As horas tantas da noite, as ruas vazias da avenida principal eram o relógio do buliço morto da cidade. Sentávamos no embalo da brisa litorânea do mês de agosto: constante, amena e trânsfuga de calor. Quando minha companheira ao lado: cara estranho! Vinha pela rua e de repente voltou.
Estiquei o pescoço e lá ia o sujeito, com certo andar afeminado no balanço de alguns graus de álcool. Muitos graus, qual bafômetro reprovaria até seu andar sobre as pernas por perigoso que seria. Ao menos para as latas de lixo.
Voltamos à brisa, às estrelas e à lua crescente. Isso leva algum tempo, pois lá vem o sujeito, do outro lado da rua em seu andar nas crateras lunares. Nos vê, levanta o braço bêbado ao nos cumprimentar e vem em nossa direção.
Aquele cumprimento meloso de algum tombadilho em plena ressaca com uma intimidade que memória não tenho quando começamos. Após alguns grunhidos de boas vindas, eis que me identifica como se político foi. Qual afirmativa mantive para não complicar o assunto. Pois bem:
- O senhor chabe? Aquele candidato o Zé Nenias? Candidato a Federal?
Este não conheço, sei do João Ananias, não deste outro que rima. Não nestes termos para não complicar a cabeça dele, que volta a repetir cuspindo as sílabas na língua trôpega:
- Zé Nenias? Sabe? Este que é candidato da Dona Érica?
A ficha caiu: era Genecias. O famigerado candidato dos decibéis nas ruas de Paracuru. O candidato da prefeita da cidade. Mas ele (o meu interlocutor. Não o candidato que não diz nada, apenas vende o próprio nome com rimas de forró eletrônico) queria dizer algo e disse.
- Eu trabaio na prefeitura e devo munto a Dona Érica. Mas seu Ribeiro é gente muito fina. Dona Érica apóia Zé Nenias e Zezim, este governador aí e aquela muié lá de Brasília. Já Seu Ribeiro apóia o Tasso, o Lúcio e, como é mesmo...o Zé Serra. E agora? Como é que eu faço? Seu Ribeiro foi prefeito! Ele é forte, vai eleger o neto na Paraipaba. A filha dele já é prefeita lá.
Que drama terrível este do voto que não é sujeito. É do chefe, daquele que pune, demite, daquele que põe o cabresto. Que resposta poderia lhe dar? Escutei para que o drama se desenrolasse como faz a brisa neste mês.
- O sinhô sabe? Eu perguntei a seu Messias, ele já foi candidato. Ele entende desta coisa e perguntei o que vou fazer. Dona Érica prum lado e seu Ribeiro prá outro. Sabe o que ele disse? Tu vai por um canto e distribui os santinhos do bolso direito e pelo outro pega aqueles do bolso esquerdo.
Esta é velha. Principalmente nas franjas da ascensão social em busca de identidade nas igrejas evangélicas e através das páginas da velha bíblia: a solução salomônica.
E pelo toque escorregadio das mãos nos despedimos e ele seguiu na sua embriaguês política. Literalmente política. Que nos digam tantos Ribeiros e Éricas das veredas dos bairros populares.
Estiquei o pescoço e lá ia o sujeito, com certo andar afeminado no balanço de alguns graus de álcool. Muitos graus, qual bafômetro reprovaria até seu andar sobre as pernas por perigoso que seria. Ao menos para as latas de lixo.
Voltamos à brisa, às estrelas e à lua crescente. Isso leva algum tempo, pois lá vem o sujeito, do outro lado da rua em seu andar nas crateras lunares. Nos vê, levanta o braço bêbado ao nos cumprimentar e vem em nossa direção.
Aquele cumprimento meloso de algum tombadilho em plena ressaca com uma intimidade que memória não tenho quando começamos. Após alguns grunhidos de boas vindas, eis que me identifica como se político foi. Qual afirmativa mantive para não complicar o assunto. Pois bem:
- O senhor chabe? Aquele candidato o Zé Nenias? Candidato a Federal?
Este não conheço, sei do João Ananias, não deste outro que rima. Não nestes termos para não complicar a cabeça dele, que volta a repetir cuspindo as sílabas na língua trôpega:
- Zé Nenias? Sabe? Este que é candidato da Dona Érica?
A ficha caiu: era Genecias. O famigerado candidato dos decibéis nas ruas de Paracuru. O candidato da prefeita da cidade. Mas ele (o meu interlocutor. Não o candidato que não diz nada, apenas vende o próprio nome com rimas de forró eletrônico) queria dizer algo e disse.
- Eu trabaio na prefeitura e devo munto a Dona Érica. Mas seu Ribeiro é gente muito fina. Dona Érica apóia Zé Nenias e Zezim, este governador aí e aquela muié lá de Brasília. Já Seu Ribeiro apóia o Tasso, o Lúcio e, como é mesmo...o Zé Serra. E agora? Como é que eu faço? Seu Ribeiro foi prefeito! Ele é forte, vai eleger o neto na Paraipaba. A filha dele já é prefeita lá.
Que drama terrível este do voto que não é sujeito. É do chefe, daquele que pune, demite, daquele que põe o cabresto. Que resposta poderia lhe dar? Escutei para que o drama se desenrolasse como faz a brisa neste mês.
- O sinhô sabe? Eu perguntei a seu Messias, ele já foi candidato. Ele entende desta coisa e perguntei o que vou fazer. Dona Érica prum lado e seu Ribeiro prá outro. Sabe o que ele disse? Tu vai por um canto e distribui os santinhos do bolso direito e pelo outro pega aqueles do bolso esquerdo.
Esta é velha. Principalmente nas franjas da ascensão social em busca de identidade nas igrejas evangélicas e através das páginas da velha bíblia: a solução salomônica.
E pelo toque escorregadio das mãos nos despedimos e ele seguiu na sua embriaguês política. Literalmente política. Que nos digam tantos Ribeiros e Éricas das veredas dos bairros populares.
Um comentário:
zé do vale, estava sentindo a sua ausência.
ainda bem que estás de volta,
com este ótimo texto.
abraços.
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