Os coreógrafos são exuberantes nesse conhecimento. Os movimentos do mundo falam. Eles, enquanto relativo a outros no movimento geral, dizem de si mesmos e compreendem os demais. Os ventos dizem, as tempestades explanam, as sombras modificam as evidências, a gravidade é como o coração: para si tudo atrai. Os coreógrafos sabem que os corpos falam.
Sofia, aos sete meses, expressa conhecimentos do mundo com tal precisão que a cada partícula anunciada uma nova emoção se planta em volta. Como o largo sorriso, a pequena boca parece um pássaro de asas planando, a gengiva sem nenhum dente e aquela breve expressão retém todo o conteúdo fantástico do reconhecer. Reconhecer, um estágio adiante da memória sem o qual o conhecimento retornaria ao fluxo indelével dos eventos fora dos horizontes da vida. Sofia, aos sete meses, reconhece as pessoas e as enfeitiça com a prova deste reconhecimento.
Quem imaginaria, tantos anos adiante, que um pequeno ser humano nos retornaria à essência desta época em que vivemos: entre a abundância social e a escassez econômica. Apenas suportamos tais aclives pela permanente sensação de pertencimento. Ao mesmo que conquistamos, também pertencemos a algo ou alguém. Aliás, sem este paradoxo de pertencer a conquista não existe. Tudo se tornaria uma patologia predadora de coisas. Sofia quando nos reconhece nos põe no centro exato do pertencimento. Pertencemos a esta casa, a esta rua, à cidade, ao país, a este povo, a esta crença a tantos são os pertenceres e Sofia os revela todos. Sofia faz como os nossos dedos no interruptor e imediatamente a luz se acende lá em cima.
Outro universo que Sofia já abriu. Faz parte do movimento do mundo e da comunicação. Sofia se comunica com o corpo e o aparelho fonador. Já não gosta de permanecer longo tempo em decúbito dorsal. Sofia vira, move os membros inferiores como avanço sobre o espaço e quer agarrar tudo que estiver ao alcance de suas mãos. Agarra e tudo trás à boca. Não é, como pensávamos, um mero reflexo oral, mera seqüência da amamentação. Não agora são coisas sólidas, de sabores diversos, não alimentares, não coisas flexíveis, qualquer objeto que se sustente em suas mãos. Uma relação dialogal entre as mãos de Sofia e sua boca.
O mundo é realmente algo muito além das dificuldades da sobrevivência. Sofia faz um buuuu prolongado com os lábios apertados e espumando saliva. Pega o objeto e olhando-o atentamente faz um canto alongado e interrompido de repente como uma frase de início e fim. Certamente que gostaria de traduzir em letras todos os sons que Sofia nos comunica neste tempo de sua vida, mas é impossível. É preciso um gravador. Quem sabe um gravador traduziria tanta filosofia concentrada. Concentrado capaz de superar os ventos das especialidades e o vácuo das tiradas de moda.
Um comentário:
A oportunidade de reentrar , no mundo de Sofia é generosa ... Se estamos em todas as idades , podemos entender Sofia !
Eu tenho uma Bianca ...Ela me ensina a saber , o que quero ainda da vida !
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