TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
"A hora é agora" - José Nilton Mariano Saraiva
Tão brincando com fogo. E a experiência ensina que quem brinca com fogo tende a queimar-se (cedo ou tarde). Principalmente quando impera a falta de cuidados, os excessos, a afobação, enfim, o desrespeito ao bom senso e às leis.
A reflexão acima tem a ver com as tais manifestações que se espraiam pelo país desde junho passado. Manifestações que, se pacíficas, ordeiras e com objetivos definidos, encontram respaldo no próprio texto constitucional (tanto que o Governo tem, via polícia militar dos Estados, na medida do possível, se limitado a proteger seus integrantes ao longo das caminhadas).
Mas que perdem tal respaldo a partir do momento em que seus integrantes confundem liberdade com libertinagem, democracia com anarquia. Afinal, esconder-se atrás de uma máscara objetivando atentar contra o patrimônio público e privado (depredando a torto e a direito), impedir o ir e vir das pessoas, agredir os que tentam manter a ordem, bloquear vias importantes por onde escoa a produção nacional e por aí vai, não é bem um “ato democrático”.
Exemplificancdo: a rodovia Raposo Tavares é uma das principais do estado de São Paulo, por onde trafegam milhares de veículos diariamente; não só automóveis particulares e o transporte público, mas, principalmente, caminhões e carretas que transportam cargas para os mais diversos rincões do país. Ou seja, a Raposo Tavares é um dos importantes corredores por onde se processa o “giro da roda” - a movimentação da economia do país.
Eis que, de repente (e a televisão mostrou ao vivo), a Raposo Tavares literalmente parou em razão de um quilométrico e monumental congestionamento, em pleno dia útil. É que, mais à frente, obstruindo-a e provocando tal confusão, doze (12) pessoas (sim, senhores, apenas doze solitários “manifestantes”) se acharam no direito de parar a maior cidade do país, via protestos contra a falta de moradia.
Já na rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, cerca de 90 pessoas impediam o ir e vir de quem quer que seja, ao tempo em que incendiavam caminhões e ônibus, em protesto pela morte de um adolescente de 17 anos por um policial militar.
Fato é que, se agora o Governo Federal não tomar uma decisão dura o suficiente para se fazer respeitar (tolerância zero, via intervenção da Força de Segurança Nacional), os tais manifestantes sentir-se-ão à vontade para deflagrarem um movimento anárquico de inimagináveis proporções.
E o objetivo maior, sabemos todos nós, é levar a anarquia até o ano 2014, quando o Brasil estará na mídia mundial em razão da realização da Copa do Mundo e das eleições presidenciais. E aí, as manifestações de junho de 2013 serão consideradas “fichinha”, “café pequeno”, ante os estragos que pretendem implantar, já que desmoralizando o Governo e o próprio país ante a comunidade internacional.
Urge, pois, que o Governo Federal entre pra valer no embate, antes da chegada definitiva do caos. A hora é agora.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
"Ronda" - José Nilton Mariano Saraiva
A partir do momento em que o Governo do Estado do Ceará se decidiu pela criação do programa “Ronda do Quarteirão” (espécie de tropa de elite da polícia militar) visando combater com mais eficiência a bandidagem (segundo a propaganda oficial), uma medida causou estranheza: sob o pífio argumento de que as prováveis perseguições de marginais deveriam ser feitas por carros potentes e rápidos, os veículos a serem utilizados pelos policiais seriam de uma só marca, com tração 4 x 4 e cilindrada 2,7. E aí se descobriu a cereja no bolo: a Toyota era a única marca que atendia àqueles requisitos e a Newland, revendedora de tal marca em Fortaleza a beneficiada, a quem também caberia a manutenção (caríssima) de toda a frota, por tempo indeterminado.
Hoje o programa “Ronda do Quarteirão”, se constitui numa espécie de calcanhar de Aquiles do Governo do Ceará, porquanto criticado por gregos e troianos, além do que seus integrantes não teriam recebido o tratamento adequado para manobrar equipamento tão sofisticado, daí as constantes quebras e, conseqüentemente, em constante manutenção nas oficinas da Newland (afinal, única beneficiária).
Ainda assim, independentemente das críticas e do pífio resultado alcançado, o Governo do Estado do Ceará houve por bem abrir licitação para a compra de nada menos que 400 (quatrocentos) novos carros, a serem incorporados à frota. E aí surgiu um problema: desta vez, a General Motors (Chevrolet), que houvera fabricado um carro com as mesmas qualificações da Toyota, foi a montadora vencedora da licitação, já que com um melhor preço.
E aí, estranhamente, usando de um artifício capaz de suscitar dúvidas, o Governo do Estado do Ceará houve por bem desclassificá-la, sob a alegativa de que os novos carros deveriam ter a cilindrada de 3,0 e não mais 2,8, como na licitação anterior. Isto posto, o carro escolhido foi o mesmo (Toyota), a revendedora a mesma (Newland), que ficará responsável pela manutenção da frota.
O prejuízo para os cofres público será da ordem de R$ 10,0 milhões (o suficiente para comprar 63 carros a mais), daí o Tribunal de Contas do Estado já ter sido acionado pelo aguerrido Deputado Heitor Ferrer.
Mas, como naquela corte o Governo manda e desmanda o contribuinte não deve alimentar expectativa de que a coisa seja mudada. Agora, aqui pra nós, bem que poderiam nos informar qual o percentual da comissão que a Newland tá disponibilizando para ter tantos privilégios.
sábado, 26 de outubro de 2013
"Biografias" - José Nilton Mariano Saraiva
“Biografias” – José Nilton Mariano Saraiva
Mas...afinal, biografias devem ou não ser autorizadas ???
O bafafá a respeito nos remete a uma entrevista concedida pelo jornalista Lira Neto, depois que colocou no mercado, em 2009, a volumosa (e cara) biografia que produziu enfocando Cícero Romão Batista (são mais de 500 páginas).
Pois bem, após narrar o conceito “objetivo” da Igreja Católica a respeito (tanto que na prática redundou na expulsão do sacerdote das suas hostes), bem como as “subjetividades” dos fanáticos adeptos (tanto que sem nenhuma comprovação dos pretensos milagres), aquele jornalista foi instado a pronunciar-se se acreditava realmente na ocorrência do tal “milagre da hóstia”.
Depois de tergiversar, gaguejar, pigarrear, Lira Neto diplomaticamente tirou o braço da seringa ao afirmar que àquela época, lá (em Juazeiro) houvera acontecido “alguma coisa”, mas que não poderia precisar o quê. Ou seja, até o biógrafo levanta dúvidas a respeito da veracidade da informação que acabara de divulgar.
Sem dúvida, uma ducha de água fria nos adeptos de Cícero Romão Batista, que aguardavam um depoimento incisivo e contundente de sua parte, confirmando a sua convicção a respeito, afinal não manifestada.
Assim, o houvera acontecido “alguma coisa”, do biógrafo Lira Neto, deixa a porta entreaberta para que livremente trafegue versões outras e mais consistentes, inclusive e principalmente a da própria Igreja Católica, segundo a qual o tal “milagre da hóstia” não passou de uma grotesca farsa, desbragado charlatanismo (tanto que seu “arquiteto-idealizador” foi sumariamente desautorizado, excomungado e expulso da instituição).
Particularmente, entendemos que ancorados no generoso e amplo sentido embutido no conceito “liberdade de expressão”, ninguém tem o direito de sair por aí devassando a vida de outrem, sem prévia autorização, já que objetivando puramente fins mercantilistas.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
A mala e a alça
J. Flávio Vieira
Tardezinha.
Beira de praia. O sol sangra distante ao som rítmico das ondas que se espedaçam
na areia . Preamar. De quando em vez, o
chuá-chuá mântrico é entrecortado pelo agudo grito das garças riscando os céus.
A moça sentara-se num banco e observava tudo, atentamente, como testemunha privilegiada,
o espetáculo. A paz e a beleza do mundo
como que se transportavam para dentro dela: arrefeciam um pouco seus muitos
conflitos interiores, como se lançassem água fria na fervura. De repente, um
menino se aproxima da mocinha. Carregava lá seus dez anos distribuídos num
corpo franzino, bronzeado, vigiados por
olhos vivíssimos. Trazia , embaixo do braço, uma pequena tabuleta onde prendera
um pedaço de cartolina e, na outra mão, um crayon. Ela percebeu, claramente,
pela conversa que se seguiu, que a necessidade o havia apeado cedo da inocência
e das fantasias infantis. Parecia uma fruta que se tivesse colocado no
carbureto pra antecipar o amadurecimento.
---
Moça, você não quer que eu pinte seu retrato ? São só dez reais e vai ficar
muito bonito !
Por
baixo da cartolina branca, trazia , então, vários modelos já pintados anteriormente e que
usava como publicidade. Apresentou-os pausadamente à cliente. A mocinha, de
início, resistiu à investida, mas o menino carregava muitas artimanhas e
técnicas de sedução.
--
Dez reais não é nada! A senhora é tão
bonita que eu devia era fazer de graça ! Juro que pintaria, se não estivesse precisando pagar uma continha
na barraca ali de seu Anfrízio!
De
alguma maneira, o garoto sabia que a
beleza da paisagem, àquela hora,
imantava todos de um sentimento
de permanência, de eternidade. Como se o crayon tivesse a capacidade de tornar
sólido, o etéreo daqueles instantes, fossilizar a efemeridade daquele momento
mágico. Talvez, por tudo isso, a mocinha tenha acedido.
---
Tá certo ! Mas quero sair linda, viu ?
O
pintor sentou-se no chão, diante da moça
refestelada no banco e, rápido, começou a esboçar os contornos do rosto, tendo
no segundo plano: algumas nuvens e um projeto de lua cheia. Usava os dedos e o dorso da mão para espalhar,
aqui e ali, a tinta e uma borracha para
eventuais correções. Conhecia os mistérios da profissão e percebia que toda
mulher, nesse mundo, se acha mais bela do que aparenta. Entendia, pois, na sua
psicologia pictórica, que a interatividade com a modelo é, sempre, essencial no
resultado final.
---
Moça, seu rostinho é meio redondo, você não prefere que eu alongue um pouco ? Acho que fica mais bonito!
---
Alongue, meu filho, tenho um complexo danado dessa cara de lua cheia...
O
pintor , freneticamente, como um Pollock tupiniquim, esparramava a tinta na
cartolina enquanto , meticulosamente, ia indicando possíveis correções que podiam
melhorar a arte final.
---
Essa cicatrizinha no queixo, não é bom tirar ?
---
Tire, isso foi de um acidente que quero esquecer!
---
Se eu aumentar um pouco o busto, você vai ficar mais sensual !
---
Pois aumente !
---
Seu narizinho é charmoso, mas é um pouco chato. Posso arrebitar ?
---
Arrebite, vá lá ! Você presta atenção em tudo, né ?
---
Seu cabelo tá curtinho, acho que ficava mais legal se a gente botasse um pouco
mais de volume, cobriria mais suas
orelhas que são um pouco cabanas...
---
Pois avolume, eu quero é ficar melhor !
Já que não posso fazer plástica, ao
menos no retrato é possível, né ?
Em
poucos minutos , com movimentos cada vez mais rápidos e sincronizados, o menino
finalizou a obra. Assinou num cantinho : “Juvenal”
e, logo abaixo, datou: “2013”. A
menina observou, detalhadamente, o
quadro e gostou do que viu. Ali estava justamente como gostaria de ser, sem um
defeito sequer: linda, deslumbrante, poderosa, com um sorriso pendendo nos
lábios. Pagou, elogiou o trabalho do artista e saiu para casa levando sua
relíquia debaixo do braço. No outro dia,
mandou botar no quadro , com uma moldura antiga e dourada e um passe-partout bege.
Afixou na sala de jantar, logo
acima do divã azul.
Os
dias se passaram e a menina começou a encafifar. O retrato lá estava lindo e
deslumbrante, todo visitante admirava-se da beleza da obra, mas ,invariavelmente,
seguia-se a pergunta fatídica;
---
Quem é ? Sua irmã? Uma prima ? Sua tia ?
De
tanto responder e explicar, cansou. Resolveu tirar o quadro da parede. Chegou à
conclusão que nós somos nós , não só por nossas qualidades, mas também por
nossos defeitos. Sem a alça, a mala poderia ser até mais bonita e simétrica, mas seria apenas uma caixa. As
pretensas deformações que nos tornam mais feios são , justamente, aquelas que
nos dão a identidade , que terminam nos fazendo diferentes e únicos.
Crato, 24/10/13
Geraldo Junior - Warakidzã (Álbum Completo) [Full Album]
Quer ouvir tudo de uma vez?! Pois pega a ficha técnica aí também!
Geraldo Junior - Álbum Warakidzã 2011/2012
01 Mitologia Cariri Música: Geraldo Junior e Grupo / Texto: Rosemberg Cariry
“Afirma a tradição que o Cariri era o território mítico de Badzé – o deus do fumo e civilizador do mundo. No princípio era a Trindade: Badzé era o Grande - Pai, Poditã era o filho maior, que ensinou aos índios a reconhecer os frutos, a caçar animais, a fazer farinha de mandioca, a preparar utensílios de uso cotidiano, a dançar, a cantar e a fazer os rituais de pajelanças, e Warakidzã (senhor do sonho), o filho menor. Os dois irmãos habitavam a constelação de Órion.”
Extraido do texto: O CARIRI CEARENSE – A nação das Utopias, de Rosemberg Cariry
Geraldo Junior – Voz, efeitos e flauta
Eduardo Karranka - Guitarra
Marco Bz – Efeitos e vibratone
02 Treme-Terra (ou Grito de Guerra) Geraldo Junior
Cada dia é mais um dia de mistério
Sei que vai ficar mais sério
Vamos ter de conversar
Sobre o destino de tudo
As nossas vidas o mundo
Pois sem amor
Onde é que as coisas vão parar?
Esse teu beijo é pecado na boca de quem lhe roubou
Esse teu cheiro me invade lembrando o que passou
Até parece saudade
Nem posso acreditar
Que ainda penso em você
Depois de tanto penar
Essa paixão é canção de louvação ao passado
Essa paixão é zabumba, dançado improvisado
É uma pareia de pife tocando bem afinado
É um chiado de prato num contra tempo danado
Meu peito é paixão, é revolução
Minha voz canção, é grito de guerra
Descendo a serra, subindo ladeira
Fazendo zoeira, em meu peito se encerra
Levanta poeira amor treme-terra
Ainda penso em você
Geraldo Junior – Voz, triângulo e flauta
Beto Lemos – Viola, zabumba e vocal
Ranier Oliveira – Piano e orgão elétrico
Filipe Müller – Baixo
Gabriel Pontes – Flauta
Eduardo Karranka - Guitarra
Cláudio Lima – Bateria
03 Meu Canarinho, Minha Beija-Flor Domínio Público
* Peça de Reisado e Guerreiro Caririense
04 Canção pra o Beija-flor Geraldo Junior
Hoje eu vou cantar
Para o meu amigo beija-flor
Que deixou seu ninho
E não mais voltou
Saiu a voar pelo mundo
Buscando sua linda flor
Mil beijos não seriam ainda
Capazes de curar sua dor
Ah! Meu peito a mil por hora
Beija-flor eu tenho tua sina
A flor que tem meu amor
Meu beijo provou e sumiu pela vida
A flor que tem meu amor meu beijo roubou
Geraldo Junior – Voz e triângulo
Beto Lemos – Viola e ganzá
Ranier Oliveira – Sanfona e vocal
Filipe Müller – Violão e vocal
Eduardo Karranka - Guitarra
Cláudio Lima – Bateria e vocal
Baixo Fretless e vocal – Marcelo Müller
05 Mais Tarde, Mais Forte Abdoral Jamacaru
Tudo tem tempo de ser
E quando um grito custa a nascer
Se atira além do horizonte
Viaja nos quatro ventos
Estala que nem chicote
Ressoa muito pra pouco chão
Dói, lateja, explode
E voa sem direção
Dói na canção
Dói no refrão
Tem força de água de cheia
Que cai no mar e passeia
Tem madrugada morrendo
Tem aurora raiando
Tem noite parindo o dia
Novo grito sangrando
Geraldo Junior – Voz e triângulo
Beto Lemos – Viola e mineiro
Ranier Oliveira – Orgão elétrico
Filipe Müller – Baixo
Gabriel Pontes – Sax tenor
Eduardo Karranka - Guitarra
Cláudio Lima – Bateria e vocal
06 Força e Poder Geraldo Junior
Eu não tenho força pra te domar
Mas eu tenho poder pra te conquistar!
Teus dias se vão como
Fossem estrelas cadentes
Teu sorriso é de repente
Quase nem pra sonhar
Teu ciclo é lunar
Tua história é diferente
Mesmo assim sei que agente
Segue num mesmo caminho
Entre rosas e espinhos
Teus desejos de mulher
Me azunhe, me devore
Quero ser os teus instintos
Só assim tudo o que sinto
Poderá te realizar
Mas enquanto eu cantar
Com teu cheiro em minha mente
As palavras simplesmente
Vão rasgar toda incerteza
Com você não há tristeza
Entre nós não há mistérios
Geraldo Junior – Voz
Beto Lemos – Viola, violoncelo e vocal
Ranier Oliveira – Piano elétrico
Eduardo Karranka – Guitarra
Gabriel Pontes – Sax soprano
Cláudio Lima – Bateria
Baixo Fretless – Marcelo Müller
07 Vou no Vento Música: Abdoral Jamacaru / Letra: Cláudia Rejane
Ô maninha eu vou num vento
Pra chapada do Araripe
Vou fazer uma cantiga
Vou passear por ali
Adentrar naquela fresta
Que os espíritos da floresta
Deixaram no Cariri
Trago a sede de esperança
Um baú pra colher paz
Quero ver na mata a dança
Cada habitante de ti
Será um irmão a mais
O teu chão será meu pai
E a floresta minha mãe
Geraldo Junior – Voz, trompete, ganzã, surdo e vocal
Beto Lemos – Viola, violoncelo e vocais
Filipe Müller – Baixo
Gabriel Pontes – Sax soprano
Eduardo Karranka – Guitarra
Cláudio Lima – Bateria e vocal
Jonas Correa – Trombone
08 Ancestrais Geraldo Junior
Ela me dará outra canção?
Meu peito involuntário se contrai
Aguardando em paciência e oração
Ela me consome o coração
Mas o que construí
Não se desfez
Não se desfaz
E ha de não se desfazer jamais!
O passado, os ancestrais
Deuses tortos
O Horto, um cais.
Da igreja da sé à matriz do juazeiro
É o caminho de um mundo inteiro
A partida, a chegada
O reencontro, o confronto
O crescendo na orquestra!
Eu fico tonto.
Me prometeste uma existência longa e de prazer
Viver o amor, a bel felicidade
Warakidzã, o sonho, o rito de passagem
Rompendo os ciclos de nossa imortalidade
Que nos atrai
E se refaz
E nos disfarça
Só para nos reconhecermos mais
Ancestrais!
Minha menina, te dou tudo o que quiser
Porque por ti, conheço o perfume da flor
Sou cariri minha sina me fez cantador
Vi a mãe d’água! Sei teus segredos, mulher!
Geraldo Junior – Voz, flautas e vocal
Beto Lemos – Viola e violoncelo
Filipe Müller – Baixo
Gabriel Pontes – Sax tenor
Eduardo Karranka - Guitarra
Cláudio Lima – Bateria e vocal
09 Bendito da Virgem do Rosário Domínio Público
* Bendito cantado pelos penitentes do Sítio Cabeceiras de Barbalha CE
10 Asa Quebrada Geraldo Junior
Estou de asa quebrada
Meu canto pende
Meu desejo era voar
No imenso da tarde
Para te encontrar
Tanto já aconteceu
Foi um milagre
Um sonho no Juazeiro
Movendo montanhas
E um vale inteiro
Pois só o amor nos livra de todo pecado
Aquela nossa história
Varou o tempo e se perdeu
Quem sabe já estávamos juntos
E nem nos demos conta
Conta por conta
Um dia agente se encontra
Seguirei essas candeias
Se não agora, dia de finados
Amor penado
Se não então, te dou louvores
Na romaria da Mãe das Dores
Essa canção correrá toda a cidade
Vencendo toda maldade
Pra só restarem os amores
Geraldo Junior – Voz
Beto Lemos – Viola e vocais
Eduardo Karranka - Guitarra
Ranier Oliveira – Sanfona e vocal
Filipe Müller – Violão e vocal
Cláudio Lima – Bateria e vocal
Baixo Fretless e vocal – Marcelo Müller
11 Seis Cordas Luiz Fidelis
Quem tem uma viola só chora se quiser
São seis cordas pra amarrar uma mulher
E depois prender dentro do seu coração
Pra depois calar a boca do violão
Os maus olhos derrubam qualquer paixão
Morena faceira do cabelo cacheado
Seu laço de fita já laçou o meu olhado
E agora quero ser seu namorado
Geraldo Junior – Voz e triângulo
Beto Lemos – Viola e vocal
Eduardo Karranka - Guitarra
Cláudio Lima – Bateria e vocal
Kiko Horta – Acordeon
Baixo – Fábio Mesquita
Joana Queiroz – Clarinete
Diogo Jobim – Sintetizador Kaossilator
12 Marcha de Reisado / Perguntai como se Chamas / Tanta Flor, Tanta Beleza / Reisado é Bom Domínio Público
* Peças de Reisado e Guerreiro Caririense
Perguntais como se chama
É tão galante o menino
Eu me chamo rei dos peixes
Jesus, cordeiro divino
Levanta, Pedro alevanta
Dessa cadeira divina
Pergunta a nossa senhora
Se tem santo na matriz
São Pedro se alevantou-se
Procurou o santo e não via
Nossa senhora chorava
Quando o divino saía
Tanta flor, tanta beleza
A flor mais mimosa é a minha
Meu reisado se conhece
Pelo som da violinha
Reisado é bom
Reisado foi minha infância
Ainda hoje eu tenho lembrança
Do Reisado que eu brinquei
Chegou a vez
Eu hoje vou recordando
E a velhice desmanchando
O que a mocidade fez
Geraldo Junior – Voz, ganzá, triângulo e vocais
Eduardo Karranka - Guitarra
Beto Lemos – Viola, violão, rabeca, violoncelo, zabumba, tarol e vocais
13 A Alma Afoita da Revolução Geraldo Junior
* Poesia declamada: Vigília - Livro “Romeiros” de Oswald Barroso
É meio dia, é sol a pino
Eu já transpiro e vou dizer!
O meu lamento não tem história
Não tem memória, o mundo não se acabou
Daí por diante segui pensando
Não acabou, mas está se acabando
No meio dia de um vinte e três de junho
Uns quatro anos depois do final dos tempos
Tanto calor mexeu com a minha cabeça
Eu estou vendo! Quase não me arrependo
Lá vem a banda, talvez seja uma miragem
Dobrado e marcha, mas parece um funeral
São deserdados, esqueléticos soldados
Numa parada, um desfile ou coisa igual
Não tem beleza, a miséria em suas faces
Verdade e lenda se ajuntaram num só hino
Vão celebrando vitórias que nem sei se temos
O purgatório já não cabe um nordestino
Pro fim da vida até que morte nos ampare
Será que existe pra esse mundo uma salvação
Se não, eu fico aqui vagando pelo tempo
Com minha alma afoita por revolução
Geraldo Junior – Voz e triângulo
Beto Lemos – Viola
Filipe Müller – Baixo
Gabriel Pontes – Flauta
Eduardo Karranka - Guitarra
Cláudio Lima – Bateria e vocal
Jefferson Gonçalves – Gaita
14 Rainha do Maracatu Geraldo Junior
Deusa da rua
Moreninha cor de fogo
Às vezes muito, me fazendo pouco
Rodava a saia, me deixava louco
E no seu passe de maracatu
Girava o mundo com calma
E minha alma quando quase apagava
Ela voltava, mas, só me olhava
Ainda vou contar meus segredos
Eu mostro a ela o toque do meu tambor
Que ela deixou quando bailava em meus sonhos
E o meu desejo lhe corou
Geraldo Junior – Voz, ferro de maracatu, agogô, tarol, surdo, tambor, treme-terra e vocal
Beto Lemos – Viola e vocais
Ranier Oliveira – Orgão elétrico
Filipe Müller – Baixo
Eduardo Karranka – Guitarra
Cláudio Lima – Bateria e vocal
Jonas Correa – Trombone
Eduardo Santana – Trompete
15 Warakidzã - Senhor do Sonho Geraldo Junior
Quando a verdade descer nos meus olhos
E o destino vier nas encostas
O sol me trará novamente
A luz que preciso pra me encandear
Aí serei como o fogo
Descendo no alto da serra
Trazendo na roda do tempo
As horas que marcam meu desencantar
Vem que o destino chamou
E é chegada a hora de desencantar
Vem que o fim desaguou
E a grande pedra vai rolar
Eu já traguei do meu fumo
Guardado comigo o ano inteiro
E agora revelo em teu sonho
A baleia que irá despertar
Com a virgem trazida em seu dorso
Ela nos guiará
Geraldo Junior – Voz, trompete, ganzã, surdo e vocal
Beto Lemos – Viola e vocais
Gabriel Pontes – Sax soprano
Eduardo Karranka – Guitarra
Cláudio Lima – Bateria e vocal
Baixo – Marcelo Müller
Jonas Correa – Trombone
16 Pra Ninar o Cariri Abdoral Jamacaru
O sol doura o cume verde da chapada do Araripe
Sonolenta a tarde cai, noite vem ninar o Cariri
Dorme o canavial, marmeleiro, pequizal
E as palmeiras do coco Babaçu
Cores, claros, urubus reis,
Vinvin, jacu, caboclolindo
Zabelê, cigarras, papa-ventos
Guaxinins, rolinhas, cascavel, guará
Já vão dormir.
Repousa o camaleão
Borboleta, gavião
Fecha a folha o maliçal
Dorme em paz criança e ancião
Geraldo Junior – Voz
Beto Lemos – Viola, violão, rabeca e violoncelo
Joana Queiroz – Clarinete
Diogo Jobim– Sintetizador
Ficha técnica:
Arranjos: Beto Lemos
Direção: Geraldo Junior
Gravado por Fábio Mesquita no Studio Making Of Records – RJ
Sintetizador e Microkorg Kaossilator gravados no Estúdio da Etnohaus – RJ
Pianos eletricos e orgãos gravados por Ibbertson Nobre no Ibbetson Studio – Crato CE
Editado, mixado e masterizado por André Magalhães no Estúdio Zabumba no Cariri, Nova Olinda – CE e Estúdio NaGoma – SP
Arranjos de Treme-Terra E Alma Afoita da Revolução – Ranier Oliveira e Beto Lemos
Projeto gráfico e ilustrações de Boni
Fotos: JoA Azria (capa do encarte) e Thailyta Feitosa (fundo do CD)
* Aquarela de Rebeca Queiroz (contra-capa do encarte): Seu Cachoeira de Palhaço Mateus
Agradecimentos:
Minha família, meu Ceará amado e a nação Cariri e todo esse sertão além das fronterias politicas! Dane de Jade, Sidnei Cruz, Tahiba, Rosemberg Cariry, Oswald Barroso, Beto Lemos, Fábio Mesquita, Bruno, Diego, Jefferson Gonçalves, Gabriel Gomes (Cotoco), André Magalhães, Fábio Mesquita, Beth Fernandes e Emrah, Grupo Filhotes de Leão, Casa Gira Mundo, Terreirada Cearense (Gabriel, Cláudio, Joana, Felipe e todos os outros que já passaram por esse projeto), Paloma Fraga, CCBNB, Fundação Casa Grande, Carlos Gomide, Carroça de Mamulengos, Reisado Discípulos de Mestre Pedro (Os Irmãos), Felipe Magalhães e toda a galera do Estúdio Nagoma, Gil Duarte e Mirian, Flauberto Gomes, Dudé Casado, Daniel Batata, Antônio Queiroz, JoA Azria, Nathan Thrall, BEATOS, Oficina Casa do Alto (George Belisário, Thailyta, Regivânea, Michel, Carol, Maria, Mauro, Amélia e Haarllem), Roberta Naddeo, Joana Queiroz, Filipe e Marcelo Müller, Kiko Horta, Marco Bz, Jonas Correa, Eduardo Santana, Diogo Jobim, Mariana Albanese, Boni, Maíra, Abdoral, Luiz Fidelis, toda a galera da Etnohaus, todos os músicos que gravaram e tocam comigo, e sempre, a todos os Mestre de cultura Popular tradicional do universo.
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