TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Gullar

31/05/2010-16h15
Poeta brasileiro Ferreira Gullar vence prêmio Camões 2010
Folha On Line
DE SÃO PAULO

O poeta brasileiro Ferreira Gullar, 79, foi o vencedor da edição de 2010 do prêmio Camões, segundo anunciou nesta segunda-feira (31) a ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas.
O brasileiro sucede, assim, ao cabo-verdiano Arménio Vieira, que venceu o prêmio Camões em 2009.
Gullar tem uma obra extensa e já escreveu poesias, crônicas, ficção, memórias, biografias, ensaios e teatro, além de ter se dedicado também às traduções. Ele também é colunista do caderno Ilustrada, da Folha.
Na cerimônia de anúncio do vencedor do prêmio, a ministra portuguesa destacou a "atividade cívica e política" desenvolvida por Gullar contra a ditadura militar.

Tuca Vieira/Folhapress
O poeta brasileiro Ferreira Gullar, que venceu a edição 2010 do prêmio Camões
O prêmio Camões, instituído em 1989 pelos governos de Portugal e do Brasil, tem como objetivo principal destacar anualmente um escritor de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural em português.
A premiação tem ainda como finalidade estreitar e desenvolver os laços culturais entre toda a comunidade lusófona.
O valor do prêmio é de 100 mil euros (cerca de R$ 222 mil). Ainda não foi marcada data para a entrega.

skull bus


Pelas águas da morte suplico meu pai Abrahão - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Meu pai Abrahão! Tenho todos os vícios que a fé sofreu nas lutas genocidas contra o povo judeu. Até o chamo de pai, patriarca do meu povo. Acomodo-me, temo o meu fim, acho que um pedaço de terra é maior que a fé em Deus. Não me vejo como um comum filho de tua estirpe, mas como uma vítima raivosa de ódios ancestrais. Vejo meu amanhã como a Revolta de Bar Kokhba, todo o chão em que pisam os israelenses sendo arrasado pelas forças do império romano. Estou com o Deus de Israel como o ar para os meus pulmões.

Mas hoje meu pai, acordei de um sono imenso. De um sonho que outro pesadelo engendrara, fortalecera e apenas fez crescer com o tempo. Teus filhos, os filhos de Israel, desceram sobre barcos com ajuda humanitária e os seqüestrou na plenitude das águas internacionais. Fizeram mortos, geraram contra nós o mesmo ódio que tínhamos com a tortura, a morte e o genocídio do nosso povo.

E o premier de Israel, o seu ministro da Defesa, como o Rabi Akiva deu a este ato o caráter de Mashiach. Abriu as portas de Israel para a destruição de sua fé, sua longa espera, de sua resistência em Massada, seu último suspiro em Betar. Temo, meu pai, que neste dia tudo se justificará contra teu próprio povo, conduzido ao suicídio por judeus que se tornaram apenas farsa dos teus símbolos.

Amanhã quando aquele filme de Polanski, chamado O Pianista, mostrar a brutalidade animal de soldados alemães apenas apontando pistolas para a cabeça de indefesos judeus, não há como se indignar. Israel fez igual. Quando a Lista de Schindler vier à tona, outro filho de Israel o filmará e a brutalidade amanhece e dorme na nossa própria tribo.

Tudo que fizemos com sacrifício de nossa própria memória do sofrimento do Nazifascismo para que a humanidade aprendesse o bom caminho, políticos de Israel em poucas horas desfaz. A ironia não é que os inimigos de Israel destruam Israel, mas que o povo de Israel se desapega ao próprio solo milenar.

Nossas almas estão dentro da bruma de arrivistas da própria riqueza material. Vieram da Europa oriental ao final dos regimes socialistas e hoje fazem de Israel o mercado do seu rápido progresso pessoal. São aqueles judeus viciados nas artimanhas do mundo ariano e abandonando o valor semítico, desejam um retorno atabalhoado às terras da Europa e de seu mais fiel descendente: os Estados Unidos da América.

Já não vêm mais a Israel. Lá vivem e tornaram teu solo apenas num parque temático para uma religiosidade de apenas visitação. São por eles e pela defesa deles, com seus lobbies guerreiros que Israel mais uma vez pede a morte. Agora a morte desgraçada com o sangue dos nossos primos bíblicos.

verba volant, scripta manent


A mercantilização da medicina - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Pronto está revelada a mercantilização da medicina tal qual o é. Culturalmente, como símbolo e imaginário da população, o ato médico se associa tanto a normas para prevenir-se de doenças como a medidas para se recuperar de problemas. O ato médico está revestido de certa divindade herdada de tempos remotos, cujo significado antropológico é o do poder da cura. Ainda recentemente circulou pela internet um PPS que era uma verdadeira oração perguntando-se pelo “meu médico” aquele de antigamente, tão próximo das famílias, tão disponíveis nos sofrimentos, tão carinhoso no drama da vida.

Vejam os resultados desta pesquisa do Conselho Regional de Medicina de São Paulo: 48% dos médicos paulistas e 71% dos profissionais de saúde acatam a propaganda das indústrias do setor. Ou sejam, prescrevem, usam e adotam conceitos e tecnologias apenas pelo que dizem os agentes fabricantes de insumos de saúde.

Existem mestres universitários renomados, que venderam todo o seu prestígio entre os colegas médicos para divulgar interesses dos laboratórios. Os Congressos Médicos são financiados essencialmente por empresas produtoras, tudo se torna uma feira para venda de pequenas novidades, muitas das vezes que não acrescenta nada ao que já se tem, mas custa mais caro e o consumidor vai pagá-lo, pois seu médico a indicará.

Aí alguém certamente se escandalizará: ora em que isso seria diferente de uma feira de tecnologia para a indústria, para o setor de informática, de agropecuária e assim por diante? Em nada, mas aí é que se encontra o problema. A saúde é gasto, as demais produzem riquezas. A saúde nos EUA, o leviatã de todos os modelos de desperdício do mundo, logo atingirá 15% do PIB americano.

O assédio da indústria em volúpia de vendas aos consultórios médicos paulistas certamente divide espaço com os horários das consultas de seus pacientes. Da amostra realizada, 80% dos médicos receberam em média 8 visitas por mês. Leram com atenção: oito visitas por mês. E pior de tudo: 93% desta amostra de médicos paulistas afirmou ter recebido produtos, benefícios ou pagamentos da indústria no valor de até R$ 500,00, nos últimos 12 meses.

A nota boa é que a pesquisa foi realizada por um órgão de classe médica envolvido com a questão da ética que no caso poderá influir em medidas públicas contra as empresas. A verdade é que a formação deste comportamento médico compromete o outro componente essencial da sua credibilidade, que é a sua boa formação e fidelidade à ciência.

Mas volto à questão: o Ministério da Saúde do Brasil, juntamente com as Secretarias de Saúde dos Estados e Municípios, têm grande responsabilidade sobre a regulação deste problema, tanto através das suas agências quanto de seu papel relevante de consumidor desta indústria. As compras do SUS são tão altas que por si representam enorme poder para as autoridades públicas. O resto são “escândalos de sanguessuga”.

"Amanhecer Violento" vai voltar.




30/5/2010. The Observer, reproduzido em The Guardian, UK, em http://www.guardian.co.uk/world/2010/may/30/red-dawn-remake-china
Tradução de Caia Fittipaldi
"O filme [ing. Red Down, 1984] foi peça clássica do cinema para adolescentes dos anos 80s, narrado sobre o pano de fundo da geopolítica paranoica da Guerra Fria. “Amanhecer Violento” trouxe Patrick Swayze e Charlie Sheen como adolescentes norte-americanos típicos, que lideram um movimento armado de resistência contra tropas soviéticas que invadiram os EUA (uma espécie de Hamás-que-a-filha-da-Hillary-curtiu).
Agora, para alimentar a febre de filmes reciclados de Hollywood, “Amanhecer Violento” está sendo refeito com outros jovens simpáticos. Mas com pelo menos uma diferença chave: dessa vez, os exércitos que invadem os EUA são chineses, não soviéticos.
O inimigo remade mostra as mudanças pelas quais passa o mundo desde a queda do muro de Berlin. Primeiro, já nem existe URSS, o que dificultaria os enredos de novelas de ‘resistência’ nos EUA. Segundo, a geopolítica paranoica da Guerra Fria já recomeçou e já atacou toda a política dos EUA, dessa vez ativada pelo crescimento da China.
Só isso explica a distribuição viral de cenas vazadas das primeiras tomadas do filme, mostrando pôsteres de propaganda pró-China – perfeitos para disparar todos os medos dos norte-americanos em tempos de crise econômica brutal. Dado que a culpa não pode ser ‘dos mocinhos’, eles próprios, nem dos banqueiros, agora a culpa será “dos chineses”, que se estariam ‘infiltrando’ no âmago das famílias, seduzindo, primeiro, os adolescentes.
Um dos cartazes de propaganda antichineses, vazados da produção do filme, mostra uma mão amarela (chinesa!) estendida para ajudar um norte-americano esfarrapado “Ajudando-o a reerguer-se”, diz o cartaz. “Reconstruindo seu nome limpo”, diz outro, que mostra uma estrela comunista chinesa impressa sobre o mapa dos EUA, rachado ao meio.
O filme, previsto para ser lançado ainda esse ano, tem orçamento de 75 milhões e, como o original, vem estrelado por várias jovens estrelas ascendentes, não por nomes já consagrados. Entre eles, Connor Cruise, filho de Tom Cruise e Nicole Kidman; Chris Hemsworth, de “Guerra nas Estrelas” e Isabel Lucas, estrela de “Transformers”.
O filme não interessa pelo talento dos atores, mas porque, como o primeiro, é competente ao manifestar os tormentos de uma nação que se sente ameaçada. Na versão de 1984, que teve roteiro de John Milius (autor do roteiro original de “Apocalypse Now”), foi estrondoso sucesso de público, nos EUA, desde a estréia. O hiperpatriotismo e as cenas em que adolescentes arriscam a vida contra a “ameaça vermelha” muito contribuíram para o criar ânimo cenográfico patriótico dos EUA de Ronald Reagan.
Não é filme sutil, mas o sucesso financeiro o habilitou a ser escolhido como o filme favorito dos conservadores de todos os tempos. A operação para caçar Saddam Hussein depois da invasão do Iraque em 2003 foi batizada “Operation Red Dawn”, em homenagem a esse filme.
remake terá praticamente o mesmo roteiro, embora, onde antes havia o medo dos comunistas, entra hoje o medo do declínio financeiro. Os chineses, agora, invadem os EUA e usam, como pretexto, a mentira de que vêm para resolver os problemas da economia dos EUA. Adolescentes furiosamente patrióticos combatem contra o Exército de Libertação da China Popular e traidores colaboradores que lutam ao lado do invasor. (…)
Cenas que vazaram da produção do filme já chegaram ao jornal Asia Times Online, onde se lia, em manchete, “Paranoia norte-americana, de volta em “Despertar Violento”, o retorno” (8/1/2010, emhttp://www.atimes.com/atimes/China/LA08Ad01.html).  E dizia o escritor Ben Shobert, no artigo: “O filme e seus vilões dizem muito sobre as atuais inseguranças da sociedade norte-americana” (…)
Mas o mais forte símbolo do real declínio dos EUA e do real crescimento da China, paranoias à parte, não vem nem do roteiro, nem dos personagens, nem do ideário de propaganda que inspira o filme. Vem do fato de que grande parte do filme foi rodado nos semidestruídos (de fato!) bairros industriais da cidade de Detroit. As ruas desertas, as gigantescas fábricas abandonadas são o item realista – que entra como personagem não convidado – e fixa-se na tela, como cenário real das cenas de guerrilha urbana cinematográfica, mas nem por isso menos assustadoramente realista."
Fonte: Viomundo

é conversando que a gente se entende


Retalho do Passado

Pedro Esmeraldo

No decorrer da década de 1970, precisamente no dia 27 de março de 1977, recebi telefonema do Dr. Assis Leite dizendo que era preciso ir imediamente à Fortaleza para fazer teste de português, matemática e conhecimentos gerais, a fim de ingressar no emprego efetivado na Petrobrás Distribuidora em Fortaleza.

Imediatamente, dei um pulinho até a rodoviária, tentado conseguir passagem de ida, pois a hora já estava avançada e seria uma sorte se por acaso conseguisse passagem nessas circunstâncias, e prevalecesse o direito de procurar, pelo menos uma vaga no último lugar da fila, o que por certo conseguiria com êxito um lugar na parte traseira do ultimo ônibus que partia desta cidade à capital.

Na volta, tive mais sorte com a passagem, pois tranquilamente o primeiro número devido ter mais atividade e procurei o primeiro lugar da fila, visto que procurei na hora exata, isto é, às 06:00horas da manhã, durante a volta à noite. Não houve nenhum obstáculo, visto que a BR estava totalmente recuperada e não havia subterfúgio, visto que toda a população andava tranquila sem ameaça de assaltos como há nos tempos atuais. Todas as estradas eram pavimentadas com asfalto e que causavam calma no meio do trânsito e o povo era mais obediente à sinalização com segurança.

Cheguei em Fortaleza por volta das 06:00 horas da manhã; rumei em direção da casa de meu irmão onde saboreei um apetitoso café, antes de ir à direção da Petrobrás.

Lá, enfrentei uma saraivada de teste de: Português, Matemática e Conhecimentos Gerais pois, tive de observar as dificuldades a fim de raciocinar com calma até conseguir decifrar quase todas as questões de matemática e português com êxito. Graças a Deus, dominei muito bem as matérias e saí feliz em minhas predileções. Na volta ao Crato, à noite, tornou-me mais fácil, já que minha mente estava arejada porque consegui chegar a bom termos, onde conquistei o que mais almejava que era o emprego.

Quando assumi a cadeira do ônibus de volta, senti-me enfadado, visto que ao meu lado, apareceu uma moça espevitada, fazendo firula com esnobismo, exprimindo palavras desagradáveis, mostrando que era habilidosa, dizendo que era cratense, do bairro da caixa d'água e que ainda morava em Brasília onde aprendeu a conviver com coisas sérias e mostrava ser dotada de grande saber. Não suportando as tolices dessa moça irreverente, deixei que ela esnobasse à vontade sem nem sequer olhar para ela; já que se tornou uma moça aborrecida, quando falava tolices.

Como estava enfadado devido a canseira do dia, caí num sono profundo; até quando, lá pelas tantas, ouvi uns gritos ensurdecedores, empurrando com forças os meus braços dizendo: Feche as pernas!

Olhei pra ela um pouco enraivecido, bem sério, respondi: Feche você que não tem o que quebrar.

A moça se calou e fechou a cara pra mim e saiu de mansinho, indo trocar o seu lugar com outra pessoa no banco traseiro. Ai então, não me contive, passei a observar a moça com olhar de desdém parecendo que ela deveria permanecer calada e nunca querer esnobar com apresentação ruidosa, dizendo palavras fúteis, bisbilhotando na frente da gente, pensando que todos eram tolos e nada sabiam de nada. Bem feito! Quem manda ser bisbilhoteiras com tagarelice em terra dos outros. Até que em fim, permaneci tranquilo não ouvindo mais as bisbilhotices dessa moça

Crato - CE, 27 de maio de 2010.

Dihelson Mendonça entrevista Luiz Carlos Salatiel sobre a "Celebração do Encantamento"



O Blog do Crato esteve presente na noite do último sábado no Crato Tênis Clube, onde realizou cobertura fotográfica sobre a chamada "Celebração do Encantamento", que homenageou cerca de 500 personalidades ligadas a Arte e a Cultura da região do Cariri, através de diplomas de honra ao mérito. A reportagem fotográfica você confere logo abaixo nesta mesma página, e agora trazemos a entrevista feita com o autor Luiz Carlos Salatiel, logo após o término do evento no Crato Tênis Clube. Lembrar de parar antes, o player da Rádio Chapada do Araripe, na entrada do Blog para evitar ouvir 2 sons ao mesmo tempo. O áudio da entrevista estará sendo veiculado também na Rádio Chapada do Araripe durante a semana.

Confira na edição de hoje: www.blogdocrato.com

Reportagem: Dihelson Mendonça

Blog do Crato - Cobertura Fotográfica - "A Celebração do Encantamento"


A cobertura fotográfica da "Celebração do Encantamento" realizada pelo Blog do Crato já se encontra disponível na seção "Blog do Crato - Sociedade". Foram feitas mais de 200 fotos, do evento e isso é quase impossível de publicar na internet em tão pouco tempo. O máximo que consegui para hoje foram 48, que você vê clicando AQUI ou o Painel abaixo:

painel

Fotografia: Dihelson Mendonça

domingo, 30 de maio de 2010

Ritos da Celebração

Era uma vez um Vale Encantado...




Com seus loucos...



















suas fadas...









e seus duendes...










Le Monde denuncia a ameaça ao conhecimento livre.



Dossiê ACTA: para desvendar a ameaça ao conhecimento livre.  

"O que é, como foi revelado e quais os desdobramentos do acordo internacional secreto que pode bloquear a trocas pela internet, proibir os medicamentos genéricos e ampliar as desigualdades entre países ricos e pobres. Há alternativas?"

Acesse a matéria do Le Monde sobre a tentativa de controlar a produção intelectual e garantir lucros para as grandes empresas. 

trombeta final

Não irei antes da hora.
Detesto chá de cadeira.

Deus sabe quanta louça
ainda tenho que lavar.

Quanto cafezinho
tenho que beber.

Agora que os dentes permanentes
rasgam as gengivas do meu filho.

Também quero ouvi-lo
falar corretamente.
Sem trocar letras.

Deus sabe o quanto tremo
ao olhar meu retrato.

Meu rosto triste na foto.
Meu rosto estranho na funerária.

Algumas criaturas
ouvirão minha voz.

Mas o que marcará minha partida
uma atmosfera diferente

como quem brinca
de enterrar passarinho
em caixa de sapato.

Deus sabe o quanto me abala
pensar nessas coisas funestas.

Principalmente porque sei
que não haverá fuga.

Mesmo sem chinelo
molhado do banho
terei da andar
pela casa toda
atrás do celular.

Importantíssimo
esse telefonema.

Talvez seja ela
aos prantos

enfim,
chorando.

Explicar-lhe que já parti
será muito difícil.

Constrangedor para um sujeito
que sempre lhe confessou
paradas de eternidade
e outras vidas.

Dizer que já fui embora.
Que bati as botas.
Que acordarei na roça.

Será muito complicado.
Esqueçamos todo esse trem.
Toda essa tralha.

Deus sabe quantos versos
ainda tenho que lembrar.

Queimar.
Triturar bem.

Sorver de um gole
a boa cicuta.

Entrevista com Bruno Pedrosa - por José do Vale Pinheiro Feitosa


Para quem bebe a vida em Paracuru, nasceu num sítio, na periferia da cidade de Crato, que cabe, inteirinha, sem sobras, no meu ser, entre os shoppings do Rio de Janeiro, prefere o “Downtown”, na Barra da Tijuca. Com suas ruas a céu aberto, bares e lojas. No centro existe um prédio enorme, acima do qual estão 13 cinemas – invólucros modernos do Moderno, Educadora e Radio Araripe. Neste mesmo prédio um Café Crato, é do Armazém, mas fiquemos com o primeiro nome. Tudo por quê?

Estou aqui numa mesa de varando do Café. À frente a figura profética de Bruno Pedrosa. Com sua voz mansa e o conteúdo telúrico. Severo, de olhares para os vendilhões do templo. A arte, especialmente as artes plásticas. Bruno tem o orgulho dos bem sucedidos cearenses na vida. Se a frase não se compuser da toponímia cearense, perde todo o sentido. O sucesso de cearense é aquele dos primeiros pingos de água quando a seca tudo devastara. Bruno Pedrosa faz seu caminho circular, como Abrahão, e foi “chamado” por Deus para imolar seu filho na demonstração extrema de amor ao pai ou de desrespeito aos seus ordenamentos.

Bruno Pedrosa não faz nem uma e nem outra coisa. Tanto se encontra nos Torrões como igual aos pés do monte Grappa. É a mais radical solução, fez aquilo que Abrahão passivamente esperou de Deus. Imolou o filho e não imolou. É algo que, radicalmente, se encontra no Riacho do Machado ou em qualquer vírgula de uma sentença escrita. Entre nós e os outros. Aliás, Bruno Pedrosa seria literalmente o que a escrita em castelhano tem para o significado nós, Bruno é um “nosotros”. Nós-outros.

Então, dois cearenses neste desterrado mundo, pleno de raízes e satisfações a tomar, começamos um jogo de perguntas e respostas as primeiras comigo e as segundas com ele.

Bruno, começando pelo começo. O quê é o Crato para você?

(Rindo e, por incrível que pareça, até rindo tem sotaque de cearense) Você me pergunta isso por começo com zelo de sua terra natal. Eu tenho um ponto exato, como o centro de uma circunferência que são as terras dos meus antepassados, num limiar entre Cedro e Lavras. Mas o Crato que é tanto para você é muito para mim. Foi a minha ruptura, do coletivo que era no Riacho do Machado. Lá conheci a vida urbana, os personagens instáveis desde mundo fluido. Estudei, noutra forma de aprendizado através do papel e do discurso formal. Muito diferente do ensino circunstancial do dia-a-dia com meus pais, avós, tios e moradores. Até mesmo daquele ensino estrutural das longas conversas no alpendre de casa.
O Crato tem um acervo de gente que está aqui em mim e que nunca se apartará. A Claude, Dominique, toda a história fantástica de seus pais, e irmãos. A Azeneth, filha de Luizinha e Derval Peixoto, Telma Saraiva e a querida Edilma família das imersões pictóricas, nos meus sonhos de artista. Lembro de tanta gente que não preciso dizer nesta conversa, que mesmo não citando como a faço a Ronaldo Brito, Zé Flávio e Socorro Moreira, são por demais minhas e jamais as esqueceria.

Bruno o que você diria da impossibilidade de um artista que ficou no interior e sem a visibilidade dos grandes centros, ricos que podem pagar a arte, vivem num isolamento transformado em frustração e perdas?

Bastaria apenas lembrar um único artista cearense que é universal e viveu a plenitude do que é arte tirando o sustento do solo deste chão. Que não explodiu em letreiros luminosos, não freqüentou a lista dos mais lidos dos jornais e revistas do Sul Maravilha. Que teve a sua primeira impressão em livro produzida ali mesmo, numa esquina do Crato. Que já tinha a idade do avô quando atravessa a classe média letrada e ilumina os salões literários. Eu falo de Patativa do Assaré, um artista completo, profundo e transformador.

Então o que explica na prática um grande artista?

Perseverança, dedicação, total e exclusiva a uma arte.

Mas o nosso Patativa nunca viveu da própria arte. Dependia da safra dos seus legumes, da cria dos seus animais para se vestir, beber e comer. A si e a sua família.

A poesia de Patativa só é grande porque brotada das intenções e dos frutos do mundo. Cada ciclo de fertilidade era uma esfera poética. Cada desastre social era uma trova sobre a perplexidade da humanidade. Cada maldade política era um amor pela vítima e feroz crítica ao agressor. Patativa misturava poesia com a limpa do mato, a colheita do feijão, o milho das galinhas.

Mas Bruno tudo pode ser apenas poesia nossa neste ambiente agradável se não considerar a questão da educação do artista. A formação para perfeito uso das técnicas de expressão de seu talento.

Nem sempre a técnica. Seguramente não é a trilha que me leva, mas os meus pés. A maior prática nas artes plásticas é a utilização lúdica dos materiais. Lúdica e criativa. Que, aliás, são inseparáveis: a ludicidade é a alegria de criar. Não é o jogo em si como sugere a palavra, mas o jogo no condicional: a alegria de jogá-lo. E por não ser apenas o jogo e suas regras, é a alegria despachada dos cânones que formam aqueles pilares inúteis.

Bruno as artes são tantas, tão vasto é o mundo dos materiais, tão variantes são as estéticas e as escolas, que é impossível ao comum das pessoas, fazer o que o artista faz: a ludicidade do contato com a obra exposta. Por isso é comum se dizer gostei e não gostei. Numa simplicidade que parece estimular a passagem rápida para outro objeto de arte. Uma fuga daquilo que não compreendo.

Nesta situação é melhor mesmo é fugir dos sentimentos classificatórios. Gostar e não gostar é mais da culinária, é do sabor, não cabe em outras artes, especialmente as plásticas. Aí o que mais aproximaria a pessoa da obra é se compreende ou não compreende a arte. Esta simples conclusão lhe abre a porta para coisas vulgares ou invulgares. Para a percepção entre a arte única e o produto em escala.

E os consumidores de arte? Especialmente aqueles que compram caro uma obra famosa?

Estamos falando aí de duas coisas que parecem juntas, mas não são: a formação do valor de uma obra de arte e a decisão de aplicar milhões na compra dela. A formação tem componentes históricos, políticos e econômicos. Já a decisão, em que pese ocorrer numa prática comercial, tem dois veios principais: aquele que decide apenas para ter status, alçar posições no alpinismo social e o que decide por afinidade com a obra, busca sua integração à própria materialidade do mundo que o cerca. Ambas, como espero ter deixado claro, pertence ao campo puro do materialismo.

Bruno quando dizemos artes plásticas, falamos de uma produção artística de expressão mundial, que tem conhecimentos específicos e dependem de aprendizado da população para compreendê-las melhor. Como você pensa isso?

Olhemos o Crato e Juazeiro. Começando pelo primeiro. Juazeiro é a confluência da cultura nordestina em suas diversas manifestações, a escola está na romaria, no mercado, na estátua, no artesanato, nos objetos que sobem e descem os ônibus e paus de arara. Já agora se volte para o Crato sem o Museu Vicente Leite. E mesmo para Juazeiro sem igual instituição. Então, as pessoas necessitam de educação artística nas escolas do ensino fundamental, precisam de acervos com os quais possam interagir, é preciso que se façam exposições, manifestações para que se forme um público compreensivo.

Bruno vou provocá-lo. Levá-lo a um constrangimento. O que você pensa de certas manifestações estéticas que visavam “escandalizar” a burguesia de salão e os preconceitos da pequena burguesia? Por exemplo, como você considera os desconfortos provocados por Marcel Duchamp?

O fio da navalha em que tais manifestações se encontram. Primeiro o fio que data as manifestações, após o qual já é uma arte datada, localizada num passado, sem força, apenas referência. O segundo fio é o do espaço da manifestação, não é aquele de pequenos grupos, dependem de grandes públicos como Bienais e animam o tédio destas programações que se repetem apenas para cumprir calendário. Talvez eu tenha problema de compreender esta arte de instalações. Quem sabe um dia compreenda e até possa me encontrar nela. Mas apenas um último pensamento: como é feito para aluir os valores arraigados de uma classe social, considere, inclusive a possibilidade de apenas ser um blefe.

Bruno e como você classificaria o artista de vanguarda e o de instalação?

O artista de instalações tem seu papel, pois se vive cada vez mais nos espaços urbanos e eles são vivos, mutantes, precisam expressar aquilo que cada geração, cada ciclo da história dizem. Já o artista de vanguarda é mais um fenômeno histórico, limitado pela história. Não existe sempre uma vanguarda revolucionária. Existem períodos mais estáveis no mundo em que a natureza da criação é mais longa, pois, é maior e mais vasta, aquela estética que representa tal período da história. Vanguarda é apenas tática de guerra.

E você? Como foi teu percurso de formação?

Sou um artista brasileiro, formado na realidade do país e em escola daqui. No começo tive que mergulhar na arte que vinha lá de trás até chegar na minha geração. Começamos pela arte acadêmica, dominando os conceitos e compreendendo tanto a estética como sua evolução histórica. A minha arte inicialmente era figurativa, depois evoluiu para a arte abstrata, um abstracionismo lírico, expressionista, que avança com o domínio dos cânones acadêmicos, até para negá-los.

Quando você diz que não compreende a arte de instalações, quer dizer que não a pratica por certo?

O meu trabalho não é no preenchimento do espaço aberto ou circunscrito. Eu crio no volume, transformo o volume, ele se expressa como a criação de sua transformação. Eu e muitos artistas, a maioria diria, mas não esqueça que a palavra mais arquetípica da minha vida é “Torrões” (a fazenda onde se criou). São estes os objetos oriundos de uma “construção” maior e anterior. Minha arte vai ao antes das coisas como se apresentam no mundo.

Bruno quais seus planos para os próximos anos?

O museu de Lucca vai comemorar sessenta anos como simbologia de idade, quarenta anos da primeira exposição fora do Brasil e 20 anos de residência na Itália com uma série de exposições em museus, com uma série de trabalho dos últimos dois anos. São 100 quadros a óleo de dimensões média e grandes, 25 esculturas e 25 desenhos a pastel seco.
Estas exposições começarão pelo Brasil no museu de arte do Paraná, Curitiba, em agosto de 2011. Depois no Rio de Janeiro entre o Museu Nacional de Belas Artes e o Museu de Arte Moderna de Niterói e seguida vai para o museu de Arte Moderna de São Paulo. Cada amostra terá no mínimo 40 dias e no máximo 60 dias. Saindo do Brasil vai para a Fundação Pablo Atchugarry em Montevideo, depois para a Fundação Borges em Buenos Aires. Depois retorna para a Europa, entrando pela Holanda em Haia, em seguida Bélgica, Paris, Lisboa e Lucca.
Acompanhando as mostras irá um livro dos quarenta anos do trabalho, em quatro línguas, distribuição na Europa e EUA, editado pela Editora Campanoto.

Bruno e quando o artística larga o cinzel e o pincel e pega novamente a vara de pescar no Riacho da Barra?


Nunca. A criação artística não é um trabalho, é uma necessidade espiritual. Como o espírito nunca morre, por sob o cinzel e o pincel, corre o Riacho da Barra.

LIFE IS A XEROX...


Sobre a "Celebração do Encantamento" ! - Outros Comentários.

Dihelson Mendonça disse...
Olá, Amigos,


"...Mas o que queria dizer agora, que acordei ( São 17:15 ), depois de uma noite maravilhosa de encantamentos, é que a celebração realizada ontem no Crato Tênis Clube foi um evento maravilhoso que há muito tempo precisava ser feito aqui. Eu sempre cobrei de nossos colegas da cultura, e até da Secretária de Cultura que se fizesse algo assim, no intuito de lembrar ao poder público quem é quem no Cariri. Quem faz arte, quem escreve, quem toca, quem canta, o que faz cada um.
No evento, só faltou uma coisa, Salatiel, que a gente se esqueceu, e que seria EXTREMAMENTE importante: Era pra ter convidado o Prefeito, o Vice, todos os Secretários, os Deputados, os Vereadores...enfim, todos que fazem parte do poder público, a fim de que essas pessoas possam ter idéia do que seja a classe artística. Uma espécie de MOSTRA. Porque eu tenho quase certeza que a maioria dessas pessoas que eu falei, não conhece todos aqueles artistas nem sabem o que eles fazem. E seria bom que cada equipe demonstrasse o seu talento no evento. Essa união, integração, teria sido muito importante. E convidar também o resto do público, afinal, o povo tem de ir aonde a arte está, e infelizmente a celebração era mais para os artistas. Quase todos que ali estavam, já eram ligados às artes.
Eu sempre defendi a idéia da popularização da Arte. Critico sempre os modelos do BNB e do SESC, que realizam as coisas a portas fechadas, eventos belíssimos que custaram milhares de reais e ficam perdidos em salas do Cariri para 40 pessoas e nunca mais se vê nem se registra.
Conversando uma vez com o Anastácio, antigo diretor do CCBNB cariri, ele não gostou das minhas duras críticas, porque eu disse "que o BNB deveria fazer aquilo em Praça Pública, para milhares de pessoas verem e não a portas fechadas". Ele disse que isso não era tarefa para o BNB, e sim para a prefeitura, governo do estado, etc... não concordo. Acho que BNB, SESC e outros têm um dever para com a Sociedade. Como sempre escrevo em minhas crônicas "É preciso deselitizar as Artes e a Cultura". Tirar das portas fechadas. O povão precisa ter contato com os grandes valores, mas a verdade é que o povão está submetido a uma massificação horrível pelos meios de comunicação.
Até quando teremos Artes Elitizadas ? O povo precisa participar do processo.
Então, eu vejo com muito carinho o evento realizado ontem. Eu sei pela entrevista que fiz com Salatiel logo mais disponibilizada nos Blogs, que foi uma coisa que foi concebida inicialmente para o programa de Rádio e foi estendida um pouco mais para todos os artistas. Foi uma boa idéia, que precisa ser apoiada por toda a classe artística. É muito difícil reunir todos os artistas num só lugar. NEM PREMIANDO ELES VÃO...

Mas o evento foi um sucesso, e esperamos ver outros do gênero aqui no Cariri, realizados por outras pessoas também, pelo poder público que valorize, e por todos que amam as Artes e a Cultura do Cariri.

Somente assim poderemos tirar o povo da miséria cultural em que se encontra, que aliás, de todas as misérias humanas, a falta de acesso à educação e à cultura, é a pior delas."

Abraços,
Dihelson Mendonça

cartum por GARRIDO BARROSO


Sobre a "Celebração do Encantamento" !

PRA QUEM TEVE PACIÊNCIA , CURTIU UMA "TREMENDA" TERTÚLIA
COM O BATISTA E SUA BANDA, QUE FOI ATÉ ÀS 2 DA MANHÃ!
COM UMA PARTICIPAÇÃO ESPECIALÍSSIMA DE PEIXOTO (ETERNO CROONNER)
E MANEL DE JARDIM (A LENDA)!


Sobre a "Celebração do Encantamento" - 2

CARIRICATURAS - Socorro Moreira

A Oca e A revista virtual CaririCult, ,na CELEBRAÇÃO DO ENCANTAMENTO, CONCEDEM HONRA AO MÉRITO ARTÍSTICO E CULTURAL AO BLOGUE CARIRICATURAS !
Foi uma noite especial para todos : presentes e ausentes. Reencontrei o mesmo clima dos antigos salões de Outubro , tão festejados na década de 80. Maravilhosa a parceria OCA X CaririCult, representados pelas figuras sintonizadas com a nossa cultura de Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael. Muitos foram os chamados- Todos os escolhidos !
Senti-me honrada com o reconhecimento do nosso Blogue, e repasso o mérito aos nossos colaboradores e leitores !
Representei os fundadores : Salatiel, Claude, Edilma, Carlos Rafael e José do Vale Feitosa , e guardei por todos, o Diploma , carinhosamente entregue, e encantadamente acolhido !
ESTÍMULO AO NOSSO INVESTIMENTO CULTURAL, PRA QUE A GENTE SE CONGREGUE E SE RENOVE,SEMPRE!

antes ARTE do que tarde


my dreams
watching me said
one to the other
this life has let us down.
paul potts

Cabe análise, mas não "censura" à política externa brasileira - por José do Vale Pinheiro Feitosa

A polêmica ainda quente da postagem do Zé Flávio opinada pelo editor do Blog do Crato como de propaganda eleitoral tem mostrado cada vez mais não ser bem isso. Provavelmente o que ocorreu não tem nada a ver com política, mas, tão somente, o que Dihelson Mendonça diz: um clima de pugilismo no blog em que o bom senso se evaporou.

O conteúdo da postagem era o elogio a política externa do presidente Lula, feito pelo Jornal Le Monde e que Zé Flávio em boa ocasião postou para lembrar aquela outra feita por colaborador do blog, de um colunista da revista Veja, que criticava a política externa brasileira. Na ocasião do acordo com Irã e Turquia. Fora do Brasil a única imprensa que se manifestou contrariada ao acordo foram dois jornais americanos, isso através de editoriais, pois na sessão de cartas dos leitores a avalanche de comentários favoráveis ao papel do Brasil foi quase unânime.

No Brasil o inventário de diatribes feito pelos grandes jornais, televisão, blogueiros amigos e todo tipo de manifestação pública, inclusive dos políticos, realçando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi de politizar o tema nestas eleições. Para eles há uma radicalização esquerdista da política externa. Como verdadeiros capitães da indústria de classificação o resumo da visão deste pessoal é que a política externa de Lula seja: irresponsável, inconseqüente e atrapalhada.

A maior revelação da visão que este pessoal tem é que o Itamaraty e o Governo Lula não tenham verdadeira compreensão do que seja o papel do Brasil no mundo. Mas aí reside um grande problema de extemporaneidade: o papel do Brasil, para esta turma, seria meramente subalterno, aquele que suspende o manto do império em seus desfiles triunfais.

Mas aí tem algo pior: um medo atávico que os parvos possuem inclusive do próprio gigantismo. Convenhamos, sabemos isso desde os anos 30, o Brasil é um continente, tem clima, terras e riquezas materiais superlativas, um povo fabuloso e uma cultura que influencia todo mundo. Talvez ninguém tenha um ícone pessoal tão conhecido até no mais remoto que seja como Pelé.

Voltemos ao passado da política externa brasileira: analisemos o papel de Rio Branco, até o pêndulo diplomático de Getúlio na Segunda Guerra ou o desenvolvimentismo de JK. Analisemos o quanto foram favoráveis ao projeto de nação e como nos deram visão de mundo e do mundo nos querer como protagonistas.

A pior visão que se pode ter de um pais como este é de que não tem pernas, não tem gente e nem liderança para enfrentar a complexidade da vida extra-territorial. Agora fico por aqui pois o interessante é ver a oposição colocando o tema no debate eleitoral deste ano. Nisso a oposição só mostra o quando se perde num certo primarismo apenas explicável pelo vício da repetição e de ter ela mesma, um déficit de compreensão do que ocorre ao lado.

O que aquela postagem do Zé Flávio demonstrava, demonstra e ainda demonstrará é o acerto da política externa brasileira. Que o tema da política externa será favorável para a candidatura de Dilma Roussef, pois as pesquisas qualitativas estão a mostrar que o brasileiro se sente orgulhoso do crescente reconhecimento internacional do Brasil, seu governo e sua economia. A visão é que Lula como presidente consegue acordos internacionais favoráveis ao país.

Aí vem a pergunta óbvia: por que cargas de água o PSDB, tão experiente, que já foi governo e viu o PT perder força com a crítica ao Plano Cruzado, não se dar conta da realidade da política externa. Fica o candidato Serra abrindo polêmicas desnecessárias com o Mercosul, acusando o Presidente da Bolívia de ser traficante de drogas. Será que afinal este discurso não termina caindo apenas no gosto exatamente da falta de bom senso tão falada no início desta postagem?

Programa Cariri Encantado é Transmitido ao Vivo do Crato Tênis Clube - Por Dihelson Mendonça, no BLog do Crato



A Celebração do Encantamento

Ontem, no salão nobre do Crato Tênis Clube, aconteceu uma importante festa para a região. Uma verdadeira celebração da arte e da cultura, onde mais de 500 pessoas que fazem parte da história do Cariri Cultural foram homenageadas. O autor da idéia, o cantor e agitador cultural Luiz Carlos Salatiel conseguiu realizar um feito notável ao reunir em um só lugar, alguns dos grandes valores da região. Uma espécie de "Diploma de Honra ao Mérito" foi distribuído entre os homenageados presentes, que se dividiam em grupos: Música, Artes Cênicas, Literatura, etc. Salatiel também apresentou ao vivo, juntamente com o colaborador Carlos Rafael, o seu semanal programa de Rádio "Cariri Encantado", que é transmitido pela Rádio Educadora, e que completa hum ano no ar e já entrevistou 50 convidados. No evento estavam figuras ilustres e reconhecidas, como o Jornalista Huberto Cabral, a maestrina Divani Cabral, e artistas locais, como o cantor e compositor Abidoral Jamacaru, o escritor José Flávio Vieira, e a Secretária de Cultura do Município, ( que também é dançarina ), Danielle Esmeraldo, acompanhada do seu esposo Manoel Severo, idealizador do "Cariri Cangaço." Houve homenagens In Memorian aos grandes vultos do passado.

O evento contou ainda com a participação de Batista e seu Conjunto, e de apresentações de artistas musicais, que se revezaram no palco. O Blog do Crato fez a cobertura fotográfica completa através deste repórter e do também fotógrafo e cinegrafista Wilson Bernardo, que deverá estar disponível logo mais aqui no Blog do Crato.

Fonte: Dihelson Mendonça (Blog do Crato)

sábado, 29 de maio de 2010

Eleições e voto de curral no Brasil Império - Por Rosane Santana



(O sapateiro eleitor, Caricatura de Rafael de Carvalho)
"A introdução das reformas liberais no Brasil, no início dos anos 20 do século XIX, abriu caminho para a modernização política, com a criação do Parlamento geral, a escolha dos seus representantes por votação popular e a instauração do regime constitucional. Três eleições gerais foram realizadas no período: para a escolha dos deputados às Cortes de Lisboa (1821), para a Assembleia Constituinte (1823) e para a primeira legislatura da Câmara dos Deputados (1824), instalada dois anos depois.
Após 300 anos de colonização e escravidão, entretanto, as eleições não conseguiram mobilizar a população, que não entendia nem mesmo o significado de votar. O Brasil possuía poucos eleitores. Entre os cerca de cinco milhões de habitantes espalhados pelo vasto território - 95% de analfabetos - uma minoria ia às urnas. Havia mais de um milhão de escravos e 800 mil índios, que estavam excluídos do processo eleitoral, além de outras categorias indicadas pela legislação.
Exigia-se uma renda líquida anual de cem mil réis para os votantes (na eleição de primeiro grau), que escolhiam os eleitores encarregados da escolha dos deputados e senadores. Segundo o brasilianista Richard Graham, essa renda só não era acessível aos mendigos e vagabundos na época. No caso dos eleitores, a exigência de renda subia para 200 mil réis.
Podiam ser votantes os cidadãos brasileiros e os estrangeiros naturalizados com mais de 25 anos, oficiais militares com mais de 21 anos e bacharéis e clérigos de qualquer idade. Excluíam-se ainda, entre outras categorias, as mulheres e os escravos. No dia da eleição, entretanto, entre os votantes existiam até mesmo escravos, que eram vestidos e calçados pelos senhores para se passarem por homens livres.
Não havia rigor nem controle sobre a comprovação das qualificações exigidas pela lei para participar da votação. Dentro das igrejas, onde a eleição era realizada, até as imagens, candelabros e outros objetos eram retirados para não servir de projéteis, segundo o deputado conservador Francisco Belisário Soares de Souza - testemunho da época -, porque a turbulência, o alarido, a violência e a pancadaria decidiam o conflito.
CURRAL ELEITORAL
Mais de 90% da população vivia na zona rural, onde os todo-poderosos senhores de engenho e grandes proprietários rurais dominavam a vida pública e, naturalmente, o processo eleitoral e político. Para garantir os votos necessários à escolha dos eleitores e influir na eleição de deputados e senadores, esses potentados mantinham centenas de homens livres e pobres como agregados, durante todo o ano.
Os senhores forneciam comida, roupa e proteção, em troca de fidelidade eleitoral. No dia da eleição, confinados em currais e barracões, os votantes eram vigiados por capangas até o final do pleito. Alguns senhores dirigiam-se à Igreja matriz acompanhado de seus afilhados, como descreve o historiador Richard Graham, no livro "Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX."
O alto custo dessa empreitada foi um dos motivos para a introdução do voto direto, em 1881. Mas os currais permaneceram como herança até meados do século XX no processo eleitoral brasileiro, marcado pela violência, sobretudo nas zonas rurais, mais distantes do poder central."
Rosane Soares Santana é jornalista, com mestrado em História pela UFBA. Estuda o Poder Legislativo, elites políticas e eleições no Brasil. Integra a cobertura de eleições do Terra.
Fonte: Terra Magazine

pulpifex maximus


57
eu li não sei em que diabo de livro
talvez no almanak cabeça de leão do dr. ayer
que existiu uma mulher que enganou
o mundo inteiro e o vaticano
e findou eleita papa, ou melhor, papisa.
depois disso dizem que todo papa eleito
tem que se sentar sem ceroulas
numa cadeira sem fundos
então vem sua eminência o Garaxué-Mor
e passa a mão por baixo
pra ver se o sumo pontífice tem CULHÕES.
chico doido de caicó

Síntese

Vejo um hematoma invisível
no meio da minha testa.

Sinal sagrado
da santa loucura.

Houve tempos mais estranhos:
beija-flor pela casa,
paredes rabiscadas
por Picasso.

O majestoso inferno da poesia
é um tesouro de pouco valor.

O mundo vive sem seu brilho.
Os entes sobrenaturais indiferentes.

Os versos importantes
apenas para quem os escreve.

A baba escorre da boca entreaberta.
A alma dá pulinhos um adolescente.

Às vezes um espírito penado
derrama uma lágrima
sente-se enamorado.

Mas é raro.

Normalmente quem lê
deixa claro a perda de tempo.

Lê o poema confessando a si mesmo:
"não sou tolo, não sou tolo, não sou tolo..."

Ou quando se arrebata
é tão rápido o êxtase
quanto o gozo
de um coelho.

Medo.

Pavor de ser tragado
pelo sombrio pântano.

De fato causa pânico
um matagal do qual
escapa juntamente
tigre,
serpente,
borboletas.

Se eu não escrevesse versos
certamente seria um covarde.

Escrevo, e apesar da escrita,
sou um covarde.

Imagino aquele que se sustenta
sonhando com suas estrofes
dentro da gaveta.

A temer o abismo.
Tentando de todas as formas
regular o juízo um tanto capenga.

Este hematoma no meio da testa
lembro-me quando surgiu.

Do nada.
Do Vazio.

A partir desse tombo
enlouqueci de vez.

Hard Rider


Ator Dennis Hopper morre aos 74 anos

Morreu, na tarde deste sábado (29), o ator americano Dennis Hopper, mais conhecido por seu papel e direção no filme Sem Destino (1969). Hopper estava em sua casa em Los Angeles, nos EUA. Sua família e amigos próximos estavam junto ao ator, que lutava contra um câncer de próstata há anos - em março, quando ganhou finalmente sua estrela na Calçada da Fama, em Hollywood, o ator apareceu em público pesando cerca de 45 quilos e totalmente debilitado.
Dennis Hopper era uma ator e diretor estimado em Hollywood, tendo participado, à frente e atrás das câmeras, em mais de 150 filmes e seriados de TV. Um de seus últimos trabalhos, o seriado Crash (da HBO, baseado no filme vencedor do Oscar em 2006), no qual interpreta um produtor musical, ainda pode ser visto aos domingos e segundas (reprise). Seus dois últimos filmes, a animação Alpha and Omega - ele faz a voz do personagem Tony -, e o longa The Last Filme Festival, ainda serão lançados. Em sua carreira, chegou a ser indicado ao Oscar duas vezes, mas nunca levou a estatueta para casa.
Hopper casou-se cinco vezes e teve quatro filhos.


Confira os principais destaques da filmografia de Dennis Hopper:


Como ator

2008 - Promessas De Um Cara De Pau (Swing Vote)

2008 - Fatal (Elegy)

2008 - Crash - Destinos Cruzados (Crash)

2005 - O Corvo-Vingança Maldita (The Crow-Wicker Prayer)

2005 - Americano (Americano)

2005 - Terra dos Mortos (Land of the Dead )

2004 - Blueberry - Desejo de Vingança (Blueberry)

2004 - Um Motivo para Viver (Leo)

2002 - O Guarda-Costas (The Piano Player)

2002 - O Poder Da Mente (Unspeakable)

2001 - Filhos da Máfia (Knockaround Guys)

2001 - Sob Fogo Cruzado (Luck Of The Draw)

1999 - EdTV (EdTV)

1998 - Os Irmãos Id e Ota (Meet The Deedles)

1997 - O Grande Golpe (Top Of The World)

1997 - Blackout (The Blackout)

1996 - Basquiat - Traços De Uma Vida (Basquiat)

1996 - Sansão e Dalila (The Bible - Samson And Delilah)

1995 - Waterworld - O Segredo Das Águas (Waterworld)

1994 - Velocidade Máxima (Speed)

1993 - Super Mario Bros. (1993)

1991 - O Apocalipse De Um Cineasta (Hearts Of Darkness- A Filmmaker`s Apocal)

1987 - A Caminho Do Inferno (Straight To Hell)

1986 -O Mistério Da Viúva Negra (Black Widow)

1986 - Juventude Assassina (River`s Edge)

1986 - Veludo Azul (Blue Velvet)

1983 - O Selvagem Da Motocicleta (Rumble Fish)

1979 - Apocalypse Now (Apocalypse Now Redux)

1976 - Mad Dog (Mad Dog)

1969 - Bravura Indomita (True Grit)

1969 - Sem Destino (Easy Rider)

1956 - Assim Caminha a Humanidade (Giant)

1955 - Juventude Transviada (Rebel Without a Cause)


Como diretor

1994 - Uma Loira Em Apuros (Chasers)

1990 - Um Local Muito Quente (The Hot Spot)

1989 - Atraida Pelo Perigo (Catchfire)

1988 - As Cores da Violência (Colors)

1980 - Anos de Rebeldia (Out Ot The Blue)

1969 - Sem Destino (Easy Rider)


Como roteirista

1969 - Sem Destino (Easy Rider)

Vitória do Verdão!!!



Hoje o ICASA conseguiu mais uma vitória na SÉRIE B do Campeonato Brasileiro: ICASA 3 X 1 Duque de Caxias. Com essa vitória o Icasa soma sete pontos e ocupa a 11ª posição. 
Parabéns ICASA, melhor time da região e segundo melhor time do estado do Ceará, único representante cearense na segunda divisão!!!!  

Ditados Remasterizados


Ainda sem destino - Emerson Monteiro

Neste sábado, 29 de maio de 2010, circulou pelos jornais a notícia da morte do ator norte-americano Dennis Hopper, diretor e coadjuvante de Peter Fonda e Jack Nicholson, no filme Sem destino (Easy rider), película que marcou os anos 60 e sua geração perdida.
Esse clássico enfoca, sem meias tintas, o drama daqueles finais de século, numa fusão sintomática de drogas, sexo e ânsias existenciais da juventude, busca desesperada de encontrar o promo do crescimento tecnológico impaciente e recheado de fascismo opressor, frieza inútil da macroestrutura capitalista materialista, institucional, avassaladora.
Ao lado deste, um outro filme, o inglês Depois daquele beijo (Blow-up), do diretor Michelangelo Antonioni, também refletiria com vigor o quadro sem saída que se desenhava no horizonte das eras e previa nuvens de impossibilidades reais da política, no futuro das próximas décadas mundiais.
Eram tempos de profundas divisões de águas, auge do movimento contestatório dos hippies, quando jovens de todas as classes sociais do mundo se espalhariam, a circular feitos formigas atônitas, catando possibilidades apenas imaginárias, a fim de tranquilizar a consciência das intuições que prenunciavam geopolítica infame a subjugar o âmbito das pessoas humanas.
No roteiro de Sem destino, dois fiéis representantes da contracultura viajam de motocicleta entre as cidades americanas de Los Angeles e Nova Orleans, cruzando impávidas o território estadunidense.
No longo itinerário, sentem de perto a liberdade do espírito aventureiro a lhes sacudir os longos cabelos, pelas estradas desertas, imprevisíveis, expostos e submissos às circunstâncias do acaso desafiador, porém confrontam os habitantes reacionários das povoações interioranas por demais preconceituosos.
Campo aberto para avaliações do tempo histórico totalitário da época, o filme apresenta com sucesso as marcas frias da mentalidade que dominaria logo mais os quadros planetárias posteriores à Guerra do Vietnam e, um pouco adiante, à queda do Muro de Berlim, portas atuais de outros absurdos totalitários.
Em rápido apanhado de verdadeiro profeta, ao término da narração, Dennis Hopper chocaria seus contemporâneos, que aguardavam final menos infeliz, com a explosão amarga da destruição dos dois personagens, cena de uma tocha de fogo produzida pelo disparo das armas dos seus perseguidores. Algo equivalente à incapacidade reconhecida de mudar o sistema plenipotenciário em que se reverteu o sonho das realizações ilusórias deste chão que foge ao contato dos nossos pés.
Hopper tinha 74 anos e morreu por volta das 8h15 deste dia, cercado por familiares e amigos, disse o seu amigo Alex Hitz.

manhã de sábado

O negócio agora é baixar a cabeça
e caminhar.

Sem olhar para trás.
Sem olhar para frente.

Chutar pedras
gravetos
tampinhas de refrigerante.

Esquecer teu aparelho dos dentes.
Os teus óculos lilases.

Somente uma vez por mês
o célebre porre homérico.

No teu dia.

Enquanto vertes sangue.
Bebo vinho.

O negócio agora é não se deixar morrer
iludido pelos pensamentos.

Dizem que são apenas névoas.
Mas cegam, meu velho.

Preciso abrir logo o olho.
Meter os pés no tênis sujo.

Nem lavar rosto.
Nem beber cafezinho quente.

Escapar do quarto.
Fugir da masmorra.

Até Voltaire se entristece
com tanto silêncio.

O negócio agora é levantar a cabeça
e bater asas.

Não olhar para o teto.
Não cortejar o passado.

Dizem que é apenas vento.
Mas vem junto o cisco.

A lágrima presa é outra estória.
Noutro dia conto.

Vejo da janela um lindo jardim
com pula-pula e carrossel.

Quem sabe não encontro por lá
uma fada esperta ou uma babá
que me abrace e me console
oxalá queira trocar
minha fralda geriátrica.

As formiguinhas do vaso sanitário
sabem que a minha urina é doce.

Portanto venham, oh, minhas fadas
oh, babás do condomínio
peguem pelo braço este poeta
e lhe deem o que beber.

Bateu sede.
Serve um peitinho.

Sem drama angelical.
Sem neurose puritana.

Ultimamente o poeta sofre
espantalho sob noite fria.

Tremem os ossos.
Acorda o coração moído.

O negócio agora é levantar-se.
Cortar as unhas.
Fazer a barba.

A cafeteira me espera.
Ouço seus espasmos.
Ofegantes sussurros.

Amada cafeteira
nunca deixa

o poeta desvalido.

olhos de mel

Até que ponto acreditar
nos meus arroubos.

Se te envolvo em minha lábia
e durmo contigo de novo

que será da realidade
no amassado dos travesseiros?

Eu que nunca te convidei pra jantar fora.
Nunca te ofereci um sorvete.

Vem então essa onda de saudade.
De sujeito cretino.

Faço força no olho direito
para que desça uma lágrima.

Se te conquisto novamente
e acordo contigo

pensaste na inquietude
passado o sonho?

Os travesseiros jogados fora.
Queimados na calçada.

SOPA DE LETRAS


ver com os OLHOS livres


A nossa "Celebração do Encantamento" é hoje!


Neste instante, às 23 horas e 43 minutos do dia 28 de maio, fiz a última atualização da lista dos homenageados na nossa festa que comemora o primeiro ano de vida radiofônica do programa "Cariri Encantado" - a nossa arte, a nossa cultura, a nossa gente nas ondas do rádio! , e que será realizada no salão nobre do Crato Tênis Clube. Na ocasião, faremos o programa ao vivo a partir das 20 horas (até 22 horas). Em seguida uma tertúlia com Batista e seu conjunto animará ainda mais a festa. A Entrada é franca e todos estão convidados. Todos os artistas (músicos, poetas, atores) que desejarem se apresentar no programa (transmitido pela Radio Educadora am. 1020 khz) devem chegar até às 19 horas para que possamos melhor organizar uma sequência dessas apresentações.
" A Celebração do Encantamento" recebe apoio logístico da Radio Educadora do Cariri, CCBNB-Cairi, Geopark Araripe, Instituto Ecológio e Cultural Martins Filho-IEC/PROEX/URCA,
e Crato Tênis Clube.
A CELEBRAÇÃO DO ENCANTAMENTO
dia 29 de maio 2009
a partir das 19 horas.
ENTRADA FRANCA


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Rumores

Não é novidade:
sei que não bato bem do juízo.

Há uma mola, parafuso, pino
fora do encaixe.

Da mesma forma que poesia
não é prerrogativa da natureza.

Ou seja,
pôr do sol,
chuvinha fina,
estrelas.

Encontro poesia com frequência
no meu cotidiano entre objetos
e bichinhos caseiros.

Raramente me debruço
sobre o parapeito da varanda
a suspirar por uma lua cheia.

Meus chinelos marcados
pelo suor dos dedos
a toalha mofada
sobre o cesto de roupa suja
o prato debaixo do pingo da torneira

é tudo uma paisagem poética
tão grandiosa que me causa
falta de ar e falta de apetite.

Sem respirar fica impossível escrever.
Sem comer uma pizza o sujeito não vive.

Então prossigo minha ventura.
Roubando do inanimado alma.
Aplicando serotonina nas paredes.

Planeta dos Macacos

Charge de Duke para O Tempo

A cueca

Precisamente três dias
a mesma cueca.
Não por falta.

Tenho no guarda-roupa
todas as nuvens de algodão
do firmamento.

Digamos que me sinto místico
usando a preta.

Oh, cueca preta
que frêmito fervor.

Três dias.
E uma lua.

O perfume adocicado
pela virilha.

Uma espécie de maçã
com sabor de pera.

Três dias a mesma cueca preta.
Digamos que me sinto
supersticioso galã de cinema.

Por onde passo deixo um rastro
de beatitude e volúpia.

Pressinto pelos olhares melosos
das colegas de trabalho
e das anciãs na calçada.

Traição

Canta um passarinho
na varanda do vizinho.

Nem sempre ouço.
Mas sei que canta.

O passarinho me pede
por telepatia
que lhe salve
da gaiola.

Sou um covarde.
Sorrio para o vizinho
e até lhe agradeço
pelo canto do passarinho.

Deveria mesmo cravar-lhe
uma chave de fenda
no pescoço.

Mas sou um covarde.
Calo-me.

Sequer esboço
olhar de censura.

Chego ao cúmulo
de elogiar os sagrados hinos
que ecoam da sua varanda.

O vizinho se enche de orgulho.
Diz que todos os seus passarinhos
bem tratados com água doce
e farelos pão de mel.

Ouço sua voz de gralha.
Enquanto minha vontade
é lhe esmurrar a cara.
Quebrar-lhe os dentes.

Mas sou um covarde.
Estendo-lhe a mão.
Disfarço.

"até logo, vizinho,
seus passarinhos uma joia..."

Conchambranças



Balduíno , entrado nos anos, arranjou um quebra-galho. Fora casado, pusera no mundo uma récua de filhos que se espalharam pelo Brasil, tangidos pela necessidade. O casamento acabou por decurso de prazo. Ele e a mulher mantiveram-se debaixo do mesmo teto, por mera formalidade. Arrefecidos os ânimos mais exaltados e o fogo que um dia já havia incendiado as caldeiras das entranhas; resolveram, por economia de recursos e de solidão, dividir a mesma casa, a mesma mesa e multiplicar apenas as camas. Comunicavam-se através de uma gama básica de palavras, geralmente monossílabos e dissílabos. Evitavam as interrogativas. A esposa , mais lépida, juntava-se a umas outras tantas colegas da mesma geração: na igreja, no SESC, em atividades físicas no Corpo de Bombeiros. Balduíno, aposentado, carregava o fardo da melhor idade (?) nas rodinhas de praça, nos bares, num joguinho de gamão. Pois, sabe-se lá como, apareceu de chofre aquela novidade de todo inesperada. E bota inesperado nisso!
Os colegas caçoavam : Balduíno, na verdade era um kit de encostados no INSS. Carregava ele mesmo e mais um outro aposentado no meio das pernas. Parece que tudo começou por conta do sonho misterioso. Uma noite, ele sonhou dirigindo uma camionete carregada de jaca. Ele mesmo era o motorista e andava quilômetros e quilômetros de ré. Pela manhã, saiu com aquela imagem pregada como chiclete. Lembrou, então, de fazer uma fezinha no Jogo do Bicho. Procurou uma cambista: D. Imeuda. Explicou-lhe a revelação onírica e ela rápido matou a charada. Camionete carregada de jaca, andando de ré : Jaca-ré ! Balduíno fez a pule : lascou dez reais na milhar e deu jacaré na cabeça . Ficou tão feliz com o prêmio de R$ 20.000,00 que deu R$ 5000,00 para a mestra na dificílima arte de interpretação do sonho.
O acompanhamento do sorteio e os preparativos para recebimento do prêmio fizeram com que D. Imeuda e Balduíno se aproximassem. Sabe-se lá como, rolou um clima. E aí vem um outro fato inesperado. Ela era mais velha do que a esposa do aposentado. No entanto, ainda conservada e fogosa carregava aquele olhar de lince de outrora, escamurçava como veado à aproximação ainda que distante da onça. E mais: Imeuda estava totalmente desimpedida, separara-se do marido há alguns anos e não tinha filhos.
Balduíno começou pelas beiradas como quem come sopa. Aproximou-se ,devagarzinho, como se tomasse chegada pra atirar em passarinho. De repente, desembestou um namorico que percorreu, provando que o amor é cego, todo o alfabeto Braille. Em pouco, mergulharam na mesma cama e a experiência parece ter sido, de lado a lado, prazerosa. Só um pequeno contratempo. Imeuda , apesar dos anos, mostrava-se quentíssima na cama, tinha, no entanto, o hábito de gritar como uma louca na hora do orgasmo. Este costume trouxe para Balduíno enormes dificuldades. Se por um lado aquilo massageava seu machismo, por outro , toda a vizinhança dava notícia das intimidades do casal. Uma vez, no Motel, terminaram por chamar o Ronda do Quarteirão imaginando que se tratasse de um crime passível de enquadrar-se na Lei Maria da Penha. Mesmo quando buscavam lugares mais recônditos para o namoro, como a serra, um matagal distante, terminavam por causar celeuma. Pessoas que passavam, mesmo longe, punham-se a correr imaginando tratar-se de alguma alma penada. Aos poucos, Balduíno começou a ficar cabreiro com os comentários jocosos que iam tomando conta das rodinhas e se foi afastando discretamente de D. Imeuda. A propaganda em demasia, também, acabou por criar várias admiradoras à performance aparentemente imbatível do nosso D. Juan. E ele , na verdade, não estava com essa bola toda: a pelota do velho Balduíno já vazava pelo pito, tinha já uns quatro remendos e andava meio murcha.
Anos depois, Balduíno encontrou-se com o ex-marido de D. Imeuda e ele explicou que suas agruras tinham sido piores que a do amante. Todos o olhavam com olhos de chacota e sussurravam piadinhas pelo canto da boca. A gota d´água, no entanto, tinha sido o apelido que lhe haviam posto : “Tampa de Caixão”. Para um Balduíno incrédulo, ele decodificou a origem do epíteto que pegara como catarro em parede:
--- Você não já viu um velório? Antes do corpo chegar na casa do decujos , os familiares ficam ali pelos cantos chorando baixinho como se tivessem chupando cana : snif... snif... snif.. De repente, chega a funerária com o defunto na urna, aí o povo todo de se agita, num é? Então, tiram a tampa do caixão de repente... E a gritalheira toma de conta do mundo Ai, ai, ai! Oh! Oh!Oh! Ui! Ui!Ui ! . Pois eles diziam que era eu que tirava a tampa do caixão de Imeuda, nas horas das conchambranças...
J. Flávio Vieira