TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Assis Marat - Por: Pedro Esmeraldo

Por volta dos anos de 1950 vivia um casal, possuidor de prole numerosa (cerca de 16 filhos), nos arredores do engenho de meu pai, no sítio Pau Seco, neste município. Munido de poucos recursos, trabalhava assiduamente na agricultura a fim de conseguir os meios necessários para sua existência. Como era paupérrimo, às vezes meu pai tinha que contribuir com algum legado para a sobrevivência de seus filhos; abastecia com gêneros alimentícios.
Constantemente, seus filhos eram despertados para procurarem frutos silvestres: como mandacaru, etc, e a caça de pequenos animais como preás e rolinhas que complementavam a alimentação da família.
No período da moagem, no engenho do meu pai, seus filhos faziam pequenos serviços leves que serviriam para amenizar a situação triste e nebulosa dessa família.
Um dia, meu pai querendo ajudar a família, falou em criar um de seus filhos. Em troca daria melhores condições de vida e colocaria em uma escola para aprender a arte da leitura.
O guri não quis estudar, dizia que só desejava aprender as primeiras letras, já que não tinha a menor vocação para arte desse ofício.
Escolheu o mais habilidoso trabalho que era transportar bagaço do engenho para a bagaceira. Chamava-se Francisco de Assis Moreira Justo, era calmo, paciente, maneiroso e com muita destreza no trato dos animais.
Quando trabalhava no engenho os cambiteiros colocaram-no apelido de Assis Marat, nome de um médico e político francês, assassinado durante a Revolução de 1789 (Jean Paul Marat). Não posso compreender ainda no meio dessas pessoas rudes encontraram esse nome francês, talvez seja inventado por eles mesmos.
Era um menino franzino, honesto, com muita dedicação ao trabalho, não admitia roubo e nem tolerava a preguiça. Era vigilante na defesa dos direitos individuais. Não dormia em serviço e tratava o patrimônio alheio com muita dedicação.
Após a morte do meu pai, Assis Marat foi ser leiteiro e caiu no vício da embriaguez. Como era franzino, contraiu um enfraquecimento, adquirindo uma doença pulmonar. Tratou-se mas não se controlou do mal-hábito de beber.
Após a cura da mancha pulmonar, arranjou um emprego de vigilante na Escola Maria Amélia. Cumpria corretamente com sua obrigação até quando, um dia, foi encontrado morto no prédio da referida escola.
Não se sabe da causa mortis desse rapaz, talvez tenha sido causado pelo vício da embriaguez, visto que fora encontrado nas moitas, ao redor da escola, várias garrafas vazias de cachaça, pois, tudo leva a crer que bebia às escondidas.
Assis, como era conhecido, teve um enterro digno e merecido. Muito humilde, todos gostavam dele. Era sincero, calado e não maltratava ninguém. Falava sempre a verdade, não tinha rixa e era fiel cumpridor do seu dever. Sua morte causou consternação e abriu uma lacuna irreparável, já que deixou de ajudar aos amigos com sua parcela de trabalho e prestação de serviços.

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