o melhor ...
se fiz o melhor, errei ou acertei maior,
a paz se compartilha
em julgamento de outrem que condena ou absolve.
A paz é matéria rija de nossa história,
imputa visão estrangeira ao campo nativo,
diz verbo irregular.

Paz é a incompletude que alimenta o amor...
feito de criança em faz de conta,
gravidade que atrai os passarinhos,
a indiferença do riacho ao ouvido que não desliza sobre as pedras
as margens que sofrem o desgaste das águas correntes...
paz é reconhecer o quanto os outros se modificam
independente de agrados,
de minhas opiniões em contrário,
dos desagravos e das ofensas.

Ter paz é não transformar em mandamentos erros e acertos,
não se reduzir a sim ou não,
aguardar o próximo evento estranhado...
Ter paz é o choro ou o riso no rosto,
menos na bagagem da coragem
esta é força de intenção,
dada a adversidade...
A paz é refazer jornadas,
rever atos,
traduzir momentos,
junta-se para cobrir falhas...

Ter paz é sentir a perfeição que resume
e a assimetria que dispersa,
os sólidos quebradiços
e a fome que ajunta...

A paz hodierna é seixo em direção à superfície tranqüila de uma lagoa
esperar as marolas que se formam,
concêntricas e belas
invertendo a imobilidade viciosa.

É a humildade de ter conhecimento e de mais saber,
desclassificar os preconceitos que escalam os insetos...
É a vontade de somar um pouco mais
e de subtrair objetos com o qual o consumismo me substituiu.

É suster a idéia absoluta do que seja melhorar,
aceitar que a mudança de hoje não ocorreu,
mas um dia poderá,
que distinguir coisas é apartá-las do coletivo.

Reconhecer a razão que me levou a tal,
pois o tempo poderá refazê-lo,
levando-me ao desconforto factual.

A paz que hoje trago em meu peito é desconfiança
que nada se criou e não há quem governe o mundo...

Estou no mundo como ele em mim,
sem princípio,
com leis que se movem,
na expansão que faz espaço e tempo.



Um comentário:

socorro moreira disse...

"Estou no mundo como ele em mim,
sem princípio,
com leis que se movem,
na expansão que faz espaço e tempo. "




É como o amor em paz ...
Só tem meios,
pontes,
e descansa no futuro do presente
Corrida contra o vento,
a paz dos intervalos ...
Um soluço
entre o espaço e o tempo
A paz de um ábum de retratos
Onde tudo é passado
O ponto de intersecção
entre o silêncio e o sono
O desejo consumido ...
A paz infantil depois do banho
A paz senil , na sua completude
O jaz , na eternidade