TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 9 de junho de 2008

TRÊS OLHARES NO CARIRICULT

Ao correr do olhos no Cariricult três frases se destacam:

a) ainda não temos uma saída digna a vista...se correr o bicho pega...se ficar o bicho come....(Bernardo Melgaço falando sobre a esquerda, direita e a natureza);

b) inúmeras quadrilhas espalhadas por esse vidão das autoridades públicas do Brasil têm tentado, têm trabalhado duro na canalhice e em todos os escalões e segmentos. Mas não adianta. Os escândalos não são mais os mesmos. (Marcos Leonel falando dos Escândalos Escaldados);

c) livros tratavam, e ainda hoje tratam, de evidenciar as glórias da proclamação da República, o heroísmo de Deodoro e o idealismo dos seus companheiros, como se tivessem participado de uma feroz batalha em prol da liberdade". (Armando Rafael tratando da manipulação histórica nos livros didáticos)

Vivemos tempos difíceis. Talvez não tanto quanto outros, mas com uma boa dose de dificuldades. Os três textos aparentam abordar coisas diferentes, mas falam da mesma coisa: o paradoxo entre a liberdade individual e os efeitos gerais desta liberdade. Golpear a liberdade é a saída sem solução, bate num paredão. Reduzir os efeitos desta liberdade, encaminha para censura, equivale a golpear a liberdade. Portanto não se pode discutir o paradoxo nos termos dele mesmo. Temos que ir além.

Ir além é expor toda a contradição das desigualdades atuais. O grande problema da humanidade não se encontra exatamente na suas regras defectivas, mas na tentativa de naturalizar tais regras. Elas precisam ser reconhecidas como regras humanas, históricas e, portanto, sujeitas ao debate, à análise racional e à superação delas mesmas. Em qualquer circunstância é difícil se almejar o progresso humano por sobre a fome dos desamparados. É difícil o carrasco dialogar com o pescoço do enforcado.

O mundo não pode ser congelado num momento. A história é um curso influenciado pelo espaço e pelo tempo das pessoas fazendo coisas e se realizando como tal. Portanto, é preciso reconhecer que as versões da história são próprias de classes sociais, de ideologias políticas, de forças vitoriosas e daquelas derrotadas. Acontece que a história que aparece nos livros e os livros são produtos no capitalismo, dificilmente superam o paradoxo da versão. Mas nada impede que a racionalidade se aplique a se debata as contradições de suas versões. Quem não sabe que a mídia ocidental trabalha sobre versões, realizando pressões e perseguindo as forças políticas de quem são adversárias. Ontem mesmo, conversando com uma americana, ela dizia que a mídia do momento no EUA se baseia em esconder os escândalos do governo Bush, os interesses deletérios das grandes corporações e trabalham com técnicas que destroem reputações e demonizam personagens. Pelo que entendi, muito próximo do que foi o macarthismo sem o apelo do anticomunismo.

A corrupção dos costumes, das regras econômicas, do contrabando, da delinqüência, da contravenção, ou seja, estes crimes que se infiltram no tecido social, político e econômico parece ser um dado estrutural do capitalismo. Os há aqui como . Nos parece que seriam mais bem vigiados, mas bem punidos e reduzidos pela certeza da punição. Isso parece ser verdade, parece ser o máximo que se conseguirá com este modelo de sociedade. Mas não tem como esquecer um diálogo no filme Syriano em que um personagem se queixa da corrupção política nos EUA e outro responde que sem esta corrupção não haveria o capitalismo americano e a exuberância imperial de suas corporações multinacionais.

Enfim, o que os três articulistas estão dizendo em seus textos é que os problemas que parecem dos outros são nossos e os nossos são dos outros. Parecem, também, revelar que o progresso não se faz como mero instrumento, com objetivos e metas. O progresso é um bem comum e igualitário da humanidade e nele a natureza não é um recurso à parte. Ou fonte do progresso. A natureza é parte do progresso humano e a essência do progresso e da natureza também é humana. Não é possível desumanizar a natureza pois retornaríamos ao ciclo infernal da natureza como estoque de uso.

3 comentários:

Armando Rafael disse...

Caro José do Vale:
É sempre bom ler seus textos. Além do dom que você tem - de usar bem as palavras - sua arguta observação sempre colhe ângulos que nos passam despercebidos.
Parabenizo-o pelo escrito "Três Olhares no Cariricult".

Marcos Vinícius Leonel disse...

Grande texto, caro amigo.

Você sempre tem a atenção a tudo que ocorre em nosso blog. Li os outros dois textos e realmente o seu ângulo de observação é muito pertinente. A qualidade dos outros dois textos é inegável.

um abraço.

socorro moreira disse...

Essa trilogia de olhares , enxerga o universo ! Zero grau de miopia. "n" graus de visão do mundo ... Uma lente ímpar ... A ótica não pode contigo , Zé do Vale Filho !