sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O norte da superação da crise econômica - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ontem ao constatar uma manobra da mídia e ao escrever e publicar, sempre se carrega a possibilidade de atingir a convicção de outras pessoas e, por consequência, causar irritação. Nesse momento é preciso um pouco de calma e se compreenda que não há nenhum ataque à dignidade de quem pensa e tem informações diferentes.

Basta que se use destes conhecimentos para, inclusive, contribuir com a realidade visível e invisível das coisas. Este texto tem por referência a entrevista do economista Yanis Varoufakis, que é grego e foi convidado pelo governo do Syriza a conduzir as negociações da dívida do país com as instituições econômicas europeias. E uso como força de argumento para uma um dogma fundamental do liberalismo que é: o indivíduo é que é o móvel do seu destino e a sua posição na sociedade depende apenas dele e do seu esforço.

Agora puxe esta ponta e a ligue ao que Thomas Pikkety vem dizendo sobre os efeitos funestos da enorme concentração de renda e do efeito não meritrocrático da herança de uma geração à outra. E com razão ele diz: ora se o mundo afunila a maior parte da riqueza nas mãos de pouco, torna-se compreensível a formação de uma oligarquia que passa a liderar o destino de todos. E desse modo se tenha por métrica o perigo desta concentração com líderes forjados apenas no exercício do lucro acumulativo e que a todo custo tenta passar estes ganhos para o futuro através de sua descendência.

Em outras palavras é um abismo histórico, onde as lideranças não têm noção alguma do conjunto da humanidade e pensa apenas no cassino do dinheiro e num estilo de vida extremamente oneroso para a sociedade. Como sabemos eles vivem entre nós e o metabolismo deles influi sobre o nosso.

O grande problema para a saída da Grécia da enorme destruição econômica e social é que parte dos europeus, especialmente Alemães e Escandinavos acha que os gregos dançaram e cantaram como as cigarras e quando chegou o inverno quiseram se abrigar nos recursos que formigas passaram o ano todo preparando, num trabalho árduo. A famosa fábula de Esopo.

Agora pegue e junte as duas pontas: uma elite que só pensa no dinheiro, que se torna incompetente para solucionar os grandes e principais problemas das gentes e do planeta. Some o diagnóstico de Pikkety com o de Varoufakis (“estou habituado e um tipo de diálogo no qual que realmente aprendo com você e você comigo: teremos desacordos, mas através deles nossos respectivos pontos de vista se enriquecerão”).

Iremos encontrar uma manobra extremamente perigosa das elites europeias para preservar suas posições econômicas, sociais e políticas. Olhem o que diz o economista grego usando a fábula de Esopo como referência (os alemães dizem que os gregos são preguiçosos e merecem o que estão passando):

“ (...) desgraçadamente, na Europa predomina a estranhíssima ideia de que todas as cigarras vivem no Sul e todas as formigas, no Norte. Quando, na realidade, o que existem são formigas e cigarras em todo lugar. O que aconteceu antes da crise – é minha revisão da fábula de Esopo – é que as cigarras do Norte e as cigarras do Sul, banqueiros do Norte e banqueiros do Sul, digamos que por acaso se aliaram para criar uma bolha, uma bolha financeira que os enriqueceu enormemente, permitindo-lhes cantar e vaganbundear ao sol, enquanto que as formigas do Norte e do Sul trabalham em condições cada vez mais difíceis, inclusive nos bons tempos: conseguir que as contas batessem em 2003, em 2004, não tornou as coisas nada fáceis paras formigas do Norte e do Sul; e logo quando a bolha que as cigarras do Norte e as cigarras do Sul haviam criado estourou, as cigarras do Norte e do Sul se puseram de acordo e decidiram que a culpa era das formigas do Norte e das Formigas do Sul. A melhor forma de fazer isso era confrontar as formigas do Norte com as formigas do Sul, contando-lhes que no sul só viviam cigarras. Assim, a União Europeia começou a se fragmentar, e o alemão médio odeia o grego médio, o grego médio odeia o alemão médio. Não tardará para que o alemão médio odeie o alemão médio, o grego médio odeie o grego médio. Isso já começou não?”


Enfim: o mérito está na sociedade solidária, democrática, onde ninguém passa fome, frio e morre cedo por causas evitáveis. 

"HONORÁVEIS LADRÕES" - José Nilton Mariano Saraiva

A priori, há que se entender, independentemente da grita dos radicais e sectários de plantão, que ninguém pode governar sozinho, ninguém tem a capacidade de gerir uma média ou mega-estrutura sem que delegue poderes (os manuais de Administração ensinam isso), ninguém pode deixar de acreditar e confiar que as pessoas que lhe são indicadas são honestas, e mais, que estão imbuídas dos mesmos propósitos de seriedade no trato da coisa pública.

Deus e o Diabo, tendo por testemunha o povo brasileiro, sabem que os principais atores desse monumental esquema criminoso que tomou de assalto a Petrobras são muitos dos “políticos-mafiosos” com assento no Congresso Nacional, com os quais o Presidente da República, de boa fé, teve que aliar-se a fim de exercer a tal “governabilidade”. 

Assim, se gente desonesta foi posta em postos-chave da Petrobras, por “políticos-mafiosos”, com o específico fim de “meter a mão” (sem que o Presidente da República soubesse, evidentemente), agora que o esquema foi descoberto cabe a Justiça ir à caça desses marginais, denunciá-los à sociedade, exigir que paguem pela pilantragem efetuada.

 E aí, uma instituição em galopante, acentuado e corrosivo processo de perda de credibilidade, por conta de um sem número de decisões questionáveis – o Supremo Tribunal Federal - terá a ímpar e grande chance de redimir-se, de mostrar que os tempos são outros.

É que, como esses “políticos-mafiosos” são protegidos pelo tal “foro privilegiado” que lhes privilegia serem julgados pelos ministros-desembargadores do Supremo Tribunal Federal, a expectativa reinante é de que Suas Excelências resolvam atender aos anseios da sociedade,  disponibilizando os nomes  e crimes perpetrados por todos aqueles envolvidos no esquema monstruoso que abalou a nação.

É uma oportunidade única de “carimbar” como ladrões do erário todos aqueles que resolveram fazer da política uma atividade-bandida, porquanto abrirá espaço para que sejam obrigados a devolver tudo o que foi surrupiado  durante anos, além de enjaulá-los e bani-los da vida pública, ad eternum.

A promessa, feita lá atrás, foi de que em Fevereiro de 2015 começaria o julgamento dessa cambada de “políticos-mafiosos”. E, embora os mortais-comuns imaginem suas identidades, nada como a imprescindível “chancela” do Supremo Tribunal Federal para confirmar a lista dos “honoráveis ladrões”. 

Até porque, na perspectiva de se deixar envolver por abomináveis acordos e conveniências outras, livrando a cara dos mafiosos, estará o Supremo Tribunal Federal cavando a própria sepultura e firmando o respectivo  atestado de óbito. 

Portanto, tá chegando a hora. Que os membros do  Supremo Tribunal Federal não nos decepcionem e tratem de honrar a magistratura.



quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A MÍDIA NACIONAL É O ESCRITÓRIO DE CORRETAGEM DA VENDA DE PETROBRÁS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ontem um amigo, ao telefone, perguntou-me pelos 80 bilhões de reais da corrupção na Petrobrás. Eu apenas vira a manchete do jornal O Globo. Não lera a matéria, afinal é um número muito alto para o curso da corrupção (seja ela de 3% ou 10%).

Considere que toda a corrupção acontece no fluxo de investimento (em maior escala) e no fluxo de manutenção de atividades (em menor escala). Qualquer cidadão medianamente informado sabe que a Petrobrás tem um valor de mercado de aproximadamente 60 bilhões. Isso considerando a acumulação da empresa em toda a sua existência.

A empresa não tem fluxo de manutenção para subtrair tal montante e nem tem, ela e qualquer grande petroleira, capacidade de investimento desta ordem (da qual se extrai a corrupção) nos últimos 20 anos. Não tem, inclusive, pela oscilação do mercado de Petróleo, considerando o desenvolvimento da China e da Índia por demanda e a crise econômica por demanda reduzida. Incluindo a própria entrada dos EUA no petróleo de xisto que inundou o mercado de óleo.

Portanto a manchete é uma deslavada mentira. É uma jogada política para se contrapor ao governo e aos partidos políticos no governo. É apenas isso. Não é de agora que isso existe, aqui e no mundo todo. A mídia brasileira segue o mesmo diapasão da mundial: aposta no sucesso dos ricos e se lixa para a miséria do povo.

Essa história é igual ao bilhão de dólares que Collor e sua “gangue” teria juntado em menos de um ano de governo. Se dava conta, inclusive, de festas de regozijo no mais luxuoso hotel de Paris, para se comemorar a marca do dinheiro. Era tudo uma farsa, independente que aquela turma tenha se metido em corrupção. Falo do montante.

Hoje está clara a fonte de mentira da manchete sobre a Petrobrás. O que aconteceu foi uma avaliação feita em todo o seu investimento num determinado período e desta avaliação se extraiu um valor que é inferior ao contabilizado pela empresa. E esta diferença será objeto de reanálise, pois aí tem oscilação de mercado, tem critérios de avaliação de uma coisa que não está à venda, é apenas estoque e assim por diante. Pode ser que a diferença até seja a maior, mas pode ser menor a aí é a questão.

Quem tem imóvel nas cidades brasileiras, até mesmo nas pequenas, tem como referência de preço de sua unidade o crescimento de valor de mercado dos últimos anos. Em cidades como o Rio de Janeiro cresceu tanto, que até se falava em bolha imobiliária. Agora este mesmo imóvel está perdendo valor de mercado. É disso que estamos falando. Muita gente ainda tem por referência que seu imóvel valha o tanto quanto a fase de crescimento, mas se for posto à venda, pode encontrar outra realidade.

Agora uma última linha. A mídia nacional além da questão política, está a serviço da privatização da Petrobrás, como sempre esteve. Ela funciona, neste momento, como uma espécie de escritório de corretagem. Tenta desestabilizar os donos do negócio para passar a outros donos. Esta é a questão principal, além da política.

Como o governo é o principal acionista, desestabilize-se o governo.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A volta do “PROSTÍBULO GLOBAL” – José Nilton Mariano Saraiva

Depois de propagado incessantemente em horário nobre e precedido de detalhadas análises “sócio-antropológicas” por parte de “especialistas em relações humanas” (que, por incrível que pareça, tentam nos convencer da sua utilidade), a partir deste 14.01.2014, a Rede Globo mais uma vez nos “brinda” com o seu “prostíbulo global”,  em pleno horário nobre, através do indecente e desprezível programa BBB (e que nem por isso deixa de ser um dos seus “campeões de audiência”). Serão meses de xaropadas, imoralidades e futilidades (e quem quiser, tiver saco, grana e abobrinha na “cachola”, pode até passar o dia todo assistindo, desde que adquira o “pacote”).
A fórmula é velha e conhecida: numa tal “casa” são acomodados gays, lésbicas, garanhões, intelectuais de araque, homossexuais, prostitutas, marombados, mocinhas inocentes, anônimos aspirantes à fama e até vovós (pra dissimular), com ordens de infligir códigos, desrespeitar as leis, praticar sexo ao vivo e a cores e, enfim, exercitar a devassidão e o heterodoxo (se, por algum milagre, existir alguma “virgem” entre eles e por lá  demorar, certamente sairá “ex”, tal a pressão da “direção” da  Globo para que tal se concretize).
Estimulados pelo pseudo-intelectual e apresentador Pedro Bial (quem te viu e quem te vê), e por um tal Boninho (um dos diretores graduados da emissora), os escolhidos não têm limites éticos, legais, morais ou alguma coisa que se pareça com respeito ou dignidade, já que tudo lhes é permitido, contanto que o “jogo” seja apimentado e “desperte” a curiosidade do público (independentemente do vazio do seu conteúdo).
Público, aliás, que é estimulado a “escolher” (pagando caro a ligação telefônica) os seus preferidos, expostos nos tais “paredões”, que por sua vez rendem milhões e milhões de reais à emissora e à operadora telefônica (para tanto, uma mega estrutura é montada e disponibilizada aos telespectadores). Inclusive e principalmente pais, mães, irmãos e demais familiares, que compulsoriamente se deixam envolver em troca de uma viagem ao Rio de Janeiro (com mordomias inimagináveis), além de uma aparição relâmpago na telinha.
Enfim, o circo tá armado e nossas crianças e adolescentes sairão mais “cultos”, “sabidos” e “preparados para a vida”, graças ao BBB. E ainda tem gente que não acredita na maléfica influência e tirania da televisão.
Observação: (texto publicado há anos).

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Abaixo, transcrição de um cordelista baiano, a respeito:

BIG BROTHER BRASIL (Antonio Barreto, cordelista de Santa Bárbara-BA),

Curtir o Pedro Bial/E sentir tanta alegria/É sinal de que você/O mau-gosto aprecia/Dá valor ao que é banal/É preguiçoso mental/E adora baixaria.
Há muito tempo não vejo/Um programa tão ‘fuleiro’/Produzido pela Globo/Visando Ibope e dinheiro/Que além de alienar/Vai por certo atrofiar/A mente do brasileiro.
Me refiro ao brasileiro/Que está em formação/E precisa evoluir/Através da Educação/Mas se torna um refém/Iletrado, ‘zé-ninguém’/Um escravo da ilusão/Em frente à televisão/Lá está toda a família/Longe da realidade/Onde a bobagem fervilha/Não sabendo essa gente/Desprovida e inocente/Desta enorme ‘armadilha’. Cuidado, Pedro Bial/Chega de esculhambação/Respeite o trabalhador/Dessa sofrida Nação/Deixe de chamar de heróis/Essas girls e esses boys/Que têm cara de bundão.
O seu pai e a sua mãe/Querido Pedro Bial/São verdadeiros heróis/E merecem nosso aval/Pois tiveram que lutar/Pra manter e te educar/Com esforço especial.
Muitos já se sentem mal/Com seu discurso vazio/Pessoas inteligentes/Se enchem de calafrio/Porque quando você fala/A sua palavra é bala/A ferir o nosso brio. Um país como Brasil/Carente de educação/Precisa de gente grande/Para dar boa lição/Mas você na rede Globo/Faz esse papel de bobo/Enganando a Nação.
Respeite, Pedro Bienal/Nosso povo brasileiro/Que acorda de madrugada/E trabalha o dia inteiro/Dar muito duro, anda rouco/Paga impostos, ganha pouco:/Povo herói, povo guerreiro. Enquanto a sociedade/Neste momento atual/Se preocupa com a crise/Econômica e social/Você precisa entender/Que queremos aprender/Algo sério – não banal. Esse programa da Globo/Vem nos mostrar sem engano/Que tudo que ali ocorre; Parece um zoológico humano/Onde impera a esperteza/A malandragem, a baixeza/ Um cenário sub-humano.
A moral e a inteligência/Não são mais valorizadas/Os “heróis” protagonizam/Um mundo de palhaçadas/Sem critério e sem ética/Em que vaidade e estética/São muito mais que louvadas. Não se vê força poética/Nem projeto educativo/Um mar de vulgaridade/Já tornou-se imperativo/O que se vê realmente/É um programa deprimente/Sem nenhum objetivo. Talvez haja objetivo/“professor”, Pedro Bial/O que vocês tão querendo/É injetar o banal/Deseducando o Brasil/Nesse Big Brother vil/De lavagem cerebral. Isso é um desserviço/Mal exemplo à juventude/Que precisa de esperança/Educação e atitude/Porém a mediocridade/Unida à banalidade/Faz com que ninguém estude.
É grande o constrangimento/De pessoas confinadas/Num espaço luxuoso/Curtindo todas baladas/Corpos “belos” na piscina/A gastar adrenalina:/Nesse mar de palhaçadas. Se a intenção da Globo/É de nos “emburrecer”/Deixando o povo demente/Refém do seu poder/Pois saiba que a exceção/(Amantes da educação)/Vai contestar a valer.
A você, Pedro Bial/Um mercador da ilusão/Junto a poderosa Globo/Que conduz nossa Nação/Eu lhe peço esse favor/Reflita no seu labor/E escute seu coração. E vocês caros irmãos/Que estão nessa cegueira/Não façam mais ligações/Apoiando essa besteira/Não dêem sua grana à Globo/Isso é papel de bobo/Fujam dessa baboseira. E quando chegar ao fim/Desse Big Brother vil/Que em nada contribui/Para o povo varonil/Ninguém vai sentir saudade/Quem lucra é a sociedade/Do nosso querido Brasil. E saiba, caro leitor/Que nós somos os culpados/Porque sai do nosso bolso/Esses milhões desejados/Que são ligações diárias/Bastante desnecessárias/Pra esses desocupados. A loja do BBB/Vendendo só porcaria/Enganando muita gente/Que logo se contagia. Com tanta futilidade/Um mar de vulgaridade/Que nunca terá valia. Chega de vulgaridade/E apelo sexual/Não somos só futebol/baixaria e carnaval.
Queremos Educação/E também evolução/No mundo espiritual.
Cadê a cidadania/Dos nossos educadores/Dos alunos, dos políticos/Poetas, trabalhadores?/Seremos sempre enganados/e vamos ficar calados/diante de enganadores?

Barreto termina assim, alertando ao Bial:


Reveja logo esse equívoco/Reaja à força do mal/Eleve o seu coração/Tomando uma decisão/Ou então: siga, animal…



terça-feira, 27 de janeiro de 2015

GRÉCIA - UMA VITÓRIA DE PIRRO? - José do Vale Pinheiro Feitosa

O resultado das eleições gregas parece trazer algo novo, mas é um novo que já vinha em processo. O processo é o da crise, redução de turistas, dependência dos fluxos de capitais externos, pouca estrutura industrial, revelando uma dependência de tal ordem à Europa que tudo parece o mesmo.

A análise de um solavanco provocado por um partido de esquerda vitorioso representa bem este impasse histórico que é a crise financeira do país. Todos apontam boas e más maneiras de conduzir-se como novidade neste cenário empacado.

Nos sites de esquerda e entre economistas liberais ao estilo Paul Krugman, a Grécia não avançará com suavidade. Ou se apresenta com radicalidade, somando-se a outras nações em igualdade contemporânea ou tudo degringola.

Uma questão é saber se a vitória do Syriza é o nascimento de uma força política europeia que enfrente a estagnação, a perda de empregos e direitos sociais. Se for, a posição da nova liderança grega se reforça. Ao contrário, vai encontrar uma resistência descomunal cuja possibilidade em caso de insucesso é a chegada do partido fascista, o segundo mais votado, ao poder no país.

O papel clássico dos fascistas é criar uma força miliciana (fanatizada e ordenada ao aparelho de Estado) que ataque e amedronte as classes operárias e as famílias de classe média para que a austeridade financeira possa agir livremente enquanto arrocha a vida da população. Por isso muita gente espera o retorno político das organizações de extrema direita.

E no passado, não muito longínquo, a alta burguesia europeia não teve o menor problema para aceitar governos fascistas. Todos esperam que este comportamento seja o mesmo atualmente. De modo que a suavidade dos gregos é contraproducente neste quadro histórico e político.

Mas onde criar forças internacionais para um programa radicalizado? Aproximar-se de setores e países que são vítimas da situação atual de modo a criar condições de enfrentar a dureza das posturas de governos e bancos europeus e americanos. Entre as forças internacionais o Syriza pode ampliar sua agenda com segmentos ocidentais que vêm com desconfiança a atual condução da política europeia.

Entre tais o Papa, testando a capacidade do vaticano de realmente enfrentar a realidade. Pode mobilizar as universidades mais progressistas da Europa. Se aproximar de setores e partidos que lutam contra a austeridade econômica. Criar teses e conduções que possam fortalecer as posições de organizações políticas em luta dentro dos seus países. Entre outras medidas.


Junto com o forte embate junto ao sistema europeu, é preciso criar uma porta de saída do próprio Euro, como uma forma de ter autonomia para gerir a própria vida, ao invés de receber uma “mesada de fome” como vem recebendo. Aí, nesse caso, é preciso fortalecer laços externos, com a América do Sul, China, Rússia, entre outros.  

O "REVOLUCIONÁRIO" - José Nilton Mariano Saraiva

Sob “Xico”, a Igreja Católica tem tudo para “recambiar” algumas almas recalcitrantes, que se transferiram de mala e cuia para as hostes evangélicas por não mais compactuarem com desvios de toda ordem no epicentro do catolicismo e (também) de olho grande em vantagens outras.

É que o “hermano”, até para surpresa de alguns - que o sufragaram na briga de foice em quarto escuro, que é o que é a eleição papal - de certa forma decepcionou-os ao assumir posições vanguardistas, abalando assim as carcomidas estruturas do Vaticano.

Começou por repreender uma cambada de cardeais ultraconservadores (dentre eles alguns seus eleitores), numa reunião de cúpula, chamando-os à responsabilidade e literalmente concitando-os a acordarem da letargia e marasmo em que se imiscuíram, atualizando-se às novas demandas de um universo cada dia mais competitivo e dinâmico, inclusive em termos de escolha da religião e/ou seita.

Num segundo momento, ante o reclamo de uma plêiade de jovens mulheres italianas, que lhe pediu providências para aprovação do celibato, tendo em vista já terem relações sexuais ocultas (e pois proibidas) com religiosos vinculados ao próprio Vaticano, prometeu-lhes estudar com carinho o assunto, porquanto não tratar-se de um dogma religioso, daí a perspectiva da reivindicação ser agendada, mais à frente.

Um outro enfoque merecedor de destaque é que, assim como investiu pesado contra o exército de padres-pedófilos que envergonharam a Igreja Católica, recriminando-os publicamente, e incentivando sua expulsão sumária (sem choro nem vela), agora houve por bem aconselhar os humanos a não procriarem com tanta pressa e avidez, (refrear o sexo) porquanto atividade mais propícia a “coelhos”.

Alfim, e ante a rasgação de seda e o circo armado pelo presidente da França, que transformou o limão numa limonada ao reunir em Paris autoridades de outros países para demagogicamente se posicionaram em favor da tal “liberdade imprensa”, Xico foi por demais categórico, sucinto e objetivo, ao corajosamente se postar contra o status quo e externar seu voto contrário, ao afirmar textualmente que “Quanto à liberdade de expressão, todos têm direito a se pronunciar, mas sem ofender. Há um limite, toda religião tem sua dignidade, e não pode ser entregue à chacota. Não se pode matar em nome de Deus”.

Definitivamente, “Xico” não é Charlie.
  



DESENVOLVIMENTO HUMANO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Nem quando a humanidade era apenas caçadora e coletora as pessoas eram abandonadas ou discriminadas. Mesmo com guerras por território ou para saquear mantimentos entre tribos.

Atualmente todo o trabalho humano é realizado num universo interligado e interdependente, de modo que a produção, distribuição e consumo é uma dinâmica necessariamente coletiva. A apropriação da produção como vantagem do capital é propositiva como mecânica econômica, mas negativa como realidade das necessidades universais da humanidade.

A pobreza não pode ser aceita a partir desta universalização, quase orgânica, certamente sistêmica, do trabalho e da geração de riquezas. Aponta-se para a superação da apropriação privada com a consequente evolução das relações humanas no sentido do bem estar, da solidariedade e da proteção coletiva de cada indivíduo. 
  
Nesta semana a Ministra Tereza Campello do Ministério do Desenvolvimento Social deu entrevista fazendo um apanhado da política do governo federal. Antes de seguir adiante com o resumo do que ela diz, chamo a atenção para um segmento de pessoas desinformadas, que argumentam com uma ideia congelada do país, de modo a sustentar seus preconceitos e o conservadorismo de ideias.

Retornando ao que informa a Ministra. A primeira coisa é que a sociedade brasileira apoia os programas de proteção social e quer que sejam até mais capazes de estimular o progresso das pessoas. Mas há um segmento preconceituoso, centrado na discriminação ao pobre, que “saiu do armário” e faz um barulho tremendo nas redes sociais e como colunistas na grande mídia.

Lembra o caso de uma jornalista que disse que pobre só quer ter filho. Uma típica frase desprovida da realidade. A taxa de fecundidade brasileira caiu muito, especialmente entre os pobres. Mas é bom lembrar que existem pessoas com pouca informação, repetem a bobagem, mas se tomam conhecimento da realidade, mudam suas posturas. Não é o caso de alguns cujo objetivo é o combate e por isso são impermeáveis à informação.

E em que pé os programas de desenvolvimento social estão? Em primeiro lugar a rede de proteção social começa a se universalizar, se multiplicando em todos os municípios. Em segundo lugar é que a sociedade, por meio do Estado, não mais aceitará que pessoas sofram a pobreza abaixo de certa linha de renda e que toda vez que isso ocorrer, receberá uma complementação.

A terceira linha é que se necessita garantir o acesso às necessidades básicas (saúde, educação, segurança etc.) aos mais pobres, pois são eles os que mais sofrem para acessar os recursos públicos. Adib Jatene, humanista tão distante de certos doutores, disse: “O grande problema do pobre não ele ser pobre, mas é que os amigos dele também são pobres. Ele não tem amigo que fala com quem decide, ele não tem amigo que marca uma audiência, que negocia um financiamento e que elabore um projeto. Então eles precisam que o governo assuma uma parcela da população, sem o que eles não têm alternativa.


E com Jatene encerro este resumo da Ministra Tereza Campello. A Adib Jatene devo boas lembranças, quando trabalhamos juntos no gabinete do Ministério da Saúde na época em que ele foi Ministro. 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

VIVE LA FRANCE! - José do Vale Pinheiro Feitosa




J´Attendrai - Dalida

Tornerai composição italiana de Dino Olivieri e letra de Nino Rastelli. Foi registrada em francês como J´attendrai por Rina Ketty em 1938 com letra em francês de Louis Poterat. Foi a canção emblemática do início da segunda guerra mundial.


Tornerai - Tua sabes que te amo, não tenho que de ti /encontrar-me distante, diga-me por que? / A nostalgia não sente no coração / Não te recordas de mim. / Esta minha vida, não, não pode? Durar / Tu és fugitiva, deves tornar / Este meu coração, tu ainda queres. / Tornarás...a mim / por que? / O único sonho sei...do meu coração / Tornarás, por quê? / Sem teus beijos lânguidos, não viverei? / Aqui dentro de mim mesmo / a tua voz que diz, tremendo de amor, / Tornarei? Por que? Tu és o meu coração.

J´Attendrai  

Esperarei!
O dia e a noite, esperarei sempre
teu retorno.
Esperarei  
Porque o pássaro fugitivo tenta se esquecer,
em seu ninho.
O breve tempo passa
batendo tristemente,
sobre meu coração tão pesado.
E, portanto, esperarei
Teu retorno.
(bis)
O vento traz-me
os rumores distantes.
Após minha porta
o escuto em vão.
Puxa, e nada.
Nada me vem.
Esperarei,
o dia e a noite, esperarei sempre
teu retorno.



Por que a primeira pedra sempre é lançada e a mão pioneira é cheia de pecados? Porque viver é rever posições, princípios e conhecimentos.

Toda a degeneração recente da França, que sua história carrega na bolsa do canguru, toda a violência e tortura aplicada aos libertários da Argélia. A França, assim como Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda, Bélgica foram as rapinas da África, América e Ásia. Alemanha e Itália não fizeram do mesmo porque chegaram tarde ao botim colonialista.

E nosso horror latino americano, com a escravidão, saque, tomada de terra, exploração mineral e da produção agropastoril, não se pode extrair da história. Mas o papel das lutas populares, das instituições desenvolvidas, a nossa cultura e tantas outras manifestações do povo não podem ser, igualmente, extraídas.

Agora não se pode aplicar um anátema a toda a França tomando por regra fatos e eventos do seu passado, mesmo o recente, tais como a repressão e tortura e o papel meio barro meio tijolo do seu povo da segunda guerra mundial. Pois na Franca se houve a República de Vichy, também aconteceu a Resistência e todo um ideal de social democracia no pós-guerra.

Nenhuma cultura produziu reflexões tão reais sobre a humanidade, a história e as civilizações. A França é um centro irradiador e fundador do que é a possibilidade de uma civilização mais igualitária, mais humanista, mais avessa à exploração do homem pelo homem.  

Há muita boca torta do hábito, muita facilidade argumentativa, muita preguiça intelectual e muito uso de velhas formas como se na realidade nada houvesse de mudança. Só que a França pulsa sua vida social e cultural na perspectiva crítica do presente e na projeção do futuro.

A civilização francesa é solidária, embora a malha social, sob crise econômica, desemprego e forte pressão imigratória seja geradora de fortes tensões. Há que se qualificar e classificar quem é quem nesta transição. A extrema direita é contra a migração e tem aversão aos muçulmanos, mas na França a maioria não é assim.

A própria recuperação do prestígio de Hollande e as manifestações de massa após o atentado contra os jornalistas do Charlie andaram no sentido de uma sociedade plural e democrática. Os fascistas compõem a minoria e neste episódio não conseguiram, mesmo que tenhamos que colocar um “ainda”, selar o cavalo da história.

E por fim: muita gente andou tendo dúvida sobre as críticas ao Charlie Hebdo. Muita gente andou se apegando ao argumento “analítico” de suas charges usadas fora do contexto. Muita gente repetiu o mantra sem jamais ter lido um número sequer da revista.

Humorismo tem uma natureza muito interessante: é tão sintético que é autoexplicativo. Mas é a síntese do que circula no momento e um tempo depois só faz sentido se contextualizado. Ou seja é uma das expressões mais datadas que existe.


Inclusive acabei de saber que a edição feita após a atentado será reproduzida no Brasil.  

Senhores e trabalhadores no Cariri cearense: terra, trabalho e conflitos na segunda metade do século XIX

Prezados amigos do Cariricult, venho divulgar a minha tese de doutorado, que trata das relações entre senhores e trabalhadores (livres e escravizados), na segunda metade do século XIX. Questões como o problema agrário, disputas, o mundo do trabalho, riqueza e pobreza, são abordadas.



Deixo o link para quem quiser fazer download dessa pesquisa.  Caso tenham dificuldade em baixar o documento, posso enviar por email.

Agradeço pela oportunidade em poder divulgar.

https://www.academia.edu/10245419/_Senhores_e_trabalhadores_no_Cariri_cearense_terra_trabalho_e_conflitos_na_segunda_metade_do_s%C3%A9culo_XIX




CARNAVAL DA SAUDADE 2015

 
Estamos mais uma vez realizando o já tradicional Carnaval da Saudade do Crato Tênis Clube. Em 2015 comemoramos os 10 anos deste evento que tem se destacado na região do Cariri como a mais marcante festa do período momino. Uma festa marcada pelas marchinhas, frevos e sambas.

Em 2015 a festa será animada por duas orquestras da região do Cariri: A Orquestra Prisma, e a Orquestra Carnavalesca Azes do Ritmo, com as participações especiais do Maestro Hugo Linard e do grande Crooner Francisco Peixoto, que certamente farão o "Clube do Pimenta" ferver de alegria e muita emoção.

Dois grandes nomes da nossa cultura serão os homenageados: O Dr. Maurício Almeida Filho, Mauricinho, ex-presidente do Crato Tênis Clube, fundador da inesquecível "Cratucada", que tanto animou os carnavais do Crato, e um dos criadores do "Desfile das Virgens", famoso bloco de carnaval que começou nos anos 1970. O outro homenageado é o Maestro Hildegardo Benício, "in memorian", um músico de alma inteira, que viveu a maior parcela de sua existência, alegrando os seus semelhantes. Grande saxofonista que abrilhantou festas, tertúlias, e muitos eventos por esse Cariri afora. Um dos maiores ícones da nossa história musical.

E, como já é tradição, o Carnaval da Saudade 2015 vai sair a partir das 4 horas da manhã do CTC para encerrar em apoteose, na Praça Siqueira Campos.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

DEGOLA! - José do Vale Pinheiro Feitosa

21 de janeiro de 2015. Passaram-se 222 anos.

A cabeça de Luiz XVI, decepada pela guilhotina, é levantada pelo verdugo Sanson para a multidão que a vendo grita: Viva a Revolução. Viva a República.


Não fora a primeira vez que uma multidão, dentro de um processo político, julgou e determinou a pena capital para um rei. A Inglaterra havia feito o mesmo, mas a morte de Luiz XVI é um momento da história em que tudo muda.

Na França, mais claramente, o processo político do desenvolvimento da burguesia e da classe operária (e do povo em geral) se evidenciou. A burguesia que já havia conquistado a economia e o Estado na Revolução Inglesa e Americana, ali na Revolução Francesa os conquista, criando todas as instituições que darão ares de civilização ao seu futuro político. Os códigos napoleônicos entre eles.

E por qual razão tantos filmes, peças, romances, ensaios, discurso e uma choramingação de saudosista sobre a ordem Monárquica e aquele momento em que a guilhotina separou cabeça e corpo de Luiz XVI?

É que ali, considerando algumas imprecisões históricas, o Jacobinismo se aproximava tanto da base popular, não burguesa, que na Revolução Francesa surgiu um novo fenômeno político que constituiu na grande contradição do capitalismo. Ali começava a nova luta de classes tendo a burguesia como protagonista.

Naquele ato de mais de duzentos anos passados, o exercício político perdia uma instituição central de muitas centenas de anos: a descendência familiar do poder. Mesmo que oligarquias persistam, que famílias patrimonialistas como os Sarney, os Kennedys, Bush, dinastias e outras mais, cursem de pai para filho, a verdade é que, centralmente, a genética não é mais o coração da transmissão do poder.  

Não se pode esquecer que a transição do poder dentro das famílias ainda é marcante na nossa realidade, como Tasso Jereissati filho de Carlos; Samuel filho de Ossian; Roseane filha de Sarney, Artur Virgílio filho de Artur Virgílio e são muitos os exemplos. Mesmo assim esta transição é negociada e representa o poder econômico das famílias burguesas.


Mas definitivamente não representam a gênese divina do poder. E por sinal, no dia 21 de janeiro de 1901 morreu a Rainha Vitória da Inglaterra (a última figura da realeza britânica que realmente detinha poder). 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Je suis Charlie ?

Imaginem essas cenas retiradas do dia a dia do nosso noticiário. Rapazinho, no sul do país, revoltado com o fim do relacionamento decretado pela namorada, resolve, em represária, jogar na internet fotos íntimas do casal, tiradas no Motel em tempos de bem aventurança. O pai da mocinha, revoltado coma exposição pública e definitiva da filha, faz justiça com as próprias mãos, sapecando vários tiros no jornalista improvisado. Em Goiana, Pernambuco, uma lojinha de biquínis terminou pregando uma peça em várias veranistas. O adolescente, filho da dona do comércio, instalou uma câmera escondida no provador e filmou inúmeras mocinhas peladas, na troca de roupa. Depois disso, preparou um CD com as imagens e saiu vendendo em pontos estratégicos: “Garotas Quentes do Verão 2012”. Tudo acabou quando um pai comprou o CD e lá se deparou com a filha em trajes de Eva. O caso foi parar na justiça , os pais e o autor do delito fugiram,  temendo linchamento.
                                   Os dois episódios são típicos desses tempos em que todas as barreiras da individualidade terminaram por ruir. Claro que, em nome da liberdade de pensamento e expressão,  muitos, certamente, saltarão com a justificativa de que é justa a veiculação das fotos. Quem se sentir ferido ou lesado deve procurar a justiça em busca de ressarcimento pelo dano causado.  A atitude do povo goianense e do pai da mocinha da internet em procurar , com força de trabuco, resolver as querelas soam como coisas de Neanderthais. Aprofundemos um pouco mais a questão. Pensem no suplício de todos  lesados , trafegando pela lentidão irritante da justiça brasileira. Oito anos depois, quem sabe, poderá sair uma sentença indenizatória favorável aos danos morais perpetrados pelo namorado abusado e pela lojinha de biquínis. O bolso, como sendo a parte mais sensível do corpo, certamente pesará, pedagogicamente, na consciência dos implicados. Mas as fotos, uma vez veiculadas, continuarão a se espalhar como vírus Ebola e o dano continuará a se fazer permanentemente. Os novos namorados da mocinha poderão receber as imagens pornográficas, como bulling,  e as garotas quentes do verão 2012 continuarão fervendo em outros verões, com cd´s copiados e enviadas imagens pelos tablets e smartphones. Quem lhes devolverá , um dia, a honra eternamente maculada ?
                                   A atitude dos linchadores, claro, pode parecer primária e tribal. Colocando o caso em cada um de nós, no entanto, vem a pergunta : Você teria uma conduta diferente, como pai ?  Ficaria quietinho, procuraria e justiça e esperaria, pacientemente, pelo fim do processo, mesmo vendo o vírus se alastrando, dia a dia ?
                                   Esta questão é extremamente atual. Há poucos dias, os jornalistas da Revista humorística francesa “Charlie Hebdo” foram executados, sumariamente, por três islâmicos que se sentiram ofendidos por charges seguidas retratando ( o que é proibido pela sua religião) e  detratando o profeta Maomé. As repercussões internacionais foram imensas após a barbárie. Líderes mundiais se reuniram na França numa imensa marcha  a favor da liberdade de pensamento e de expressão. De lado se punham os jornalistas injusta e barbaramente executados e, do outro, os vilões: o Islamismo tido como religião brutal e atrasada, totalmente dessincronizada com os tempos modernos em que vivemos.
                                   Nada justifica o massacre, claro, mas é bom, sempre, refletir sobre suas raízes mais profundas. A França possui o maior contingente de maometanos da Europa – 10% da sua população. Vieram, praticamente todos, das antigas colônias francesas, da África e Ásia, sugadas pelos insaciáveis canudos do Colonialismo. Na França são vistos como cidadãos de segunda classe, mesmo com cidadania legal francesa. Carregam, consigo, aquele travo das minorias sapateadas. Não têm o mesmo acesso ao emprego, ao lazer, à educação em meio a esse Apartheid silencioso. São proibidos de assumir aainda, publicamente, seus símbolos religiosos. Quando dos primeiros ataques da Charlie Hebdot , entraram na justiça  francesa, contra o que consideravam uma agressão e perderam fragorosamente em nome da Liberdade de Expressão, embora se imagine que, por trás de tudo, havia decisões eivadas do mesmo preconceito que lhes atravanca o dia a dia. A revista, claro, tem posições francamente iconoclastas e ataca não só o Islã, mas todas as outras grandes religiões mundiais. Daí vem a perigosa conclusão de que o Islã é violento e sanguinário, pois as outras não reagem da mesma maneira.  O Islamismo, é bom lembrar, é a mais jovem das grandes religiões, talvez, por isso mesmo, ainda esteja em tempos de depuração, no Século XII, para ser mais preciso. Há um passado sombrio que acompanha a todas : A Inquisição, As Cruzadas, a dizimação das comunidades indígenas, o Holocausto, As oferendas aplacatórias da ira divina  dos Incas e Aztecas.
                                   A grande encruzilhada termina por aparecer. Tem ou não limite a liberdade de expressão ? Tudo pode ser veiculado e a regulação será feita , tão-somente, pela justiça ? A imprensa se queixa que lhes estão querendo infringir marco regulatório. Mas ela é livre ? Ela não é manietada por seus patrocinadores e pelo Capital que a sustenta ? Imaginem se a Revista Carta Capital, a dois dias antes da eleição presidencial, publicasse uma reportagem mostrando que o candidato Aécio Neves faria parte do Cartel de Medellin. Imaginem ainda que esta  notícia, infundada, o fizesse perder a eleição. Claro que ele entraria na justiça e daqui a uns sete anos terminasse ganhando a questão e recebendo uma indenização. Mas seu mandato perdido quem o ressarciria? E seus eleitores que teriam sido burlados como seriam ressarcidos ?

                                   Voltando para os princípios universais da Ética não me parece que essa pretensa Liberdade de Expressão se enquadre em nenhum deles. A conduta do Charlie Hebdo pode ser usada como uma Lei Universal ? Estaria essa Liberdade beneficiando o maior número de pessoas possível ? Entendo que há limites éticos sim, nessa Liberdade e que precisam ser regulados não só pela justiça, mas pela própria sociedade. O respeito às diferenças, às opções sexuais, à religião ou ao ateísmo e o combate indiscriminado a qualquer tipo de preconceito são direitos inalienáveis dos seres humanos. Emocionei-me e chorei com o massacre dos humoristas do Charlie Hebdot, nada justifica aquele ato terrível. A agressão reiterada, no entanto, a minorias eternamente escravizadas poderiam ter sido evitadas, a  Sociedade Francesa já vem se responsabilizando secularmente por essa atitude. Queria que o humor continuasse a me fazer refletir sobre a vida , sim, mas também que me proporcionasse sua mais perfeita função : Rir.

J. Flávio Vieira

SAIR DA RÉGUA PRIVADA E IR PARA A PÚBLICA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Alguém já havia tido algum conhecimento sobre Alberto Nisman?

Muito provável que não. A maioria dos brasileiros, mesmo aquele bem informado, não sabe a respeito. Os Argentinos sim. Devem saber.

Agora saibam como tomamos conhecimento sobre Alberto Nisman. Jornais, rádios, televisões, blogs e outros rastilhos, diziam: morreu promotor que associava governo Kirchner à manobra para esconder a participação do Irã nos atentados contra entidades judaicas na Argentina.

O promotor foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, no seu apartamento. Aí estava montada a arapuca comunicacional. Antes da investigação, realçava-se a suspeita que a autora do crime teria sido a presidenta Argentina.

Acrescente a isso o fato, que interessa ao governo de Israel, associar o Irã, o inimigo de maior potencial, ao ato terrorista na Argentina. E considere que o fato aconteceu há 20 anos, portanto num intervalo em que muita coisa mudou. Na América do Sul, na Argentina, no Oriente Médio, em Israel e no Irã.

Agora é investigar o que de fato aconteceu com o promotor. Há uma possibilidade que a justiça argentina, poder independente, declare suicídio. Enquanto isso o governo Argentino tratou logo de tornar público o relatório do promotor com todas evidências. Ou não evidências.

A questão é o tratamento da informação, por meios que detém o domínio da comunicação, como matéria de ataque e defesa e não como exposição da realidade. Mas aí vem uma discussão necessária. A crítica ao modelo principal de condução da informação e conhecimento na nossa civilização.

Aliás, a questão do Charlie Hebdo foi um momento especial ao que se denomina regulação da mídia. A liberdade e o controle como contraditórios que ora serve de argumento a um lado para, logo em seguida, servir ao outro lado.   

Afinal tudo é uma questão política. Vamos lembrar na liberdade que o Sistema Globo defende como fundamental. Mas quando aquele pastor chutou a imagem de uma santa na Record, a Globo pediu punição e o rolo compressor foi tal que o pastor foi demitido, a outra emissora pediu desculpa.

Liberdade e controle a serviço da concorrência comercial é um péssimo uso destes parâmetros sociais e políticos. Por isso a regulação de mídia centra-se essencialmente na questão do monopólio da informação. É preciso que ocorra a pluralidade de meios, temas, conteúdos e visões diferentes.

Os membros da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão já chiaram que a regulação econômica pode enfraquecer economicamente os veículos de comunicação. E não disseram mentira. Acontece que isso tem muito a ver com o modelo de negócio destas empresas oligopolizadas. E a regulação nasceu nos EUA, exatamente em razão dos monopólios e oligopólios, ou o que tanto se dizia como trustes.  

A regulação, enfim, é pluralidade, estímulo à democracia, check and balances no conteúdo e técnicas, um meio público que abra possibilidades para investigação, apuração, tratamento e divulgação da informação e do conhecimento.

Em última análise o destino da liberdade e democracia no campo das mídias é um contraditório, onde a informação seja tratada cada vez menos como mercadoria ou um bem econômico e cada vez mais como traço da civilização de acesso universal. Onde a verdade não é um pântano acumulado, mas um rio que circula e se transforma como se move a natureza de todas as coisas.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

FUZILAMENTOS GLOBALIZADOS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Não é apenas por proximidade no tempo. Se bem que a contemporaneidade dos fatos nos façam automaticamente raciocinar assim. Qual a questão?

A relação entre o fuzilamento dos jornalistas do Charlie Hebdo e o fuzilamento do brasileiro, traficante de drogas, na Indonésia. Embora de natureza distinta os dois fatos parecem guardar uma relação implícita.

A relação é sobre quais valores a civilização contemporânea, de natureza globalizada, vai implantar em suas diretivas históricas. E aí despontam alguns destes valores: democracia e liberdade; direitos sociais e humanos, governança mundial e fases de desenvolvimento do capitalismo globalizado com as suas instituições e regras.

Aliás, valorizar atributos de uma civilização já é um problema pois a rigor não se trata de precificação de bens. O que se discute são os fundamentos de uma civilização, numa fase histórica sui generis: há um continente universal a conter os conteúdos de todas as culturas.

Bem ou mal este continente está em evolução, especialmente pela natureza de conter no mesmo “espaço” da história tantas e diversificadas experiências humanas. E, particularmente, no momento histórico, quando nosso raciocínio bem poderia ser: ora como existem grandes linhas culturais cobrindo enormes segmentos da humanidade – islamismo, cristianismo, budismo, confucionismo, iluminismo, racionalismo, materialismo, etc. – este continente será mais fácil.

Mas, ao contrário, são estas grandes extensões culturais que mais se chocam na ideia de uma democracia, liberdade, direitos, governança e crítica ao capitalismo. Como vigas a sustentar esta ordem-desordem mundial, as grandes culturas têm força suficiente para sabotar, apagar, acender, destruir e confundir a síntese de diretivas históricas globalizadas.

De qualquer maneira como a estrutura básica, que sustenta o futuro planetário da humanidade, é o modo de produção, distribuição e consumo, incluindo seus “avatares” financeiros, que se encontra numa crise de modelo, isso implicará no deslocamento de forças globalizadas (as grandes vigas da cultura mundial). Outra questão é a própria condição material do planeta terra incluindo aí seus mares; o solo e a biota; o ar e o clima e grandes desastres provocados pela própria ação humana (como explorações e guerras, especialmente a nuclear).  

Ontem passou o dia aqui na minha casa um grande artista brasileiro que mora na Europa. A visão dele, mesmo incluindo as suas particularidades, é de uma região inteira sob enorme impacto econômico, social e político prestes a viver um grande desastre. Uma terceira guerra mundial.


E concluo como tese: a guerra do neoliberalismo (consequente) e enormes dores da globalização assimétrica, mas mesmo assim de natureza universal.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Marchinhas ao Twitter - José do Vale Pinheiro Feitosa

Rei Zulu - Antonio Almeida e Nássara - BLECAUTE

REI ZULU

O pré-capitalismo da janela na chapa quente do capitalismo. Escutava um mundo onde o capitalismo ainda não chegará.

O Rei Zulu. Nos limites das relações dele mesmo. Sem a interveniência do dinheiro como seduzem, se amam, comem e dormem embaixo de um teto.

E tem mais ele namora atrás do murundu.

Pai Adão - Antonio Soares, Hélio Nascimento, Agenor Madureira - ALCIDES GERARDI

Pai Adão
Nunca amou um compromisso. Um cartório com firma reconhecida. Sem testemunhas e celebrantes.

Amou o corpo. Apenas ele. Não uma leva de parentes e aderentes. A tornar grupal aquilo que apenas o desejo entre eles.

Pedreiro Valdemar - Roberto Martins e Wilson Batista - BLECAUTE

Pedreiro Valdemar
Você conhece? Ele levanta o céu e não tem indulgência para entrar. Reza, esfola os joelhos, derrete velas, mas não se encontra entre os escolhidos.

Ele construiu um puxado para os de pouca poupança purgar as falhas da vida. E detendo tão pouca, no purgatório não pode entrar.

Ajudou nos alicerces do inferno, mas o negócio por lá é de alto cacife e nem no inferno pode morar. E agora?

É o pedreiro Valdemar que não tem onde morar.

A Lua é dos Namorados - Armando Cavalcanti, Klécius Caldas e Brasinha - ÂNGELA MARIA

A Lua é dos namorados

E foi quando na prateleira da mercearia se podia comprar Lua a granel. Levar um eclipse por embrulho. Uma alça da espada de São Jorge para sair da cidade pelos caminhos levando seu retalho.

A vitória do império foi a lua. A mesma lua dos namorados agora tinha dono com bandeira fincada e tudo.

E cercaram a Lua para vender aos lotes.

Máscara Negra - Zé Keti, Hildebrando Matos - DALVA DE OLIVEIRA

Máscara Negra

Por que a alegria se banha em lágrimas? Está fazendo um ano foi no carnaval que passou. Eu quero matar a saudade. Deixe que hoje é carnaval, beijar e não levar a mal.

O carnaval são estes encontros marcados, plenos de desencontros. Cheio de marchas rancho para expor tal tristeza.

Até Quarta-Feira - Umberto Silva e Pedro Sete - DISCO DE MARCHINHA

Até Quarta Feira

Meu bem, meu querer, meu duplo, vamos brincar separados. Não tem problema até se passarem três dias. Até quarta-feira.

E se o acaso nos encontrar não o transformaremos em necessidade. Um pra lá e outro pra cá. Assim como se nunca nos houvesse criado esta fantasia.

Pelo menos que seja até toda a tristeza desta canção chegar ao fim.


Voltei! - Osvaldo Nunes

Voltei!


Voltei! Aqui é meu lugar. A saudade era maior e voltei para ficar. 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015


Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade tão diminuta entre os dois é a inesperada distância.

Viva e tente esperar que os padrões, as fórmulas e formas se apresentem igualmente as conhece. E quando elas se apresentarem examine o quão diferente são do que se esperava. É que nesta distância, mesmo que diminuta, uma grandeza de eventos sempre acrescenta algo ao imediato anterior.

Por isso teus conhecimentos dogmáticos perdem os pontos fundamentais pelo enxame de segundos que os transformam a partir de uma teia capilar de erros e críticas. Nem apenas essas modificações negativas, mas contribuições positivas que somam questões novas quando a soledade e a monotonia já se insinuavam como verdade.

E creia a história não é aquela dos personagens ilustres. Por isso toneis de elogios se esvaem no asfalto esburacado de uma classe dourando seus privilégios de serem lembrados. Mas a lembrança está no povo. No coletivo. Nesta imensa dimensão da proximidade que é distância universal.

Nem imagens coloridas em movimento, grandes e luminosas edições em papel de alta qualidade conseguem superar a iniquidade da adulação que permeia a narrativa estabelecida. Apenas toque a tela e verás a eminência do povo, num desfile sintético, a carregar o corpo de mestre Antonio Aniceto.

Antonio Aniceto com uma enxada e uma flauta de taboca foi a proximidade maior desta distância que existe para garantir a diversidade do mundo. Mas uma diversidade que existe para se aproximar, se igualar onde a terra para se plantar nunca seja por concessão.

Assim como as surpreendentes orações do Papa Francisco a acabrunhar dogmas.


Então o que se dizer da mais recente declaração do Dalai Lama: “O que diz respeito às crenças sociopolíticas, considero-me um marxista. O marxismo é fundado em princípios morais, enquanto o capitalismo é baseado apenas em ganância e interesse pessoal. O marxismo está preocupado com as vítimas da exploração imposta por uma minoria. O fracasso do regime soviético não foi o fracasso do marxismo, mas o fracasso do totalitarismo.”

"ZERO" - José Nilton Mariano Saraiva

China e Coréia do Sul (lá do outro lado do mundo) se nos apresentam como dois exemplos emblemáticos do poder transformador da Educação rumo ao desenvolvimento de uma nação e, conseqüentemente, da alavancagem de uma melhor condição de vida aos respectivos povos.

E conseguiram alcançar tal desiderato só recentemente (há menos de 50 anos), quando seus dirigentes literalmente “viraram a mesa” ao optarem pela deflagração de uma autentica revolução no seu dia-a-dia, via direcionamento de uma significativa parcela do seu PIB (Produto Interno Bruto) para a área educacional. Tanto é que, hoje, são reconhecidos como potencias mundial e exemplo para as demais nações do planeta. Portanto diletos, bem-vindos e saudáveis filhos da era do conhecimento.

A reflexão é só para lembrar que aqui no Brasil temos o Exame Nacional do Ensino Médio-ENEM, que avalia o conhecimento adquirido dos alunos que concluíram ou estão a concluir o Ensino Médio; serve como método de entrada em diversas universidades públicas substituindo seus respectivos vestibulares, através do Sisu; e é utilizado como critério de avaliação para oferta de bolsas de estudos pelo Governo Federal em universidades particulares pelo Prouni.

Pois bem, na última “seleção-prova” realizada pelo ENEM (dias atrás) dos 6.000.000 de candidatos que participaram, nada menos que 529.000 conseguiram a inacreditável “proeza” de zerar - tirar “nota 0”, sim senhor - na redação. Atestado inconteste da falência do modelo que aí está. Uma vergonha, aqui, na China, Coréia do Sul ou qualquer outra parte do mundo.

Convém ressaltar que muito antes dessa situação calamitosa se materializar, o Governo Federal já sinalizava sua preocupação para com o setor educacional, ao batalhar incessantemente pela alocação dos recursos oriundos da exploração do pré-sal para o Ministério da Educação.

Para que haja a mudança desejada, no entanto, temos de partir do pressuposto de que a “chave do sucesso” está numa varredura completa lá no “ensino médio”: reformando currículos; investindo pesado na formação de professores; incentivando a leitura e além do oferecimento de condições materiais que possam motivar a todos.Trata-se de uma tarefa hercúlea, mas que perfeitamente atingível, conforme já nos mostraram China e Coréia do Sul.

Só assim, a “tragédia” ocorrida no exame do ENEM desse ano servirá do tão necessário empuxo para que a nação ingresse de vez no seleto grupo de nações de primeiro mundo. 

Claro que temos tudo para chegar lá. É só seguir o caminho que China e Coréia do Sul nos apontaram: priorizar a Educação.


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Je ne suis pas le bourgeois - José do Vale Pinheiro Feitosa

Je ne suis pas Lula, Dilma, Cardoso, Serra, Bolsonaro, le Pape, le Clergé, le Patriarcha, Le Imam, Le Dalai-Lama.

Como não sou a comissão de frente da multidão que marchou em Paris contra o fuzilamento dos cartunistas e jornalistas do Charlie Hebdo.

Como não sou os apressados que retiraram as charges do Charlie do contexto para tentar provar que eles eram ao contrário do que se diziam.

Como, também, não fui leitor do Charlie, mas sei da linhagem crítica que sua editoria representou para a denunciar a ordem burguesa no mundo todo. Assim como sei que o Charlie tinha lado e o lado numa escrita crítica é sempre polêmico.

Como sei que a crítica ao capitalismo e à ordem burguesa teve, durante os séculos XIX e XX três linhas de ação diferentes. Uma reformista e duas revolucionárias. A social democracia é a que mais adiante foi por ser reformista e aceitável pelo sistema até que o neoliberalismo deu um chega para lá nela. As outras duas são revolucionárias com críticas entre ambas: a anarquista e a comunista.

Como sei que que as palavras anarquismo e comunismo estão inteiramente contaminadas de conteúdo ideológico e de acepções que nada representam de sua matriz. É assim que a luta ideológica se faz, tentando estigmatizar o adversário.

No dicionário que a nossa mente carrega, anarquismo, por exemplo, é quase apenas sinônimo de caos e agora são aqueles jovens vestidos de preto, os black blocs atirando pedras. Ou são aqueles assassinos, sabotadores e terroristas entre o final do século XIX e XX.

Come je ne suis pas les drones et les assassinats sélectif. Estes que são praticados pelas estratégias e táticas do imperialismo e do neo-colonialismo.

Come je ne suis pas le lois de la charia et les martyrs musulmam, esta prática de questionar a ordem por formas isoladas em que se mata mas não se muda nada.

Como denuncio a ação imperialista americana e francesa sobre a Líbia, o Iraque, a Síria, o Afeganistão, o Paquistão, descarregando uma chaga de destruição em que todos se matam sem evoluir em sentido algum, a não ser encharcar o terreno de sangue.

Je suis la liberté, la igualité et les droit humain et la protection sociale.


Como sou a crítica permanente da civilização e seu desenvolvimento além do estágio atual.      

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Amor americano - Los Jaivas - poema de Pablo Neruda

Era a época em que jovens músicos clássicos migraram para o rock. E usando os recursos eletrônicos, especialmente dos sintetizadores, abriram a senda do rock progressivo. Algum tempo após tornara-me parte carioca, passo num dos primeiro shoppings da cidade e escuto um rock progressivo bastante diferente. Com instrumentos musicais andinos. Descobri o conjunto chileno Los Jaivas que ainda hoje está ativo. E eram jovens que faziam uma música nova no país que havia mergulhado na idade média. A era Pinochet não matou o novo. Foi só uma questão de tempo para tudo vir à tona. Esta música que ouviram de um poema de Pablo Neruda fiz uma tradução ao modo das possibilidades. Mesmo que uma ponte, sempre existem outras possibilidades. Afinal é poesia. 

Suba comigo, amor americano. 
Pablo Neruda

Beija comigo as pedras secretas.
A prata torrencial da Urubamba
faz voar o pólen em sua copa amarela.

Voe o vazio da trepadeira,
a planta pétrea, a grinalda dura
sobre o silêncio do costado serrano.
Vem, minúscula vida, entre as alas
da terra, enquanto – cristal e frio, ar golpeado –
apartando esmeraldas combatidas,
oh água selvagem, baixas da neve.

Amor, amor, até a noite abrupta,
desde o sonoro pedernal andino,
até a aurora de joelhos rubros,
contempla o filho cego da neve.

Oh, Wilkamayu de sonoros fios,
quando rompes teus trovões lineares,
em branca espuma, como ferida neve,
quando teu vendaval alcantilado
canta e castiga despertando o céu
que idioma traz ao ouvido apenas,
desarraigada de tua espuma andina?

Quem apresou o relâmpago ao frio
e o deixou na altura encadeado
repartido em suas lágrimas glaciais
sacudido em suas rápidas espadas,
golpeando seus estambres aguerridos  
conduzido em sua cama de guerreiro,
sobressaltado em seu final de rocha?
   
Que dizem teus clarões acossados?
teu secreto relâmpago rebelde
antes viajou povoado de palavras?
Quem vai rompendo sílabas geladas,
idiomas negros, estandartes de ouro,
bocas profundas, gritos submetidos,
em tuas delgadas águas arteriais?

Quem vai cortando pálpebras florais
que vem a mirar desde a terra?
Quem precipita os racemos mortos
que baixam em tuas mãos de cascata
a debulhar sua noite debulhada
no carvão da geologia?

Quem despedra o ramo dos vínculos?
Quem outra vez sepulta os adeuses?

Amor, amor, não toques a fronteira,
nem adores a cabeça submergida:
deixa que o tempo cumpra sua estatura
no seu salão de mananciais rotos,
e, entre a água veloz e as muralhas,
recolhe o ar do desfiladeiro
as paralelas lâminas do vento,
o canal cego das cordilheiras,
o áspero cumprimento do orvalho,
e suba, flor a flor, pela espessura,
pisando a serpente despedrada.

Na escarpada zona, pedra e bosque,
pó de estrelas verdes, selva clara,
Mantur estala como um lago vivo
E como um novo piso do silêncio.

Vem ao meu próprio ser, a alvorada minha,
até as soledades coroadas.
O reino morto vive todavia.

E no relógio a sombra sanguinária
do condor cruza com uma nave negra.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Aprés moi le déluge - José do Vale Pinheiro Feitosa

Nenhuma frase representa tão bem a ideologia burguesa que essa em que após sua ordem apenas restará o dilúvio. É a fórmula ideológica de cessar toda crítica e qualquer ação para questionar e modificar esta ordem calcada no capitalismo econômico.

Esta ideologia para que cumpra sua sentença é niilista e no extremo tal niilismo sustenta o radicalismo das forças populares a serviço da ordem burguesa. Após o capitalismo, só o vazio e assim amedrontam o povo com a impossibilidade de uma sociedade que promova a justiça social, tenha plena liberdade e que avance a civilização.

Acontece que temos forças produtivas suficientemente desenvolvidas, amplo conhecimento da realidade da natureza e aprendizado suficiente sobre nós mesmos para podermos construir exatamente isso: bem estar, liberdade e contínua crítica da civilização. E não podemos avançar sem que toda a “institucionalidade” burguesa ou agregada a ela seja criticada.

A ideologia niilista da burguesia, vamos dizer um pouco menos, niilista para o mundo sem ela, com ela controlando tudo, apenas resta aos outros o destino neste vale de lágrimas. E isso não é pouco para dizer, especialmente quando o terrorismo do dilúvio é desaguado continuamente na consciência das pessoas.

Por isso seus pensadores, seus soldados e mulas ideológicas tanto temem de algo que não seja a ordem niilista do dilúvio. O bem estar geral é sempre combatido como a corrupção da ordem sem a qual é o dilúvio. A liberdade é sempre combatida como uma degeneração moral em que a moldura é a censura e o paspatur o poder maior. A civilização vista como um carro descendo uma grande ladeira necessitado de enormes freios.

Então tudo que existe é sujeito à crítica. Apenas ela é capaz de orientar os passos dentro de uma ordem que se declara a última fronteira da história (e até já decretou o fim dela).