TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 15 de janeiro de 2019


AS CIDADES VIVIDAS – BARRO DE ZÉ INÁCIO

As rotas dos sertões dos Cariris são amplamente fronteiriças às alternâncias de altitudes do relevo e da divisão política dos estados. Ali a confluência de quatro dos nove estados nordestinos: Piauí, Pernambuco, Ceará e Paraíba. Mas se aconselhando que o Rio Grande do Norte fica bem perto.

O Barro de Zé Inácio não é um território contínuo. A maioria das cidades contínua é, mas o Barro se diferencia. Três pontos espaciais dão significância ao destino, tanto dos que no território nasceram como aqueles que chegam e outros que se vão.

Os três pontos do Barro são o Arruamento, a Serra do Ouricuri e o Riacho do Meio. Os três em conjunto têm um significado espiritual traduzido nas simbologias desde o Vale do Indo, passando pelos corpos hídricos da Mesopotâmia e as civilizações das águas do Mediterrâneo.

Símbolos do movimento da matéria e daquele que nunca se move e tudo cria. O Pai, o Filho, o Espírito Santo. O criador Brahma, o preservador Vishnu, o destruidor Shiva. A arte do encontro com a comunicação, a expressão e a expansão.

Zé Inácio conformado nos determinantes históricos do Arruamento: coiteiro de Lampião, operador militar de Floro Bartolomeu, estabelecido na linha política do Padre Cícero. Ousado, com o desiderato do avanço e da vingança, de fazer filho com as mulheres e de retirar deste mundo, os filhos dos outros.

O Riacho do Meio como vértice do triângulo, é o movimento, a revelação do presente, o sótão do passado e a visão panorâmica do futuro. Da varanda para o infinito sertão, lá onde a vista plena alcança o Serrote do Cachimbo, quando fuma, adiante vem chuva.

A Serra do Ouricuri é híbrida, parece que existe noutra ordem que não a carne da Sede (o poder político) ou do Riacho do Meio (a contagem do tempo). Espiritual, não se explica pelas partículas de matéria e energia, não é um tempo, apenas o simulacro do espaço.

Nas ladeiras da Serra a civilização dos automotores vai ao mundo dos vivos com um langor de dúvidas sobre a realidade da combustão e da explosão que movimenta molhos de ferro, plásticos e borracha. Um gemido contínuo se espalha nos demais pontos do Barro de Zé Inácio.

No Riacho do Meio a criação desperta com o cancão falante do velho Julião e anunciando a história da travessia da África nos porões negreiros. E por isso mesmo ele teve dois filhos idênticos. Um adotou os ritos da masculinidade imposta e outro a feminilidade expressiva em gestos e amores. Ambos migraram ao Maranhão.

A Sede por muito tempo chorou o assassinato de Zé Inácio, fugitivo a conselho do Padre Cícero para Goiás. Ali encontrou seu destino de violência, carregando muito dinheiro, na companhia de Sinhô Pereira e Luiz Padre. A inveja cuspiu chumbo e enterrou o coronel nos sete palmos de profundidade.

O viajante que chegue ao Barro vai encontrar tudo muito diferente em fantasias e escolhas de indumentárias (celulares e esta tela de facebook). Mas se encontrar os três vértices do triângulo, logo compreenderá o significado desta trindade.   

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