terça-feira, 30 de setembro de 2014

L´AMOUR EST MORT - José do Vale Pinheiro Feitosa

Acabando de ler estas letras tudo pode acontecer, mesmo que o tédio da repetição nos garanta o “controle do tempo e dos acontecimentos”. Na cultura popular a dúvida é permanente especialmente quando se tenta marcar encontros no futuro, o nosso povo responde: “se Deus quiser”. Demonstrando que algo pode acontecer e o encontro não se realizar.

Não apenas os traços pessoais, mas as circunstâncias históricas são determinantes do comportamento na ocasião do acontecer. Assim como admirar a rapidez, a coragem, a sagacidade e lucidez de um ato no tumulto do acontecimento. Sempre é muito difícil separar o momento cultural da postura pessoal. São tão interpenetrados que não se separam as atitudes pessoais da coletiva. O valente, o grande líder é apenas o ponto do movimento geral de grandes momentos. Do comportamento geral e coletivo.

Napoleão sem a revolução burguesa, Lenin sem a revolução russa, Padre Cícero sem a crise popular, Moisés sem o retorno do povo judeu e assim por diante sem a denominação histórica não seriam o que foram. Observemos que o caminho é do povo, o indivíduo que se distingue é apenas uma forma simbólica de fabular o acontecimento.   

Em 30 de setembro de 1891, há 123 anos o General Georges Boulanger, militar francês, chamado por Cleménceau (Georges Cleménceau líder político francês no final do século XIX e durante a primeira guerra mundial) de aquele que “morreu como sempre viveu, como um subtenente”, suicidou-se sobre o túmulo de sua amante numa cidade perto de Bruxelas. E qual a fábula de Boulanger?

Boulanger era ministro da guerra no governo Cleménceau num período em que a França passava por uma baixa na sua moral em razão da derrota na guerra Franco-Prussiana e em que a burguesia nacional vivia a mais bela ilusão de classe eterna: a Belle Époque. A acomodação era a tônica da burguesia.

Mas Boulanger era popular e a crise econômica que se desencadeou a partir da década de 80 do século XIX, terminou por ampliar ainda mais o feitiço político pelo general. Ele foi incensado e por isso mesmo demitido pelo Presidente da República. Mas isso elevou a temperatura social e o povo partiu para colocar Boulanger na sede da República, mesmo que numa ditadura de cunho bonapartista.

Acontece que Boulanger ficou numa corda bamba e mesmo com os mandatários tendo abandonado o poder da República ele não teve coragem ou a fé de ocupar o vácuo. Terminou sendo ocupado por Pierre Tirard que pelo seu ministro do interior divulgou a iminente prisão do General que se refugiou em Londres e depois na Bélgica.  


Em Bruxelas reencontrou-se com sua amada que passava pelos últimos momentos sofrendo de uma tuberculose. Ela morreu nos braços do General em 16 julho de 1891. Dois meses depois o General Georges Boulanger, a esperança da França, dá o último suspiro sobre o túmulo do amor impossível.  

Sem "substância" - José Nilton Mariano Saraiva

Sem “substância” - José Nilton Mariano Saraiva
Não é de todo verdade a versão de que, com a proximidade da eleição presidencial, os adversário-concorrentes estejam tentando “desconstruir” a candidata Marina Silva. Ela, sim, é que, por despreparo, por falta de firmeza e consistência político-ideológica e por recorrentemente desdizer o que houvera afirmado lá atrás, a cada debate mete os pés pelas mãos, a cada intervenção “ao vivo” se enrola nas próprias artimanhas e contradições, a cada desculpa apresentada mostra sua verdadeira face.
Já vimos, por exemplo, que mudou de posição da noite pro dia no tocante à questão da homofobia (constante do seu programa de governo), após o pastor Silas Malafaia dar-lhe um ultimato (puxão de orelhas) e ameaçar abandonar seu barco se não se retratasse e se não mudasse a versão original imediatamente (o que foi feito, de pronto).
Mais à frente, descobriu-se que nas diretrizes constantes do seu programa de governo (sempre ele), no tocante à questão tecnológica parte do texto fora simplesmente “copiada” de uma revista da USP e “colada” àquele documento, sem que sequer os verdadeiros autores tenham sido consultados e/ou creditados (e isso findou por causar um generalizado mau estar entre os integrantes da “academia”).    
Depois, Marina Silva chegou a “descredenciar” o mentor da sua política econômica, que houvera afirmado de forma contundente que o ajuste das contas do governo teria que necessariamente passar por um corte profundo das verbas destinadas aos programas sociais do governo. E aí, como o discurso não guardava um mínimo de conformidade com o contido no seu programa de governo, Marina Silva preferiu sair pela tangente, ao afirmar que “não era bem isso” o que o seu mentor econômico escrevera (só não traduziu o que ali constava).
Já no tocante à atuação dos bancos públicos, o programa de governo da candidata prega a necessidade de uma profunda diminuição ou encolhimento da sua atuação. Questionada sobre se os bancos privados estariam dispostos a praticar uma taxa de juros subsidiada e no longo prazo nos grandes projetos estruturantes (como o fazem os bancos públicos), de novo tratou de negar o contido no seu programa de governo (onde consta, sim, que os bancos públicos terão sua atuação diminuída). Afirmou que a sua fala houvera sido desvirtuada (de novo, não explicou).
Alfim, no mais recente debate na TV (Rede Record), foi questionada pela atual presidente Dilma Rousseff com relação ao seu voto quando da votação da CPMF. É que afirmara lá atrás ter votado favoravelmente à criação da mesma. E bastou uma “consulta” protocolar à documentação pertinente (ata da sessão) onde consta a posição de cada um dos parlamentares votantes - favorável (SIM) ou desfavorável (NÃO) - para restar constatado que o voto da parlamentar Marina Silva, registrado para a posteridade, é por demais claro e cristalino: em votações distintas, optou pelo NÃO (pega na mentira, tentou, sem sucesso, enrolar mais uma vez).
Fato é que Marina Silva “desconstrói” a si própria, ao mostrar que entre a teoria (seu plano de governo) e a prática (seu discurso, sua fala) existe uma oceânica distância,  absolutamente conflitante e dispare.

A pergunta é: não seria por demais arriscado levar alguém tão “sem substância” ao cargo maior da nação ???

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais, aparelho excretor não reproduz.” – Levy Fidelix, candidato a Presidente da República no debate de ontem na Record. É um parasita da legislação eleitoral. Já candidatou-se dez vezes e nunca foi eleito. Começou no PL, foi assessor da campanha de Collor, candidatou-se pelo PTR e hoje é dono do PRTB que serve para “oferecer” minutos na televisão a outros candidatos.


Levy, de tão estúpido, não se dá conta de que ele mesmo – sua existência – contraria sua tese de que aparelho excretor não reproduz.” – Jean Wyllys do PSOL no Twitter.

Arca


J. Flávio Vieira

                                                               Passados tantos anos, as imagens se vão turvando, surpreendidas, aqui e ali,  apenas pela fresta da saudade. A ausência, antes dolorida como uma chaga aberta, foi, aos poucos , se anestesiando, bafejada pelo bálsamo do tempo, mas a cicatriz  permanece ainda sensível como um queloide. A vida, depois do cataclismo, precisou ir tomando jeito. Recolhidos os estilhaços do cristal esfacelado, tentamos recompor o amálgama dos dias e das horas. Restou-nos o ranço final do caju sorvido , esse travo que  lutamos para não obscurecer o dulcíssimo sabor da polpa que o antecedeu. Afinal, a vida talvez seja exatamente isso : a capacidade de se ir reconstruindo nosso mundo a cada dilúvio prenunciado, catando e depositando na Arca os nossos despojos de guerra.
                                                               Fecho os olhos e tento te imaginar nonagenário, como serias hoje. O tempo te teria sugado todas as forças ? Manterias o vigor mínimo para apreciar os milagres da existência ? A inexorabilidade dos dias te levaria a um estágio no reino vegetal antes da mineralidade extrema, destino de todos nós ? Serias um velhinho lépido, com um mínimo de dignidade, ou apenas mais um objeto de decoração da casa ? Fecharias o ciclo da vida, retornando à outra extremidade da infância, ou obterias o privilégio da lucidez, do bom humor e da resignação que sempre te foram fortes aditivos  existenciais ? Desfrutarias de  uma vida ou apenas de  sobrevida ?

                                                               Estas perguntas ferem-nos como um punhal, talvez porque carreguem consigo a impossibilidade de resposta. Pesa-nos a certeza da imponderabilidade de tudo, do amálgama perecível dos segundos, da finitude líquida e fluida dos casos , ocasos e acasos. Nossos sentimentos assentam seus  sonhos de perenidade  na  amorfa e gelatinosa  nuvem da impermanência. Resta-nos, tão-somente, curtir cada vidrinho do cristal despedaçado , onde vemos refletido o divino acaso que nos pôs juntos na mesma viagem. Ali o caquinho do teu perene bom humor e que terminou contagiando toda a família. Acolá o fragmento do teu despojamento, pronto a enfrentar as vicissitudes sem a seriedade que elas pretendem nos exigir. Adiante o estilhaço da tua complacência ante o sofrimento e a perspectiva do abismo. Ao lado o pedacinho da tua inteligência que ainda reluz como se permanecesse imantada. Aos poucos refazemos o cristal que um dia embelezou esse mundo com seu brilho e sua transparência. Até parece que um dia não se esfacelou ante os arroubos do tempo. Ganha até um certo ar de perenidade, sempiternos fragmentos ungidos pela cola da Saudade. 

sábado, 27 de setembro de 2014

Dilma avança na classe C, que pode decidir a eleição - POR PAINEL -27/09/14  02:00
EFEITOS DO BOMBARDEIO - A campanha agressiva fez Dilma Rousseff (PT) avançar rapidamente sobre Marina Silva (PSB) na chamada classe C, com renda familiar de 2 a 5 salários mínimos. Há uma semana, as duas estavam empatadas no grupo com 34%. Agora a petista abriu sete pontos: 37% a 30%. Na simulação de segundo turno, Marina viu sua vantagem de 11 pontos no Datafolha dar lugar a um empate técnico: 47% a 44%. O segmento é o principal alvo da propaganda de TV e concentra quatro em cada dez eleitores.

ZONA VERMELHA - O discurso petista de que Marina ameaça os programas sociais teve forte impacto no Nordeste. No segundo turno, Dilma dobrou sua vantagem na região, de 13 para 26 pontos. Se a eleição fosse hoje, ela venceria a rival por 59% a 33%.

DERRETENDO - Marina encolheu nos dois maiores colégios eleitorais. Em São Paulo, perdeu seis pontos em duas semanas e agora tem 34%. Dilma ficou com 27%. Aécio Neves (PSDB) ganhou seis pontos e aparece com 22%.

DISTRIBUINDO - Em Minas, Marina perdeu sete pontos em duas semanas e agora tem 19%. Seus eleitores se dividiram entre os mineiros Aécio e Dilma. A petista lidera com 36%, e o tucano foi a 29%.

SATISFEITOS - Em uma semana, a presidente recuperou quatro pontos entre os eleitores que aprovam seu governo: subiu de 71% para 75%. Entre quem acha a gestão regular, ela ganhou três pontos, e Marina perdeu seis.

SONHÁTICOS - A candidata do PSB perdeu a dianteira entre os mais jovens. Caiu de 37% para 32% em uma semana. Dilma foi de 32% a 36%.

REVOADA TUCANA - Marina também desidratou entre simpatizantes do PSDB. Há uma semana, alcançava 31% no grupo. Hoje tem 23%. Aécio subiu de 56% a 68%.

SEM EUFORIA - Dilma foi orientada a não se empolgar com a possibilidade de vitória no primeiro turno. “É besteira entrar nessa agora. Temos que botar o pé no chão”, diz um alto conselheiro.

A NOIVA GENI - O PT preparou outra peça de rádio contra Neca Setubal, aliada de Marina e herdeira do Itaú. “Para os banqueiros, tudo. Para os bancários, neca”, diz o jingle

O disputado "voto vagabundo" - José Nilton Mariano Saraiva

“Made in PSDB”, porquanto idealizado, arquitetado e lançado no governo FHC, o tal “fator previdenciário” foi uma dessas maldades inomináveis para com centenas de milhares de aposentados brasileiros (para editá-lo, à época um suposto e contestável déficit da previdência foi brandido). No entanto, e como restou comprovado a posteriori, a explicação mais plausível nos remete ao fato de o então Presidente da República e seus áulicos terem que arranjar um bode expiatório para a gravidade momentânea das contas do governo, daí nada mais cômodo do que considerar os “velhinhos do INSS” uma espécie de trambolho, mercadoria de quinta categoria e, pois, desmerecedora de quaisquer direitos. Portanto, tunga neles. Tanto é que, sarcasticamente, a partir de então passou a rotulá-los de “vagabundos”. E a tratá-los a pão e água.

Como não há nada melhor que um dia atrás do outro com uma noite no meio, eis que agora, de olho nos votos dos milhões de “vagabundos” brasileiros, o candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, apadrinhado e referendado por FHC, resolveu ir de encontro aos ditames do chefe ao anunciar seu propósito de, se eleito, rever o tal “fator previdenciário”, reconhecendo-o como um ultraje àqueles que tanto deram pelo país (os aposentados). Como o fará, não detalhou. Entretanto, como já anunciou que se valerá de alguns dos integrantes do governo FHC, que editou o projeto original, fica difícil explicar a contradição de tal proposta. Até porque, seria uma espécie de “reprovação” (embora tardia) ao chefe.

De outra parte, pegando carona na proposta do concorrente, de pronto e de forma oportunista a candidata Marina Silva – aquela que se especializou em copiar, colar e assumir a paternidade de obras alheias, porquanto lhe falta substância, de pronto tratou de desfraldar a mesma bandeira, sem que, igualmente, tenha respostas de como o fará. Até porque, também alguns dos que estão ao seu lado hoje estiveram com FHC, no passado.

Fato é que entre as duas manifestações, uma constatação fica evidenciada: nenhum deles (Aécio ou Marina) até agora apresentou um novo projeto ou modelo em substituição ao “fator previdenciário”. E por uma razão simplória: porque inexistem estudos detalhados a respeito de como fazê-lo e porque a coisa é realmente complexa, não se resolvendo da noite pro dia.


Assim, os aposentados brasileiros hão de ter especial cuidado com o “conto do fator previdenciário”, que atualmente é vinculado harmoniosamente em “dose dupla” (por Aécio e Marina), com o objetivo único e exclusivo de ganhar o “voto vagabundo”.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

MEIO DIA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Dias passados, procurei muito identificar a biografia do compositor juazeirense Luis Fidelis. Fruto da ignorância de tanto tempo longe do Cariri e do Ceará eu buscava mas pouco há na internet. O motivo era a música Meio Dia que ouvira na voz do cantor Paracuruense Raimundo Cabirote. Há na música uma natureza essencial: a melodia tem as raízes da nossa cultura nordestina. Pareceu-me um joia no cascalho daquele forró eletrônico que é forró nalgum modo, mas nada mais tem do universo rural onde o forró nasceu. São pessoas das cidades usando os ritmos rurais em letras banais. 

Meio dia tem trabalhador rural e seus sofrimentos. Tem isso não apenas na letra mas na melodia lamentosa que a acompanha. 

Agora que alguém aí da região me ajude. Eu sempre achei que Flor do Mamulengo fosse uma melodia do Abidoral, mas só encontro referência ao Luis Fidelis. Tentei procurar nas entrevistas que Abidoral fez com o Dihelson Mendonça mas não sei se por falha de atenção, não consegui esclarecer. Aliás com alegria tomei conhecimento que o Dihelson fez um filme com o Abidoral. Precisamos registrar tais valores da cultura. Parabéns ao Dihelson. 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A filosofia conservadora pretende dominar realidade em benefício próprio - José do Vale Pinheiro Feitosa

Entre a utilidade e a inutilidade há um largo continente. Sempre é assim toda vez que resolvemos distinguir as coisas a partir de uma afirmativa ou a sua negativa. Fora da distinção realizada existirão outros atributos das coisas que não cabem no marco de diferenciação. Em outras palavras existe um universo além da classificação de seus termos e conteúdo.

O filósofo inglês Roger Scruton, conservador, diz que “todas as coisas mais importantes são inúteis: amor, amizade, devoção, paz – essas coisas que apreciamos pelo que são e não pelo uso que podemos fazer dela.” E de fato num mundo materialista, consumista e utilitarista esta frase parece revelar algo pleno e, no entanto, deixa de fora toda história da humanidade em relação as inutilidades identificadas por ele.  

Toda a literatura humana e a tradição oral diz muito do amor, da amizade, da devoção e da paz. E diz muito não em termos contemplativos e apenas pelo seu valor intrínseco e significante. É que até onde se pode pensar nestes termos a utilidade é sua marca.

O que seriam os romances, as poesias, as canções e quase todas manifestações de arte e dos textos religiosos se não fosse o uso do amor, da amizade, da devoção e da paz. Em todos eles existe a conquista, a imposição, a concordância, a negação, a traição e o uso normativo como maneira de controlar as pessoas e as sociedades.

Basta que se lembre a famosa Pax Britannica, já em si uma réplica farsante da Pax Romana, para que se entenda a utilidade da paz para os objetivos do Império Britânico no domínio do comércio mundial e de colônias onde o sol nunca se põe. Que se entenda a devoção como útil à manipulação de pessoas sob a forma mais variada de uso, desde o religioso, passando pelo político até o circuito de amigos e da família.

Chega. Não preciso falar mais do amor e da amizade pois certamente o seu uso, também é claro a todos. Mesmo assim soa contraditório quando o filósofo diz que “a beleza é um objeto do amor” encontrando no amor uma dinâmica entre si e seu objeto e, no mundo, tudo que é dinâmico, ação, é passível de utilidade pelos seres humanos.

E novamente retornamos à diversidade. O Ocidente desenvolveu uma forma de compreender o mundo e traduz estas coisas como o filósofo: “O Sagrado e o Belo estão conectados em nossos sentimentos – ambos nos mandam ficar atrás, ser humildes e abandonar nosso desejo inato de poluir e destruir”. E conclui: “vários artistas hoje...têm um senso de que o que há de melhor em sua arte é o ato de consagração.”

Mas acontece que a dependência da arte à devoção e a consagração é uma parte da história humana, não é toda ela. Na própria arte ocidental existe inúmeras formas de arte relevante que denunciam, que confrontam a realidade, que tornam a história um objeto de análise racional.


A conservação é inerente ao desejo da permanência, mas o conservadorismo é uma forma de manter privilégios numa sociedade desigual e por isso quando as dores da desigualdade permanecem o ímpeto é superar, acabar a causa da dor.  

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quando o verde dos teus olhos se espalhou na plantação - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João” as levas de retirantes libertos das pernas estropiadas, “em um caminhão, ele joga a famia, chegou o triste dia, já vai viajar.” Vai dia e vem dia e o “carro rodando, na estrada do Sul.”

“Faz pena o nortista, tão forte e tão bravo” sofrendo de sede no norte e no sul. “Hoje longe, muitas léguas, numa triste solidão, espero a chuva cair de novo, pra mim voltar pru meu sertão”. Falta água na cidade, nas mangueiras dos bombeiros, falta água prá banhar-se, falta água prá beber.

E tanta gasolina foi gasta para fugir da seca no norte e depois de arranhada quase a quarta parte do planeta, chegou a São Paulo para suprimir-se com um conta gotas da água que lhe chega. Como se diz por lá: preparando-se para uma vida sem água.

Preparando-se para gastar toda a poupança no mercado negro do líquido essencial à vida. Quem sabe no calor do verão que já se anuncia do horizonte a chuva chegue, mas os abismos das coisas ruins apontam para uma tensão de necessidade premente e de ódio por quem terá direito à gota d´água.

E pensar que não se juntou mais água porque era preciso pagar os dividendos da companhia de abastecimento para que assim os seus “investidores” tivessem mais “confiança”. E pensar que os investimentos para matar a sede não foram feitos e o Governador de São Paulo será reeleito.


Depois a sede continua explicando como se pensa o momento e depois se decepciona com as decisões ali tomadas. E isso é da democracia: sempre é possível agir diferente do que já se agiu.    

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

CAMINHADA EM DEFESA DA LIBERDADE RELIGIOSA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Nem por morar no Rio tomei conhecimento da 7ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Mas neste domingo (21 de setembro) ela aconteceu na orla marítima da Zona Sul. Aproveito para lembrar de uma postagem recente em que falava na diversidade. Na voz representativa da humanidade e do seu conhecimento sobre o universo em termos da diversidade. A diversidade é a voz da unidade. Ao que chamei a voz na Torre de Babel.

As vozes da Caminhada que mais pediram a liberdade religiosa não denunciavam ateus e comunistas como alguém poderia pensar. Ao contrário a principal denúncia vem contra outras religiões que discriminam, fazem campanha e atacam pessoas e os símbolos religiosos de outras crenças.

Há um ano estive numa praça na localidade do Siupé, distrito de São Gonçalo do Amarante, para mostrar ao público da cidade as filmagens de uma procissão católica. Claro que as imagens capturaram os símbolos e as pessoas em sua fé, mas o essencial é que aquelas pessoas andavam em sol das três horas da tarde por dez quilômetros em busca do povoado mais antigo da região.

A capela do Siupé, simbolicamente dedicada a Nossa Senhora da Soledade, é a segunda construída no Ceará. Aconteceu logo após a capela de Aquiraz. Então a tese do filme é que diante da imensa transformação promovida pelo Complexo Portuário e Industrial do Pecém aquele povo andava em direção ao seu ninho, à sua origem. Mesmo que não seja inteira verdade, é parte dela.

Na mesma ocasião havia o sorteio de prêmios, com destaque para uma moto (este símbolo supremo da nova classe média) e era promovido por uma seita pentecostal. Foi aí que ouvi uma voz silabada, rouca de ódio e provocação com ataques frontais às religiões umbandistas. A intolerância denunciada nesta caminhada.

As principais vozes a denunciar a intolerância religiosa na caminhada foram de religiões afro-brasileiras, espírita e judaica.  Muito desta intolerância se manifesta na escola, nos espaços públicos e nas falas das lideranças durante cerimônias religiosas. E aí reside algo central: a intolerância num ambiente de ódio é o caminho para a violência e do ponto de vista político para o fascismo.

Não podemos esquecer, também, o erro inerente a toda religião que ao se tomar como a verdade, passa a desconhecer outras verdades. Outras maneiras de viver. E assim vamos tornar um tema no tema geral: A Caminhada Pela Diversidade e pela Tolerância.    


O "Inimigo Íntimo" - José Nilton Mariano Saraiva


Os torcedores do Ceará Sporting Club começam a ficar preocupados com as nuvens negras que repentinamente pairam sobre Porangabussu (sede do clube), ameaçando o acalentado sonho de acesso do time à divisão principal do futebol brasileiro.

É que, após uma boa campanha na primeira volta da Série B, onde merecidamente pontuou como líder da competição, nessas primeiras cinco rodadas da segunda volta o time parece ter desaprendido de jogar, advindo daí resultados não esperados, empurrando-o para fora do chamado G-4.

Duas são as causas apontadas para a queda de produção da equipe: um setor defensivo que tem falhado em excesso (supostamente por cansaço) e em razão da falta de proteção dos volantes, o que expõe o time em demasia; e a atuação muita presente do setor de “fisiologia” do clube, que vem interferindo em demasia na escalação da equipe, porquanto obstando a participação dos jogadores de idade um pouco mais avançada, principalmente o diferenciado atleta Magno Alves, artilheiro do time.

Acontece que, como o objetivo colimado (acesso) é objeto de desejo de muitos, nessa hora deveria prevalecer (acima de tudo) a superação. E aí o setor de “fisiologia” do Ceará Sporting Club bem que poderia ser mais magnânimo e flexível, elaborando um plano de ação que permitisse àqueles jogadores teoricamente mais sujeitos a desgaste pelo menos viajar com a equipe e ao “banco” sejam incorporados, ficando à disposição do comando técnico para participar num momento de dificuldade (por que não um Magno Alves no banco, apto a entrar nos segundo tempo, quando necessário ???).

Ninguém desconhece os nobres fundamentos da “fisiologia”: o estudo dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios (Houaiss). E o fator idade sem dúvida prepondera nessas circunstâncias.

Mas, sem dúvida, no momento o “meio-termo” seria uma sábia medida, ao tempo em que “implodiria” de vez a tese já difundida entre muitos torcedores de que o setor de fisiologia do Ceará seria uma espécie de “inimigo íntimo”, porquanto punindo o time num momento decisivo (parece até que alguns dos seus integrantes são torcedores do Leão do Pici).

Além do que, jogador de futebol gosta mesmo é de... jogar, estar em campo.
 







domingo, 21 de setembro de 2014

EXPECTATIVAS RACIONAIS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Um filme do passado, narrando a saga de Tomaz Edison para iluminar as ruas de Nova York com lâmpadas elétricas incandescentes. Acontece que os “barões” da iluminação a gás não deixavam pois perderiam seus negócios. Agora ao presente.

Já perceberam a quantidade de pesquisas eleitorais divulgadas uma atrás da outra, mais de uma vez por semana? Há uma forte suspeita que especuladores na Bolsa de Valores conseguiram “agregar” expectativas com os resultados das pesquisas eleitorais. Especulação no presente e defesa dos seus negócios mesmo contra o progresso no exemplo do passado.

Agora o arremate pois sei que poucos sabem mas já frequentei os bancos de uma faculdade de Economia. Não cheguei ao canudo por risco de uma derivada de oferta e procura consumir três expedientes numa longa jornada de 6 anos no curso de medicina e 5 anos de economia.

Portanto conheço o pensamento de economia política que permeia as faculdades de Economia especialmente influenciadas pelo liberalismo dos anos 70 vindo dos Estados Unidos da América. Trabalhos e estudos na contramão desta doutrina liberal são esforços pessoais e com grande desconforto de professores. Então todo mundo sai com o canudo recheado das “expectativas racionais” dos agentes capitalista.

Nestas expectativas reside todo o arcabouço de decisões que resultariam sempre em benefício da sociedade e do futuro. A racionalidade advinda de uma suposta “capacidade dos indivíduos e das empresas de sempre obter a melhor avaliação do futuro.”

Acontece que se evidencia um erro filosófico na expectativa desta racionalidade. São decisões do presente que constroem o futuro de modo que o futuro avaliado é a sucessão destas decisões. Como foi exemplificado nos dois casos da iluminação elétrica e das especulações em bolsa.

Então a racionalidade (faculdade de raciocinar, de apreender, compreender, de julgar, deduzir etc.) no capitalismo é probabilística e ao mesmo tempo errática, uma vez que fundada na capacidade contínua de especular com o futuro. E mesmo que os agentes econômicos apreendam com as crises a especulação inerente será tão mais irracional quanto mais longe estiverem da última crise.

A psicologia humana mesmo que parte de um sistema físico que pode ser destrutivo como nas chamadas psicopatologias (que também é fruto da história das pessoas e não apenas de sua matéria) não naturaliza e nem explica os erros na economia política. Como já se juntou: são decisões políticas e lutas políticas que definem o modo de produzir, distribuir e consumir.


Por que estou falando nisso? Por ter os conhecimentos econômicos se tornados tão misteriosos enquanto na verdade são da essência da vida de cada pessoa, grupo e classe social.      

sábado, 20 de setembro de 2014

UM NOVO TEMPO. UMA NOVA POLÍTICA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Um tempo passado, os regimes comunistas eram totalitários. Quer dizer regimes (doutrinas) que não admitem qualquer forma de contestação aos seus ditames e normas e pregam submissão total ao seu ente instituído (o Estado, a Igreja, a Bíblia e por aí vão). Então um setor de direita da Igreja Católica (hoje renovado com outros arranjos porém com as mesmas ideias e na radicalidade muito próximos de Pentecostais e Neopentecostais) reduzia toda a crítica ao totalitarismo do regime soviético.

Acontece que um conjunto moral, ético, legal ou que normas mais existam em formas assemelhadas, são passíveis de crítica e modificações ao longo do tempo. Por isso as “doutrinas” racham seu arcabouço que tenta encerrar a vida em seu movimento ao longo do tempo histórico. E racham vazando um chorume próprio dos processos de digestão do tempo.

Por isso as doutrinas se prostituem ao longo do tempo e de sua prática. Seus termos não mais explicam as mudanças da história e com ela o modo de se viver e sobreviver. Uma das doutrinas mais humanas que existe é o cristianismo até porque em seus mandamentos se encontra que “não matarás” a outro ser humano. E para resumi-la: em nome do cristianismo (ou do judaísmo, ou do islamismo) cabeças são decapitadas, torturas são realizadas, pessoas foram para fogueira, feridas exaurem a seiva vital das pessoas.  

Personagens da vida social abrem a bíblia em qualquer versículo e de sua leitura extrai todo o conteúdo de seu individualismo, de sua vaidade e se estão a explanar para outros, revelam toda a mistificação que tem por fundo a própria glória vantajosa de quem “interpreta” a parábola. A verdade não nasce de uma só voz e nem a Deus é permitido falar por uma única voz, uma vez que se é de fato o criador de todas as coisas, a sua voz é, necessariamente, ecoada na torre de Babel. É a voz da diversidade. De outra forma não é Deus.

Aliás o principal milagre do Deus judaico foi negar o Judeu como o povo escolhido. Deus não poderia ser Deus tão somente e apenas por mera doze tribos. As perdidas ou as achadas.  

Há dias a outrora “voz de Deus”, a rede Globo de Televisão, saiu de dedo em riste a acusar a todos de corruptos e incompetentes. Não aliviou para nenhum candidato. E nesta aparente mistificação da voz que acusa, ela revelou-se como nunca dantes havia, apenas mais uma opinião na diversidade de tantas.

Entrevistando um candidato ao governo do Rio de Janeiro (Garotinho) o acusou de condenado por corrupção e de nomear corruptos condenados. Garotinho naturalmente defendeu-se dizendo que não havia condenação, havia acusação e que ele se defendia das mesmas. Mas havia uma insistência em acusa-lo em termos quase infra legais.  

Garotinho então diz: “Eu estou esclarecendo: sou vítima de muitas perseguições. No sistema brasileiro, a acusação cabe ao promotor – você está falando de acusações – a defensoria pública ou o advogado defende, e o juiz julga. Acusação, todo mundo tem. Agora mesmo, acusaram a Globo de estar envolvida em um desvio milionário, com laranjas e paraísos fiscais. Eu não sei se a Globo é culpada, eu até acho que é, mas é opinião minha. Quem vai dizer isso é o juiz. Não sou eu. Disseram que a Globo sonegou bilhões...”

Nesse momento a apresentadora da Globo, que tem um ponto de comunicação com a produção em sua orelha, lembrou ao candidato que a Globo não estava em questão e ele diz: “Eu sei, mas eu estou só aqui dizendo a você como às vezes injustiças acontecem. A Globo pode estar sendo vítima de uma injustiça”. E então a apresentadora mais uma vez defendeu a rede Globo.

Enfim, transformar a política neste udenismo barato em que todas as ideias se totalizam na corrupção, apenas transformam as ruas em limpos enlameados ou em enlameados ensaboados. Basta recordar a recente perturbação que envolveu até uma figura relevante de uma cidade como é o caso de um bispo. Logo este conceito que deriva do grego episkopos que quer dizer vigia, inspetor, chefe eclesiástico. E tem mais que é o chefe da diocese e esta é a região que se governa a lembrar a nomenclatura romana.


Enfim, nestas eleições a Globo perdeu a voz da mediação, tornou-se apenas mais uma voz entre tantas. E a nova política não se resume à doutrina epistolar. A nova política é a diversidade. E principalmente o modo de acordar o movimento na diversidade e na tolerância (reconhecimento) à diversidade. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A LUA É UMA BOLA LUMINOSA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Nascido com alguns graus de miopia, enquanto lentes artificiais não corrigiram o foco, a lua cheia era linda, luminosa e dominante. Quando as armações dos óculos deram correção à sua visão a lua cheia era linda, luminosa, dominante e era um globo. Não era aquele prato luminoso e achatado.

A lua era outra. Uma linda bola, com nuances de um azulado brilhoso, crateras e um arredondamento que parecia deslizar a visão a volúpias deslizantes ao lado oculto do satélite. A lua era outro conceito.

E da miopia intelectual, crédula e acrítica, da ficção de Hollywood surgiu a certeza de que todos os árabes islamitas são fanáticos assassinos, prontos a se destruir numa explosão enquanto destrói tudo em volta. A ação de propaganda é tão violenta que artistas com feições semitas, barbados e vestimentas orientais fazem olhares de maldade apenas para dar crédito ao preconceito que alastra a violência além do biótipo do sujeito e se distribui por toda a coletiva de assemelhados.

Em qualquer parâmetro que se analise a propaganda nazifascista do século XX, especialmente a antissemita dos nazistas, não tem como separar uma da outra. A de Hollywood com as dirigidas por Goebbels. Em ambas os mesmo signos, símbolos e feições sobre as quais se deve despertar o ódio, discriminação e destruição.

E na nova onda destas explosões de guerras por todos os lados, as quais já foram identificadas pelo Papa Francisco como a 3ª Guerra Mundial, surge mais um foco o Estado Islâmico. Aquele que os “senhores imperiais das guerras” a serviço do “complexo industrial-militar” pretendem destruir com drones e aviões e sem colocarem os coturnos de soldados no chão.

Agora a desconstrução do mito Hollywoodiano. Informações da imprensa alemã dão conta que cinco casos de “terroristas suicidas” atuando no território das regiões curdas do Iraque e Bagdá eram de jovens alemães. Mas tem vindo gente de toda a Europa. Estima-se que os ataques envolvendo europeus aumentaram quatro vezes desde março deste ano.


Um jornal das forças armadas iraquianas diz: “O número de europeus aumenta constantemente. Eles são especificamente recrutados e são mais brutais que os árabes.” Não se tenha dúvida que a ignorância, a passividade intelectual e a crença acrítica é uma fábrica de esconder verdades e acobertar a violência.    

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Esse tal "SEGREDO DE JUSTIÇA" - José Nilton Mariano Saraiva

Plantonista de final de semana de um desses Tribunais da vida, a juíza de primeira instância da 3ª Vara da Família de Fortaleza, Maria Marleide Maciel Queiroz nunca imaginou que ficaria conhecida não só no Brasil, mas internacionalmente (e de forma negativa) ao, em atendimento à solicitação do Governador do Estado do Ceará, Cid Gomes, proibir a circulação em todo o país da revista semanal ISTOÉ (contendo reportagem-denúncia sobre seu envolvimento no caso Petrobrás); e, ainda por cima,  ao aceder ao pedido do Governador para que enquadrasse a questão como “segredo de justiça” e, portanto, circunscrita a uns poucos.
De pronto tal ato foi repudiado por gregos e troianos. A Associação Nacional dos Jornais entendeu que a medida foi uma censura prévia e classificou a decisão da juíza de lamentável; a Associação Nacional de Editores de Revistas tachou-a como um “flagrante desrespeito à Constituição no tocante à liberdade de expressão e pensamento”; alfim, acionado pela revista, o Ministro Luiz Roberto Barroso, do STF, derrubou a liminar concedida pela juíza, por considerar importante e fundamental a liberdade de imprensa para a construção da democracia. Portanto, a emenda saiu pior que o soneto (um autêntico gol contra), já que atraiu os holofotes sobre a face autoritária de Sua Excelência e se tornou verdadeira coqueluche na Internet (redes sociais).
A propósito, com relação à tentativa frustrada do Governador do Ceará de “ocultar” seu gesto autoritário (com a anuência da magistrada em questão) através do tal “segredo de justiça”, convém lembrar que ano passado o jornalista Ricardo Boechat, âncora do Jornal da Band,  ao ser processado pelo Governador do Ceará, também sob “segredo de justiça”, abriu mão de tal receituário jurídico ao “botar a boca no mundo” em seu programa radiofônico: “Ser processado por alguma crítica ou opinião é do jogo. Mas o sigilo, eu não concordo e por isso resolvi contar sobre o processo no ar. Somos duas figuras públicas. Por que pedir o sigilo? É medo de que se revele alguma coisa errada? Com isso não concordo e não vou guardar sigilo”, afirmou.
É que, na ocasião da contratação do show de Ivete Sangalo, pago com recursos públicos, Boechat afirmara que “quem fazia canalhice era canalha”. E que Cid Gomes contratar um show com dinheiro público, em um reduto eleitoral seu e de seu irmão (Ciro Gomes), era canalhice. Portanto, o governador seria “um canalha”. E um “canalha-reincidente”, lembrou, já que antes houvera torrado o dinheiro público para levar a esposa e a sogra em uma viagem pela Europa, com dinheiro do contribuinte. 
Para reflexão, fica a pertinente indagação de Boechat: “Somos duas figuras públicas. Por que pedir o sigilo? É medo de que se revele alguma coisa errada? Com isso não concordo e não vou guardar sigilo”,
Com a palavra, Sua Excelência o Governador do Estado do Ceará, Doutor Cid Ferreira Gomes.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A AMEAÇA VERMELHA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Escola Nacional de Saúde Pública, final dos anos 70. A Superintendência de Campanhas (SUCAM), autarquia federal, resultante da união do Departamento Nacional de Endemias Rurais e das Campanhas de Erradicação da Malária e da Varíola, entre outras campanhas, faz concurso para sanitaristas.

Quem tivesse curso superior poderia se habilitar: da área de saúde, ciências sociais, pedagogos, engenheiros, arquitetos, estatísticos e até advogados. Após a aprovação em concurso de provas de conhecimento, o selecionado passava por um curso de formação em Saúde Pública. A turma de jovens profissionais, então, era muito bem preparada, naquela época já com surpreendentes níveis de mestrado e doutorado entre eles.

Aí aconteceu a piada. Durante um debate sobre vacinação em massa, uma arquiteta, gente pessoalmente boa e alegre, agarrada à alça americana da Guerra Fria quis levantar uma questão crucial durante um debate. A vacina antipólio importada pelo Brasil vinha da União Soviética. O perigo comunista naquele frasquinho.

E para concluir sua suspeita ela apontou a cor vermelho desbotado do líquido das gotinhas em face da diluição como a evidência mais suspeita. Foi uma risada generalizada na sala e um colega, em sinal de “vergonha”, resolveu enfiar-se por baixo das carteiras. A piada foi tratada assim e mantivemos boas relações com a ingenuidade da senhora.

Pois não é que a brincadeira se apresenta nesta campanha como um anátema medieval? O candidato a deputado estadual por São Paulo (sempre por lá acontece estas coisas), chamado Joseph Jo Raymund Diwan do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) entrou no TRE contra a administração de São Paulo por ter pintado as ciclo-faixas na cor vermelha. Isso sem contar uma figura menor no “face” fazendo a mesma lenga-lenga.

Acontece que a cor das vias exclusivas para as bicicletas se moverem nas cidades é vermelha para chamar a atenção e é um padrão internacional regulamentado pelo COTRAN.

É preciso muita luz para poder enxergar a ignorância ideológica que permeia o campo da direita brasileira (sem deixar de iluminar amplos setores da esquerda). E acreditem, uma parte desta “escuridão” é proposital. A aposta no medo noturno da ignorância alheia. 

Cartas na Mesa - José Nilton Mariano Saraiva

Já afirmamos aqui, em mais de uma oportunidade, que temos verdadeira aversão a “muro”, que não somos filiados a nenhum partido político e que votamos naquelas pessoas que entendemos tenham condição de realizar algo pelo “social”.

Assim sendo, faltando menos de três semanas para as eleições, tomamos a liberdade de listar os candidatos que sufragaremos, a saber:

-Presidência da República – DILMA ROUSSEFF (PT - 13)
-Senado Federal – GEOVANA CARTAXO (PSB – 400)
-Deputado Federal – ARIOSTO HOLANDA (PROS - 9011)
-Deputado Estadual – HEITOR FERRER (PDT - 12350)
-Governador do Estado: EUNÍCIO OLIVEIRA (PMDB – 15)

Como se observa, a “sopinha de letras” (PT, PSB, PROS, PDT e PMDB) sinaliza exatamente o que acima afirmamos: não temos predileção nenhuma por nenhum partido e votamos em pessoas que acreditamos sejam bem intencionadas.


Claro que já “quebramos a cara” com algumas, que após eleitas fugiram léguas do que prometeram, dentre os quais: Inácio Arruda, Nelson Martins, Chico Lopes, José Pimentel, dentre outros. Jamais terão o nosso voto novamente.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A "marina(morfose) ambulante" - José Nilton Mariano Saraiva

Tida e havida como uma pessoa tímida, recatada e prudente, Marina Silva transfigurou-se numa espécie de “metamorfose ambulante”, por conta da pressão pela qual passam os que se submetem à disputa do cargo maior da nação – a Presidência da República.

Assim é que, dias atrás, sabatinada pelos matreiros e comprovadamente antigovernistas jornalistas das Organizações Globo, ao referir-se às denúncias que envolvem a Petrobrás foi de uma infelicidade a toda prova, quando acusou formalmente a agremiação partidária que a projetou nacionalmente (o PT) de ter agido de má-fé, já que... “um partido que coloca por 12 anos um Diretor para assaltar os cofres da Petrobrás”.

Ora, todos que acompanham o imbróglio desde o princípio sabem que o senhor Paulo Roberto Costa é funcionário de carreira da Petrobrás e que sua ascensão na empresa deu-se exatamente durante os oito anos do governo FHC, quando foi nomeado para sucessivos postos ou funções relevantes. Portanto, ele lá já estava quando o PT assumiu o governo. Se os seus malfeitos não vieram a lume naquela oportunidade, credite-se à existência de um tal “engavetador geral da república”, (Geraldo Brindeiro) subordinado diretamente à Presidência da República.

Agora, querer imputar a outrem um crime tão grave, somente por ouvir falar, sem que tenha condição de representar em juízo (por absoluta falta de provas), denota leviandade, despreparo e irresponsabilidade. Afinal, o ultraje e a mentira nunca foram boas companhias. 

Mas...

Como Marina Silva afirmou taxativamente que quando se defronta com questões relevantes costuma consultar a Bíblia a fim de decidir o que fazer, se lhe sobra uma nesga de honestidade deveria exercitar uma das recomendações contidas em tal livrinho: pedir perdão àqueles que denegriu e humilhou (seus ex-companheiros de partido). Quem sabe, assim garantirá seu passaporte para o reino dos céus.   
  

No mais, essas recorrentes contradições, equívocos e incoerências que a candidata expressa quando questionada “ao vivo” caracteriza, sim, uma prova contundente e insofismável de que não se acha preparada para ascender à chefia da nação, porquanto lhe faltam sensatez  e equilíbrio em momentos de tensão.

sábado, 13 de setembro de 2014

A "retificadora" - José Nilton Mariano Saraiva


Qualquer brasileiro tem garantido constitucionalmente o direito de se cacifar ao cargo de mandatário maior da nação, via voto popular, bastando para tanto que atenda à legislação pertinente. Além do que, recomenda o bom senso, há que se ter uma vida pregressa que não comporte dúvidas e/ou despida seja de nódoas comportamentais.

Tal reflexão é só pra lembrar que, na atual corrida sucessória, bastou o comitê da concorrente (Dilma Rousseff) protocolar um simplório pedido de investigação junto ao órgão competente (Procuradoria Geral da República) objetivando saber sobre a renda obtida com as palestras que proferira, eis que a candidata Marina Silva de pronto se lembrou de “retificar” as informações originalmente encaminhadas àquele órgão.

É que ela “esquecera” (talvez por considerar irrelevante) de listar dois investimentos mantidos no banco HSBC: uma aplicação em renda fixa no valor de R$ 30.000,00 e uma caderneta de poupança de R$ 15.612,94. Feita as correções devidas, o patrimônio da candidata subiu de R$ 135.401,38 para R$ 181.014,32, representando um acréscimo nada desprezível de 37,0%.


Constatar que alguém que se disponha a candidatar-se à Presidência da República não tenha o mínimo de cuidado com o que divulga e propaga (quer via programa de governo e/ou dados pessoais à Justiça Eleitoral), advindo daí a necessidade de freqüentes e apressadas "retificações" daquilo que fora originalmente veiculado (como restou comprovado), é no mínimo constrangedor.

No mais, as recorrentes “trapalhadas” cometidas pela candidata e seu comitê nos últimos dias (o plano de governo já foi alterado várias vezes), revelam um irresponsável descontrole com o que se passa à sua volta, daí sermos tentados a imaginar quão arriscado seria se a ela delegássemos a tarefa de cuidar de um organograma muito mais complexo e de estrutura muito mais pesada, como o é o da Presidência da República.

Definitivamente, amadores não deveriam ser habilitados a tal mister.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

E CHEGOU AO "BAILE" VESTIDO DE MENSALÃO 2 - José do Vale Pinheiro Feitosa

A bala de prata, que mata o lobisomem, mais uma vez disparada pela Camarilha dos Quatro (Veja-Folha-Estadão-Globo) às vésperas de eleições, deu munição à esquálida campanha do PSDB. Adendo: que já é uma ave em extinção.

A Camarilha que conseguiu colar no PT o rótulo da corrupção com a seletiva ação do Ministro Joaquim Barbosa, agora pega o rótulo “mensalão” e imagina aplicar-lhe o número 2 para expulsar da política a Dilma e o PT juntos. Não é isso que algumas pessoas estão fazendo nos vidros de carros? Apenas escondendo quem, afinal, quer pôr no lugar?

Ontem no Terra Magazine, o seu editor Bob Fernandes diz: “Teve início há semanas – e prossegue com vindas e idas – uma revoada de executivos, e mesmo donos de algumas das empresas citadas em investigações da Operação Lava Jato. Aquela do escândalo da Petrobras.” Quer dizer aqueles “empreendedores” que cegam a menina dos olhos da miuçalha neoliberal da classe média reacionária dos vários rincões.  

Num filme americano sobre as “falcatruas” dos “empreendedores” com petróleo Árabe há um diálogo em que alguém, em conversa, denuncia a corrupção e tem por resposta que a corrupção é a energia do capitalismo. Alguns dados de Bob Fernandes: o processo da era Collor envolveu mais de 100 empresários de 400 empresas e tudo prescrito. Nos últimos 12 anos 4.928 funcionários públicos foram expulsos ou perderam a aposentadoria. Olhem só: 700 políticos (desde vereadores até o topo) perderam o mandato e tiveram direitos políticos cassados desde meados dos anos 90 e final destes.

Chega de estatística pois isso passa pela larga rede de corrupção de sonegação de impostos (inclusive do grande membro da Camarilha dos Quatro a Rede Globo de Televisão), pelas manobras de enganação dos consumidores, sem contar achacadores e outras mumunhas mais feito tipo o “por fora”, o “cafezinho do guarda”, ultrapassar a fila e por aí vão os “pecadilhos” desta gente bronzeada que sabe mostrar o seu “valor”.

Acontece que o lema “o povo não é bobo, abaixo a rede globo” funciona quando se trata da prática da ação política. De modo que o povo desconfia pois o jogo da Camarilha já está ficando óbvio. Vejam que a Camarilha tem um caminho único e tem a hegemonia de reacionários e da direita democratofóbica. Basta a Veja oferecer sua capa e os blogueiros a “serviço” assumirem a tarefa para que a massa, em correia de transmissão, corra para a trolagem.

Não é que aquilo que seria apenas o Mensalão 2 também foi dirigido para Marina Silva e para a memória de Eduardo Campos! E não foram os petistas não. Foi a “mídia” articulada da Camarilha. Mas a Marina é a grande esperança de “expulsar os petralhas”! E esta “gente” aí como é que fica, hein? Como é que vai jogar lama na Marina?

Afinal vamos ter disputa como sempre tivemos. Disputa democrática e com teses divergentes. Vamos ter vitoriosos e não vamos ter derrotados. Afinal é da natureza do processo que os resultados elejam dois tipos legítimos de mandatos: a situação e a oposição. Mas é preciso ter em conta que a regra é duradoura e passível de debate de mudança. Só após o debate e o processo eletivo é possível a mudança.

Não vamos esquecer de uma coisa. Foi a aliança PSDB e PFL (DEM) que instituiu o jogo de elite representado pela chamada “reeleição” que se diz e se tem até convicção foi comprada em notas volumosas para dar mais um mandato ao “príncipe do neoliberalismo”. Pois bem as regras do “príncipe” afinal não são bem reeleição. Se trata, a rigor, de um mandato de 8 anos e confirmação na metade do mandato. Falar em reeleição com a máquina na mão é, como sabemos, jogo de elite.

É preciso amor pra poder pulsar. É preciso paz pra poder sorrir. É preciso a chuva pra poder florir.”   


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Qual a direção, candidata ??? - José Nilton Mariano Saraiva

À medida que se aproxima o tão esperado “dia D”, as trapalhadas se sucedem no comitê de campanha da candidata Marina Silva, num eloqüente atestado de que, tal qual “biruta” de aeroporto, não há uma direção a ser seguida; assim, há, sim, prenúncio de chuvas e trovoadas à frente, já que tudo dependendo de momentâneas conveniências “político-climáticas”.
Primeiro, tivemos aquela história envolvendo os integrantes da LGBTs que, sentindo-se ofendidos com o contido no programa de governo da candidata a respeito da comunidade, exigiram e conseguiram que a própria viesse de público “desdizer”, “desautorizar” e “modificar” apressadamente o que ali houvera sido publicado sobre, mesmo que sob a ridícula alegativa de que tudo não passara de uma “falha processual na editoração”. Houve, pois, falta de firmeza e sobraram conveniências.
Depois, a comprovar que o seu programa de governo não passa de uma colcha de retalhos, onde tudo cabe e tudo é permitido, bastando para tanto que se “copie”, se “cole” e se “assuma” como próprias, idéias e opiniões de outrem, a inserção naquele “documento oficial” de textos completos (ipsis litteris), publicados na Revista da USP nº 89, de autoria do professor Luiz Davidovich, sem que os respectivos créditos lhes fossem atribuídos; ou seja, mesmo com o  “flagra” registrado, para todos os efeitos ali se achavam insertas idéias exaustivamente debatidas pela candidata e seu comitê de campanha. Houve, pois, desonestidade.
Pois bem, agora mais uma “peraltice”: é que, quando registrou sua candidatura à Presidência da República, o senhor Eduardo Campos houvera declarado formalmente possuir um patrimônio de R$ 546 mil. Eis que hoje se descobre que um dia após a sua morte, o senhor Eduardo Campos teria feito uma “doação” de R$ 2,5 milhões para o partido, o PSB. Mesmo sem levar em conta o “inusitado” de uma “doação” ter sido feita um dia após a morte do doador, a pergunta é: se o seu patrimônio total era de R$ 546 mil, como explicar uma “doação” que corresponde a quase 5 (cinco) vezes tal patrimônio ???  Caixa dois ??? Sobras de campamha ??? Dinheiro não contabilizado ??? E a Marina, sabia disso ???
Diante de tanto amadorismo, despreparo (ou seria má-fé ???), cabe questionar: a) é com essa turma tão “preparada” que a candidata pretende gerenciar um país complexo como o é o Brasil, num presumível governo do PSB ??? b) vamos aceitar isso tudo passivamente ??? c) somos tão ingênuos ???

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Farol


J. Flávio Vieira

Eram os gloriosos Anos 60, aqui em Crato. Vivíamos a época de ouro do futebol na nossa cidade. Campos se multiplicavam pelos subúrbios. Toda uma geração de garotos  se imantava na conquista das Copas do Mundo de 1958 e 1962. Times de Futebol Association como o “Sport”, o “Satélite”, o “Rebelde” e craques como Anduiá, Charuto, Chico Curto, Antonio e Luiz Pé de Pato, Fruta-Pão , Netinho, Pinto, Enoque levavam a torcida a superlotar o precário Campo do Sport. Paralelamente, os nossos times de Futebol de Salão ganharam renome em todo estado pela combatividade e efetividade do seu jogo. Ainda menino, encantava-me com as disputas gloriosas e acirradas entre o Votoran, o Volkswagen, a AABB e o Crato Tênis Clube e com as jogadas de craques como Gledson, Reginaldo, Dote, Luciano, Pernambuco, Zé Vicente, Paulo Cézar, Gilton. Desses times, periodicamente, se convocava a aguerrida Seleção Cratense de Futebol.
                                   Com tantos embates empedernidos e fabulosos, surgiu a necessidade imperiosa do seu registro midiático e foi justamente neste período que floresceu o jornalismo esportivo da região, em Crato polarizado entre as duas Rádios : a pioneira Araripe e a jovem e recém-inaugurada Educadora. Foi neste cenário e com alguns célebres personagens que aconteceu, nessa época, o mais monumental acontecimento da história radiofônica caririense.
                                   A Seleção Cratense de Futebol de Salão , multivitoriosa, viajou para um embate duríssimo com a Seleção de Iguatu que jogava em casa. A transmissão naqueles tempos áureos era dificílima. Iguatu encontrava-se numa zona silenciosa de radiodifusão e só existiam duas maneiras de executar a tarefa. Conectar a rede diretamente no fio do telégrafo ou na linha do trem, captando, depois, por fios, diretamente aqui, os sons possíveis e múltiplos que viessem. A qualidade era péssima, cheia de ruídos e sons adventícios, principalmente quando se utilizava a modalidade linha do trem. E mais, sem possibilidade de comunicação direta com a Rádio local, nunca se sabia se a transmissão estava sendo possível. Era  sempre um tiro no escuro. Pois bem, a Rádio Educadora adiantou-se e, em ofício, solicitou a linha aos “Correios e Telégrafos”. A Araripe ficou no olha-e-veja, tarde despertou para o fato de ter sido sobrepassada pela concorrência . Restava-lhe, tão somente, optar pelo péssimo recurso da linha do trem e a incerteza da possibilidade de retransmissão ou a certeza de perder a audiência para a Educadora por conta da baixa qualidade sonora. Um jovem locutor esportivo, então, teve uma ideia inusitada. Ouvir no estúdio da Araripe em Crato, a transmissão da concorrente e , através dela, fazer a própria veiculação da partida, como se lá estivessem. O comentarista esportivo, mais tarimbado, temeu pela dificuldade quase intransponível do feito, mas, sem opção, acedeu. A equipe cedo se trancou no estúdio da Araripe, para que todos pensassem que haviam viajado para Iguatu e, de lá, sorrateiramente, ouvindo a emissão defeituosa e cheia de ruídos da Educadora, retransmitiram, como se lá estivessem, todo o jogo. Até mesmo o segundo gol do time do Crato , gritaram antes . Como foi possível ? O jovem locutor, atento, em meio a propaganda da Araripe, percebeu quando a torcida do Crato berrou : Gol de Gledson ! E, antes da adversária, sapecou : -- Gollll da Seleção Cratense ! Gledson ! O comentarista, anos depois, contava que o mais terrível era ter que comentar os lances sem ver e, mais, no intervalo do jogo, ver-se na imperiosa necessidade de fazer considerações minuciosas por mais de quinze minutos sobre a partida. Nem é preciso dizer que todo Cariri optou pela transmissão da Rádio Araripe, limpíssima e sem quaisquer barulhos estranhos. Quando a Educadora descobriu o blefe , estabeleceu-se uma celeuma danada, protestos e mais protestos, editoriais no noticiário. Nem sequer perceberam que haviam presenciado a mais extraordinária façanha do Rádio caririense em todos os tempos, protagonizada por um jovem locutor esportivo, ainda pouco conhecido, chamado Heron Aquino e um comentarista já mais taludo e que se tornaria, depois, um dos nomes mais queridos do jornalismo cearense : Elói Teles.
                                   Pois bem, amigos, rápido, cinquenta anos se foram desfolhando, como por encanto, na Folinha da parede. O nosso querido comentarista já hoje flutua nas ondas celestiais. Neste  dez de setembro, o Dia da Imprensa , o Cariri emudece um pouco mais, quando seu companheiro,  o jovem locutor de outrora, resolveu dependurar o microfone.
          Neste interlúdio de meio século, Heron Aquino se tornou o mais completo nome do Rádio Caririense. Locutor, Narrador Esportivo, Noticiarista, Disk-Jóquei, Cerimonialista, Assessor de Imprensa, Produtor, Publicitário, Diretor de Emissoras de Rádio, Redator e Repórter, desempenhou as mais variadas e díspares funções com galhardia, competência e simplicidade. Trabalhou ainda em Fortaleza,  na Ceará Rádio Clube e na TV Ceará e poderia ter tido uma fulgurante e próspera carreira nas terras alencarinas se  a saudade do pé-da-serra não tivesse vencido aos doces prazeres da beira-mar.  Aqui retornou e fez sua voz brilhante e característica se transformar na voz oficial da nossa cidade. Ético,  nunca fez da sua atividade um balcão de tramoias e negociatas, não precisou por qualidades em quem não tem, nem pespegar virtudes em salafrários. Equilibrado sempre propagou a notícia como um mote para que o ouvinte , do outro lado, desenvolvesse sua própria glosa.
            Sem Heron, o Rádio perde uma voz importante e isenta e um técnico de uma completude  quase que insubstituível.     Ele     seguiu, intuitivamente,  os preceitos de Pulitzer do bom jornalismo : foi sempre breve para que fosse ouvido; claro para que lhe apreciassem; original para que nunca o esquecessem e , acima de tudo, preciso para que , como um farol, muitos viessem a ser guiados por sua luz.

Crato, 10/10/14